A Doutrina marxista-leninista é todo poderosa porque é justa. Foi confirmada por mais de cem anos de luta revolucionária travada pela classe operária contra o capitalismo e coroada, na Rússia, pela vitória histórica da grande revolução socialista de outubro, cuja importância é universal, e pela construção da sociedade socialista. A força invencível das idéias marxistas-leninistas encontrou igualmente sua confirmação na criação de Estados de democracia popular, assim como na intensificação da luta revolucionária travada por centenas de milhões de oprimidos e explorados, no mundo inteiro, contra o jugo do imperialismo, pela paz e a democracia.

Nas grandes batalhas históricas para dar à humanidade um futuro feliz, torna-se mais importante do que nunca a consolidação da frente única dos operários de todos os países, a união dos esforços de todos os Partidos Comunistas contra a burguesia imperialista que, tendo à frente os monopólios dos Estados Unidos, organiza blocos militares e econômicos contra a URSS, as democracias populares e os trabalhadores do mundo inteiro.

A consolidação do internacionalismo proletário, da solidariedade de todos os trabalhadores só é possível nessa base inabalável, nessa base de granito constituída pelo marxismo-leninismo, a doutrina da classe operária. Toda tentativa de abandono do marxismo-leninismo apresenta um grande perigo para cada Partido Comunista, para cada povo.

Foi justamente por essa razão que a Resolução de Bureau de Informação sobre a situação no Partido Comunista iugoslavo condenou as opiniões anti-marxistas dos dirigentes iugoslavos, que vêm seguindo já há algum tempo, quanto aos problemas principais da política externa e interna, uma orientação falsa, afastando-se da doutrina marxista-leninista.

O abandono do marxismo-leninismo conduziu os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo ao desenvolvimento de uma política inamistosa para com a União Soviética e o Partido Comunista (bolchevique) da URSS. No plano interno, essa política levou os dirigentes iugoslavos ao caminho de um partido populista dos kulaks no que se refere ao papel dirigente da classe operária, à teoria oportunista do amortecimento da luta de classes no período de transição do capitalismo ao socialismo; ao aventurismo e aos desvies esquerdistas, cujas repercussões são nefastas para a economia nacional da Iugoslávia.

Em conseqüência de suas opiniões anti-partidárias e anti-soviéticas, os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo estão dividindo a frente única socialista contra o imperialismo, traindo a causa da solidariedade internacional dos trabalhadores e passando-se para as posições nacionalistas burguesas.

A Ruptura Com o Marxismo-Leninismo

Sabe-se que um dos problemas essenciais do marxismo-leninismo é o do papel revolucionário da classe operária em sua qualidade de guia do conjunto dos trabalhadores em sua luta pelo socialismo. O problema da massa camponesa em sua qualidade de aliada do proletariado nessa luta, é um problema que decorre do primeiro, portanto, um problema subordinado. Mas, ao mesmo tempo, o problema da massa camponesa é de uma importância vital para todos os Partidos Comunistas.

Partindo do papel dirigente do proletariado na luta revolucionária, Lenin dizia em 1919:

“A experiência de todas as revoluções e de todas os movimentos das classes oprimidas, a experiência do movimento socialista mundial nos ensina que somente o proletariado é capaz de unir e de conduzir as camadas dispersas e atrasadas da população trabalhadora e explorada”.
Esse princípio fundamental do marxismo-leninismo deve ser o princípio dirigente na ação prática revolucionária de cada Partido Comunista. Fortalecido com esse princípio, o Partido Bolchevique liquidou o populismo, o menchevismo, o socialismo-revolucionário, o trotskismo, que tinha, todos eles, como característica, o fato de que negavam o papel dirigente da classe operária e sua capacidade de guiar a massa camponesa.

Esse princípio do marxismo-leninismo é obrigatório para os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo em sua atividade política? Sim, isto é, incontestável. Como conseqüência da predominância dos camponeses napopulação da Iugoslávia, deveriam os comunistas iugoslavos apoiar-se principalmente sobre os camponeses e não sobre a classe operária, aliada às principais massas camponesas? Não. Semelhante orientação significa uma incompreensão da correlação das forças de classe no país e um abandono direto do marxismo-leninismo nos problemas essenciais, decisivos. Eis o que a esse respeito dizia Lenin:

“Concluímos uma aliança com o campesinato. Assim concebemos essa aliança: o proletariado liberta o campesinato da exploração da burguesia, de sua direção e de sua influência, e o atrai para seu lado, a fim de que, juntos vencem os exploradores. Os mencheviques raciocinam do seguinte modos campesinato constitui a maioria, nós somos democratas puros; por conseguinte é a maioria que deve decidir. Mas o campesinato, não podendo ser independente, isso, praticamente, nada mais significa do que a restauração do capitalismo”.
É a classe operária e não o campesinato que representa, em todos os países da Europa Ocidental, em todos os países de democracia popular, inclusive na Iugoslávia, a única força revolucionária até o fim, capaz de conduzir todos os trabalhadores, isto é, antes de tudo as massas camponesas, à vitória do socialismo. Quanto a maioria do campesinato, isto é, os camponeses pobres e médios, esses podem contrair ou já contraíram uma aliança com a classe operária.

Os Partidos Comunistas, inclusive o Partido Comunista iugoslavo, devem ser partidos da classe operária. Isso não significa absoluta-mente que só os operários da vanguarda podem ser membros do Partido Comunista; os elementos revolucionários da vanguarda, saídos das fileiras dos camponeses pobres e médios e dos intelectuais também são admitidos no Partido Comunista. Os Partidos Comunistas, inclusive o Partido Comunista iugoslavo, não devem ser partidos da massa camponesa. Esse é o ABC do marxismo. O esquecimento desse princípio elementar é inadmissível para todo comunista. Entretanto, certos dirigentes notórios do Partido Comunista iugoslavo afastam-se do marxismo-leninismo no que se refere à questão do papel dirigente da classe operária. Sem levar em conta que o marxismo-leninismo se baseia na aceitação do papel dirigente da classe operária para a liquidação do capitalismo e a construção da sociedade socialista, os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo propagam opiniões muito diferentes. Basta nos referirmos ao discurso pronunciado por Tito em Zagreb, em novembro de 1946:

“Se dizemos aos camponeses que eles são a base mais sólida de nosso Estado, não é para obter seus sufrágios, mas sim porque é esta a realidade”.
Assim, segundo Tito, são os camponeses e não a classe operária que constituem a base mais sólida do atual Estado iugoslavo. Tito não se limita a negar o papel dirigente da classe operária, ele proclama, ainda, que o conjunto do campesinato, e portanto também os kulaks, é “a base mais sólida” da nova Iugoslávia. Não se torna evidente que essa orientação é um abandono direto do marxismo-leninismo, que ela exprime um ponto de vista conveniente aos políticos pequeno-burgueses e não aos marxistas-leninistas.

O abandono, pelos dirigentes do Comitê Central do Partido Comunista iugoslavo, da teoria marxista-leninista quanto ao papel dirigente dá classe operária, como guia do Estado de democracia popular, teve também, sua expressão na apreciação totalmente falsa do papel e da significação da Frente Popular. Sabe-se que a Frente Popular compreende, igualmente, ao lado dos operários, dos camponeses e dos intelectuais progressistas, representantes dos Partidos burgueses. Mas os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo não querem reconhecer que o papel dirigente da Frente Popular deve caber à classe operária. A negação do papel dirigente da classe operária reduz sua vanguarda, o Partido Comunista, a uma posição semi-legal. Os lideres do Comitê Central do Partido Comunista iugoslavo chegam ao ponto de tratar os sindicatos como organizações colocadas a reboque da Frente Popular. Os sindicatos, chamados a constituir “uma escola do comunismo”, segundo Lenin, estão reduzidos a organismos de terceira ordem, cuja atividade é limitada, mesmo no que se refere à convocação de reuniões.

“É completamente falso e absurdo — declarou Djilas em janeiro de 1947 — convocar reuniões sindicais separadamente das assembléias da Frente Popular. É necessário convocá-las conjuntamente, porque os sindicatos integram igualmente na Frente Popular”.
E Mocha Pjade escrevia recentemente que os sindicatos (isto é, a classe operária) não, representaram nenhum papel na luta libertadora na Iugoslávia e, por conseguinte, não são a força dirigente no sistema do poder de Estado na Iugoslávia. A ruptura com o marxismo-leninismo no problema essencial faz com que Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo não exprimam os interesses da classe operária; que não queriam reconhecer o heroísmo de que deu provas a classe operária da Iugoslávia, na luta libertadora e na construção da nova Iugoslávia. Isso significa, praticamente, uma traição para com a classe operária.

A Caminho da Formação de Um Partido Populista de Kukaks

Negando o papel dirigente da classe operária no Estado de democracia popular e afirmando que os camponeses constituem “a base mais sólida” do Estado iugoslavo, os dirigentes do Comitê Central do Partido Comunista iugoslavo perpetuam o papel dos “amigos do povo” de triste memória, isto é, dos representantes do velho socialismo camponês; abandonam o caminho marxista-leninista para enveredar no caminho do partido populista dos kulaks. Eles menosprezam assim várias indicações de Lenin, quando declarava que é somente na classe operária que a democracia pode encontrar um apoio sem reservas. Só podem ser firmes combatentes revolucionários aqueles que se apóiam nessa tese inabalável do marxismo. Ao contrário, aqueles que se julgam comunistas e construtores do socialismo, mas que procuram seu apoio principal nos camponeses e não na classe operária, são fracos e impotentes. 0 democratismo camponês jamais gerou outra coisa que não fosse a sua própria desagregação. Isso é provado pela história dos populistas russos, que haviam chegado ao ponto de defender os interesses dos kulaks e da parte rica do campesinato. Pela lógica impiedosa dos fatos, os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo orientam-se pelo mesmo caminho.

Não são novas as opiniões expressas por Tito. Ao contrário, elas representam os dogmas do revisionismo, há muito tempo refutados pelos marxistas. Isso é bem conhecido por quem quer que tenha alguma idéia da história do marxismo. Em seu livro “O PROBLEMA CAMPONÊS NA FRANÇA E NA ALEMANHA”, escrito em 1894, Friedrich Engels condenou resolutamente as tentativas dos socialistas franceses de incluir no programa de Nantes um parágrafo relativo à defesa dos interesses camponeses em seu conjunto. Ele demonstrou que isso era uma violação direta . . . do princípio essencial do socialismo em geral. Quando, no Congresso do Partido Social-Democrata Alemão, em Frankfurt, o revisionista Volmar “visava ganhar os camponeses”, inclusive os kulaks, prometendo-lhes defender seus interesses, Engels repudiou, categoricamente semelhante atitude, declarando que “não se podia aceitar essa tese sem abandonar os princípios essenciais”.

É estranho que, meio século mais tarde, ainda haja comunistas capazes de considerar os camponeses como “o apoio principal” no período de transição do capitalismo ao socialismo. E Tito, assim como outros dirigentes do Partido Comunista iugoslavo, não se contenta em negar o papel dirigente da classe operária, mas tem ainda concepções anti-marxistas no que se refere à natureza de classe do campesinato. Eles consideram o campesinato como um todo homogêneo e não vêem a diferenciação que se apresenta dentro dele, em camponeses pobres, médios e em kulaks. Os dirigentes do Partido iugoslavo têm medo de pronunciar o vocábulo kulaks. Obrigados a falar na natureza social do campesinato, eles se limitam a uma frase vazia de sentido e falam de camponeses abastados. Desprezam a doutrina marxista-leninista sobre a natureza de classe do campesinato e sua diferenciação. Nesse problema, como em muitos outros, os dirigentes da Iugoslávia abandonam o marxismo-leninismo e menosprezam a grande experiência histórica da construção socialista na URSS.

Os grandes criadores do comunismo, Lenin e Stalin, declararam várias vezes que a rica experiência do Partido Bolchevique tinha uma primordial importância para as futuras revoluções Socialistas. Eis o que dizia Lenin em seu informe sobre a tática do Partido Comunista russo no III Congresso da Internacional Comunista:

“Do ponto de vista internacional, constitui um progresso imenso o fato de procurarmos definir as relações entre o proletariado que detém o poder de Estado e a última classe capitalista, a base mais profunda do capitalismo, a pequena propriedade, o pequeno produtor. Esta questão está agora colocada praticamente perante nós. Penso que saberemos resolver essa tarefa. Em todo caso, nossa experiência será proveitosa para as futuras revoluções proletárias se estas souberem preparar-se melhor tecnicamente para resolver este problema”.
Nesse mesmo informe, Lenin disse, caracterizando os camponeses como “a última classe capitalista” que, para manter seu papel dirigente e o poder do Estado, a classe operária devia fortalecer, por todos os meios, a aliança dos operários com os camponeses. Não há qualquer contradição nessas teses de Lenin. Quando ele diz que o campesinato é “a última classe capitalista”, ele quer dizer que o campesinato constitui uma classe particular, que baseia sua economia sob a propriedade privada dos meios de produção e que, por conseguinte, difere da classe operária, cuja economia tem seus fundamentos na propriedade socialista e coletiva dos meios de produção. Ao mesmo tempo, Lenin considera que

“a pequena produção gera continuamente o capitalismo e a burguesia, dia a dia, hora a hora, de modo espontâneo e em vastas proporções”.
É evidente que isso não constitui um obstáculo intransponível à organização da aliança entre operários e camponeses. Mas, durante a transição do capitalismo ao socialismo, a aliança da classe operária com os camponeses não é uma aliança com toda a massa camponesa. A aliança da classe operária com os camponeses é uma aliança com as massas trabalhadoras do campesinato. Semelhante aliança pressupõe uma luta decidida contra os elementos capitalistas, uma luta contra os kulaks. Desenvolvendo essas teses de Lenin referentes à aliança dos operários com os camponeses durante o período de transição eis o que disse Stalin:

“É uma forma particular da aliança da classe operária com as massas trabalhadoras do campesinato, que tem como objetivo: a) fortalecer as posições da classe operária; b) assegurar à classe operária um papel dirigente no seio dessa aliança; c) suprimir as classes e a sociedade de classes. Qualquer outra concepção da aliança dos operários com os camponeses é oportunismo, menchevismo, social-revolucionarismo, tudo o que se quiser, mas não é marxismo, não é leninismo”.
Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo nada percebem evidentemente, a esse respeito, pois, na sua ignorância do marxismo-leninismo proclamaram os camponeses, em seu conjunto como o principal apoio no campo, esquecendo a luta contra os kulaks.

A Teoria Oportunista da Pacificação da Luta de Classe

Dirigentes do Partido Comunista iugoslavo fogem à questão da luta de classes e da limitação dos elementos capitalistas no campo. E ainda mais: os dirigentes iugoslavos deixam muitas vezes passar em silêncio, nas suas intervenções, o problema da diferenciação de classes no campo e não mobilizam o Partido Comunista iugoslavo para superar as dificuldades que são conseqüência do desenvolvimento dos elementos capitalistas no campo.

Em seu discurso a respeito do plano qüinqüenal, Tito falou das tarefas que se impõem para a agricultura, mas não disse uma só palavra sobre as dificuldades políticas no campo sobre a luta encarniçada dós kulaks contra o poder popular. Tito não fez nem mesmo um apelo aos deputados da Assembléia Nacional para que reforçassem sua vigilância e não os advertiu do fortalecimento inevitável da luta de classes no pais e sobretudo no campo, não esclareceu as formas e os métodos de luta dos kulaks contra o poder popular. Entretanto, essa luta se manifestou de forma particularmente aguda durante o recolhimento das reservas de trigo em 1947. Aconteceu muitas vezes o fato de haver os kulaks destruído propositalmente sua colheita de trigo para fazer fracassar o plano de reservas de trigo e assassinado representantes do Partido Comunista e do poder popular. Elementos kulaks penetraram nos organismos locais do poder popular onde cometem toda sorte de abusos, procurando provocar o descontentamento dos camponeses trabalhadores contra os organismos do poder.

No decorrer do congresso dos antigos combatentes, em outubro de 1947, Tito reconheceu que os organismos do poder popular cometeram erros graves durante o recolhimento das reservas de trigo. Assinalou vários casos em que era tirado o trigo aos camponeses pobres e às viúvas de guerra. Tito prometeu que o trigo seria devolvido aos camponeses pobres e que os erros seriam retificados, mas não analisou esses erros. Não revelou as suas causas do ponto de vista da agravação da luta de classes no campo.

Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo subestimam o papel e as possibilidades do aumento do número dos kulaks, que oporão inevitavelmente, e que já estão opondo uma resistência encarniçada à construção socialista na Iugoslávia. Eles menosprezam os ensinamentos de Lenin e de Stalin que dizem que o Partido Comunista deve despertar a classe operária e as massas exploradas do campo, aumentar-lhes a combatividade e mobilizá-las na luta contra os elementos capitalistas das cidades e do campo, na luta contra os inimigos de classe que lhes opõem resistência.

O fato dos dirigentes iugoslavos negarem o fortalecimento dos elementos capitalistas e sua conseqüência, a agravação da luta de classe no campo, na Iugoslávia atual, baseia-se na concepção oportunista, segundo a qual a luta de classe não se agrava durante a transição do capitalismo ao socialismo, tal como o ensina o marxismo-leninismo, mas se atenua como afirmavam os bukarinistas, que pregavam a podre teoria da “integração pacífica” dos elementos capitalistas no socialismo.

Mais ainda: certos políticos iugoslavos propagam a teoria anti-marxista da espontaneidade na edificação socialista. Assim, por exemplo, Nicolas Petrovich, ministro do comércio exterior, afirmou no artigo “O plano qüinqüenal do desenvolvimento da economia nacional da Iugoslávia”, publicando na revista “Os Slavos” (n.° 5, 1947):

“Não constituindo um obstáculo essencial e intransponível para o setor socialista e seu impulso, a agricultura “solidamente ligada ao setor socialista e integrada no plano econômico geral, mudará progressivamente de caráter à medida que esse plano se for realizando e se desenvolverá pouco a pouco até o momento em que todo efeito espontâneo das leis econômicas for inteiramente e definitivamente suprimido”.
Disto se depreende que os dirigentes iugoslavos acham que o campo, que contém pequenas explorações camponesas e grandes explorações de kulaks não apresenta um “obstáculo essencial” à edificação do socialismo, que o campo por si mesmo “mudará pouco a pouco de caráter”. O conteúdo anti-marxista desta “teoria” é inegável.

A contínua agravação da luta de classes»é uma lei que rege o desenvolvimento das democracias populares, inclusive da Iugoslávia. Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo, que se esquecem dessa verdade, não são capazes de conduzir o país pelo caminho do socialismo.

O Aventurismo Político

Os Dirigentes do Partido Comunista iugoslavo, que não têm uma linha marxista firme e segura em política, lançam-se ora para um lado, ora para outro, ora para a direita, ora para a esquerda. Assim é que depois de terem sido criticados pelo Comitê Central do Partido Comunista (b) da URSS, por ter subestimado o desenvolvimento dos elementos capitalistas e propagado a teoria da extinção da luta de classes no país, os dirigentes do Comitê Central do Partido Comunista iugoslavo, evidentemente para demonstrar a “injustiça” dessa crítica, tomaram medidas precipitadas. A fim de mostrar que a base da reação está completamente liquidada na Iugoslávia, eles adotaram uma lei relativa a novas nacionalizações de empresas, inclusive as nacionalizações da pequena indústria e do pequeno comércio, medidas precipitadas que não foram preparadas e que, por esse motivo, não terão outro resultado senão o de estorvar o abastecimento da população iugoslava. Uma lei concernente ao imposto sobre o trigo foi apressadamente promulgada; essa lei só poderá desorganizar o abastecimento de trigo nas cidades. Nestes últimos tempos, os dirigentes iugoslavos vêm fazendo, com muita ênfase, declarações relativas à liquidação dos elementos capitalistas no campo.

Em sua resolução, o Bureau de Informação qualifica, com muita justeza, como aventureira essa concepção dos dirigentes iugoslavos quanto à liquidação dos elementos capitalistas nas atuais condições da Iugoslávia, pois é impossível resolver essa tarefa enquanto existir a pequena exploração camponesa, que gera inevitavelmente o capitalismo, enquanto não estiverem preparadas as condições de uma coletivização integral. A política aventureira dos dirigentes do Partido Comunista iugoslavo baseia-se na negação da teoria marxista-leninista referente aos meios de supressão das classes, no desconhecimento da experiência dá edificação socialista no URSS. A experiência do Partido Comunista (b) da URSS demonstra que a liquidação dos kulaks como classe só é possível na base de uma coletivização integral, que essa liquidação deve ser parte integrante da edificação socialista no campo, da coletivização da agricultura. Qualquer tentativa para resolver essas tarefas de outra forma, por meio de medidas administrativas, é uma aventura pequeno-burguesa fadada ao fracasso.

Todo mundo sabe que profundas transformações revolucionárias se produziram na URSS depois da revolução socialista de outubro. A burguesia e os latifundiários foram suprimidos. Toda a terra, as fábricas, as usinas, os bancos, os transportes, foram nacionalizados. Numa luta de classes encarniçada dos camponeses pobre contra os kulaks, as bases dos kulaks ficaram profundamente debilitadas. Uma parte considerável dos camponeses foi beneficiada com imensas conquistas materiais e elevou-se ao nível dos camponeses médios. O campo se tornou essencialmente povoado por camponeses médios.

Entretanto, o Partido Comunista (b) da URSS nunca tirou, desse “fato, a conclusão de que a luta de classes se enfraquecia no campo, ou que era possível liquidar em alguns dias os restos do capitalismo no país. Lenin indicou:

“Enquanto vivermos num país de pequena produção camponesa, o capitalismo disporá, na Rússia, de base econômica mais sólida do que o comunismo”.
Sabe-se, também, que, durante os primeiros quinze anos que se seguiram à revolução de outubro, o Partido Bolchevique nunca retirou da ordem do dia o problema agrário relacionado com os kulaks: inicialmente, tomou todas as medidas para entravar os elementos capitalistas no campo, e, em seguida, tratou da supressão dos kulaks como classe.

Neste sentido dizia o camarada Molotov no XV.º Congresso do Partido Comunista (b) da URSS:

“durante todo o período da NEP o Partido seguiu incessantemente uma política de limitação do desenvolvimento dos elementos capitalistas; ele o fazia estabelecendo o imposto progressivo, limitando os arrendamentos da terra, aumentando as reivindicações no interesse do assalariado agrícola, sustentando as explicações mais fracas pela concessão de créditos e por toda a política do poder soviético no seu conjunto (inclusive o apoio ativo da indústria do Estado, etc.). Mas nossa tarefa é a de enveredar no caminho da liquidação total dos elementos capitalistas no campo como nos aldeias. Na verdade, essas tarefas não são mais do que as tarefas daedificação do socialismo”.
Desenvolvendo uma política de limitação dos elementos capitalistas no campo, o Partido de Lenin e de Stalin reagrupou em torno de si os camponeses pobres e médios, isolou os kulaks e preparou as condições necessárias para orientar de forma decisiva a grande massa do campesinato no caminho da coletivização.

Quando essas condições estavam criadas, o Partido passou da política de limitação dos elementos capitalistas, no campo, a uma política nova, a política de liquidação dos kulaks como classes, na base da coletivização integral. E essa política foi coroada pela vitória histórica do regime kolkosiano.

A subestimação dessa experiência do Partido Comunista (b) da URSS, quando se trata de assegurar as condições principais da edificação do socialismo na Iugoslávia, esconde graves perigos políticos e é inadmissível para os marxistas, pois é impossível edificar o socialismo unicamente nas cidades, unicamente na indústria — é preciso edificá-lo igualmente no campo, na agricultura.

As recentes medidas esquerdistas dos dirigentes iugoslavos ultrapassam as tarefas da limitação dos elementos capitalistas. Essas medidas aventureiras não correspondem às possibilidades reais da Iugoslávia. Por conseguinte, semelhantes medidas só levarão a comprometer ainda mais a aliança da classe operária com o campesinato.

Uma Concepção Oportunista de Direita das Cooperativas

Ninguém quer diminuir a importância das transformações agrárias na Iugoslávia. Mas seria extremamente perigoso superestimar os resultados da reforma agrária.

A esse respeito, Kerdelj declarou, na conferência do Bureau de Informação na Polônia em 1947.

“A reforma agrária aproximou ainda mais o poder popular das massas trabalhadoras e contribuiu para isolar os camponeses ricos especuladores nas aldeias. Assim, foi desferido, a todos os elementos capitalistas da aldeia, em geral, um golpe poderoso, pois a reforma agrária debilitou consideravelmente a pressão que eles exerciam sobre os pequenos produtores camponeses e traçou certos limites a seu desenvolvimento” .
Entretanto, a situação política no campo iugoslavo não justifica semelhante despreocupação. A agricultura na Iugoslávia, país essencialmente agrícola (a população rural constitui aproximadamente 80%) é, atualmente, um oceano de pequenas explorações camponesas.

A terra na Iugoslávia não foi nacionalizada, e constitui propriedade privada dos camponeses. Entretanto, os dirigentes do Partido Comunista da Iugoslávia julgam inútil nacionalizar a terra, porque contam edificar o socialismo salvaguardando, ao mesmo tempo, o princípio da propriedade territorial privada. Convém tomarmos em consideração que cerca de dois milhões de explorações camponesas na Iugoslávia possuem lotes de terra que não ultrapassam cinco hectares. Por outro lado, existem grandes explorações de kulaks, pois, em virtude da reforma agrária realizada em 1946, o máximo para as propriedades territoriais foi fixado entre 15 e 35 hectares de terra cultivada. Assim, existem atualmente, na agricultura da Iugoslávia, grandes possibilidades de desenvolvimento e de fortalecimento das explorações dos kulaks, que constituem a base da reação na aldeia.

Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo tranqüilizam-se dizendo que, graças à nacionalização da indústria e ao desenvolvimento das cooperativas agrícolas, “foi desferido um golpe mortal no poder econômico dos elementos capitalistas em nosso país”, segundo Kerdelj. Essa superestimação da luta contra os elementos capitalistas na Iugoslávia, prejudicial à causa da construção do socialismo, baseia-se na deformação dos princípios leninista-stalinistas do plano cooperativista.

As cooperativas agrícolas na Iugoslávia, que são ainda muito fracas organicamente e funcionam mal, abrangem apenas a esfera da troca, sem tocar, por pouco que seja, na produção, quer dizer, sem modificar as bases da pequena produção mercantil que constitui as raízes mais profundas do capitalismo. E Kerdelj nega o fato evidente de que as cooperativas de consumo, de compra e de venda não podem ainda desferir um “golpe mortal” nos elementos capitalistas do campo.

Mesmo quando as cooperativas de consumo, de compra e de venda englobam amplamente as explorações camponesas, individuais, os elementos capitalistas se desenvolvem na produção. Em virtude da superioridade da grande produção sobre a pequena produção, as explorações dos kulaks prejudicam as pequenas e médias explorações camponesas, reduzindo-as, com suo concorrência, a uma situação quase sem saída.

Temos a obrigação de lembrar uma vez mais a experiência da edificação socialista na URSS. Em 1926-1927, o peso específico do setor socialista na circulação das mercadorias atingia 81,9% para a venda dos produtos agrícolas e 63 % cabiam às cooperativas e aos organismos do Estado. Mas isso não significava “um golpe mortal” desferido contra os kulaks. O Partido Comunista (b) da URSS alertava resolutamente contra o perigo de um crescimento dos elementos capitalistas que então se observava. No XV.0 Congresso do Partido Bolchevique, em fins de 1947, o camarada Molotov dizia:

“Mas o problema essencial do desenvolvimento econômico do campo é o seguinte: os kulaks e a fração abastada dos camponeses desfrutam benefícios das grandes explorações; por conseguinte, levam vantagens, economicamente, sobre as explorações pequenas e médias. Tal é a principal contradição econômica em nossos campos, e devemos encontrar obrigatoriamente uma saída para essa contradição, uma saída para os camponeses pobres e médios”.
O Partido de Lenin e de Stalin encontrou uma saída para os camponeses pobres é médios na coletivização da agricultura, no reagrupa-mento das pequenas explorações camponesas em cooperativas de produção.

Os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo, superestimando a importância das cooperativas de consumo, de compra e de venda, colocam-nas, por isso mesmo, em oposição às cooperativas de produção. Mas semelhante oposição é estranha ao marxismo-leninismo. Segundo o plano cooperativista leninista-estalinista, as formas mais simples de cooperação são consideradas como o primeiro passo para a coletivização. Cabe à coletivização da agricultura uma importância decisiva na liquidação dos elementos capitalistas.

Realizar o plano leninista-stalinista para cooperativização é criar uma grande indústria socialista, capaz de armar a agricultura de uma nova técnica, de fazer com que as massas principais do campesinato passem das formas mais simples de cooperação, abrangendo o setor das operações de compra e de venda, às formas das cooperativas de produção, isto é, aos kolkoses. Somente nessa base é que se pode desferir “um golpe mortal” nos kulaks e construir o socialismo.

Como se vê, os dirigentes do Partido Comunista iugoslavo romperam com a teoria marxista-leninista das classes e da luta de classes, o que representa um perigo muito grave para o Partido Comunista da Iugoslávia e para o povo iugoslavo.

Afastar-se do marxismo-leninismo é desarmar ideologicamente o Partido Comunista iugoslavo e criar o perigo de uma degenerescência burguesa da República Popular da Iugoslávia.

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“É preciso ter presente que entre o desejo dos imperialistas de fazer explodir uma nova guerra e a possibilidade de organizá-la há uma imensa distância”.
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