Sanitarista diz que setor privado sai maior da pandemia, não o SUS
O ciclo Diálogos, Vida e Democracia voltou, nesta segunda (18) com o debate Coronavírus, Isolamento Social e Saúde Pública tratado do ponto de vista feminino. Promovido pelo Observatório da Democracia, unificou oito fundações partidárias em torno do tema da pandemia de covid-19 e seus impactos.
Sob coordenação de Elaine Cruz, coordenadora do Setorial Nacional de Saúde do PT, o debate contou com as convidadas: Lígia Bahia, médica sanitarista e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ); Glória Teixeira, professora de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; Rosa Maria Marques, professora titular de economia da PUC-SP e ex-presidente da ABrES; e Maria Célia Vasconcellos, vice-presidente de Atenção Coletiva, Ambulatorial e da Família da Prefeitura de Niterói.
Veja o debate completo, abaixo:
Leia todo o debate aqui: Gestoras em saúde discutem isolamento social na pandemia
Lígia Bahia questionou a força do Sistema Único de Saúde (SUS), neste momento, em que muitos celebram sua importância. “Fala-se muito em SUS isso, SUS aquilo, mas ele não está dando conta”, afirmou, provocando debates. As debatedoras questionaram o fato do combate à pandemia estar sendo prejudicado pela falta de isolamento social, o que dificulta o trabalho do sistema de saúde.
Para Lígia, quem sai maior dessa pandemia é o setor privado. O SUS sai menor, pois fica com a parte básica e o setor privado com a cereja. “O setor privado está fazendo testes, pesquisas, leitos se expandiram, atrai profissionais de qualidade”.
Para ela, o SUS é um projeto bonito, generoso e adequado. “Mas está velho, acanhado, assistencial, pensado 33 anos atrás, precisa ser renovado.”
Como profissional de saúde, Lígia diz que um dos “botões” para atacar pandemias é a quarentena, e o outro é a testagem. Mas como a testagem tem sido difícil em todos os países, resta o isolamento social, que desacelera a disseminação e permite o controle da epidemia.
Ela lembra que vários países negaram a epidemia, a princípio, o que prejudicou seu controle. Mas o Brasil vive o caso mais grave e emblemático ao ter seu terceiro ministro da Saúde em um mês, numa escalada de crises em que as evidências científicas e a política deveriam ser apresentadas como solução. “É a política que define a decisão de gastar dinheiro, de se endividar, de proteger as famílias e empresas”. Na opinião dela, o Brasil está mitigando essas decisões.
“Nem o auxilio emergencial chega na ponta na velocidade e quantidade necessária. A resposta à pandemia conta com muito pouco recurso, que chega muito tarde”, afirmou.
Para ela, a resposta do Brasil à pandemia é tão “pífia”, ao ponto de sair do mapa internacional. O Brasil não é mais reconhecido pela criatividade científica no âmbito internacional.
Lígia criticou o fato do percentual do PIB para a saúde continuar igual desde a ditadura, mesmo em governos populares. “Como acreditar que com Bolsonaro vai melhorar?”, disse ela, referindo-se à perspectiva de setores que acreditam que o SUS sai melhor desta pandemia.
Ela contrapõe vários chavões repetidos na esquerda sobre saúde: “É fakenews que o SUS seja o maior sistema de saúde do mundo. O SUS é o maior projeto de saúde do mundo. Não é à toa, que todo servidor público tem plano privado”.
Ela acredita que haja uma contaminação ideológica que está fazendo mal à esquerda. Ela mencionou os candidatos de esquerda que fazem promessas inviáveis para a saúde, como duplicar recursos, triplicar equipes, acabar com OSs. “Esse discurso não serve.”
Para ela, temos que ser a favor do SUS, e não defendê-lo. “O SUS não é universal, porque tem muita gente sendo atendida no setor privado. O SUS não segurou a pandemia. Vamos sair muito mal dessa pandemia.”