Aos poucos o preocupante quebra-cabeça de desaceleração da economia mundial parece que será concluído graças à freada da economia do Japão, cujo crescimento despencou no segundo trimestre deste ano para 0,4%, em base anual, de 4,4% em que se encontrava no primeiro trimestre.

Foi algo realmente inesperado, considerando que os mais destacados especialistas aguardavam uma queda dos ritmos de crescimento, mas não tão brusca. Além disso, a evolução está sendo acompanhada historicamente com a superação da economia japonesa pela chinesa.

Porque o sazonalmente estacionado Produto Interno Bruto (PIB) do Japão atingiu o segundo trimestre totalizando US$ 1,286 trilhão, enquanto o PIB chinês saltou para US$ 1,335 trilhão.

Assim, a economia chinesa tornou-se a segunda economia mundial em dimensão após a norte-americana, enquanto a japonesa perdeu seu segundo lugar pela primeira vez desde 1968, quando havia superado a economia alemã, que hoje já despencou para o quarto lugar.

A queda da economia japonesa explica-se pelo fato de que nos primeiros oito anos do século XXI o PIB japonês aumentou somente 5%, enquanto o chinês aumentou 261%.

Duplo mergulho

Entretanto, estas classificações têm apenas valor enciclopédico, porque sua utilidade esgota-se pelas impressões que provocam durante o happy hour nos bares da moda. As últimas notícias daqui de Tóquio confirmam os temores mundiais de uma recaída da crise, de cancelamento do processo da recuperação econômica e de um novo mergulho (double dip) da economia mundial ao fundo do poço.

É verdade que a economia norte-americana cresce em ritmo de 1,6% e que a economia alemã galopa em ritmo de 2,2% (o mais alto registrado em base trimestral desde a unificação das duas Alemanhas, isto é, nos últimos 20 e mais anos).

Finalmente, também, é verdade que a economia chinesa continua crescendo em ritmo que já atinge 10%, embora alguns economistas ocidentais desconfiem que o número mencionado não é sustentado.

“O Japão é o canário na boca da mina” (provérbio japonês) porque seu crescimento depende, em muito, a demanda de seus produtos na China, demais países asiáticos e, obviamente, EUA.

As vinte ameaçadas

Os dados sobre a evolução do PIB japonês constituem uma advertência para todas as grandes economias do planeta, segundo a qual, não é suficiente atirar o peso de suas políticas para conseguir a absorção de seus produtos pelos mercados internacionais.

“É uma advertência para tratarem de tonificar, também, seu consumo doméstico”, declarou Martin Shultz, economista-chefe do Instituto de Pesquisas Econômicas Fujitsu aqui, em Tóquio.

E falou tudo. Porque, realmente, a desaceleração até a imobilidade total da economia japonesa soa o sinal de alerta vermelho para as economias não só do “Top 5″ mundial (a quinta é a também capengante britânica), mas, também, para o total do “Top 20″, isto é para as 20 maiores economias do planeta que, recentemente, compuseram o G20, que até hoje não mostrou a que veio.

Partindo do topo pode se notar, epigramaticamente, a incapacidade do governo norte-americano para criar postos de trabalho. O desemprego nos EUA já atinge o fatídico 10% e vários analistas norte-americanos “não alistados” realizam históricas “reminiscências” de correspondentes períodos de saída de crises outras e temem que atingirá 15%.

Mas, com tais percentuais de desemprego (de insegurança), os norte-americanos estão impossibilitados de consumir produtos, não só japoneses ou norte-americanos, mas sequer chineses. E na China registra-se hesitação de consumo, principalmente, por causa da bolha dos preços dos imóveis.

E quanto à Alemanha, a registrada semana passada explosão de seu crescimento em 2,2% é atribuída ao recuo da paridade do euro no segundo trimestre (a moeda comum européia já se recuperou), que alavancou as exportações extraordinariamente.

Na Alemanha, assim como nos demais países europeus, o processo de crescimento é ameaçado pela drástica redução da renda disponível dos trabalhadores, assim como pela insegurança de trabalho em que são atreladas as medidas de saneamento fiscal que os governos adotaram para superar a crise de dívida que os tortura.

Pode-se dizer então que vítima de frugalidade, além dos trabalhadores, tende a se tornar, também, a economia mundial.

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Consequências das gestões de uma série de primeiros-ministros

Sim. É verdade. A economia chinesa superou a japonesa assumindo o segundo lugar da classificação mundial em cujo topo permanecem os EUA. Mas por quanto tempo ainda?

Alguns especialistas ocidentais “alinhados” sustentam que os fundamentos comparados não correspondem à realidade econômica dos dois países vizinhos. Sustentam exatamente que não há condições de comparação da economia chinesa com nenhuma “ocidental”.

Kyohei Morita, um dos maiores economistas do Japão, por exemplo, sustenta que “a superação do Japão pela China é apenas simbólica e não essencial, porque quando alguém se refere à riqueza de um país, não poderá ignorar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de seus cidadãos. E o PIB per capita dos cidadãos japoneses é inegavelmente superior àquele dos cidadãos chineses. Porém, mesmo como simbolismo, as notícias de mudança da correlação das forças econômicas na Ásia certifica a transferência do centro de peso das evoluções de Tóquio para Beijing”.

O aparentemente imobilizado crescimento no Japão constitui uma reviravolta com prováveis consequências sobre outras economias desenvolvidas na Europa e, obviamente, sobre a economia dos EUA. Japão é um barômetro para a economia mundial. Foi primeira a mergulhar na crise e primeira a sair ano passado. Mas seus esforços para edificar um crescimento sustentável foram torpedeados pelo corrida do iene, o qual, saltou ao nível mais alto contra o dólar há duas semanas.

O resultado da corrida do iene destina-se a tornar os produtos japoneses menos atraentes nos mercados internacionais, em comparação com aqueles de países concorrentes, como da Coréia do Sul, Taiwan e, naturalmente, China.

Alerta em Tóquio

A superação da economia japonesa pela chinesa, registrada no trimestre abril-junho, soou alerta aqui, em Tóquio, e sacudiu o Estado-maior do governo japonês. “O Japão olha seguidamente para seu umbigo e ninguém parece reagir contra este seu hábito”, disse Martin Shultz, economista-chefe do Instituto de Pesquisas Econômicas Fujitsu aqui, de Tóquio.

E ele continua: “Há cinco anos, a dimensão da economia japonesa era o dobro da dimensão da chinesa. Porém, a última, contudo, crescia galopantemente, enquanto o Japão esbanjou duas décadas inteiras, desde o período em que estourou a bolha dos imóveis, a fim de conseguir se recuperar. Investidores estrangeiros citam uma certa fadiga que funciona como freio para cada atividade empresarial e para cada mudança corretiva que planejam os governos”.

Falando sobre o Japão e sua economia, Karl Weinberg, destacado economista nova-iorquino, afirma: “O Japão é um país, uma economia em declínio. Seu problema fiscal agrava-se incessantemente e as perspectivas de sua economia desvanecem. Já a China – ao contrário – dispõe de uma economia nascente. E esta China será o país do “Sol Nascente” do século XXI”.

Ano passado, a China superou os EUA, tornando-se o primeiro mercado do mundo. Superou a Alemanha e tornou-se o maior país exportador do mundo, e na maioria dos mercados de commodities é o maior país importador, primazia que detinha o Japão desde o final da década de 1980 e durante a década de 1990.

Qualquer comparação da China com o Japão já favorece a primeira. Obviamente, o PIB per capita dos japoneses atinge US$ 40 mil, isto é, cerca de dez vezes superior ao PIB per capita dos chineses. Mas outros economistas constatam que o Japão é um país no ocaso.

A nomeação de seis primeiros-ministros nos últimos anos e o fato de somente 30% das empresas japonesas terem registrado lucro no ano passado constituem duas básicas fontes de preocupação pelo futuro do país.

A década perdida

A política das eternamente zeradas taxas de juros que o Banco Central do Japão (BoJ) decretou há 20 anos não conseguiu frear a deflação. Os preços reiniciaram sua queda, enquanto sequer a velozmente envelhecida população do país mostra disposição de aumentar seu consumo.

Também, o cansado mundo empresarial não mostra-se disposto de aumentar os investimentos e reencontrar o dinamismo que possuía antes de desabarem os mercados das ações e dos imóveis na década de 1990.

Foi a famigerada “década perdida” do Japão, durante a qual o país acumulou dívidas que somadas atingiram 200% do PIB. Já 95% de sua dívida pública o país deve aos próprios cidadãos japoneses, que ingenuamente compravam durante anos os bônus que os perdulários primeiros-ministros emitiam para financiarem obras públicas de infra-estrutura que lhes garantiriam votos nas eleições.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou ao governo do primeiro-ministro Naoto Kan o aumento do valor agregado como solução única para restringir suas invisíveis dívidas (o FMI avalia que atingirão 250% do PIB do país em 2015).

Mas uma população em envelhecimento, com tradicionais cortes de consumo, provavelmente, restringirá, ainda mais, seus gastos. Aliás, o consumo privado já contribui com 60% na conformação do PIB japonês.

“É muito difícil alguém encontrar a origem de onde surgirá a recuperação. A tributação dos produtos de consumo contínuo terá consequências sobre a vida das famílias, assim como, a queda de paridade do iene terá algum reflexo positivo sobre as exportações e deverá ser considerável”, declarou Richard Jerome, da Mac Quair Securities.

Concluindo, a perspectiva da economia chinesa superar a japonesa até inclusive em base anual é algo inevitável. “A impressionante conclusão da análise das evoluções em ambos os países, assim como, de suas contribuições ao processo mundial de crescimento, não dependem tanto da crescente evolução da economia chinesa, quanto pela relativa desaceleração da economia japonesa contra todas as demais economias do planeta”, avalia Julian Jessop, analista-chefe especial do Capital Economics.

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Avaliações indicam que China superará EUA em 2020

O crescimento econômico da China não é apenas espetacular, mas, também, incontido. Além disso “desperta o apetite” dos lideres do país, os quais já assestaram na alça de mira a primazia dos EUA na classificação mundial das economias do planeta, obviamente, com base na riqueza produzida, e não na renda per capita.

Porque como se sabe a China já pode ser incluída na elite das economias do planeta, mas a renda e o poder aquisitivo dos habitantes do país consegue apenas manter-se na centésima posição entre os países do planeta. E, seguramente, a China não pode sentir-se orgulhosa de seus desempenhos econômicos quando seus cidadãos têm renda igual ou até menor dos nada ricos habitantes do Peru, da Albânia e do Gabão.

Este é o motivo que impulsiona os trabalhadores das empresas chinesas a se “rebelarem” contra seus empregadores. Porque, embora o país já tenha superado há muito os ritmos de crescimento da Alemanha e, recentemente, do Japão, a média salarial de um trabalhador chinês não atinge sequer a remuneração semanal de um trabalhador sem especialização na Europa Ocidental ou nos EUA.

Seja lá como for, chovem as apostas para a complementação do milagre econômico chinês. Alguns analistas – não chineses – sustentam que, em dez apenas anos, a China terá superado a economia norte-americana. Já os mais moderados prevêem que isto será consolidado em 20 anos.

Obviamente, a pergunta que surge facilmente é como a China conseguirá congelar o velocímetro. Isto é, como manterá em termos de tempo seus altos ritmos de crescimento. Algo que se assemelha com uma vitória inatingível, se não com milagre, considerando que a tresloucada corrida já começou a provocar vertigem e múltiplas (econômicas e não) consequências. O “superaquecimento” do mercado da casa própria desde o início de 2000 levou os preços dos imóveis a invisíveis alturas.

Centros urbanos

Nos grandes centros urbanos da China, o preço de um apartamento já é proibitivo para uma família de renda média e corresponde apenas às altas expectativas (de especuladores) investidores em busca de enriquecimento fácil.

A criação de bolha no mercado chinês dos imóveis já é indiscutível e o que resta ao governo é – se não conseguir evitar – pelo menos “aliviar” o brusco estouro com um “esvaziamento” mais suave.

Além disso, o crescimento econômico resulta em beco sem saída ambiental, com os governantes tentando convencer de que não produzem o maior volume de gases poluentes. E se não conseguiram ainda, muito em breve conseguirão.

Certos analistas avaliam que a China super brindará os EUA com a lógica da “laranja madura”. Em outras palavras, prevêem que mesmo se a economia chinesa desacelerar seus ritmos de crescimento (querendo ou sem querer) assumirá o pedestal da classificação mundial apenas e simplesmente porque a economia norte-americana se contrairá nos próximos anos ou, pelo menos, permanecerá estacionária.

Neste pensamento está baseada tanto a avaliação da PriceWaterhouseCoopers (prevê superação dos EUA pela China em até 2020) quanto, também, a revisada análise do Goldman Sachs (que situa o histórico acontecimento em 2025, enquanto, há sete anos, avaliava que ocorreria em 2041).

Economia informal

Aquilo que, provavelmente, “salvará” o crescimento econômico da China na próxima década é a “economia negra”. Calcula-se que as famílias chinesas não declaram às autoridades fiscais do país rendas que superam 1 trilhão de euros, volume que corresponde a 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Indiscutivelmente qualquer avaliação sobre a dimensão exata do volume da “economia negra” envolve grandes margens de erro, mas os dados do Credit Suisse, que realizou a pesquisa em questão, mostram que, seguramente, existe ainda muita riqueza “escondida embaixo do colchão”. Sem isto significar que os chineses são ricos e escondem sua riqueza. Porque o maior volume de rendas não declaradas encontra-se nos bolsos dos “teúdos”.

Aliás, a pesquisa do banco suíço destaca que 10% dos chineses mais ricos têm renda três vezes superior à declarada. Enquanto as camadas inferiores – com base na renda oficialmente declarada – ganham apenas 13% mais do que declaram.

Estes dados poderão ter duas leituras diferentes. A primeira mostra que existe, realmente, um dinamismo “escondido” na economia do país o qual poderia ser aproveitado com objetivo o crescimento do país. Algo que, aliás, somente em nível de simbolismos tem valor.

Mas a segunda leitura da pesquisa comprova que a China nada mais é, ainda, do que um país “terceiromundista” (economicamente), com gigantescas diferenças de rendimentos entre os poucos ricos e a esmagadora maioria da população pobre.

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Fonte: Monitor Mercantil