Intelectuais, políticos, personalidades do Brasil e do exterior, ressaltam o legado da arquitetura de Niemeyer ao patrimônio cultural do mundo, sublinham sua fidelidade aos ideais políticos que abraçou desde a juventude e valorizam seu compromisso com as grandes causas libertárias da humanidade

“Temos de ter muito orgulho de viver num País que tem como filho Oscar Niemeyer”
Luis Inácio Lula da Silva

“Niemeyer é orgulho para todos nós pelo que projetou aqui e fora do Brasil na nossa arte contemporânea”
Aldo Rebelo
Deputado Federal PCdoB/SP

“Estou feliz em poder dizer-lhe quanto admiro seu talento inventivo e sua maneira de entender a arquitetura. Você sabe, verdadeiramente, exprimir essa plena liberdade em tudo o que a arquitetura moderna oferece. Bravo!”
Le Corbusier
Arquiteto

“A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar. Achei pouco. Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz do Tom Jobim. Quando a música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar”.
Chico Buarque
Escritor e compositor

“Uma das definições básicas da nova arquitetura do começo do século XX é exatamente a exclusão das outras artes. A parede e o painel são belos em si mesmos, em sua proporção e funcionalidade. Nisso vem o Oscar e bota azulejo e mural. Então ele inclui o artista, o que é uma rebeldia dele”.
Ferreira Gullar
Poeta e crítico de arte

“É sabido que Oscar Niemeyer odeia o capitalismo e odeia o ângulo reto. Contra o ângulo reto, que ofende o espaço, ele tem feito uma arquitetura leve, livre e sensual, muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro. São montanhas que parecem corpos de mulheres deitadas, desenhadas por deus, no dia em que deus achou que era Niemeyer”
Eduardo Galeano
Escritor

“Acho que Oscar Niemeyer pertence a uma geração extremamente importante no Brasil, que até certo ponto reconstruiu, tanto em sua própria mente quanto em benefício público, a idéia do que poderia ser o novo Brasil. Esta geração, que é extraordinariamente interessante, teve grande influência nas artes, na literatura e na criação de uma imagem própria na história do país. Tom Jobim, por exemplo, começou como arquiteto e desistiu para se tornar músico. De certa forma o Brasil do futuro é a imagem criada pela geração da década de 1930”.
Eric Hobsbawm
Historiador

“Trata-se de ser fiel a princípios, e não de táticas ou estratégias de conquista de poder. Trata-se de princípios, e não podemos renunciar a eles. Oscar Niemeyer não renunciou e eu não o felicito por não ter renunciado. Não lhe agradeço porque simplesmente é uma expressão de sua própria humanidade. Eu creio que é uma pessoa que está em paz consigo mesmo. E estar em paz consigo mesmo não é fácil porque vivemos num mundo de tensões e contradições. No fundo, vivemos em um temporal. Manter o rumo no meio deste temporal, com ventos que sopram de todos os lados, isso o Oscar conseguiu”.
José Saramago
Escritor

“O elemento arquitetural mais importante, desde as colunas gregas, são as colunas do Palácio da Alvorada”.
André Malraux
Escritor e ex-ministro da cultura da França

“Coloco a Praça do Havre entre as dez melhores obras da arquitetura contemporânea”.
Bruno Zevi
Historiador

“Poucos gênios na rica história da arquitetura lograram transmitir sua imagem estética com plenitude. Oscar Niemeyer inclui-se entre eles, ao lado de Fídias e Michelangelo”
Celso Furtado
Economista

“Nunca vi, em tempo algum, nada de tão ousado como a liberdade plástica que Oscar se dá como arquiteto, e a coragem com que ele cria as coisas mais inesperadas, como se fizesse obra trivial, ínclita. Por este caminho é que, ao longo das décadas, ele foi construindo um padrão oscárico, que hoje é um dos pendores da arquitetura mundial. Não é impossível que, amanhã, se fale de arquitetura oscárica como um substantivo comum. Que ninguém se engane pensando que Oscar é um arquiteto brasileiro, inspirado nas curvas de nossas belas mulheres e de nossas majestosas montanhas. Qual! Nada disso. Oscar é a realização até o limite da capacidade humana de criar beleza”.
Darcy Ribeiro
Escritor e antropólogo

“Os gigantescos trabalhos arquitetônicos de Brasília, por si só, bastariam para colocar Niemeyer entre os maiores artistas de todos os tempos, mas, no entanto, representam apenas uma parcela de sua obra imensa, comparável em volume àquela de Picasso”.
Joaquim Cardozo
Engenheiro e poeta

“As ‘colunas’ do Alvorada viraram o marco nacional do desenvolvimento: marco dos caminhões pelas estradas do Brasil, marco de lojas, de feiras, e padarias, de favelas e de residências finas. Bem, as multidões são a imagem dos supermercados, mas o orgulho popular é outra coisa: é a história de uma nação”
Lina Bo Bardi
Arquiteta

“No mundo da arte atual, não sei de mestre de humanismo e de paz maior que Oscar Niemeyer. Eu o coloco ao lado de dois outros grandes de nosso tempo: Charles Chaplin e Pablo Picasso. Cada um deles com seu instrumento de preservar a paz no mundo. Creio que todos nós, escritores e artistas brasileiros, sentimo-nos orgulhosos de Oscar, de sermos se seu tempo e de seu país”.
Jorge Amado
Escritor

“A grandeza artística, como a celebridade, não perturbaram, em Oscar Niemeyer, os hábitos simples, que em tudo regulam sua vida. É, realmente, o homem do cotidiano, do comum, que sabe apreciar os prazeres simples, que tanto acompanha um jogo de futebol quanto o andamento de uma tocata de música popular, que não usa gravata e senta no chão. Nada, no plano formal, o seduz ou o atrai. Nem julga os outros pelo que, neles, pertence à autoridade ou à notoriedade, nem o deslumbram títulos e riquezas. As pessoas valem pelo que são, e só nessa dimensão as aceita e estima (…) Não renegará os amigos, mas particularmente os companheiros. Quanto mais a reação se enfurece na repressão, mais se julga ele obrigado a protestar. Estará sempre, quaisquer sejam as circunstâncias, ao lado dos oprimidos, dos perseguidos dos torturados; ao lado dos miseráveis, dos desprotegidos, dos trabalhadores. A sua fidelidade une, como luminoso fio, a beleza leve dos palácios que ajudou a construir à miséria dura dos casebres das favelas. Sua obra visa ao futuro, quando os contrastes da sociedade e as injustiças e maldades oriundas da desigualdade social estiverem superadas. Mas não espera que isso venha senão do esforço, do trabalho e da luta dos homens. Não se julga jamais desobrigado de participar. Está sempre onde sua fidelidade o obriga. Nesse sentido, sua vida é uma grande lição política – uma lição de que, hoje mais do que nunca, estamos necessitados. E que o Brasil bem merece”.
Nelson Werneck Sodré
Historiador e escritor


“Querido Niemeyer,
Tuas palavras em O ser e a vida lembram-me Martí, quando escreveu El Ismaelillo para crianças e adolescentes. Tens meu pleno apoio em tua árdua batalha para estimular o hábito de ler. Dizes que, sem a leitura, o jovem sai da escola sem conhecer a vida.
Ler é uma couraça contra todo tipo de manipulação. Mobiliza as consciências, nosso principal instrumento de luta diante do poder devastador das armas modernas que o império possui; desenvolve a mente e fortalece a inteligência, do mesmo modo que caminhar fortalece os músculos das pernas; estimula o sentido crítico e é um antídoto contra os instintos egoístas do ser humano.
Nossa luta contra o analfabetismo foi apenas o ponto de partida para que não se perdesse nenhum talento e para que não existissem seres humanos excluídos da possibilidade de conquistar por si mesmos a mais plena liberdade. Jamais dissemos ao povo cubano ‘creia’, mas sim ‘leia’.
Sem cultura não há liberdade nem salvação possível. Como te escrevi antes, só uma consciência maior nos manterá firmes em nossa vontade de lutar pelas idéias mais justas e pela sobrevivência da espécie humana.
Muitas felicitações por teu aniversário. Que muitas pessoas, como tu, vivam e desfrutem mais de 100 anos.
Teu amigo,
Fidel Castro Ruz (Havana, 10 de outubro de 2007)”

“Querido Oscar,
Contaram-me há tempos em Guadalajara, no México (e não sei se será certo uma vez que na Península Ibérica nunca o tinha ouvido), que é costume dos ciganos brindarem nas suas festas com estas palavras lacônicas: ‘Há motivo’. Nada mais. Suponho que se não mencionam o dito motivo será por se presumir que todos os presentes o conhecem, e no caso, sempre possível, de não existir coincidência total quanto ao objeto da saudação, as duas palavras, ainda que por razões diferentes, acabarão por significar o mesmo: cada conviva, no momento de levantar o copo, sabe a quem está a destinar os seus votos.
Escrevendo esta carta, também eu penso ao dirigir-me a ti, caro amigo, e companheiro: “Há motivo”. Pensando outra vez, porém, acho que deverei pôr no plural a saudação: “Há motivos”, e dizê-lo em voz bem alta para que se ouça. Há o motivo dos teus 90 anos, a celebração de uma vida longa e de fértil trabalho, muitas velas no bolo, ou uma só que as represente todas. Quando a soprares, estarei a olhar, em espírito, por cima do teu ombro, e quando receberes os abraços dos amigos presentes espero que dês também pelo meu, um abraço de espírito que só o espírito pode notar. E os motivos? Os outros motivos são a tua inteireza de caráter, a tua dignidade pessoal, que são mais do que exemplo ostensivo, discreta lição de todos os dias, como é natural nos seres que se respeitam tanto a si mesmos como aos seus semelhantes. Alguém disse um dia que uma bela vida pode valer tanto quanto uma bela obra. Tenho o privilégio de conhecer, admirar, estimar e respeitar um homem – Oscar Niemeyer –, a referência humana e cultural inseparável de quanto o Brasil teve e tem de melhor, em quem magnificamente se juntaram a obra e a vida, admiráveis uma e outra, edificadoras uma e outra. Há pois motivos, não um só motivo, estes que foram e continuam a ser-nos propostos por um arquiteto genial, por um cidadão responsável, por uma pessoa humaníssima. A quem saúdo e agradeço. Porque há motivo.
De todo o coração,
José Saramago (s/d)”

Fontes:
Filme Oscar Niemeyer – A Vida é um Sopro, Maciel, Fabiano, 2007.
Livros:
NIEMEYER, Oscar. O Ser e a Vida. Revan, 2007.
NIEMEYER, Oscar. Minha Arquitetura.

EDIÇÃO 93, DEZ/JAN, 2007-2008, PÁGINAS 60, 61, 62, 63