Para que se compreenda bem o processo histórico em desenvolvimento, após a segunda guerra mundial, é necessário se leve em conta o fato de que, com o fim desta guerra, o imperialismo norte-americano tornou-se o centro orientador das forças reacionárias mundiais, em substituição dos fascistas da Alemanha, Itália e do Japão. Em outras palavras: o centro da reação no mundo está hoje, precisamente, na sede do imperialismo ianque.

Para compreendermos a justeza desta afirmação, é necessário analisar a situação dos Estados Unidos antes da guerra, no decurso desta e no após-guerra. O professor Eugene Varga, mundialmente conhecido pela sua grande autoridade em assuntos econômicos, mostra como a Inglaterra perdeu cerca de uma quarta parte de seu patrimônio interno e externo e que, de um modo geral, a produção dos países europeus devastados, oscila entre 30 e 80% da de antes da guerra.

Quanto aos Estados Unidos, segundo aquele economista, a crise geral do capitalismo atingira profundamente a economia ianque às vésperas da guerra. Cerca de 8 milhões de operários estavam desempregados. As fábricas só trabalhavam 65% de sua capacidade. Boa parte das terras férteis não era utilizada. O governo pagava aos fazendeiros e granjeiros fortes subsídios monetários, por hectare não cultivado, sobretudo nas extensas áreas de produção de trigo, milho, algodão, etc. Foi o enorme consumo de materiais de guerra que impulsionou as forças produtivas paralisadas antes do conflito. A produção aumentou, durante a guerra, em mais do dobro relativamente a 1939. Foram acumuladas novas riquezas, construindo-se em série fábricas e navios.

Aspectos do Desenvolvimento da Produção nos Estados Unidos

O número de janeiro deste ano, da revista norte-americana “Political Affairs”, oferece-nos interessante estudo a respeito da situação dos Estados Unidos, do qual muitos dados aqui aproveitamos.

Para termos uma idéia do enorme desenvolvimento da produção americana é bastante observar o seguinte: tomando os anos de 193-1939,[1N] como índice 100, verificamos que a produção industrial, em princípio de 1945, apresentava um aumento avaliado em mais de 100%, com o elevado índice de 203. Terminada a guerra, esse índice baixava para 161 e, em fevereiro de 1946 o descenso atingia a 148; mas, já em outubro do mesmo ano, um considerável ascenso marcou o índice 182. Com relação às manufaturas, idêntico fenômeno se verifica: em princípios de 1945 registrava-se o elevado índice de 235 que, em dezembro do mesmo ano, caía para 167 e, em fevereiro de 1946, para 151; mas, em outubro desse ano, o índice se eleva a 189. Essa queda do último ano de guerra, e ainda nos primeiros meses do ano seguinte, deve-se à redução das encomendas de guerra, aos problemas da reconversão, à paralisação do trabalho por iniciativa dos patrões, (lock out), ou às greves, ainda por culpa destes, que resistiam a qualquer reclamação dos trabalhadores pró aumento de salários. Não obstante, a recuperação foi rápida. Já em outubro de 1946, como vimos, o índice se elevava acima do correspondente ao ano anterior, o que mostra o extraordinário desenvolvimento técnico norte-americano. Só “a produção de energia elétrica aumentou em 4 anos, 73%”, afirmou Prestes em uma de suas palestras.

Outro fato importante que deve prender nossa atenção é o que diz respeito ao número de trabalhadores. Nos últimos 3 meses de 1946, esse número era calculado em 60 milhões, ou seja, 5 milhões mais que no tempo de guerra, e aproximadamente 7 milhões além do que havia em dezembro de 1945. Concorreu para esse excepcional aumento do número de empregados na produção americana, a desmobilização das forças armadas. Só na agricultura o número de pessoal foi 51,4 milhões nos últimos meses de 1945, descendo para .O[2N] milhões no fim de 1946.

Não obstante em 1946 ter havido mais 7 milhões de empregados que no ano anterior, ou seja, um aumento de 13% no número de trabalhadores, é preciso notar que este aumento do pessoal na produção americana não significa, na realidade, aumento de número de operários. Em 1946, o aumento de trabalhadores nas indústrias manufatureiras foi apenas de 4%. Os 13.900.000 empregados em 1945, passaram a 14.500.000 em 1946. E, se nos reportamos somente ao pessoal diretamente ligado à produção industrial, veremos que o seu número diminuiu neste último ano. Em 1945 havia 11.700.000 operários industriais, enquanto no ano seguinte havia somente 11.200.000. Portanto, 4% a menos. A verdade é que o aumento real foi de auxiliares da produção: de 2.000.000 em 1945 para 3.300.000 em 1946, isto é, mais de 50%.

Deduz-se, pois, que o enorme aumento da produção ianque resulta do aperfeiçoamento técnico e do aumento de novos meios de produção e transporte — fábricas, navios, etc. — realizados durante a guerra. Isto elevou extraordinariamente a produtividade do trabalho.

Se observarmos que, de janeiro a outubro de 1946, quando o número de operários industriais caía de 4% sobre o ano de 1945, e a produção experimentava novo e alentado ascenso, veremos como aumentou a produtividade americana.

Visto isto, apreciemos agora a situação relativa a salários e remuneração: calcula-se que, em 1945, o montante pago atingia a 110,2 bilhões de dólares. Em 1946 a cifra cairia para 105 bilhões. Nestes totais incluem-se as folhas de pagamento dos militares.

Em 1945 o índice dos salários na produção de manufatura era 288, já em 1946 o índice baixava para 252, isto é, 9% menos. Esta é a queda quantitativa dos salários; há ainda a queda em relação ao custo de vida. Segundo dados que adiante examinaremos, os preços tiveram em 1946, uma alta de 9%. Isto nos mostra que a diminuição no salário real em 1946 é muito mais que 9%, apesar do número de operários, diretamente ligados à produção, nesse ano, ter descido de 4%,

A Questão dos Preços

Examinemos agora o custo de vida em relação aos lucros das corporações. Em 1946, esses lucros foram estimados em 12 bilhões de dólares, 3 bilhões mais que em 1945. O contrário do que ocorreu com os salários, que, relativamente ao custo de vida, e mesmo nominal, baixaram ao nível de antes da guerra. Compreendem-se, assim, facilmente, as causas dos extraordinários lucros dos magnatas americanos: aumento da produtividade, pois o operário hoje nos Estados Unidos produz muito mais do que antes da guerra; salário real muito mais baixo que em 1945; elevação dos preços num ritmo vertiginoso devido à suspensão do controle, pelo governo de Truman, quando este capitulou às exigências das corporações; redução dos impostos das corporações, eliminação dos impostos sobre os lucros extraordinários e diminuição de impostos sobre a renda normal das corporações. Para ilustrar, basta dizer que o Serviço de Administração de Preços verificou, em um inquérito relativo a 15 empresas, que as mesmas operavam violenta elevação de preços durante a guerra. Estimou uma média de 5,4% de aumento de preços, quando o aumento dado aos operários em igual tempo foi apenas de 1,8%. O que os magnatas na realidade fizeram, foi, assim, reduzir indiretamente os salários dos trabalhadores.

Nas indústrias de ferro, a elevação dos preços em 1946 foi de 11,1% contra 1,6% de elevação nos salários. A suspensão temporada do controle de preços, em julho, e a completa capitulação de Truman em novembro, ocasionaram novas altas;

                                                                    ÍNDICES DOS PREÇOS EM GROSSO
                                                       
                                                      dez 45             junho 46           ago 46              nov 46
Produtos manufaturados         102,5               126,3                 145,7                152,6 
Matérias primas                         119,2               126,3                 145,7                152,6
Produtos agrícolas                    131,5               140,1                 161,0                167,3                     
Alimentos                                     108,6               112,9                 149,0                164,1                
                                           
Pelo quadro acima, podemos verificar que, de 1926 a 1945, os preços sofreram pouca alteração, inclusive no período de guerra. Nota-se apenas, em relação aos produtos agrícolas, um aumento de 131,5, o que se explica pela falta de mão de obra na agricultura durante a guerra. Com o fim do conflito e o começo da política de capitulação aos grandes trusts e monopólios, verificamos o grande aumento de preços. O que se traduz, praticamente, do seguinte modo: de um lado a sangria na receita pública com a isenção de impostos, sobre o capital das corporações; de outro lado, sangrando o povo, através da suspensão do controle de preços, permitindo aos magnatas elevá-los à vontade. Esse quadro nos fornece ainda outras considerações, principalmente no que se refere aos produtos agrícolas e alimentícios. Verificamos que o maior aumento de preços foi justamente nesses produtos indispensáveis ao consumo do povo. O povo ianque, um ano após a guerra, gastava suas economias individuais, os trabalhadores tiveram seus salários realmente reduzidos e, de um modo geral, a massa do povo ficara mais pobre. Enquanto isso os magnatas americanos haviam aumentado extraordinariamente suas fortunas.

Durante a guerra, os salários eram relativamente mais elevados, havia ainda o acréscimo correspondente a horas extraordinárias. Nesse período, inúmeros artigos de uso deixaram de ser produzidos devido ao engajamento da indústria na produção bélica. Isto forçou o povo, particularmente os trabalhadores, a “economizar”, depositando em caixas e bancos as sobras dos salários e rendas. Porém, a partir do último ano de guerra, a produção de utilidades passou a ser realizada em larga escala. Então os salários já haviam sofrido grande queda, não só em relação aos preços, como ainda devido à suspensão do trabalho extraordinário. E o povo passou a utilizar suas “reservas”. Cerca de 35 milhões de dólares em caixa, em 1945, diminuíram para 22 milhões, em 1946. Além disso, grande parte do soldo dos ex-combatentes foi gasto com sua reintegração na vida civil. Todos esses recursos excepcionais, lançados no mercado como meio de compra, aumentando o procura de maneira crescente, deram uma falsa idéia de prosperidade. O que provocou o aumento de produção de utilidades.

Em conseqüência, desenvolveu-se muito o pequeno comércio, surgindo grande número de pequenas lojas. Entretanto, de um momento para outro, esgotadas as reservas e já antes diminuídos os salários, a procura caiu bruscamente, restringindo de maneira sensível o mercado interno. As pequenas lojas tiveram que fechar as suas portas; os magnatas estenderam então, uma rede de grandes empórios e magazines, à base de “crediários”, na esperança de manter a procura em relação à oferta. O total do crédito dos consumidores, assim, subiu de 2 bilhões de dólares durante 1946. Apesar disso, deu-se o inevitável: a acumulação, em estoques, das utilidades normalmente consumidas pelo povo americano. Para dar saída à grande produção era necessário que se diminuíssem os preços e que se elevassem os salários. Mas nada disso aconteceu, resultando que os consumidores, com seu poder de compra diminuído, não representaram mais um mercado capaz de absorver a crescente produção americana de utilidades.

A Conquista dos Mercados Euroupes

Antes da guerra os Estados Unidos exportavam apenas o excedente de sua produção de artigos manufaturados, que era relativamente pequeno comparado ao consumo do povo americano.

Atualmente, os artigos produzidos dão grandes lucros, por terem baixado os salários e subido os preços. Daí a necessidade de exportar, tornar-se dia a dia mais premente. Urge dar vazão às “sobras” cada vez maiores do mercado interno ianque em vista do povo americano, com seu poder de compra diminuído, privar-se de muitos produtos, antes de seu habitual consumo. Essa é a produção que está invadindo o mercado dos outros países. Mas, esses mercados, por sua vez, são limitados.

A Europa, que tem uma população concentrada de mais de 300 milhões de habitantes, com um elevado nível econômico, representa o grande mercado que os “trusts” norte-americanos ambicionam conquistar para seu expansionismo comercial. Entretanto, vários países europeus, apesar das devastações da guerra, agora com seus governos populares, estão se reconstruindo a custa de grandes esforços, procurando desenvolver suas indústrias nacionais. Outros países (como a França, a Itália e em parte a própria Alemanha) caminham nesse sentido sob o influxo do movimento popular-patriótico de seus povos contra as tentativas de domínio do imperialismo ianque.

Tais mercados, num e noutro caso, não podem ser facilmente dominados pelos norte-americanos. Daí a cínica política intervencionista dos agentes de Wall Street, nos negócios internos dos países europeus.

Os planos de Truman e Marshall outra coisa não visam senão dominar a Europa econômica e politicamente. A verdadeira face do anti-comunismo de Truman, é a luta dos “trusts” norte-americanos, contra o movimento patriótico dos povos da Europa. Isto porque o maior obstáculo imposto ao imperialismo norte-americano em seu plano de domínio do mercado europeu, é a ressurreição nacional dos povos daquele continente. Porém como os comunistas ali, e, em toda a parte, são os mais conseqüentes patriotas, a cruzada colonizadora de Truman tem a mesma legenda que a de Hitler — o anti-comunismo — e visa os mesmos fins: liquidação da soberania nacional dos povos.

O desespero dessa política norte-americana traduz a situação crítica que atravessam os Estados Unidos e que cada vez mais se agrava.

Ainda recentemente Truman e Marshall, em discursos ao povo norte-americano traçaram um programa de sacrifícios que já está sendo imposto àquele povo. Praticamente proclamaram uma política de fome para o povo estadunidense, como base daquele plano expansionista, visando o domínio da Europa. Apesar da mascarada encenação de “ajuda aos povos europeus”, é evidente que essa “ajuda” visa obter a capitulação de certos governos e, através da traição, dominar e colonizar os povos da Europa.

A situação interna dos Estados Unidos é tão grave que a resistência aos planos Marshall e Truman vem se avolumando cada dia. Não há muito no Senado americano, essa resistência se fez sentir energicamente, como verdadeira oposição àqueles planos. O Senador republicano Taft, criticando a política de “ajuda” a Europa, denunciou-a como um desastre para os Estados Unidos. Entre outras coisas, afirmou:

“Que o plano Marshall, na sua forma atual, é totalmente desarrazoado e deve levar em consideração que, do modo como foi apresentado pelas dezeseis nações, constitui grave ameaça a qualquer programa anti-inflacionista neste país”.
E indagou:

“Durante quanto tempo devemos continuar embarcando carvão através do Atlântico, para entregá-lo ao preço de 20 dólares por tonelada, quando há carvão disponível, em abundância, na Inglaterra e no Continente? Poderemos permitir-nos exportar petróleo e produtos derivados quando as nossas reservas parecem insuficientes para abastecer os Estados Unidos?”.
Continuando, perguntou ainda aquele parlamentar:

“As exportações de aço, propostas no plano Marshall, devem ser feitas, quando as nossas reservas de ferro vão se esgotando e há grande escassez de ferro neste país?”
E concluindo, afirmou:

“no cálculo estão incluídos um bilhão e quinhentos milhões de dólares para pagar pelo trigo canadense e argentino destinados aos embarques para a Europa. Pode-se esperar de nós que paguemos essa ajuda através de empréstimos à Europa, que jamais serão pagos?”
Este depoimento do Senador Taft é duplamente importante. Em primeiro lugar porque é feito por uma das mais proeminentes figuras da classe dominante, quer como político, quer como homem da alta finança daquele país. Em segundo lugar porque esse depoimento nos dá uma idéia da profunda contradição manifestada no seio do grupo preponderante nos Estados Unidos. E ainda nos mostra o plano inclinado para onde leva a crise capitalista já evidente na própria cidadela do capitalismo.

Os Mercados na Ásia e na América Latina

Restam a Ásia e a América Latina, como os maiores campos de atividade visados pelos magnatas ianques. Mas, nestas regiões, há também indústrias nacionais, embora incipientes, e ainda a concorrência de outras procedências. Além do mais não representam grandes mercados devido ao baixo poder aquisitivo dos povos latino-americanos e asiáticos. De qualquer forma, porém, aquelas mercadorias não podem ser vendidas dentro dos Estados Unidos, estão sendo jogadas no mercado interno de outros países numa concorrência desastrosa para as respectivas indústrias nacionais.

E o mais grave acontece com o nosso país; os saldos brasileiros, na balança comercial com os Estados Unidos, são bloqueados. Para utilizá-los somos obrigados a comprar, não o que a Nação necessita para o seu progresso — máquinas, etc. —, mas toda a espécie de bugigangas. O que quer dizer: o produto do esforço nacional, o sangue do povo, está sendo desperdiçado.

Porém, o que mais interessa aos trusts americanos, em país como o nosso — não é propriamente o mercado consumidor, por demais precário devido ao baixo nível econômico do povo — e sim a posse das reservas naturais, para, por meio de concessões, realizar a exploração sem limites até a colonização. É o que vêm tentando os trusts americanos em relação ao petróleo brasileiro e demais reservas naturais do nosso país.

Para conseguirem seus objetivos, os trustes norte-americanos exportam tudo, — roupa feita, calçados, remédios, comida enlatada, pentes, relógios, jóias baratas de imitação, etc. No Boletim do Conselho Federal do Comércio Exterior, de dezembro de 1946, verificamos que a importação de produtos manufaturados em 1945 era de 2.853.000,00 de cruzeiros, aproximadamente. Em 1946 passamos a importar 4.973.000,00 de cruzeiros, isto é, quase 2 bilhões a mais. Enquanto isso, nossa exportação de manufaturas diminuiu. Em 1945 exportamos 1 bilhão e meio, aproximadamente, e em 1946 apenas a 1 bilhão e cento e poucos milhões. Desse total de importação, 50% vieram dos Estados Unidos. Esses artigos são postos à venda por preços inferiores aos nacionais, visando o imperialismo a destruição ou absorção das fracas indústrias locais. Depois, os monopólios americanos poderão impor o preço que quiserem para os seus artigos.

Porque é possível ao imperialismo realizar com sucesso esta política ruinosa para a economia brasileira? Porque somos um país de economia atrasada, produtor de matérias primas para a exportação. Em 1946 enquanto aumentávamos em quase 3 bilhões de cruzeiros, a nossa exportação de produtos alimentícios, diminuímos em 409 milhões a exportação de produtos manufaturados. A incipiente indústria manufatureira do Brasil não conta com um amplo mercado interno, devido ao baixo nível de vida do nosso povo, e depende da importação de máquinas dos países industrializados. Nessas condições, nosso País é um campo fácil para as manobras imperialistas e a economia brasileira está sempre exposta às investidas do imperialismo, como qualquer economia colonial.

As indústrias nacionais mais atingidas pela ofensiva ianque são: a de calçados, remédios, alumínio e aços finos. O exemplo mais recente é o da indústria de aço fino de São Caetano, em São Paulo, a única existente na América do Sul, que fechou as suas portas sob a pressão da concorrência norte-americana, porque necessitou de 2 milhões de cruzeiros para melhorar a sua produção e o Banco do Brasil lhe negou o crédito. O que ocorreu nessa ocasião em S. Paulo, mostra bem o caráter do “dumping” americano contra a indústria do Brasil. Em fevereiro deste ano, em navio de sua propriedade, esteve naquele Estado um grande magnata ianque, o General Woods, que controla uma rede de empórios americanos, com a firma “Sears Roebuck & Co.”, considerada o maior truste comercial do mundo. Esse truste explora desde roupa feita até remédios. Na capital-bandeirante aquele magnata adquiriu terrenos para a construção de grandes edifícios destinados à lojas e armazéns para venda de artigos vindos dos Estados Unidos. E já fez inundar o mercado paulista com a primeira remessa de sapatos e roupas feitas, a preços baixos. Nesta política, os imperialistas americanos utilizam também a indústria dos países a ele submetidos. O caso mais típico é o do Japão, cuja indústria se desenvolvera bastante à base do trabalho pago miseravelmente. Os americanos estão agora utilizando artigos nipônicos em “dumping” contra a economia latino-americana, particularmente no Brasil. Aqui está sendo vendido pelos ianques fio de seda japonês, por preço inferior ao nacional, levando à ruína a indústria brasileira de fiação.

Vejamos agora outro aspecto da opressão imperialista: com a exportação de matérias primas durante a guerra, o Brasil, como outros países, não tendo podido importar como o fazia antes, acumulou saldos nos Estados Unidos que serviriam para importar maquinaria a fim de melhorar a sua indústria. Mas os magnatas americanos não nos querem vender maquinarias em troca dos saldos brasileiros. Preferem vender à base de empréstimos e arrendamentos, o que lhes permite controlar o capital empregado em nosso país. Como exemplo, temos o caso de Volta Redonda, cujo material pesado foi adquirido a custa de empréstimos e, hoje, de tanto controle americano, está praticamente em suas mãos, sofrendo sabotagens e paralisações na produção. Enquanto isso, o nosso saldo é trocado por quinquilharias.

Conclusões

O que vimos analisando nos leva a estas conclusões:

1.° — O imperialismo, em geral, saiu enfraquecido desta guerra, enquanto o imperialismo ianque, por condições especiais, logrou sair mais forte, com maior acumulação de riquezas. A verdade, porém, é que isto se deu à custa da enorme exploração do próprio povo norte-americano e dos povos dependentes. Assim como à custa também, do enfraquecimento dos grupos imperialistas rivais — inglês, francês, italiano, belga, holandês, japonês, etc., — cujos povos já estão sofrendo os efeitos da penetração do imperialismo ianque.

2.° — Os Estados Unidos multiplicaram suas forças produtivas. Mas isto não representa um aumento de bem-estar geral para a grande massa do povo norte-americano, cujo nível de vida, ao contrário, está baixando cada vez mais. Esgotaram-se suas reservas individuais, os salários baixaram, enquanto o custo de vida se eleva constantemente. O povo, na realidade, vai ficando mais pobre, ao passo que os resultados da enorme produção num maior e vertiginoso enriquecimento dos grandes monopólios econômicos.

3.° — Desse modo, apesar da “prosperidade” econômica, os Estados Unidos enfrentam uma situação realmente difícil. A grande contradição existente entre os grupos de magnatas e a massa do povo é cada vez maior, tornando-se, dia a dia, mais aguda. Um exemplo disto são as grandes greves do proletariado estadunidense, por aumento de salário; a luta do povo contra o encarecimento da vida que o força abster-se do consumo de utilidades do seu uso habitual; os protestos populares contra a capitulação de Truman aos monopólios, suspendendo o controle dos preços; e, finalmente, a luta política das forças democráticas norte-americanas contra a política aventureira, intervencionista de Truman em outros países, a serviço da ambição dos monopólios ianques.

4.° — E ainda o aprofundamento da luta dos povos dos países atingidos contra a ação colonizadora do imperialismo ianque que se revela o mais agressivo, o inimigo principal da independência nacional dos povos do mundo inteiro, ao mesmo tempo que é o maior inimigo do próprio povo ianque. Da! o anti-comunismo de Truman e seu bando, ressuscitando Hitler, cuja verdadeira face outra coisa não é senão a luta dos grandes trusts ianques, contra as conquistas democráticas do povo dos Estados Unidos e contra a democracia e a soberania nacional dos outros países, visando a dominação e colonização do mundo. No Brasil os efeitos do “dumping” imperialista norte-americano estão levando à falência inúmeras indústrias, ameaçando destruir todo nosso incipiente parque industrial. E ao mesmo tempo aqueles trusts procuram arrancar concessões do governo brasileiro para explorar as minas e jazidas do país. Visando desse modo transformar a nossa terra em mercado colonial, para venda de quinquilharias a exploração de matérias primas.

Com este objetivo buscam os magnatas ianques o apoio dos elementos nacionais mais representativos do atraso econômico de nosso país, cujos interesses estão em conflito com o progresso.

O imperialismo americano, enfim, procura aliados entre os grandes senhores de terras que, realizando uma produção agrícola a baixo custo, auferem grandes lucros no mercado externo, não se interessando, por isso mesmo, pelo mercado interno, que só se desenvolveria com a reforma agrária. Esta é a razão por que certos fazendeiros latifundiários, abraçam francamente a política de portas abertas pregadas pelos senhores da alta finança dos Estados Unidos. E também esta é a razão porque o grupo fascista, que ora domina o governo no Brasil, recebe todo o apoio de Truman e Marshall, a cujos planos de colonização de nossa pátria serve criminosamente.