Epidemiologista diz que pandemia revela fragilidades e força do SUS
O ciclo Diálogos, Vida e Democracia voltou, nesta segunda (18) com o debate Coronavírus, Isolamento Social e Saúde Pública tratado do ponto de vista feminino. Promovido pelo Observatório da Democracia, unificou oito fundações partidárias em torno do tema da pandemia de covid-19 e seus impactos.
Sob coordenação de Elaine Cruz, coordenadora do Setorial Nacional de Saúde do PT, o debate contou com as convidadas: Lígia Bahia, médica sanitarista e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ); Glória Teixeira, professora de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA; Rosa Maria Marques, professora titular de economia da PUC-SP e ex-presidente da ABrES; e Maria Célia Vasconcellos, vice-presidente de Atenção Coletiva, Ambulatorial e da Família da Prefeitura de Niterói.
Assista o debate completo abaixo:
Leia todo o debate aqui: Gestoras em saúde discutem isolamento social na pandemia
A epidemiologista Glória Teixeira começou sua abordagem relatando como era o atendimento médico público durante a ditadura militar, quando começou a trabalhar. “Vivi muito o antes do SUS, no interior da Bahia, e vejo hoje o que ele faz lá”, afirmou em defesa do sistema e seu avanço, diante do debate em que houve ênfase nas fragilidades do Sistema.
“A única coisa que tinha era meu estetoscópio, armário e amostras grátis”, contou. Ela relata a precariedade com que tinha que atender casos graves de pacientes sem qualquer recurso senão a criatividade e a falta de equipamentos para diagnóstico, em 1975, no Recôncavo Baiano.
“É muito diferente! Podemos ainda não gostar, mas não podemos comparar com antes. Tínhamos apenas indigentes. Agora tem cidadania. Não está uma beleza, mas luto por financiamento e menos parte privada”, defendeu. Para ela, este é o momento da população brasileira entender a importância disso.
O que define democracia, na opinião dela, é o acesso à saúde, não apenas a uma “saúde de pobre”, mas uma “saúde de qualidade e para todos”. “A pandemia como centro das preocupações humanas, revela o quanto são necessários sistemas de saúde universais, equânimes e de qualidade. Isto está sendo colocado a prova”, observa.
Glória diz que, na Bahia, está havendo um alinhamento entre estado e capital para tentar fazer o isolamento social. Ela lembra que, desde Louis Pasteur, no final do século XIX, existem quarentenas de navios, de pessoas, de cidades. Depois passou-se a usar o isolamento individual entre doentes e sadios. “Hoje, temos o distanciamento físico, mas que precisa muito de coesão social para dar certo. Tem funcionado do ponto de vista científico, mas tem um paradoxo de ponto de vista social. Quando conseguimos diminuir a incidência da doença, ninguém vê os malefícios, por isso, ninguém acredita na eficácia”.
Glória lamenta a falta de coordenação nacional, referindo-se aos ataques do presidente da República à estratégia de isolamento social e à segunda troca de ministros da Saúde em um mês. “Criar na sociedade a divisão entre o que é correto e o que não é, é estratégia deliberada por mais loucura que seja”, declarou.
A falta de coordenação nacional causa a falta de coesão social necessária para a aplicação de quarentena. “Temos uma rede primária de atenção a saúde, mas a população não está recebendo estímulos para que não se contamine e o sistema de saúde possa atuar com média e grande complexidade”. Glória considera importante o trabalho da atenção primária em saúde para estimular e fortalecer o distanciamento social no território. Ela fala do trabalho de agentes de campo se antecipando em suas comunidades à chegada dos doentes aos hospitais. “Isso pode e deve fazer a diferença.”
Ela acredita que o Brasil estaria muito pior se não tivesse o SUS. “Ele acumulou experiência em vigilância em saúde, programa nacional de imunizações. Temos experiência acumulada em saúde universal. O SUS está mostrando fragilidade e o que é possível fazer com a pandemia”, defendeu.
Ela reafirma que nossa experiência de Sistema Único de Saúde “não é de se jogar fora”, mas que é preciso que a sociedade perceba a importância dele.