3 de Novembro de 1920

Primeira edição: «Rabotnitcheski Vestnik» N.° 100 de 3 de Novembro de 1920. Assinado: G. Dimitrov. 
Fonte: Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
HTML: Fernando A. S. Araújo.

 

No dia 7 de Novembro de 1917, os operários e os camponeses russos, sob a direção do Partido Bolchevique destituíram o governo burguês de coligação, estabelecido depois da revolução de Fevereiro, e entregaram a condução da vasta Rússia, povoada de milhões de habitantes, aos sovietes operários e camponeses.

Era a primeira vitória do proletariado revolucionário internacional sobre o capitalismo e o imperialismo, o começo da revolução mundial.

A grande obra do proletariado russo foi acolhida pelos inimigos da revolução, tanto na Rússia como nos outros países, pelas profecias ruidosas que anunciavam o desmoronamento do poder dos sovietes em algumas semanas: simples operários e camponeses seriam incapazes de fazer face aos problemas extremamente complexos, postos pela vida económica e pela gestão do Estado, num país tão vasto como a Rússia.

Contudo, os imperialistas internacionais e os seus instrumentos — dos conservadores ultras até aos socialistas traidores à classe operária — aí estavam para todos as despesas. O poder soviético, apesar dos enormes obstáculos de ordem interna e externa, em lugar de declinar, reforçava-se de um dia para o outro sempre mais, e procedia arduamente a transformações agrárias e à edificação do comunismo no país.

Então, contra o povo russo, livre e independente, viram-se suceder sem cessar os ataques desencadeados pelos exércitos contra-revolucionários de Koltchak, de Yudenitch e de Denikine, organizados e financiados pelo imperialismo da Entente. Ao mesmo tempo tinha-se estabelecido o bloqueio económico.

Os imperialistas cantavam vitória e esperavam de um momento para o outro o aniquilamento desse baluarte — para eles tão perigoso — da revolução proletária mundial. Os agentes e a imprensa às expensas dos imperialistas, clamavam pelo mundo o desmoronamento eminente da Rússia bolchevista.

Vieram meses duros e críticos para a República Socialista Federativa Soviética da Rússia, meses de sangue, de privações, de sacrifícios. Contudo, os operários e os camponeses russos criaram o seu glorioso Exército Vermelho revolucionário, um exército ainda nunca visto, consciente da luta, não apenas para a defesa da pátria socialista, face aos rapaces imperialistas, como também para abrir caminho à libertação definitiva de toda a humanidade trabalhadora. Foi este Exército que varreu e esmagou as hordas contra-revolucionárias de Koltchak, de Yudenitch e de Denikine.

Mas, no preciso momento em que, depois desta brilhante vitória, a Rússia soviética desmobilizou o seu Exército Vermelho, um exército de trabalho, e se preparava para se ocupar da reorganização interna e da edificação do novo sistema de governo, os imperialistas da Ententeorganizaram e equiparam o exército da Polónia senhorial e lançaram-no perfidamente contra o povo russo.

Contudo, esta malévola agressão, meditada e meticulosamente preparada desde há muito, terminou não com o desmoronamento do regime soviético, como esperavam os imperialistas, mas pela paz entre a Polónia e a Rússia Soviética.

Esta paz permite hoje à Rússia Soviética acabar com o último exército contra-revolucionário em território russo — o exército do barão Wrangel, que ameaçava seriamente a Rússia do Sul, mas que hoje se curva já diante da força dos valorosos operários e camponeses russos.

Três anos decorreram em lutas sangrentas contra a contra-revolução desencadeada pelo imperialismo.

Convém sublinhar muito particularmente que a vitória da Rússia Soviética sobre o imperialismo é devida também, em grande parte, aos sindicatos operários russos. Depois da revolução de Outubro de 1917, o poder passou para as mãos dos operários e dos camponeses. Desde então, os sindicatos operários cessaram de ser organizações de luta contra a exploração capitalista à qual a revolução proletária tinha trazido um golpe mortal. Os sindicatos tornaram-se colaboradores activos do poder soviético e um apoio da ditadura do proletariado.

Os sindicatos operários russos, não só deram todas as suas forças na luta para sair da ruína económica, para a socialização da grande indústria, para o restabelecimento dos transportes desorganizados e o crescimento máximo da produtividade do trabalho, mas também tomaram, e continuam a tomar, uma parte das mais activas no esmagamento da contra-revolução e na derrota da agressão dos exércitos contra-revolucionários imperialistas. Tiveram milhares de vítimas nos campos de batalha, não pouparam as suas forças para dotar o Exército Vermelho de todo o equipamento necessário à vitória.

Hoje, dia em que se celebra o terceiro aniversário da Grande Revolução russa, pode dizer-se ousadamente que a sua causa teria sido perdida sem a participação, aliás digna da maior admiração, dos sindicatos operários.

Mas, servindo com todas as suas forças a revolução proletária, os sindicatos russos não se fecharam nas suas fronteiras nacionais. Profundamente impregnados das ideias do comunismo, sentiram-se obrigados a colocar-se à cabeça do movimento internacional e revolucionário dos sindicatos de todos os países, sob a bandeira da III Internacional e em nome da revolução comunista e da ditadura do proletariado mundial.

O Conselho Internacional dos Sindicatos, formado por iniciativa dos sindicatos operários russos, que constitui o germe da Internacional Sindical Vermelha, por oposição à Federação Sindical de Amesterdão, venal e pérfida, reúne todos os dias à sua volta as massas cada vez maiores de operários sindicalizados de todos os países. A minoria da Confederação Geral do Trabalho de França acaba de se lhe juntar, e esta minoria tornar-se-á, num futuro próximo, numa maioria esmagadora. O movimento operário revolucionário de Itália e de Inglaterra conduz rapidamente os sindicatos para a Internacional Sindical Vermelha. A situação revolucionária geral em toda a Europa contribui para subtrair as organizações sindicais de massas à influência dos velhos dirigentes traidores da Federação de Amesterdão e em os alinhar na frente revolucionária proletária internacional. Os sindicatos dos países balcânicos e danubianos estão agora junto, sem reservas, do Conselho Internacional dos Sindicatos e no momento actual constituem uma federação sindical balcânica e danubiana que faz parte da Internacional Sindical Vermelha.

Apenas em alguns meses (Julho-Outubro), o Conselho Internacional dos Sindicatos de Moscovo conseguiu reunir à sua volta cerca de oito milhões de operários sindicalizados de diversos países.

O terceiro aniversário da revolução proletária russa coincide, portanto, com o rápido reagrupamento revolucionário das massas operárias em todos os países e pressagia a próxima extensão da revolução proletária mundial e o triunfo da ditadura proletária no mundo inteiro.

Os proletários russos, pelo sangue abundantemente derramado, abriram o caminho à libertação da humanidade trabalhadora. Celebrando a sua grande vitória histórica, os proletários búlgaros preparam-se, cada vez melhor, para dignamente levar a cabo o seu dever — assegurar a vitória da revolução comunista no seu país.

Publicado em www.marxists.org