Putin afirmou que seu país vai “apoiar” a Síria em caso de “ataque militar estrangeiro”. “A Rússia vende armas à Síria, temos fortes laços econômicos com a Síria, que é nosso parceiro estratégico”, disse o presidente russo, Vladmir Putin. Para Putin, “o uso de armas químicas na Síria é uma provocação dos rebeldes (oposição) que buscam apoio internacional”. O presidente assinalou ainda que “a grande maioria da população mundial é contra [empreender] ações bélicas na Síria”.
O presidente Putin reiterou também que “o uso da força contra um Estado soberano” só é aceitável quando se trata de autodefesa ou quando há uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, e “a Síria não está agredindo ninguém”. O conflito no país árabe, assim como tudo o que se refere ao Oriente Médio, repercute também na economia mundial, assinalou o mandatário.
O presidente russo disse que as opiniões estão dividas no G20. EUA, França, Árabia Saudita, Canadá e Turquia defendem a intervenção militar. Putin lembrou que o primeiro-ministro britânico, James Cameron, também apoia a ação militar, mas o parlamento do Reino Unido foi contra. A chanceler alemã, Angela Merkel, é cautelosa e prefere não participar da possível intervenção.
Unindo-se à voz russa contra uma ação na Síria, Putin destaca a Índia, a China, o Brasil, a Indonésia, a Argentina, a África do Sul e a Itália. O líder russo lembrou ainda que o secretário-geral da ONU e o Papa Francisco são contra a intervenção militar.
Obama e Putin
Putin e o presidente norte-americano, Barack Obama, tiveram uma reunião a portas fechadas nesta sexta, marcada pela crescente tensão na escalada do conflito na Síria e da iminente intervenção americana. Durante a reunião, o assunto foi debatido, mas os líderes não chegaram a um consenso, explicou o conselheiro para política externa de Putin, Yuri Ushakov.
Obama e Putin estavam planejando uma reunião bilateral em Moscou antes da Cúpula do G20, mas o presidente americano cancelou depois de Moscou ter concedido asilo a Edward Snowden, que revelou ao mundo as espionagens americanas.  Com jornalistas, o norte-americano brincou com a situação, ao dizer que conversou com Putin sobre Snowden, mas, que esse último “não veio [à Cúpula]”.
“Adoraria, mas não estou a fim”
Após a entrevista de Vladimir Putin, foi a vez de Barack Obama falar às centenas de jornalistas que desde cedo esperavam na porta do salão destinado para o líder americano. O conflito da Síria foi mais uma vez o assunto principal. Obama disse que preferiria resolver o problema através das Nações Unidas, mas que não “podia”. Para ele, é necessária uma resposta internacional que não virá do Conselho de Segurança da ONU.
O presidente americano disse ainda que as armas químicas utilizadas pelo governo de Assad não são apenas uma tragédia síria, mas constituem “uma ameaça à paz e à segurança global”.
O próximo é o Irã
Os EUA afirmam ter interceptado – pela Inteligência – uma ordem do governo iraniano para militantes atacarem embaixadas norte-americanas no caso de uma intervenção na Síria. A informação foi revelada na noite da quinta-feira (05) por Washington, aumentando a tensão sobre uma possível retaliação de países do Oriente Médio a uma ação militar das potências ocidentais. O governo iraniano, no entanto, nega o episódio.

Além disso, Washington admitiu trabalhar para “investigar as possibilidades de contra-ataque” na região.  Autoridades do Exército disseram que estão em estado de alerta, “movimentando tropas no Golfo Pérsico, onde navios se posicionam próximo ao Irã”. Os EUA também “temem que o Hezbollah possa atacar representações do país”, revela o Washington Post.
Militares norte-americanos já têm, inclusive, um plano de evacuação de diplomatas e de representações no Oriente Médio e Norte da África, “caso necessário”, afirma o jornal Wall Street Journal, citando a Alta Cúpula do Exército.
ONU e nada
Ainda nesta sexta (6), o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos líderes do G20 que se encontre uma solução política para a crise humanitária “sem precedentes” na Síria. Em uma reunião nesta sexta, o chefe das Nacões Unidas apelou aos líderes mundiais para convocar o mais rápido possível uma conferência internacional sobre a Síria, em Genebra. Rússia e Estados Unidos acordaram no início de maio a realização de uma conferência destinada a facilitar uma solução através do diálogo político, mas os Estados Unidos adiaram o encontro no fim de junho.
Ban Ki-moon disse que o mundo deve fazer “de tudo” para acabar com o sofrimento do povo sírio e pediu ainda que sejam estudadas todas as opções possíveis para evitar uma maior militarização do conflito.
O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse hoje que qualquer ataque militar dos EUA contra a Síria seria um grande atraso para as conversas que vêm acontecendo há tanto tempo. A Rússia insiste que a ONU é o único órgão que pode legitimar a ação militar na Síria.
Ban Ki-moon destacou ainda o custo humano do conflito, lembrando que mais de 100 mil pessoas já morreram, 4,25 milhões foram deslocadas dentro do próprio país e 2 milhões de sírios estão refugiados no exterior.
Indigestão inglesa
O primeiro-ministro britânico David Cameron descreveu como “caloroso” o debate sobre a Síria durante o jantar de quatro horas e disse ainda que a cúpula nunca chegaria a um acordo sobre a Síria devido à profundidade das divisões.
Cameron disse ainda estar frustrado com a insistência do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que o ataque químico foi feito pelas forças rebeldes de oposição a Assad. “Putin está a quilômetros de distância do que eu acho que é a verdade e a quilômetros de distância do que muitos de nós acreditamos”, declarou o primeiro-ministro britânico. Cameron disse que vai ser muito difícil mudar a opinião do russo.
Durante o jantar, Putin disse ao presidente norte-americano Barack Obama e ao francês François Hollande que as chances de reviver as negociações de paz após bombardeios punitivos seriam mínimas.
O secretário de imprensa do presidente Putin, Dmitry Peskov, afirmou também que, depois do banquete, o presidente russo realizou uma reunião bilateral com David Cameron e discutiu particularmente o conflito sírio. Peskov disse ainda que alguns países mantiveram a posição sobre a necessidade de “medidas precipitadas, ignorando as instituições internacionais legítimas”.
Paralelamente, Serguei Naryshkin, presidente da Duma (câmara baixa da Assembleia Legislativa russa), declarou que os deputados russos que viajariam para os Estados Unidos para discutir a crise da Síria decidiram cancelar a viagem, já que os representantes do Congresso americano se recusam a se encontrar com os parlamentares russos.
Algumas analistas indicam que a negativa do Congresso americano tem como objetivo evitar que a delegação russa cause ainda mais desavenças no debate sobre a Síria que acontece no Capitólio.
Dilma defende multilateralismo
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, declarou nesta sexta a jornalistas brasileiros em São Petersburgo que o Brasil tem posições muito claras a respeito do conflito na Síria. “Nós repudiamos e consideramos que qualquer uso de arma química constitui crime hediondo”, explicou.
No entanto, Dilma deixou claro que o Brasil apóia as investigações patrocinadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e acredita que a melhor maneira é encontrar uma solução mediada e política para o conflito. “Só a ONU tem mandato para definir intervenção militar”, afirmou.
A presidente brasileira acredita que a intervenção sugerida pelos EUA com o apoio da França pode acirrar o conflito e lembrou, ainda, que é importante que os países não vendam armas (para a Síria).
Dilma afirmou que não houve clima de animosidade entre Barack Obama e Vladmir Putin no banquete realizado na quinta-feira (06) no Palácio de Peterhoff. Dilma classificou as relações como “civilizadas e de alto nível”.

Com informações das agências de notícias.