As atividades agrárias têm participação efetiva na economia brasileira, tanto no âmbito da composição do PIB (21,5% em 2015), como nas vendas externas totais brasileiras (46,2% em 2015). Tal importância foi adquirida, também, com grandes esforços dos produtores, uma vez que o novo paradigma agrário obrigou-os à adesão de bens e serviços industriais, ou seja, mudanças: (1) na parte fixa do capital constante (colheitadeiras, tratores, plantadeiras e etc.); (2) na parte circulante do capital constante (fertilizantes, defensivos, sementes e etc.); (3) e no capital variável (força de trabalho, gestão e controle), para a sobrevivência em uma estrutura alicerçada na concorrência e alta competitividade.

Nesse sentido, na agricultura de escala moderna e de precisão, as estruturas e estratégias de produção e circulação são determinantes para o entendimento da sua expansão. Entre elas, destacam-se: pesquisa e desenvolvimento tecnológico (biotecnologia, práticas de manejo, conservação e fertilização de solos, doenças e suas medidas de controle, combate integrado de pragas, sistemas de monitoramentos eletrônicos etc.); redução de custos produtivos (mão de obra, maquinário, terceirizações via serviços de tributação e acesso facilitado à água, à energia e a insumos); aumento da competitividade por meio de extrema concorrência, estratégias locacionais, centralização de terras e de capitais, profissionalização na gestão e administração; forte financeirização (CPR, Hegde). Tudo isso depende de uma forte estrutura de gestão agrícola eficiente.

Diante disso, as estruturas e estratégias de gestão administrativa nas empresas agrícolas se tornaram um requisito essencial para sobrevivência e consolidação no atual mundo agrícola altamente competitivo, independentemente do tamanho da propriedade e de quem administra a empresa agrícola (familiar ou não familiar).

A responsabilidade na administração de uma empresa agrícola consiste em estar atento, em longo prazo (medidas estratégicas), de forma interligada, aos ciclos dos sistemas produtivos de safras. Gerenciar a produção de uma fazenda moderna estrategicamente é estruturar, da melhor maneira possível, as ações operacionais para que ela seja sustentável ao longo das flutuações de mercado, dos ataques dos concorrentes e das ofertas de produtos e insumos. Em termos mais amplos, uma produção pautada na eficiência deve conhecer a repercussão de suas atitudes sobre as etapas operacionais (curto prazo), pois deve dominar novas tecnologias e manter controle sobre o domínio da técnica e das operações intrafirma.

Desta forma, a correta alocação dos recursos, o planejamento da produção ao longo do ano e o dimensionamento do volume da produção a ser estocado poderão viabilizar ou não o negócio. Quando são investigados os motivos do bom ou mal desempenho de uma empresa agrícola, estes estão muito além de sua infraestrutura física e de sua capacidade produtiva ociosa ou não. Dessa forma, o administrador de uma fazenda de soja, por exemplo, implicado com os resultados positivos da empresa, deve se manter atento ao mercado de grãos e estar em constante busca de bens e serviços de melhor qualidade para suas necessidades ao menor custo.

Com isso, o objetivo essencial na aplicação de métodos científicos nas empresas agrícolas é produzir produtos mais baratos possíveis, obter a maximização dos lucros, unificar os trabalhos de administração e minimizar os gastos dos recursos disponíveis. Aumentando a produtividade tanto do trabalho quanto da terra, com o aproveitamento das características mais adequadas dos funcionários. Chegando ao aumento significativo da divisão do trabalho, usufruindo dos interesses de mercado, explorando as diversidades edafoclimáticas e as condições econômicas e sociais de cada área.

No Brasil, de forma geral, principalmente nas empresas produtoras de grãos, existem dois grandes grupos de empresas: (i) o que internalizou os serviços de tributação, contabilização, financeirização, consultoria agronômica e planejamento; (ii)  e o que terceiriza esses serviços e é administrado por mão-de-obra familiar.  

No primeiro grupo, mesmo com o controle nas mãos de familiares e parentes, possuem processos administrativos e produtivos comandados por técnicos profissionais, uma departamentalização bem definida, programas de qualidade total e a procura sistemática e efetiva em aprendizado e qualificação. Por outro lado, o segundo grupo, pode gerar pontos negativos e baixa competitividade em razão de: falta de planejamento; precária formação profissional dos familiares; conflitos de interesses nos herdeiros; perda de capital investido da firma pelos familiares e parentes em favor próprio; favorecimento de parentes e agregados sem qualificação necessária para vagas de emprego.

Cabe lembrar que essas estruturas e estratégias mudam de acordo com o temporalidade e a espacialidade onde se desenvolvem em termos combinados e complexos, uma agregação de atraso e dinamismo.

A busca pela máxima profissionalização é um dos desafios que se impõem às empresas agrícolas que estão interessadas em crescer, buscar formas de financiar novas atividades. Ademais, poderão estabelecer mais controle na comercialização dos produtos agrícolas, pois, as grandes Tradings são agressivas e competitivas, uma vez que contam com poderoso staff executivo, fácil acesso ao capital e com capacidades para oferecer produtos e serviços a preços mais baixos ou mais altos formando um poderoso oligopólio-oligopsônio.

[1] Geógrafo, mestre e doutorando em geografia pela UFSC. Militante do PCdoB em São Luis (MA).