A concepção da unidade política e orgânica da classe operária, que expus na véspera do 1.° de Maio, repercutiu de diversas maneiras no Partido Socialista Polonês.

Os artigos publicados no “Robotnik” (1*) mostram que certos camaradas levam a discussão não no caminho da aproximação ideológica dos partidos, como o faz o Partido Operário Polonês, mas sim no terreno da unidade “mecânica”. Condenando a idéia da unidade mecânica, certos camaradas do PSP esforçam-se em dar a impressão de que o POP quer precisamente a fusão mecânica dos partidos.

No curso das conversações oficiais já havíamos manifestado a nossos camaradas socialistas que, de nossa parte, não víamos a possibilidade de criar um partido único através da fusão mecânica do POP e do PSP. Nossos camaradas do PSP continuam, entretanto, tomando posições, publicamente, contra a unidade mecânica. Isto nos autoriza a lhes perguntar: em qual declaração feita por representantes do POP encontra-se a menor frase ou recomendação a favor da unidade mecânica, a favor da fusão mecânica dos partidos? com quem discutem, realmente, quando escrevem no “Robotnik”, o seguinte:

“a unidade mecânica dos partidos operários na etapa atual nada faria senão agravar a divisão do movimento operário?”
Fazemos esta pergunta para orientar o debate sobre os caminhos que conduzem à criação de um partido operário único. E o fazemos a fim de não permitir que se invertam os fins do problema, para por fim às alegações das pretendidas tendências à unidade mecânica, bem como para animar a todos os nossos camaradas a falar e escrever sobre a necessidade de uma aproximação ideológica entre o POP e o PSP, elemento essencial para o fortalecimento da frente única e, para a criação de um só partido da classe operária na Polônia.

Nenhuma unidade mecânica seria capaz de substituir a unidade ideológica. A unidade mecânica significaria que os dois Partidos, PSP e POP, fundem-se, simplesmente, sem levar em conta as divergências ideológicas que existem entre eles, sem analisar as causas destas divergências, sem definir os objetivos a alcançar e os meios para consegui-los.

O Partido Operário Polonês é o defensor ardoroso do partido único da classe trabalhadora. Não consideramos o Partido único como uma perspectiva vaga; para um futuro longínquo. Mas o POP não quer também um partido operário unificado, no qual uns ficariam por um lado e outros por outro. Tal seria, sem dúvida o resultado de uma fusão mecânica entre o POP e o PSP. Um partido operário único aumentaria consideravelmente as forças da classe operária, com a condição de que este se baseasse unicamente na ideologia marxista.

A perspectiva da unidade orgânica entre o POP e o PSP, na nossa opinião, está estreitamente ligada à necessidade de aplainar e suprimir as divergências ideológicas que separam ainda hoje nossos
dois partidos.

A Ideologia Marxista: Caminho Científico para o Socialismo

A ideologia de um partido operário, quer dizer, a ideologia marxista que inspira a atividade do POP e que o PSP considera igualmente sua, não é uma abstração, desligada da vida. Não se pode talar dela ou ignorá-la segundo o gosto de cada qual, aplicá-la ou prescindir dela na vida. Não se pode evitar a discussão sobre o partido único da classe operária, discussão essencialmente ideológica, fazendo censuras infundadas sobre a unidade mecânica; combater ou condenar esta unidade é, sem dúvida, uma coisa fácil.

A doutrina marxista deve orientar a atividade dos partidos operários. Ela representa uma ideologia justa, uma linha justa, uma análise justa dos acontecimentos, métodos justos para lutar contra o inimigo de classe. Ela permite indicar à classe operária, às massas trabalhadoras e, em nossas condições atuais, à nação e ao Estado, o caminho justo a seguir.

Não vemos nenhum inconveniente em que nossos camaradas socialistas salientem em cada ocasião a palavra de ordem do socialismo, insistindo nela como objetivo principal de seu partido. O POP, partido marxista, tem também em seu programa máximo: até o regime socialista. Mas na fase atual de desenvolvimento, é necessário, em primeiro lugar, a consolidação e o fortalecimento do sistema social da democracia popular, que é o caminho da Polônia para o socialismo.

Toda doutrina social, e isto é o socialismo e a democracia popular, encerra um conteúdo social claramente determinado, bem como métodos e meio de ação.

O marxismo é o caminho científico para o socialismo. É fácil compreender que mais de um operário ou trabalhador não pôde, por falta de condições favoráveis, assimilar a ciência marxista, não pôde conhecer o jogo complicado das relações sociais, o que lhe permitiria conhecer as causas verdadeiras de sua miséria e os meios de eliminá-las. Poucas pessoas conhecem o mecanismo de um relógio, mas todas podem comprovar facilmente se anda bem ou mal. Da mesma maneira, a maioria dos trabalhadores, e entre eles a maior parte dos membros do POP e do PSP, que aspiram realizar seu ideal de justiça social, podem não se aperceber dos meios e dos métodos que lhes conduziriam a esse fim. Todos, no entanto, são capazes de julgar se o estado atual das coisas é bom ou mau, de saber perfeitamente se devem aceitar ou modificar estas condições.

As massas, em primeiro lugar, perguntam às direções de seus partidos o que é necessário fazer para suprimir este ou aquele mal. Por exemplo: para reduzir a desproporção que há na distribuição da produção. A classe operária, as massas trabalhadoras, não se contentam unicamente com a palavra de ordem do socialismo, que, ao realizar-se um dia, porá fim a todos seus sofrimentos e lhes permitirá alcançar todas as suas reivindicações.

As massas tampouco quererão contentar-se com frases abstratas sobre a necessidade de reforçar a democracia popular.

Cada operário, cada homem que vive do produto de seu trabalho, exige e tem direito de exigir de nós, dos dirigentes dos dois partidos, métodos e meios bem definidos que lhes permitam melhorar as condições de sua existência e suprimir os diferentes elementos da injustiça social.

A Atividade e a Ideologia do Movimento Operário

Quando o problema se apresenta desta forma perante os organismos dirigentes dos partidos — e se apresenta diariamente — a questão de diretivas a dar aos trabalhadores passa automaticamente, quer se queira ou não, a um terreno ideológico, ao da análise científica, pois que é um fenómeno social ligado ao conjunto das relações sociais. Não pode haver mais do que uma análise científica justa, apesar de que existe mais de uma teoria neste terreno. Recorremos à ciência marxista, ao método de estudo marxista das relações sociais, o qual nos indica o que é preciso fazer para solucionar os problemas concretos em condições determinadas, de acordo com os interesses da classe operária e de todos os trabalhadores.

Se os dirigentes de um partido operário tomassem decisões sem inspirar-se na doutrina desse partido, na ciência marxista, surgida da vida, correriam o risco de adotar decisões falsas e de conduzir a classe operária e as massas trabalhadoras por um caminho contrário aos seus interesses. Para evitar tais perigos e tais erros, para orientar seus membros e guiar as massas sem partido, a direção do partido deve valer-se do imenso tesouro do marxismo, que contém a experiência das lutas da classe operária e dos movimentos sociais do passado.

Sabemos perfeitamente que a ciência marxista, que define as leis que regem o desenvolvimento das relações sociais, não nos dá indicações, receitas universais que possam ser aplicadas sempre com o mesmo êxito, independentemente do tempo, do lugar e das condições locais.

Nossa obrigação é enriquecer e desenvolver o marxismo sobre a base da experiência adquirida. Da mesma maneira que o físico ou o químico utilizam em seus trabalhos todos os avanços registrados no terreno de sua ciência, os marxistas, em busca dos melhores caminhos para a classe operária e as massas trabalhadoras, devem utilizar todas as experiências obtidas da teoria e da prática do marxismo. Esta será a melhor garantia contra a possibilidade de cometer erros nas decisões a tomar para resolver os problemas sociais. Estes problemas podem ser mais ou menos importantes, mas sempre complicados, que a vida nos apresenta diariamente.

Não é segredo algum o fato de que entre o POP e o PSP existem certas divergências a respeito da escolha dos meios e métodos de luta contra o inimigo, na maneira de analisar e de abordar as questões políticas e econômicas atuais. Estas divergências têm sua origem em fontes ideológicas distintas. Existiram no passado e continuam existindo hoje. O conjunto dessas divergências é que determina o aspecto ideológico particular do POP e do PSP. Se os fins dos dois partidos fossem distintos só se poderia entrever uma colaboração limitada, na maioria das vezes, em problemas imediatos e objetivos limitados.

Estimamos, entretanto, que a situação não se apresente assim. O POP e o PSP, apesar de suas diferenças ideológicas, estão animados pelo desejo de estabelecer relações socialistas, onde não haja mais possibilidade da exploração do homem pelo homem. E esta vontade comum é que forma a base mais firme para a colaboração dos dois partidos em todos os terrenos, o que permitirá eliminar as divergências que existem ainda e, portanto, entremostra a perspectiva da unidade orgânica e nos faz acreditar em sua realização.

Seria falso pensar que a aproximação ideológica entre os dois partidos limita-se no reconhecimento de uma maneira abstrata da doutrina marxista. Não são unicamente as idéias que aproximam os homens e os partidos. É, antes de tudo, o conteúdo precioso dessas idéias, a ação comum, a luta por sua aplicação o que aproxima os homens e os ensina como lutar e o que fazer para conseguir o objetivo comum. É a vida que dita a necessidade de empregar certos métodos e meios concretos e que serve para verificar a justeza das teorias adotadas.

A direção do partido que quer realizar, de verdade, suas próprias palavras de ordem, que sabe fazer uma análise justa dos acontecimentos e prevê-los dentro do espírito marxista, encontrará, sem dúvida, os meios adequados para dar ao desenvolvimento social o sentido exato.

As Divergências Ideológicas no Problema do Comércio

Até agora, o POP e o PSP não discutiram publicamente as divergências ideológicas que os separa. Os organismos dirigentes dos dois partidos que tiveram e continuam tendo os mesmos conceitos em um grande número de questões, conhecem todas as diferenças, sem, entretanto, submetê-las a uma discussão pública. Não obstante, ultimamente, as divergências entre o POP e o PSP sobre o problema da organização por parte do Estado de uma rede para o comércio, foram mais ou menos divulgadas.

O Partido Socialista Polonês não admite a necessidade de criar uma tal rede, considerando que o Estado não tem por que se ocupar do comércio, devendo ser uma questão para as cooperativas e as empresas privadas. Nós consideramos que não somente o Estado pode como é também seu dever fazer comércio deixando, sem dúvida, toda a possibilidade de desenvolvimento às cooperativas e às empresas privadas.

Em que se resumem as divergências entre o POP e o PSP neste problema? E por que vemos nelas divergências ideológicas?

Os intercâmbios comerciais constituem um dos elementos principais da vida econômica. Quando todos os instrumentos de produção são da propriedade privada dos capitalistas, os intercâmbios comerciais se baseiam também exclusiva ou quase exclusivamente na iniciativa privada ou parcialmente nas cooperativas. Dentro destas condições, não há dúvida, o Estado organiza às vezes seu aparelho de compra e venda para pôr-lo à disposição da classe dominante. Era o que acontecia antes na Polônia, quando, por exemplo, o Estado, trabalhando em favor dos interesses dos senhores de terra, comprava o trigo para eles, criando, para este fim, um organismo especial de compra.

O consumidor raramente compra os produtos diretamente dos produtores. Na maioria dos casos o consumidor recorre, escalonadamente, a vários intermediários. É natural que quanto maior for o número de intermediários maior será o gasto comercial a acrescentar ao preço das mercadorias.

Quando os produtos faltam, quando a oferta é inferior à procura, o comerciante tem todas as possibilidades para aumentar, sem cessar, seus lucros e, em geral, não deixa de fazê-lo, elevando os preços das mercadorias. Apropria-se, deste modo, da maior parte da mais-valia criada pelo produtor. O consumidor que compra no comércio particular uma mercadoria produzida pela indústria nacionalizada, paga por ela um preço que, quase sempre, sobrepassa de 100%, senão mais, do preço de venda da indústria nacionalizada. É assim que o produto suplementar (a mais-valia) criado pelo trabalho da classe operária e que pertence ao povo, passa em sua grande parte e às vezes, quase que por completo, aos bolsos dos especuladores.

Para lutar eficazmente contra este fenómeno, o Estado deve recorrer às medidas administrativas e econômicas. Deve atuar com rigor contra os especuladores e ao mesmo tempo criar sua própria organização de compra e venda. Esta organização estatal permitirá que o Estado tenha em mãos todo o valor suplementar das mercadorias que ele mesmo distribuirá ao consumidor. Obrigará igualmente que o comerciante baixe seus preços pelo simples jogo da concorrência. Seria falso olhar-se o problema do comércio do Estado somente do ponto de vista dos gastos que causaria. As despesas que o Estado destinasse nesse sentido, seriam recuperadas em pouco tempo, com um lucro cem vezes maior, graças, em primeiro lugar, à diminuição dos lucros escandalosos do comércio privado.

O POP não pode renunciar a sua idéia de organizar uma rede comercial do Estado, pois o melhoramento das condições de vida das massas trabalhadoras, a realização do plano de inversões de capital e, de um modo geral, o progresso da democracia popular, dependem, em grande parte, do bom funcionamento deste organismo. Sem ele, estaremos à mercê dos especuladores, deixaremos que continuem apropriando-se do fruto do trabalho do operário e do camponês.

A experiência tem demonstrado que um organismo cooperativo, por melhor organizado que seja, não é suficiente para lutar contra os especuladores e que em nenhum caso pode substituir completamente o comércio do Estado. Além disso, sabemos perfeitamente que nosso sistema cooperativo está muito aquém do nível que lhe corresponde.

É completamente errôneo, falso e absurdo pensar que o POP combate o movimento cooperativista. Combatemos somente os defeitos deste movimento, o que não tem nada de comum com a idéia do cooperativismo, que a adultera e deforma. A única reprovação que nos cabe, como partido, é a de não havermos prestado uma atenção suficiente aos problemas cooperativistas, nada mais que isto.

Achamos que o movimento cooperativista deve desenvolver-se amplamente, ao lado de uma ampla rede comercial do Estado. Deste modo, opinamos que num setor econômico de tanta importância, o Estado deve possuir um aparelho que esteja estreitamente sob sua direção, com um mecanismo em perfeito funcionamento, sempre à sua disposição e com o qual possa contar em qualquer momento. Não se pode tentar a experiência de reservar ao “spolen” (2) o monopólio da compra do trigo, pois uma experiência desta natureza poderia pôr em perigo o abastecimento regulamentado da população. Isto não poderia causar senão resultados catastróficos, tanto do ponto de vista econômico como político. Mas é necessário utilizar totalmente o aparelho do “spolen” para a compra do trigo. Defendemos sempre o movimento cooperativo e continuaremos defendendo, não obstante não existir no mundo regime social cooperativo e mesmo agora nenhuma ciência, nem marxista nem burguesa, criou a doutrina de um tal regime. Acabo de mencionar uma das divergências que existem entre o POP e o PSP, que ainda não foi solucionada. Como se pode verificar, este problema é de grande importância para o conjunto da política econômica do Estado.

O desacordo sobre o comércio do Estado toma um caráter ideológico, pois se relaciona com as possibilidades de desenvolvimento de nossas relações sociais. Estamos profundamente convencidos — e esta convicção está baseada na experiência e ensinamentos marxistas — de que a posição defendida pelos teóricos cooperativistas no seio do PSP não é justa.

Ao Discutir as Divergências Pensamos na Aproximação e na Unidade

Sabemos que nossos camaradas socialistas têm, como nós, a intenção de combater a especulação e os especuladores. Não são, entretanto, as intenções o que nos diferenciam, e sim a questão dos meios a empregar que nos levem ao fim comum. Se o POP é intransigente nesta questão, é unicamente porque não vê outro meio apropriado para conseguir os resultados desejados. E todo este problema não se reduz a uma questão de “doutrina” marxista. É a vida real que nos obriga a seguir este caminho e não outro. Esperamos que, mais tarde ou mais cedo, o Partido Socialista compartilhará do nosso ponto de vista no que se refere à questão do comércio do Estado.

Mencionei unicamente as divergências de opinião sobre o problema do comércio do Estado à margem da questão principal, para demonstrar que as diferenças ideológicas são o principal obstáculo para a fusão dos dois partidos em um só partido da classe operária. Hoje, como ontem, estamos conscientes destas dificuldades. Se temos, entretanto, demonstrado à classe operária as perspectivas de unidade orgânica dos dois partidos, é porque, em primeiro lugar, cremos que é possível eliminar completamente as divergências ideológicas, que fazem com que o POP e o PSP sejam ainda hoje dois partidos distintos. E em segundo lugar, porque nos parece que é mais fácil e mais útil discutir sobre os desacordos ideológicos e chegar a acordos sobre conceitos comuns, tendo em vista a perspectiva da aproximação entre os dois partidos e a unidade, enquanto que, faltando uma tal perspectiva, correríamos o risco de criar no interior e no exterior a impressão de que os dois partidos distanciam-se um do outro.

Observemos que o caminho para um partido único da classe operária mede-se pela amplidão das divergências ideológicas que existem em seu seio, como é o caso entre o POP e o PSP.

As direções dos partidos têm grandes possibilidades de formar a concepção da classe operária e das massas trabalhadoras, mas não devem nunca deixar de ter em conta a opinião dos que eles representam. Não é somente o partido, o que instrui às massas, como também as massas que instruem a direção dos partidos. Os organismos dirigentes dos dois partidos — ainda que o desejassem — não poderiam fundir suas duas organizações respectivas sem a aceitação por parte da classe operária, bem como tampouco estariam em condições de manter em suas fileiras duas correntes políticas distintas, sob a forma de dois partidos, se a isso se opusesse a classe operária.

Sabemos perfeitamente que a criação de um só partido operário é, antes de tudo, um processo ideológico da larga duração. É um processo permanente, de todos os dias. Pode-se acelerar como se pode frear. Não obstante, apesar das aparências, não se pode fazer um ou outro, de maneira mecânica. Uma oposição mecânica à unidade orgânica entre o POP e o PSP é tão nociva — e o que é mais importante — não conduz mais rapidamente ao objetivo, tanto quanto o é uma tendência mecânica para a unidade.

Por esta razão é que é bom que a classe operária conheça as diferenças ideológicas que existem entre os dois partidos, e que motivam sua separação. Isto permitirá eliminar muito mais facilmente estas divergências e abrir na Polônia o caminho para um partido único da classe operária, armado de uma ideologia única.

Notas de Rodapé:
(1) Órgão central do Partido Socialista Polonês. 
(2) União das cooperativas.