As Causas da Revolução

Os republicanos de 1830, que tinham feito a revolução de Julho se viram privados dos benefícios da vitória.

Com Louis-Philippe, os banqueiros chegaram ao poder. “Depois da Revolução de Julho, quando o banqueiro liberal Laffite conduziu em triunfo seu compadre, o duque de Orleans, à Prefeitura, ele deixou escapar estas palavras:

“Agora o reino dos banqueiros vai começar”. Laffite acabava de trair o segredo da revolução.

Ao banqueiro Laffite sucedeu o banqueiro Casimir Perier. O governo dos banqueiros reprimiu com a maior das brutalidades as insurreições populares, tanto a dos “canuts” lioneses, como a dos operários parisienses. As organizações democráticas foram dissolvidas, os republicanos reduzidos à ilegalidade.

Desarmada a classe operária, teve a grande burguesia o caminho livre.

Foi este sentimento que exprimiu o chanceler Pasquier, em suas memórias, quando escreveu que após a repressão das insurreições de 1834 “parecia ter cessado a série de atentados, que se sucediam, desde 1793, com o mesmo objetivo, organizados pelos sectários furiosos que sobreviveram ao 9 Thermidor, e pelos prosélitos cuja alma perversa sempre souberam se revelar”.

Os republicanos moderados compreenderam, então, porém um pouco tarde, que não se salva nunca, nem a Democracia, nem a França, atirando-se nos braços da reação (no caso, Louis-Philippe), por temer as massas populares.

Foi assim que um homem como Armand Carrel ligou-se aos republicanos em 1832, depois de ter escrito, alguns anos antes, que ”a República que tem tantos atrativos para os corações generosos, fracassou, há 30 anos”.

Em Guizot, Louis-Philippe e a grande burguesia encontraram o ministro do seu sonho. Ele impôs, no interior, uma política de reação e, no exterior, uma política de humilhação nacional.

Mas a classe operária, que se tornava mais numerosa a cada progresso das forças produtivas, reforçava, mau grado a repressão, as suas organizações de luta. É o que notava, um observador como Tocqueville, embora conservador, em 17 de janeiro de 1848:

“Observai o que se passa no seio da classe operária, que hoje, reconheço, está tranqüila. Mas, não vedes que as suas paixões políticas tornam-se sociais? Não vedes, que decrescem, pouco a pouco, no seu seio, opiniões, idéias, que pretendem, não somente derrubar tal lei, tal ministério, tal governo, mas a própria sociedade, sacudindo as bases as quais repousa hoje? Não vedes que pouco a pouco se diz no seu seio que a divisão feita até o presente, no mundo, é injusta, que a prosperidade repousa sobre bases que não são eqüitativas? E não pensais que quando tais idéias se aprofundam, nas massas, elas conduzem mais cedo ou mais tarde, a revoluções as mais terríveis?”
De fato nessa classe operária terrivelmente explorada, as sementes do socialismo ativadas por Saint-Simon e Fourier germinam. A Associação Lionesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamam que:

“Os princípios republicanos assentam as bases de uma organização social de acordo com a razão e a equidade. É a reparação das iniqüidades sociais, a abolição dos interesses exclusivos e da usurpação que os mantêm, sem que o indivíduo perca suas armas de luta contra a opressão, isto é, uma sociedade onde o homem não será mais submetido a exploração do homem pela miséria, pelo isolamento e pela ignorância”.
No mesmo tempo que se exprimiam assim as aspirações da classe operária francesa, Karl Marx e Engels amadureciam o Manifesto do Partido Comunista, cuja tradução francesa saiu pouco antes de fevereiro de 1848. Seria conhecido muito tarde, para exercer uma benéfica influência sobre a revolução francesa. Mas o pensamento do Manifesto, inspirado no que havia de melhor na filosofia alemã e na economia política inglesa, inspirou-se também na experiência histórica francesa, nossos materialistas do século XVIII, no jacobinismo, no labourismo, no socialismo utópico de Blanqui, e na luta de classes na França.

* * *

Contra Guizot, a oposição tomou vulto, reunindo num mesmo movimento os operários, os pequeno-burgueses, certos elementos da burguesia industrial e os intelectuais.

A crise econômica de 1847 — uma das mais profundas que o regime capitalista enquadrou na primeira metade do século XIX, aumentou o descontentamento. O desemprego levou à miséria centenas de operários. A produção reduziu-se bruscamente. As Caixas Econômicas são assediadas. Com a crise a influência das doutrinas socialistas sobre a classe operária aumentou. No relatório à Prefeitura de Potiá de 14 de fevereiro de 1848, informa:

“As cidades industriais, Lyon, Rouen, Marseille, Toulouse, Grenoble, Saint-Etienne, Saint-Quentin, Louviers, os departamentos de Este (aqueles que são vizinhos da Suíça tais como Hant-Rhin, Varges, Doubs, Ain) fornecem um contingente de comunistas mais numeroso que em qualquer outro lugar”.
A crise se desenvolve numa atmosfera de escândalos que descobre aos olhos de todos aquilo que se tinha conseguido esconder: a podridão de um regime de ditadura, submetido a um punhado de banqueiros. A corrupção de um governo pessoal, a intolerância de um sistema político que recusava o direito de voto a milhões de franceses. Pensa-se naquela frase de Marx, que lembra que em certos momentos “uma classe determinada é a classe do escândalo geral”. Embora o afirme um recente manual de história, esses escândalos não são o efeito de um “acaso infeliz”. É a ilustração de um regime. Dois pares de França, Teste, antigo ministro dos Trabalhos Públicos e Presidente da Corte de Cassação e o General Despans-Cubières, antigo ministro da Guerra, são acusados de suborno. Eles tinham sido comprados pela companhia de minas de Gouteneau (Saône-et-Loire). Um outro par, o duque de Praslin, assassina a sua mulher, e preso se envenena. O príncipe d’Ecknuhl é também par de França e como tal toma parte na confecção das leis — e, entretanto, há mais de dez anos tem a assistência de um conselho judiciário, para a administração de seus próprios bens. O ajudante de Campo do rei, Gudin, é surpreendido escamoteando no jogo; o Diretor da Manutenção Geral se entrega à especulação sobre os cereais com o dinheiro do tesouro; o diretor de Subsistência de Rochefort suicida-se.

O jornal “L’Époque”, dócil a Guizot, é acusado por seu concorrente, “La Presse”, de passar em todos os guichês: 100.000 francos para fazer a campanha em favor da renovação do privilégio do diretor do Teatro Lírico e de 1.200.000 francos para defender o Ministro do Interior, um projeto favorável aos chefes do Correio. E é desses círculos que partem as acusações as mais violentas contra os comunistas, aos quais se acusa de atentados à propriedade individual, à moral e à família.

Os democratas tomam a iniciativa de uma campanha contra o governo conservador de Guizot. Inicia-se em 9 de julho de 1847, em Paris. A este protesto o rei responde por uma afirmação intransigente de conservantismo social. Ele qualifica de “paixões inimigas ou cegas” as reivindicações mais moderadas. “Mantenhamos firmemente, segundo a Carta, a ordem social e todas as suas condições”, declara a 27 de dezembro de 1847. A campanha toma um caráter cada vez mais popular.

De início, os banquetes não reúnem senão burgueses liberais, e, entretanto, eis que na hora da sobremesa e dos discursos as portas se abrem e as “blouses” invadem a sala. De início não se reclamava senão uma reforma eleitoral limitada, e agora é o sufrágio universal que se reivindica. De início, levantavam-se brindes à família real e à saúde da Convenção é que se erguiam as taças, sob os aplausos dos “convidados de sobremesa”.

As Jornadas de Fevereiro

22 de Fevereiro — Um grande banquete deve realizar-se em Paris nesse dia. Previa-se que, nessa ocasião, haveria uma grande manifestação com os guardas nacionais, “os jovens das escolas” e o povo de Paris. O governo proibiu o banquete e a manifestação. Apesar da interdição e mau grado a hesitação de certos chefes da oposição, a manifestação realizou-se. A multidão se reúne na Madeleine e na praça da Concórdia, vinda dos Faubourgs Saint-Denis, Saint-Martin, Saint-Antoine, do Temple, de Belleville e de Menilmontant. Canta-se a Marselhesa e apupa-se Guizot. Os estudantes, em cortejo, se deslocam do Pantéon à Madeleine. À tarde, bate-se nos Camps-Elisées, e os jovens de Paris, esses invencíveis “gavroches”, atiram as cadeiras da Avenida entre as patas dos cavalos, derrubando os cavaleiros. As primeiras barricadas aparecem.

23 de Fevereiro — Durante a noite novas barricadas foram construídas. A guarda nacional recusa-se a servir Guizot e grita: “Viva a Reforma” e às vezes: “Viva a República” e também canta a Marselhesa. Os soldados de linha confraternizam-se com os homens das barricadas. Mas os primeiros choques se produzem. Guizot é obrigado a se demitir e Mole, que também sempre havia sido amigo fiel do rei, o substitui. Ciente da saída de Guizot, e na noite que cai, a multidão desfila em cortejo nas ruas da Capital. Alegre, entusiasmada, reclama uma iluminação geral: lampiões, lampiões. Porém os operários se mantêm vigilantes. E eles têm razão. Eis que, às 10 horas da noite, no Boulevard des Capucines, diante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, uma fuzilaria faz tombar 23 mortos e 29 feridos. Os republicanos indignados clamam: “Vingança, vingança. Esmagam o povo”. Colocam os corpos dos seus, que caíram, sobre uma carreta e se dirigem para a Bastilha.

24 de Fevereiro — Paris está cheia de barricadas. O Marechal Bugeaud é chamado para o comando das tropas. Esta nomeação apresenta-se como uma provocação, porque Bugeaud é o homem que o massacre da rua Transnonains em 1834 tornou célebre para o povo de Paris. As tropas de Bugeaud marcham, partindo do Oeste, em direção dos quarteirões operários. Uma após outra, as colunas militares batem em retirada. Os insurretos avançam. Em grande uniforme, a espada ao lado, os politécnicos, se juntam aos operários e participam da luta. Os republicanos se apoderam da Prefeitura e se dirigem para as Tulhérias e o Palais-Bourbon. O combate se aproxima, batem-se no Palais-Royal, a 200 metros das Tulhérias. A batalha não cessa com a abdicação de Louis-Philippe. Os operários se lembram de 1830 e de sua vitória. Eles esperam, ou antes, eles querem a República. Ao marechal Gerard, que se dirige para as barricadas, com o ramo verde de trégua, a multidão responde: “É muito tarde, agora queremos a República; Viva a República!”

Todas as manobras são repelidas. O Palais-Bourbon é invadido. A República é proclamada. Um governo provisório é constituído — e a multidão, pelo cais, se precipita em direção à Prefeitura, berço das revoluções parisienses onde a República é solenemente proclamada.

A Significação de 1848

Tais são os fatos.

Qual o seu alcance e porque razão o Centenário de 1848 aparece com os acontecimentos de ordem política e nacional?

1 — 1848 é, antes de tudo, uma etapa no caminho da democracia. Em fevereiro de 1848 o povo francês destrói um regime censitário que não reconhecia direitos políticos senão por uma minoria rica (240.000 eleitores). Todos os franceses na idade de 21 anos, tornam-se eleitores e os operários e os camponeses poderão exercer o seu mandato de representantes do povo.

A guarda nacional, até então instituição burguesa, é franqueada para todos os franceses: o armamento e os equipamentos serão fornecidos pela municipalidade. As liberdades de imprensa e de reunião são proclamadas.

2 — 1848 é uma etapa no caminho de emancipação dos povos oprimidos. Desde 4 de março de 1848 o Governo provisório decide que não haverá escravidão. Em 27 de abril de 1848 é proclamado um decreto que determina a abolição da escravidão. O artigo 7.° diz:

“O princípio de que no solo da França não haverá escravos é aplicado à colônia e possessão da República”. Art. 7.° — Foram enviados comissários para os territórios de além-mar: o mais célebre foi Schalches, que os negros das Antilhas fizeram seu representante.

É preciso que o Centenário da revolução de 48 seja comemorado em todos os territórios de além-mar, mesmo que a sua lembrança desgoste alguns colonialistas modernos. A democracia francesa surgirá então, com o seu verdadeiro aspecto de uma democracia libertadora.

3 — 1848 é uma etapa no caminho da independência nacional. Foi Guizot, o último ministro de Louis-Philippe. “Sua política exterior não foi jamais uma política exterior francesa, indiferente; ora, era dócil às finanças inglesas, ora ao absolutismo austríaco”. Até 1848 Guizot se apoiou na Inglaterra. Esta “entente cordial” não era, de forma nenhuma, uma aliança de dois povos, visando uma política exterior comum no respeito de sua independência nacional. Era a capitulação diante da finança inglesa, em detrimento de muitos interesses franceses. Quando a “entente cordial” se deslocou, Guizot se atirou nos braços de Mertenich, o homem que encarnava na Europa de então a política reacionária, a mais sombria, e sempre em prejuízo de interesses franceses. Lamartine tinha razão, quando um mês antes da Revolução, em discurso de 29 de janeiro de 1848, exclamava que com Guizot, a França era “gibelina em Roma, austríaca no Biemonte, russa em Cracóvia, francesa em nenhuma parte e contra-revolucionário em todos os lugares”. O governo de Louis-Philippe tinha ligado a sorte da França à sorte dos conservadores europeus e dos banqueiros da City. A classe sobre a qual se apoiava, a grande burguesia financeira se deleitava com esse “pacifismo” que não seria nem a paz e nem a França. Quando os operários parisienses combatiam Guizot, eles viam, sem dúvida, nele, um homem que recusava o sufrágio universal, mas também o ministro que humilhava a França.

Essa vitória das forças democráticas aumentou a influência da França no mundo. Esses acontecimentos de França foram muitas vezes fortemente ressaltados por Karl Marx e Frederico Engels. “A sublevação de Paris, teve o seu eco na sublevação vitoriosa de Viena, Milão, Berlim, quando toda a Europa e a fronteira russa foi arrastada no movimento”.

“Enquanto a Inglaterra não participava da luta e a Alemanha continuava dividida, a França era, por sua independência nacional, sua civilização e sua centralização, o único pois capaz de dar impulso à sua vigorosa convulsão nos países vizinhos”.

Os soberanos nacionais compreenderam perfeitamente que os operários eram a alma desse movimento progressista. Eles não se acalmaram senão depois das jornadas de junho de 1848. “As represálias de Cavaignac sobre o proletariado parisiense, nos terríveis dias de junho, deram coragem a Nicolau I e o encheram de esperanças. Sob sua ordem o embaixador russo em Paris, Kisseliv, transmitiu imediatamente a Cavaignac o profundo reconhecimento do tsar. Nicolau I compreendeu, antes de qualquer outra manifestação da reação, que nas barricadas de Paris não era somente a revolução francesa que tinha sido esmagada, mas também a revolução européia e que o perigo não existia mais”.

4 — E assim foi: porque na revolução de fevereiro de 1848 os operários estavam na primeira linha de combatentes e em 1848 é uma etapa no caminho do socialismo.

Foram os operários que se bateram nas barricadas de 1848. Foram eles que impuseram a proclamação da República democrática na revolução social, abrindo ousadamente o caminho para o reconhecimento dos direitos da classe operária. Em 25 de fevereiro de 1848, uma manifestação operária obtinha do governo provisório uma declaração do direito ao trabalho; “o governo provisório da República Francesa se compromete a existência do operário pelo trabalho; se compromete a garantir o trabalho para todos os cidadãos; reconhece que os operários devem se associar entre si, para gozo de benefícios do seu trabalho”.

De 1793 a 1944, a tradição é continuada, passando por 1830, 1848, 1871 e aumentando em cada uma etapa histórica a influência da classe operária.

Mas, sem contestação, foi em 1848 que a classe operária, na França, surge como tal na cena da História.

“Impondo a República ao governo provisório e por este último a toda a França, o proletariado se coloca imediatamente no primeiro plano, como partido independente, e lançou, no mesmo golpe, um desafio a toda a França burguesa”.

5 — 1848 nos dá uma lição de vigilância.

Esta experiência nos lembra que as ilusões sempre fizeram muito mal à causa da burguesia

Quantas ilusões depois de fevereiro de 1848! Quanto entusiasmo e quanta aliança, cuja sinceridade fica duvidosa. O arcebispo de Paris manda cantar na Igreja Dominus Salvuns fac populus. (Deus salve o povo), em lugar de Domine Salvun fac regens (Deus salve o rei). Os padres abençoam as árvores da liberdade que se plantam por toda a porte. O “Jornal de Debates” louva “as tempestades pelas quais Deus e o povo manifestam sua cólera e o seu poder”. Os corpos constituídos se ligam sem demora, o exército, a Universidade, a Corte de Cassação, e o Conselho do Estado. Bugeaud, esquecido do massacre que fez, depôs a sua espada a serviço do governo e M. Rotschild envia 50.000 francos para os feridos de fevereiro. De fato, muitos republicanos acreditaram que “a revolução estava terminada” e que doravante eles poderiam se desmobilizar. Na aparência não havia mais reação. Todo mundo tinha se tornado republicano e mesmo socialista.

“A República não encontrou nenhuma resistência, tanto fora como dentro. Foi o que a desarmou”. Blanqui via claro, quando punha em guarda os democratas contra o perigo de ilusões. “A República, dizia ele, seria uma mentira, se ela não devesse ser senão a substituição de uma forma de governo por outra. Não basta mudar as palavras, é preciso mudar as causas”. Blanqui tinha razão, porque a reação, embora vencida, não estava desarmada. As ilusões nascidas da Revolução iriam deixar o campo livre às intrigas e às manobras de divisão dos vencidos de fevereiro de 1848. Tinham abençoado as árvores da liberdade, iriam auxiliar a sua destruição, dois anos mais tarde, sob pretexto de que elas “perturbavam o trânsito”.

6 — 1848 nos dá, enfim, uma lição de união. E é a necessidade desta união que deverá dominar a manifestação de 1948. Diz-se algumas vezes: 1848 foi uma derrota. Porventura exalta-se a lembrança de uma derrota? A Revolução de 1848 fracassou. Ela fracassou na França e em toda a Europa. Mas uma das causas fundamentais de seu fracasso está na falta de união entre os operários, união entre as forças democráticas. Certos republicanos obcecados pelo medo ao povo, e mais especialmente do proletariado, abandonaram os operários em junho de 1848, alguns mesmos os combateram. Doravante, todo republicano que se associar a uma medida de repressão contra o proletariado, merece o nome de Cavaignac, como lembrança daquele que reprimiu a insurreição de junho de 1848. Quando em 10 de dezembro de 1848 foi eleito o presidente da República, o general Cavaignac não obteve senão um milhão e quinhentos mil votos contra cinco milhões e quatrocentos mil votos a Louis Napoleão Bonaparte.

Logo após haver prestado juramento de fidelidade à República, Louis Napoleão Bonaparte desceu da tribuna e estendeu a mão ao general Cavaignac que acabava de pedir a demissão do Ministério. Era justo. À política de Cavaignac, Luis Napoleão devia em grande parte a sua eleição.

Não é demais dizer que a política de divisão é prejudicial. É preciso acrescentar que ela não beneficia as forças democráticas. Sem dúvida, as classes sociais não se apresentavam em 1848 como elas se apresentam hoje. O proletariado era menos poderoso. O capitalismo passou de estado da livre concorrência àquele do monopólio (imperialismo). Os trustes constituem a base econômica e social da Nação. Não eram senão os proletários, os pequenos negociantes, os artesãos e pequenos camponeses que tinham um interesse comum em lançar as bases de uma República Social.

Eles se deixavam esmagar separadamente. Os operários em junho de 1848, os camponeses quando, em dezembro de 1850, se colocavam contra o golpe de Estado, os pequenos negociantes quando sob o segundo Império, foram vítimas de concentração capitalista e de um governo substituído ao poder de dinheiro.

Reforçamento da democracia. Colaboração fraternal entre a democracia francesa e os povos de além-mar, defesa da independência nacional, reconhecimento dos direitos da classe operária, vigilância contra as forças da reação, que não estão desarmadas, e que não se deixarão desarmar, enquanto conservarem as suas bases sociais. Unidade da classe operária e união das forças democráticas, tal será a significação do Centenário dos acontecimentos de 1848. Nesta celebração os comunistas franceses tomarão uma parte ativa, porque fevereiro de 1848, junho de 1848, são datas que fazem parte dos seus títulos de nobreza. É uma etapa decisiva para os caminhos franceses do socialismo.

                                                                       
                                                                    O Dedo Sobre a Chaga

“Colocamos o dedo sobre a chaga máxima de nossa economia, causa origem do atraso em que vivemos — o latifúndio, o monopólio da terra.”
Prestes.