Após a palestra do professor Nilson Araújo, onde ele pontuou na história os padrões de comportamento das crises do capitalismo, Renildo Souza, mestre em Ciências Econômicas e doutor em Administração, professor da UFBa, preferiu apontar o alvo para as causas da crise. Para ele, as motivações da crise revelam sua persistência, já que pouco mudou na estrutura do sistema financeiro, desde então. Segundo ele, as soluções apontadas para evitar uma depressão profunda, apenas contrataram novas crises.

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Leia a íntegra da palestra de Renildo Souza:

 

Renildo de Souza (Foto: Cezar Xavier)

 

Acompanho o professor Nilson desde a década de 1980, por ocasião do lançamento de seu livro (Crise econômica. São Paulo: Editora Quilombo, 1982, 110p). O professor Nilson falou mais longamente sobre os problemas da crise e da atualidade política econômica do país e do mundo.

 

Eu vou tentar me concentrar mais no problema da crise, as causas de 2008 e essa pergunta colocada pelo Renato [Rabelo]: a crise foi superada? A crise continua? Então, tentar dar uma contribuição nesse sentido.

 

Pra organizar a discussão, poderíamos pensar o que foi essa crise; como ela se caracterizou primeiro; quais as causas dessa crise, que é o foco do debate; e quais as consequências e os desdobramentos da continuidade dessa crise.

 

Alcance da crise

 

Sobre a crise, em si, como se sabe, ela começou em 2007, teve um lado financeiro, a crise das hipotecas subprime, em um terreno da bolha imobiliária e da bolha financeira, mas a crise atingiu a economia, de um modo geral, em 2008. Sobretudo no fim de 2008, com a quebra do Lehman Brothers.

 

E o que foi essa crise? Foi apenas cíclica? Não, foi uma crise muito mais ampla, mais profunda; é chamada de crise estrutural, crise sistêmica, ficou muito denominada como Grande Recessão, mas muita gente caracterizou melhor essa crise como a “primeira depressão do século XXI”. Mais do que uma crise cíclica, mais do que uma recessão, seria uma depressão; claro, com características específicas e próprias, diferentes da depressão da década de 1930. Mas a maior crise que o capitalismo enfrentou desde a década de 1930, comprovadamente.

 

Nós tivemos os seus desdobramentos para a Europa, a partir de 2010, sobretudo para os países do sul da Europa, envolvidos em problemas de crise fiscal; mas atingiu, posteriormente todo o sistema bancário europeu. E desdobrou-se para todo o mundo.

 

Em determinado momento da crise, houve uma discussão sobre um possível descolamento dos chamados países emergentes em relação à crise. Dado o desempenho econômico recente desses países, – fortíssimo crescimento econômico, muito dinamismo -, estes países emergentes estariam protegidos, teriam economias robustas que não sofreriam pela propagação da crise. Entretanto, vimos que a crise atingiu todo mundo. Os emergentes também não ficaram a margem desse colapso.

 

Mesmo a maior economia, a mais dinâmica, a mais vibrante, a mais robusta de todas, no mundo, a economia chinesa, que se comportou durante a primeira década do século XXI como o motor da economia mundial, contribuindo decisivamente para o crescimento econômico mundial, o chamado “efeito China”. Mesmo a China começou a desacelerar a partir de 2012.

 

Chegada na periferia

 

Aqui no Brasil nós tivemos também os impactos da crise, através sobretudo através da queda dos preços das commodities, que eram muito importantes para a economia brasileira. Os preços das commodities eram muito importantes para a balança de pagamentos, para o superávit da balança comercial brasileira e para o dinamismo da economia brasileira. Não era um problema só do agronegócio, ajudava a dinamizar, ajudava na receita tributária do estado e no dinamismo do mercado interno brasileiro. Então, isso também começou a ser atingido.

 

A crise quando nos atinge, não foi só uma importação de problemas. Para que a crise prosperasse aqui entre nós, e tivesse muitos efeitos econômicos, políticos e sociais que nós estamos sofrendo até hoje, era preciso que encontrasse aqui condições para essa propagação desses efeitos nocivos da crise mundial. Essas condições existiam aqui no nosso país. Uma economia dependente, já com dificuldades a muito tempo de dinamismo na sua industria, na sua competitividade, na sua produtividade. Uma economia que, portanto, tinha debilidades financeiras, debilidades creditícias, essa hiperconcentração bancária notável em nosso país, a regulação da oferta de crédito. Então, nós tínhamos os nossos problemas que ajudaram que a crise se instalasse aqui, também, entre nós.

 

Além dos problemas políticos. O professor Nilson falou que a repercussão da crise nos países depende muito das respostas dos governos à crise. Ele citou o caso do Getúlio Vargas, o caso do Geysel, entre outros. Nesse quesito, também, a nossa resposta naquele momento foi composta de diversos elementos. Em diversos momentos, em 2011, em 2012 e 2013, diversos elementos na política econômica, que eu chamei num artigo à revista Princípios de “agenda Fiesp”, – e muita gente, depois, passou a chamar de “agenda Fiesp” -, vários elementos que mostravam que as respostas não foram suficientes. Ou porque tivemos dificuldades de diagnóstico ou porque os problemas eram maiores do que nossos esforços. E mesmo algumas respostas, já em 2015, completamente contraproducentes, que ajudaram na instalação da crise, em vez de serem opositoras, resistência à crise no nosso país.

 

A polêmica marxista das causas

 

Se a crise em 2008 teve essas características nos EUA, na Europa e no mundo, importa saber a essa altura se as causas que levaram a crise se mantêm, persistem. Porque se nós concluímos que a crise não foi debelada, continua até os dias de hoje, sob outras formas, com outros problemas, com outras perspectivas, então as suas causas persistem. Então, quais são as causas da crise de 2008 que persistem?

 

Essa discussão sobre as causas da crise é longa e, mesmo entre os marxistas,  não há um ponto de vista claro das causas da crise. Esse fenômeno é muito complexo e uma resposta simplista sobre a causa da crise não é satisfatória. Há entre os marxistas uma certa divisão sobre as causas da crise. A partir de Marx, alguns falam que essa crise é por conta da lei da tendência da queda da taxa de lucro. Dizem isso: Andrew Kleiman, Michael Roberts, [Rudienko Katchachiev?], alguns marxistas dizem isso. Outros dizem que a causa da crise é um problema de realização, um problema de demanda, por conta dos baixos salários dos trabalhadores, em que os salários não acompanharam o crescimento da produtividade, teve crescimento lento, frágil e débil e não ficaram em uma situação de paridade com a produtividade, ao longo das últimas décadas, sobretudo nos EUA, aumentando grandemente as desigualdades. Esses trabalhadores sofreram expropriação financeira; para manter seu consumo, esses trabalhadores, essas famílias foram obrigados a se endividarem largamente. E portanto, o consumo foi financiado por dívida. Chegou a uma situação, segundo Fred Moseley, outro economista marxista importante, que, em 2007, a renda das famílias dos EUA comprometida com dívidas chegou a 130%. Portanto, era uma dívida insuportável e gigantesca.

 

Então, temos esse debate do lado da oferta, da produção, tem a explicação da crise pela lei da tendência da queda da taxa de lucro, da queda da taxa de acumulação, por conseguinte, e queda do crescimento. E, por outro lado, esse problema da debilidade do consumo, da debilidade do poder de compra dos trabalhadores e, portanto, uma explicação pelo lado da demanda.

 

Dizer que Marx só apontou como causas possíveis da crise a questão da queda da taxa de lucro, acho que é insuficiente. É lei, mas também é tendência, mas também é lei. Além disso, Marx também acrescentou as contra tendências a essa lei. Ou seja, nós devemos examinar as crises no capitalismo, estudando cada uma, suas características próprias e específicas, e tendo uma visão mais aberta. Porque foi assim. Marx abordou crises desde o Manifesto Comunista, desde os Grundisse, desde O Capital, desde as teorias da mais-valia. Tem abordagem de Marx da crise com explicação por subconsumo, tem explicação por desproporcionalidade. No livro dois de O Capital, Tugan-Baranovsky viu desproporcionalidade nos esquemas de reprodução e exagerou na interpretação. E crise de realização, quando no livro três, Marx fala que o crescimento econômico pelo impulso do capital parece não ter limites; há necessidade de acumulação sem limites; como se não houvesse limitação no mercado. Ele escreveu que a limitação, em última instância, é a condição de consumo das massas trabalhadoras. Ou seja, tipicamente, subconsumo.

 

Então, o próprio Marx, em momentos diferentes, ao longo de sua obra, tem explicações diversas sobre a causa da crise. Olhar só o lado da produção, só o lado da oferta, como se a economia marxista menosprezasse, não levasse em conta a importância da esfera da circulação, não levasse em conta o lado da demanda, não é suficiente. Inclusive nessa crise de 2008, que, como nós vimos, teve o problema do consumo e endividamento das famílias. Temos problema pelo lado da demanda, efetivamente.

 

Queda do lucro

 

Mas esse é um grande debate, que não acaba nunca entre os marxistas, muito polarizado. Os economistas marxistas ao analisarem essa crise retomaram esses debates sobre quais são as visões das causas da crise do capitalismo. A questão da tendência da queda da taxa de lucro é preciso ter calma para discutir. Por exemplo, quando é apenas mencionada como causa a queda da taxa de lucro, em alguma discussão com algum keynesiano, ele dá logo um pulo, um salto, uma reação muito forte, uma rejeição absoluta. Eu acho, então, que não é correto.

 

Qual é a motivação do capital? A motivação é a expansão, a sua valorização, que se dá com lucro. O capital sai de D para D linha com mais valor, com lucro. Então, o lucro é o motivo, o móvel, a finalidade da economia capitalista. É muito importante a trajetória da taxa de lucro para as decisões dos capitalistas. O que houve, empiricamente, na trajetória da taxa de lucro, temos que ter paciência e olhar com calma. Por exemplo, essa trajetória da taxa de lucro não é uma linha reta para cima. Esse é um fio que tem que ser visto a longo prazo, mas tem altos e baixos.

 

Temos de 1948 a 1965 um período de alta taxa de lucro na economia dos EUA. Refiro-me mais aos EUA por ser a principal economia do mundo. O epicentro da crise de 2008 foi lá, e os dados desses estudos, entre os marxistas, são dados empíricos sobretudo da economia dos EUA. De 1966 a 1981, teve queda da taxa de lucro nos EUA e, depois de 1982 até 1997, houve uma retomada do crescimento da taxa de lucro.

 

Esse movimento da taxa de lucro tem a ver com o crescimento do investimento. A taxa de acumulação é explicada, de 1970 a 2007, segundo os cálculos de Fred Moseley, em 83%, pelo movimento da taxa de lucro. É explicada, quase em sua totalidade, pelo desempenho dos lucros. Anwar Shaikh, economista marxista da Universidade de Nova York, diz que é muito importante considerar a taxa de lucro líquida, descontando o pagamento dos juros. Ele diz que o fator crucial para a retomada do crescimento da taxa de lucro, depois de 1982, ele considera um fator principal o aumento da taxa de lucro líquida, descontando o que fica com o mercado financeiro, do que fica com o capitalista, com as empresas, com as corporações. Esse lucro líquido foi maior e provocou um melhor desempenho nessas últimas décadas até a crise de 2008.

 

Falamos muito em financeirização, em capitalismo financeirizado. Uma pergunta que se coloca é: por que há essa financeirização? Temos que pensar que o lucro total na economia é produzido no setor produtivo. Se uma proporção cada vez maior desse lucro total na economia é desviada para o mercado financeiro, o lucro que vai ser produzido adiante nessa economia vai ser menor. E se o lucro vai ser menor, efetivamente, a parcela que vai para o setor produtivo vai ser menor. É um processo em cadeia de exacerbação, com a financeirização, de piora da tendência de queda da taxa de lucro. O que tem a ver a financeirização com a tendência de queda de lucro? Exacerba e piora essa tendência.

 

O papel do endividamento

 

Chama a atenção nessa discussão entre economistas marxistas dos EUA, a importância que dão ao problema do tamanho da dívida das famílias e das empresas. Este é um fato destacado que eles colocam nas análises sobre a crise de 2008. Por exemple, Steve King fez um estudo econométrico medindo a correlação entre o nível de endividamento e o desemprego e conseguiu uma correlação negativa quase perfeita (-0,92). Quer dizer, os dados empíricos materiais mostram que altos níveis de desemprego vão levar à crise e a mais desemprego. King mostra que, nos EUA, quando houve os chamados “30 anos gloriosos”, a grande expansão econômica depois da Segunda Guerra Mundial, o nível de endividamento era baixo. Depois daquela crise recessiva no início dos anos 1980, quando começou esse processo de forte endividamento das famílias e das empresas, ajudou a resolver o problema pelo lado da demanda. Tinha crédito para as famílias irem às compras e consumirem. Tinha crédito para as empresas realizarem investimentos, compras de matérias primas e máquinas. Esse forte endividamento ajudou a demanda e uma certa retomada da economia e dos lucros, mesmo com crescimento baixo, lento e contínuo. Mesmo esse forte endividamento das famílias e das empresas, por outro lado, também criou as condições para o colapso e para a erupção da crise. Quando os preços dos imóveis caíram em 2007, aquelas condições de crédito desapareceram, as possibilidades de renegociação e o refinanciamento do consumo junto aos bancos desapareceram, então o nível de endividamento ajudou a estourar a crise.

 

Chamou-me a atenção esse ponto comum entre quase todos os economistas marxistas mais importantes dos EUA, sobre esse problema do endividamento, o papel do endividamento, o fator endividamento. Esse não é um problema só dos EUA. O nível de endividamento das famílias e das empresas no Brasil também é muito alto, com inadimplência e falência de empresas. Tudo isso trava a economia e bloqueia a possibilidade de dinamismo da economia. Mesmo aqui entre nós, em que o crédito é muito restringido no país, e, ultimamente, ainda mais restringido com a concentração bancária.

 

Chama a atenção a importância dada a esse problema, até para a necessidade de saída da crise. Vários deles dizem que, para sair da crise, temos que cancelar as dívidas das famílias. Steve King, que é um dos mais radicais, fala pra fazer isso como se fazia antigamente, cancela-se com o jubileu da dívida. O Fred Moseley fala em repactuação de contratos de hipotecas com os novos preços rebaixados dos imóveis. Portanto, aplica um desconto imenso sobre a dívida das famílias. Outros que dizem que tem que fazer uma facilitação quantitativa, um quantitative easing, diferente agora. O Banco Central dos EUA tem que colocar dinheiro direto nas contas das famílias, com compromisso para quitarem dívidas. Autores da teoria monetária moderna estão divulgando muito isso, que é o quantitative easing para o público. Este é um dos elementos que estão sendo discutidos.

 

Este é um problema, portanto, de magnitude muito grande para a eclosão da crise e para a persistência do problema da crise. Nós não estamos em crise, não existe crise permanente, não existe crise final, não existe colapso, não existe fim do mundo, mas muitos desses problemas da crise ainda persistem.

 

Nos EUA, o presidente Trump impôs um programa de redução tremenda dos impostos para os ricos em 2017. Esperava-se uma grande reanimação da economia, e a resposta foi um crescimento lento e os investimentos não vieram. O quantitative easing no Banco Central europeu também não trouxe crescimento, nem investimentos. Não sou eu quem digo isso. Quem disse isso foi Mohamed El-Erian, presidente do Conselho de Desenvolvimento Global do Governo Obama, e presidente do grupo financeiro Allianz, um dos chefes do mercado financeiro global.

 

Os problemas persistem. A crise não foi superada porque temos esse alto endividamento das famílias, a economia americana depende muito desse consumo das famílias. 70% do PIB americano é o consumo das famílias. Alguns economistas falam que os problemas da especulação imobiliária persistem e vai ser retomada numa nova crise. Alguns economistas falam também em problemas no sistema bancário.

 

Ponta do iceberg

 

O Mohamed El-Erian escreveu um artigo agora, em julho, em que diz que estamos vendo apenas esses problemas de fraco crescimento, perspectiva muito ruim de fraco crescimento em todo lugar, esses problemas financeiros não resolvidos e pendentes. Isso é apenas a ponta do iceberg do tamanho das dificuldades da economia mundial. Não é um marxista que está querendo colocar tintas muito fortes nos problemas da economia mundial. Ele chama a atenção também da manutenção da brecha entre o preço dos ativos financeiros e os fundamentos econômicos. Ele diz: o Banco Central dos EUA tinha a expectativa de que em 2010, no mais tardar, esse problema já estaria resolvido. Os preços dos ativos financeiros já estariam expressando, refletindo, a realidade dos fundamentos da economia, produtividade, tecnologia, rentabilidade, crescimento, etc. Até hoje, julho de 2019, o problema não foi resolvido.

 

El-Erian diz ainda que o presidente do Banco Central dos EUA, Jerome Powell, está pedindo socorro. Tinha a expectativa de que viessem estímulos do lado fiscal, não ficasse o problema apenas nas mãos do Banco Central. Tudo isso que esses autores da teoria monetária, recentemente, estão falando: gastos fiscais, estímulos fiscais com emissão de moeda, etc.

 

Esses ativos estão, portanto, com preços ainda elevados. Esse capital fictício constituindo magnitudes elevadíssimas continua porque a política dos principais bancos centrais do mundo, e do Banco Central dos EUA, particularmente a partir de 2008, foi uma injeção de liquidez monumental comprando títulos públicos e privados através da facilitação quantitativa, com a expectativa de que com o efeito de rebaixar as taxas de juros, até negativas, isso iria dar uma sensação de riqueza para a sociedade que as famílias dinamizariam o consumo e as empresas iriam animar o investimento produtivo. Não foi isso o que aconteceu. As taxas de juros caíram e continuam muito baixas em todo o mundo, o consumo fraco, o investimento fraco, e, por conseguinte, o crescimento muito débil também, com muitas ameaças no cenário. O Banco Mundial acabou de lançar um estudo, em junho, falando do investimento deprimido no mundo. Um relatório minucioso sobre isso.

 

Essas dificuldades são efetivas. Vi alguns economistas brasileiros, nos últimso meses, festejando e exaltando como um fenômeno impressionante, das taxas de juros e inflação baixíssimas nos EUA, “condições ideais”. Luís Carlos Mendonça de Barros, por exemplo. Ontem, em entrevista coletiva no escritório da Goldman Sachs, em São Paulo, o chefe da área de investimentos globais e mercados emergentes, Caesar Maasry, falou que esse fenômeno de taxas de juros tao baixas no mundo não pode levar a ilusões. Não comemorem, não festejem, porque dentro de seis a doze meses (ele foi até otimista), o crescimento econômico não vai reagir. Só que essas taxas de juros baixíssimas estão lá desde o enfrentamento da crise, em 2008. O problema não se resolveu.

 

Isso é muito importante para sabermos o que está ocorrendo com uma economia importante como a brasileira. Como podemos nos posicionar em relação a isso e o que podemos fazer do ponto de vista da ação política nesse momento. É uma situação de grandes dificuldades, porque, se os problemas persistem, e os economistas e as instituições econômicas globais estão comentando, talvez devamos sair da superfície, da aparência, como diz o professor Nilson, e observar que os problemas sejam mais profundos, mais complexos, e estejam enraizados no próprio modo de produção capitalista.

 

Esse modo de produção capitalista, quando enfrenta uma crise, pode sair da crise mas criar condições para novos problemas e crises. Um fato fundamental que precisa ser destacado é que até a crise de 1930, o enfrentamento era feito com destruição de capital, havia uma exacerbação da exploração dos trabalhadores e seus salários, mas o elemento principal era a destruição de capital. Depois de 1930, já não há mais esse tipo de fenômeno, porque com a intervenção do estado com as políticas monetárias e fiscais, como os pacotes de Obama em 2008, o pacote fiscal de estímulos na China, essa ação do governo para evitar o aprofundamento dos efeitos da crise, evitou a destruição de capital e que a crise se aprofundasse numa depressão muito mais devastadora.

 

Mas, ao mesmo tempo, criou um outro problema muito sério porque contratou, encomendou, culminou novas crises muito mais graves e problemáticas. Porque a destruição de capital não foi feita. Isso é fundamental e decisivo. O professor Joseph Choonara, marxista britânico, diz que na Inglaterra tem pequenas e médias empresas zumbis, que não têm condições de produtividade e competitividade, desempenho e tecnologia, e são mantidas por recursos públicos, estímulos etc. Esse é um problema do modo de produção capitalista. Como dizia Marx, a crise é uma solução temporária do modo de produção capitalista. Se não ha destruição de capital, essa solução fica pela metade, porque não há uma restauração plena da taxa de lucro, da capacidade de acumulação. Não há uma centralização dos capitais mais produtivos, mais competitivos, mais avançados, sobre os capitais mais débeis, mais frágeis. Não há essa depuração.

 

Foi isso que aconteceu nessa crise de 2008, seus problemas persistem e não foram superados e estão contratados novos problemas. Por isso, El-Erian diz que estamos vendo apenas a ponta do iceberg e o presidente do FED pede socorro. É o tamanho do problema que estamos enfrentando com essa crise dessa magnitude, dessa natureza.