A Luta Contra a Guerra e o Imperialismo Exige Uma Vanguarda Combativa e Esclarecida
Dois acontecimentos recentes servem para assinalar o nível já atingido em nossa pátria pelo embate que se desdobra, gigantesco, pelo mundo inteiro entre as forças da reação e do progresso, do imperialismo e da democracia, entre a minoria servil de agentes e lacaios que em cada país aceitam o jugo do capital financeiro, dos trustes e monopólios, e os patriotas que lutam em defesa da soberania nacional e da independência d!e suas pátrias.
Assistimos, de um lado, à luta magnífica dos mineiros de Lafaiete, ajudados por suas heróicos companheiras, contra a poderosa empresa imperialista United States Steel de Minas Gerais e, de outro, à sanha assassina com que a polícia a serviço do imperialismo ianque se lança contra o povo em plena capital do país.
Os mineiros do Morro da Mina mostraram à nação inteira como se luta contra o imperialismo, que os trabalhadores unidos e firmes são mais fortes que seus esfomeadores, mesmo quando se trata, como no caso em apreço, de poderosa empresa imperialista que dispunha da força armada do governo Milton Campos e do servilismo insidioso e matreiro dos agentes do Ministério do Trabalho. É comovedor pensar na situação daqueles 600 mineiros e de suas famílias, esfomeados e desamparados, diante da força esmagadora do patrão imperialista com seus sócios e lacaios entre os governantes do país. A vitória, no entanto, foi possível, graças ao elevado espírito de luta, à organização, à consciência de classe, ao movimento de solidariedade que souberam despertar em todo o país com o seu heroísmo, apesar da extrema penúria em que já se encontravam ao findar a greve, depois de 37 dias de luta e resistência. Eis aí um exemplo e um indício bem claro de que o nosso povo não se deixará esfomear nem muito menos se prestará a ser escravo dos banqueiros de Wall Street, como pretendem seus agentes nacionais e mais particularmente esse governo Dutra e o de seus interventores nos governos estaduais, todos esses politiqueiros enfim do acordo americano ou inter-partidário.
De outro lado, o covarde assalto policial aos patriotas que, em plena capital do país, após uma reunião em defesa do petróleo, depositavam flores junto à estátua de Floriano Peixoto, testemunha o desespero da reação imperialista, de um governo vendido à Standard Oil, e cuja polícia já não atira somente contra manifestações comunistas, como fez em 23 de maio de 1946 e contra manifestações populares, a pretexto da participação de oradores comunistas como fez em 22 de agosto de 1947, mas contra generais e parlamentares, contra cidadãos que homenageiam um vulto histórico que, se foi um patriota intransigente que jamais cedeu aos arreganhos do estrangeiro poderoso, foi também sempre apontado pelos defensores dessa ordem semi-feudal e semi-colonial que aí temos, como um dos seus mantenedores. O imperialismo ianque já nada mais respeita e na precipitação com que trata de consolidar suas posições em toda a América Latina e de avassalar o que ainda resta de nossas riquezas naturais, exige a submissão total desses governos de traidores, como o de Dutra, que se desmascaram por isso com rapidez cada dia maior e como que fazem questão de proclamar diante de seus povos e do mundo inteiro que não passam efetivamente de serviçais dos trustes e monopólios norte-americanos e que para defenderem os interesses desses patrões não vacilarão na chacina, no massacre dos patriotas, tal qual vem acontecendo na Grécia monarco-fascista, na China de Chiang-Kai-Shek, ou na Espanha de Franco.
O Imperialismo é a Miséria Para o Povo
Na verdade, apesar da resistência patriótica daqueles que não aceitam a colonização crescente da nação pelo imperialismo ianque, apesar da repercussão e da amplitude já alcançadas pela campanha em defesa do petróleo nacional, apesar de lutas significativas como a dos mineiros de Lafaiete, o que hoje se verifica no Brasil é que continua avançando, brutal e inexorável, a garra do imperialismo, cada dia mais absorvente e impiedosa na exploração de nosso povo e na opressão política que exerce através de seus agentes e lacaios, que se apossaram do governo do país.
Seria ingenuidade estarmos agora a pregar moral, a apelar para os sentimentos patrióticos, para o brio e a dignidade dessa gente que vive voltada para o patrão imperialista a pedir-lhe que venha tomar conta de nossa terra e prosseguir na exploração de nosso povo. Já não se trata somente dos Valentim Bouças e Chateaubriand, dos Daniel de Carvalho e Correia e Castro, dos Juraci Magalhães e Raul Fernandes, mas dos chamados representantes do povo que em maioria esmagadora submetem-se às exigências da Light e votam às carreiras o que determina mister Clayton ou mister Truman, como aconteceu com as resoluções da Conferência de Genebra sobre tarifas alfandegárias, evidentemente prejudiciais aos interesses da nação, porque tornarão impossível o seu progresso industrial, como aliás também acontece com o reforçamento, a custa das minguadas reservas-ouro da nação, do monopólio da Light, que já açambarca mais de 70% de toda a energia elétrica produzida no país.
Seria ingenuidade estarmos a pregar moral a essa gente que não reconhece nenhuma moral humana, que muito acima dos interesses da pátria, do seu progresso, do bem-estar e da felicidade de seu povo, coloca o egoísmo imediatista dos seus interesses pessoais e de casta privilegiada, cada dia mais alarmada com os ruídos subterrâneos que já chegam aos seus ouvidos e que parecem anunciar que algo de novo ameaça a estrutura econômico-social arcaica que lhes tem até agora permitido a existência parasitária de sanguessugas insaciáveis.
Ninguém melhor do que o Sr. João Neves, ao justificar a sua tese entreguista de progressiva alienação da soberania nacional, para traduzir esse alarmado estado de espírito dos senhores feudais e da grande burguesia reacionário dos países latino-americanos. Foi o que fez ainda recentemente em Bogotá, tentando apontar as causas objetivas de seus apelos aos patrões de Wall Street:
“Quase todas as nossas Repúblicas estão padecendo as conseqüências de uma crise sem precedentes. Privadas durante anos de comprar os equipamentos indispensáveis não só ao desenvolvimento das suas indústrias, como à substituição daqueles que o uso forçado fez envelhecer; com os seus sistemas de transportes internos obsoletos ou prejudicados por falta de renovação oportuna; com o trabalho rural carecendo de mecanização para maior rendimento e barateamento dos preços de produção; com os seus antigos clientes dos mercados da Europa desprovidos de moeda arbitrável para as aquisições dos bens de consumo deste hemisfério; com o progressivo esgotamento das reservas de divisas acumuladas durante a guerra; com o ônus, esmagador para as populações, de uma alta progressiva no custo da vida — eis a aflitiva situação em que se encontram quase todas as nações da América”(1).
Aflitiva situação, sem dúvida, mas resultante de uma estrutura social antiquada, sobrepassada, que impede o desenvolvimento das forças de produção, que estala por mil frinchas e que já não pode mais ser remendada com os eternos paliativos, os retoques superficiais e os planos ridículos, que visam aumentar a exploração semi-feudal da massa camponesa — maioria esmagadora da nação — e facilitar o açambarcamento monopolista de toda a economia nacional pelos grandes banqueiros, trustes e monopólios norte-americanos. O quadro esboçado pelo Sr. João Neves, em Bogotá, é o de todos os países semi-feudais e semi-coloniais em processo de colonização acelerado com a crise geral do capitalismo e mais particularmente com a segunda guerra mundial. A situação aflitiva decorre da exploração imperialista e da conservação dos restos feudais e põe na ordem do dia a solução dos problemas da revolução agrária e antiimperialista para todos os povos da América Latina.
Foi com o apoio dos grandes proprietários latifundiários, que ainda hoje nos governam, que se deu e prossegue a penetração do capital estrangeiro nó país, mas, por sua vez, é no imperialismo que se apóiam os senhores feudais para manter intactas no país as relações de produção semi-feudais que ainda hoje imperam, especialmente na agricultura, impedindo a ampliação do mercado interno e o efetivo desenvolvimento da indústria nacional que se volta por isso, cada dia mais, para um mercado externo em que dificilmente pode competir com o próprio imperialismo. O imperialismo sustenta o feudalismo e nele se apóia — basta examinar o atraso da agricultura em todos os países coloniais e semi-coloniais, mas particularmente aqui mesmo em nossa terra. Tomemos, por exemplo, entre muitos, um depoimento dos mais recentes. Não é de um comunista, mas de um conhecido inimigo dos comunistas, do padre Arlindo Vieira, da Sociedade de Jesus:
“No município de Piranga (Estado de Minas Gerais), disse-me um pequeno fazendeiro que havia arrendado por cinco anos, pela importância de 120.000 cruzeiros, uns tantos alqueires de terra contígua à sua propriedade. Perguntei-lhe se cultivava essas terras. Respondeu-me que dera tudo a meia. Mas o senhor não terá prejuízo? Observei-lhe eu. A resposta foi esta: “Neste primeiro ano espero pagar os 120.000 cruzeiros!”
“O fazendeiro que tem terra própria e facilidade para todo o serviço, em geral, não planta cousa alguma alegando que o plantio lhe daria prejuízo avultado, ainda que pagasse ao trabalhador oito ou dez cruzeiros a seco por dia. Entretanto, ele, que apenas entra com a terra limpa, terra imprópria até para pasto, recebe a metade de toda a produção regada pelos suores de oito ou dez miseráveis”(2).
E o padre informa o que significa esse regime semi-feudal da meação:
“Nesses dois ou três alqueires de terra (porção arrendada a uma família), suam o ano todo marido, mulher e, às vezes, cinco ou seis filhos. Encontrei crianças de oito e dez anos com a enxada na mão, crianças raquíticas, vítimas da verminose e do paludismo. É cousa de clamar aos céus e pedir vingança a Deus. Riqueza desgraçada à custa do sangue dos inocentes”(3).
Mas para o padre os que lutam contra isso, pela revolução agrária, pela divisão dos latifúndios e a entrega gratuita das terras aos que de fato nelas trabalham para que possam livremente dispor do fruto de seu trabalho, são comunistas ateus, partidários de Moscou, que merecem todas as perseguições — nada de revolução agrária, basta clamar aos céus, e os camponeses que aguardem o milagre divino capaz de amolecer os corações de seus exploradores.
O que está provado pela realidade objetivo dos fatos, pela miséria cada dia maior de nossos povos, simultaneamente com os lucros sempre crescentes das empresas imperialistas que os exploram, é que a penetração do capital estrangeiro na base da conservação dos restos feudais, como vem acontecendo em toda a América Latina, e acontece aliás em todo o mundo colonial, essa penetração nada tem de progressista, é reacionário por essência, perturba e deforma o livre desenvolvimento da economia nacional, sustenta e garante a sobrevivência de classes sociais arcaicas e retrógradas, permite a sobrevivência em pleno século XX do latifúndio semi-feudal, dificulta e impede a acumulação capitalista no país, já que drena para o estrangeiro a maior parte dos lucros alcançados com a exploração do braço indígena. Perturba e deforma o livre desenvolvimento da economia nacional, dissemos, porque com o crédito bancário sob o controle dos ‘ grandes bancos estrangeiros orienta, a produção, não de acordo com os interesses da nação, mas conforme os interesses dos capitalistas estrangeiros, visando em geral o mercado externo em prejuízo do mercado interno e inclusive da própria alimentação popular que passa a ser feita em escala cada dia maior com produtos importados cujo comércio, por sua vez, também interessa aos trustes estrangeiros. E, nas condições em que é feito, através dos grandes bancos imperialistas, é esse comércio externo uma das formas mais violentas e cínicas de extorsão colonial. Ainda agora estamos vendo como sobem os preços da tonelada importada enquanto baixam os da tonelada exportada, e, sem dúvida, tem razão o jornalista Limeira Tejo quando, em correspondência enviada de New York, ao apreciar as conseqüências do Plano Marshall e os poderes ditatoriais do Sr. Paul Hoffman que administra sua aplicação, reconhece que:
“teremos de findar trocando um saco de açúcar por um pente de matéria plástica” e que “seremos obrigados a entregar aos europeus uma tonelada de gêneros alimentícios, pela qual os Estados Unidos nos darão um velocípede ou um rádio de nove dólares”(4).
Ainda recentemente por aqui tivemos, entre tantos outros abbinks, que em carne e osso deram agora por nos visitar, o Sr. Nelson Rockfeller que finge desinteressar-se do petróleo e da Standard Oil para tratar, prosaicamente, da plantação de milho e da criação de porcos. Mas mesmo que isto seja verdade, que significarão nas condições brasileiras de uma agricultura atrasada e semi-feudal as iniciativas do Sr. Rockfeller? Evidentemente, o monopólio para as suas empresas naqueles setores de produção, como já reconhece em sua seção de Economia e Finanças um matutino paulista:
“Se um consórcio dispõe de máquinas para preparar a terra do lavrador, de silos para guardar a sua colheita, de porcos para consumir o seu milho, de matadores frigoríficos para abater e preparar os seus suínos — e tudo isso em escala poderosa — como evitar a atuação em forma de monopólio, com exclusão ou subalternidade dos demais competidores que não têm o mesmo aparelhamento e recursos financeiros?”(5).
A esta interrogação responde o comentarista que tudo vai depender da “sinceridade e das boas intenções” do Sr. Rockfeller, sentimentos que a experiência prática de todos os povos coloniais já nos ensinou suficientemente a avaliar, e que não poderão modificar a regra geral, as conseqüências fatais de todo monopólio — salários de fome para o trabalhador e lucros gigantescos para os controladores do monopólio.
Evidentemente, é ridículo pretender alcançar o progresso do país, abrindo suas portas ao capital imperialista, entregando seu povo à exploração desapiedada dos trustes e monopólios norte-americanos. O progresso de verdade, muito diferente dessa civilização de fachada que nos trouxe o capital estrangeiro, civilização litorânea do conforto das grandes cidades para gáudio e prazer dos turistas, dos sócios brasileiros das empresas imperialistas, e dos advogados e políticos a seu serviço, o progresso real que significa a elevação do nível de vida das grandes massas que constituem a maioria da nação só poderá ser alcançado em luta contra o imperialismo e seus sustentadores no país, em particular o grande proprietário de terras e o grande financista reacionário. Só através da solução dos problemas da revolução agrária e antiimperialista poderemos efetivamente progredir e tirar nosso povo do atoleiro semi-feudal e semi-colonial em que se encontra. E esse senhores que, em nome do progresso nacional vivem apelando para a ajuda do imperialismo ianque, se não são imbecis e estúpidos que não sabem o que repetem, são privilegiados e parasitas que falam em pátria, mas na verdade só conhecem seus interesses egoístas e imediatistas que pretendem defender pela conservação do status quo de miséria para o povo e de riqueza para eles, e é com este objetivo que apelam para os banqueiros estrangeiros e, muito particularmente, nos dias que correm, para o governo norte-americano em cujo poderio acreditam e confiam.
É, aliás, o que confessa ainda agora em Chicago o Sr. João Daudt de Oliveira que acena com a velha bandeira nazista do “perigo comunista” para fazer seus negócios e declara que “neste hemisfério todos nos consideramos unidos no dever de combater a infiltração de doutrinas estrangeiras”(6), quer dizer, a revolução agrária e antiimperialista. E o Sr. Correia e Castro na sua carta, apelo e pedido de socorro a mister Snyder, adverte “que nos acudam agora para que, depois, não tenham de carregar-nos às costas”.
Esses senhores continuam falando em progresso, na necessidade do capital estrangeiro para o desenvolvimento da economia nacional, mas o que na verdade querem são bons lucros, bons negócios, e muito especialmente a proteção do estrangeiro, o apoio das forças armadas do imperialismo, a fim de que possam continuar a exploração dos trabaIhadores brasileiros e, se necessário, massacrá-los no momento em que se levantem contra a injustiça e a brutalidade desse regime semi-feudal e semi-colonial imperante no país. Apelam para o estrangeiro, a fim de que intervenha no conflito interno, como Franco foi buscar o apoio de Hitler e Mussolini na luta contra o heróico povo espanhol, e ainda agora a minoria reacionário da Grécia se vende a Truman na esperança de que as forças armadas do imperialismo ianque consigam esmagar a gloriosa luta do povo grego peio progresso e a independência da pátria. Foi, aliás, o que já declarou em pleno Senado da República o Sr. Góis Monteiro:
“Ouvi de homens respeitáveis proposta no sentido de intervenção estrangeira dos Estados Unidos para evitarem as eleições, quando ainda não havia ocorrido o 29 de outubro”(7).
A ninguém pode surpreender a. conivência do Sr. Góis Monteiro com a traição de homens tão respeitáveis, que não denunciou em tempo à nação e cujos nomes ainda hoje pretende ocultar. Para o general do Plano Cohen e do golpe de 29 de outubro, traidores são os comunistas que lutam pela independência da pátria e não seus amigos que apelam para a intervenção do governo norte-americano em nossos negócios internos e contra os interesses do povo. A semelhança com a atitude de Petain e de todos os quislings do nazismo é suficientemente clara para dispensar outros comentários.
O Imperialismo é a Guerra
Mas não é tudo, porque a traição desses senhores que vivem apelando para a “ajuda” do capital norte-americano tem ainda conseqüências mais sérias e imediatas, terríveis e ameaçadoras para o futuro do país e a felicidade de nosso povo. Para o imperialismo ianque, na atual situação mundial, já não basta a simples exploração econômica dos povos e das riquezas naturais de seus territórios, estabelece também o predomínio político, a colonização total, a alienação completa das soberanias nacionais ao governo de Washington, que passa a dirigir a política interna e externa desses governos de fantoches, como o de Dutra, e a utilizá-los com desembaraço no jogo estratégico da luta do imperialismo ianque pela expansão mundial e domínio do mundo inteiro.
Não há nessas palavras, como talvez possa parecer às pessoas menos informadas, nenhum exagero, particularmente quanto ao governo Dutra que, como disse o Sr. Raul Fernandes, já se encontra “na órbita do colosso”, com agentes norte-americanos em todos os ministérios, intervindo abertamente na atividade estatal. São técnicos norte-americanos, pondo e dispondo, na seção de minerais do ministério da Agricultura, com um especial “adido” sobre o petróleo; é uma comissão trabalhista norte-americano funcionando no ministério do Trabalho; é a espionagem organizada nos três ministérios militares, onde nem mesmo uma revista para as forças armadas pode ser editada sem permissão e controle dos técnicos norte-americanos; é a recém-instituída Academia Superior Militar nas mãos dos generais norte-americanos, o que significa na prática a subordinação do Estado Maior das forças armadas do país ao comando dos ianques.
Essa intervenção direta no aparelho estatal visa evidentemente a preparação do país para a guerra, a guerra com o objetivo de dominar outros países do Continente, a guerra contra os povos livres do mundo inteiro, e muito especialmente a guerra contra os povos socialistas da União Soviética. Fazer do Brasil base de operações para a guerra imperialista e de nosso povo soldados que possam cobrir os claros deixados pelos milhares de norte-americanos que fogem da guerra e do serviço militar obrigatório, eis a conseqüência inevitável da política do governo Dutra e de todos esses senhores que vivem apelando para o capital imperialista.
Já não falta quem reclame na imprensa brasileira a necessidade da volta dos soldados do imperialismo para as bases militares do país e se o general Spaatz não receia declarar que já assumiu o comando da aviação militar da maioria dos países latino-americanos(8), não devem ser falsos os rumores de que já se trata efetivamente da ocupação militar pelas forças armadas dos Estados Unidos de todas as nossas bases aéreas, desde Belém até Caravelas na Bahia, enquanto se constroem bases no sul do país e os aviadores norte-americanos fazem o levantamento aero-fotográfico de nossas fronteiras com os vizinhos do sul.
Este o resultado da política de traição nacional do Sr. Dutra e de todos os que o apóiam, inclusive pelo silêncio e a omissão, como acontece com tantos pretensos “patriotas” e “democratas” — impor ao nosso povo a humilhação suprema de empunhar armas e verter o seu sangue em proveito de seus mais vorazes exploradores, fazendo do Brasil base de operações para as aventuras guerreiras do imperialismo e pretender levar nosso povo a participar da guerra imperialista pelo domínio do mundo contra os povos livres que lutam pelo socialismo e o progresso da humanidade.
Em tão terrível e desgraçada emergência, os comunistas brasileiros não vacilarão, já sabem qual o dever que lhes impõe o patriotismo de verdade, não esquecerão os ensinamentos de Lenin e estão convencidos de que a maioria esmagadora do povo brasileiro, com a classe operária à frente, saberá trilhar o mesmo caminho heróico dos guerrilheiros europeus para esmagar os quislings a serviço de Truman e dos monopólios ianques e todos esses Petain de extração latino-americana. Lutadores como os grevistas de Lafaiete não são exceção em nossa terra, constituem parcela da classe operária que à frente do povo, de todos os que trabalham, saberá fazer o caminho da resistência, honrar as tradições de nossa gente em todas as lutas pela independência da pátria e, particularmente, os exemplos de heroísmo de todos que em nossa terra souberam lutar contra o nazismo, desde os que repousam em Pistoia até os que sofreram e morreram nos campos de concentração e nos cárceres da reação.
Esta advertência nós a fazemos a todos os provocadores de guerra e muito especialmente aos senhores das classes dominantes em nossa terra, porque se, de um lado, é evidente a chantagem de guerra imediata por todos aqueles que querem justificar as negociatas com armamentos, as restrições crescentes às liberdades populares, as concessões cada dia mais descaradas ao imperialismo, de outro, cada dia que passa se torna maior, mais sério e imediato o perigo de guerra, que é efetivo e real, e que só poderá ser afastado se soubermos lutar pela paz, levantar contra o banditismo de uma terceira guerra mundial a maioria esmagadora da população do país.
Rejeitamos com convicção e firmeza todas as teorias sobre a inevitabilidade da guerra, mas sabemos que o capitalismo é a guerra, que só através da guerra podem ver os senhores dos grandes trustes e monopólios uma saída para a desproporção existente entre o desenvolvimento das forças de produção e a acumulação do capital, por um lado, e a repartição das colônias e das esferas de influência para o capital financeiro, por outro, segundo as próprias palavras de Lenin. E no seu célebre discurso aos eleitores, em março de 1946, já advertia Stálin:
“Nós, os marxistas, declaramos que o sistema capitalista de economia mundial trás em si elementos de crise e de guerra, que o desenvolvimento do capitalismo não segue um curso firme para frente, mas prossegue através de crises e catástrofes”.
E conclui:
“… assim, como resultado da primeira crise surgida na economia capitalista mundial, veio a primeira grande guerra. A segunda grande guerra foi o resultado da segunda crise”(9).
Evidentemente, a situação hoje é bem diversa daquela em que se encontrava o mundo nas vésperas das duas grandes guerras deste século, em 1914 e em 1939. Neste sentido, escreve com razão Palme Dutt:
“O caráter peculiar da presente situação mundial expressa-se no fato de que a atual propaganda guerreira surge apenas de um lado. É uma campanha guerreira unilateral. Só há um campo guerreiro. Os apelos para a guerra, as ameaças de guerra, as especulações sobre uma terceira guerra mundial, a vasta literatura que proclama sua necessidade e inevitabilidade, as ostensivas manobras estratégicas, as exigências de bases militares, os discursos belicosos procedem todos de um só lado, da imprensa, do rádio e do Parlamento, dos Ministros, do governo e dos generais dos Estados Unidos e da Grã Bretanha e dos países satélites do Bloco Ocidental e seus apêndices”(10).
Já vivemos realmente em época bem diferente daquela que precedeu as duas grandes guerras deste século. Com a derrota do nazismo modificou-se a correlação de forças sociais no mundo. As forças do capitalismo, por mais que falem em guerra e bomba atômica, já não podem mais facilmente passar à ofensiva sem impedir que a influência progressista do socialismo e da União Soviética se faça sentir nos mais longínquos rincões do mundo. Foi justamente o que assinalou Stálin logo após a vitória sobre o nazismo:
“Com a vitória sobre o nazismo entramos realmente numa nova época”.
Estas palavras marcam o inicio de um novo período na história da humanidade e não podem ser destruídas pela gritaria histérica dos provocadores de guerra. São palavras que precisam ser compreendidas, bem compreendidas, na profundidade que realmente atingem, por todos aqueles que queiram assumir uma posição justa diante dos acontecimentos que se sucedem pelo mundo inteiro, por todos que não queiram ser enganados pelas aparências, nem se deixar dominar pelas ameaças de um capitalismo moribundo ou pelos arrancos agressivos do imperialismo, que indicam desespero e fraqueza, em vez de força e poderio, como supõem os medíocres observadores superficiais, para não falarmos na coorte sempre numerosa dos apologistas, conscientes ou não, remunerados ou gratuitos, da política dos grandes trustes e monopólios internacionais.
Com aquelas palavras sóbrias e claras quis Stálin assinalar a nova correlação de forças sociais no mundo, após a derrota militar do nazismo, armado até os dentes pelos grandes banqueiros de New York, Londres e Paris, para que, como gendarme da Europa, defendesse o “Ocidente”, a “civilização cristã” e a “cultura” imperialista. Com o nazismo foi batida a vanguarda principal, a força de choque do imperialismo, que apesar de todas as manobras diversionistas de Churchill — o inimigo da segunda frente na Europa — teve de capitular incondicionalmente e ver içada na então capital da reação mundial a bandeira gloriosa do proletariado do mundo inteiro, a bandeira vermelha do marxismo-leninismo-stalinismo. Com o nazismo foi derrotado o imperialismo e mudou no mundo a correlação de forças sociais, que se tornou favorável! às forças da paz, da democracia e do progresso. Surgiram assim condições objetivas que precipitam a marcha para o socialismo antes que o imperialismo norte-americano consiga impor à humanidade o martírio de uma terceira guerra mundial. Ou, como ainda escrevia há poucos dias Kuusinen:
“Quanto mais enérgica for a luta dos trabalhadores de todos Os países contra os incendiários de guerra e seus cumplices, tanto maiores serão as possibilidades de prosseguir sem uma nova guerra a marcha da humanidade para o socialismo”(11).
Mas é evidente que continua crescendo o perigo de guerra e que a situação mundial é agora, em setembro de 1948, durante a reunião da 3.a Assembléia das Nações Unidas, mais tensa do que no ano anterior, mais grave já do que em março de 1947, quando da agressão imperialista amplamente proclamada sob a forma da doutrina Truman. A respeito de tal situação, já na primeira reunião do Bureau de Informação, Zhdánov advertia:
“Os povos do mundo não querem guerra. As forças que trabalham pela paz são tão consideráveis, tão grandes, que se forem firmes e resolutas na defesa da paz, se demonstrarem fibra e decisão, os planos dos agressores sofrerão um fracasso total”(12).
Mas se ainda não existem condições para a guerra, é no sentido de criá-las que trabalha o imperialismo, tomando diariamente novas medidas militares, ampliando e consolidando suas bases estratégicas, assegurando o predomínio econômico e político em todo o mundo capitalista e, simultaneamente, desenvolvendo a mais ampla e intensa preparação ideológica, num esforço enfim perfeitamente orientado com o fito de criar as condições necessárias ao desencadeamento da guerra contra os povos livres e progressistas e muito especialmente contra a União Soviética.
Os Dois Campos em Luta
É com esse objetivo que o imperialismo ianque busca impressionar todos os povos, aparentando um poderio exagerado, que mal consegue encobrir as tremendas contradições internas que o enfraquecem, mas que sempre alcança impressionar aos vacilantes, aos homens de nervos fracos, aos indivíduos com alma de escravo, sem ardor nem convicção na defesa da liberdade individual e da própria independência da pátria. E é através desses traidores em potencial que o imperialismo espera ganhar a consciência de povos inteiros para escravizá-los e empurrá-los como gado para o matadouro de uma terceira guerra mundial. Vemos, no Brasil, como homens que se supõem informados e instruídos falam a sério no “colosso” do norte em cuja “órbita” prazerosamente se colocam, pretendendo ainda fazer da nação inteira satélite e escrava do imperialismo de Truman e Marshall. Como exemplo da linguagem sem medidas desses senhores que pretendem encobrir com adjetivos — colossal, descomunal, formidável — a fraqueza intrínseca do imperialismo ianque e pensam assim convencer as massas que nada mais podemos fazer senão nos submetermos à sua exploração e obedecer silenciosos às suas ordens, é interessante e instrutiva a leitura do seguinte período de uma entrevista concedida ao órgão chefe da cadeia do Sr. Chateaubriand pelo Sr. Juraci Magalhães:
“A despeito da tremenda urbanização e formidável industrialização dos Estados Unidos, os altos níveis de sua esmerada e profícua produção agrícola contribuem, em grande parte, para que a grande nação ostente esse descomunal poderio de que se orgulha o mundo ocidental”(13).
O que ignoram o Sr. Juraci e seus semelhantes são as leis da evolução da sociedade capitalista e que a “grande nação”, de “descomunal poderio”, com sua “formidável industrialização”, é uma nação capitalista, onde chegam ao auge todas as contradições internas do regime e se sucedem as crises econômicas cada dia mais graves e profundas. É uma sociedade que só na guerra encontra solução passageira para seus problemas.
Efetivamente, um exame menos superficial do aparente desenvolvimento crescente da economia norte-americano nas três últimas décadas, ou seja a partir de 1914, não desmente, mas, ao contrário, confirma as teses marxistas sobre a decadência do capitalismo, que Lenin já chamava de agonizante, nesta fase imperialista em que entrou desde o fim do século XIX. A partir de 1914 a produção norte-americana tem crescido, mas fundamentalmente nos períodos de guerra (anos de 1914 a 18, e de 1939 a 45), e em alguns casos exclusivamente durante os anos de guerra, como aconteceu com a produção de carvão, bauxita, cromo, trigo, milho, batata e tungstênio. É, assim, um progresso que se efetua na base de uma produção parasitária, produção para a guerra, que vive da guerra, só cresce com a guerra, e precisa da guerra.
É o que acentua Eugène Dennis em trabalho recente, ao analisar a situação atual nos Estados Unidos:
“… a produção de tempos de paz, necessária a satisfazer às necessidades acumuladas de nosso povo e de outros povos, arrasta-se, enquanto a produção de guerra progride, e em que amadurecem rapidamente todos os elementos de uma crise econômica cíclica.
“Os monopolistas lutam para ultrapassar seus lucros fabulosos dos tempos de guerra, através de uma exploração sem precedentes em tempos de paz, e da conservação das indústrias de armamento quase nos mesmos níveis de produção de guerra”(14).
Mas, se o imperialismo norte-americano, sobre o qual se concentram e pesam nos dias de hoje todas as contradições do regime capitalista, não pode viver sem a guerra, esta, por sua vez, só pode interessar à minoria cada dia menor dos senhores dos trustes e monopólios, os quais só através da pressão econômica e política, do terror policial, da propaganda e da astúcia, podem ganhar para o seu lado, contra os interesses da humanidade, as grandes massas populares, instintivamente contrárias à guerra, suas vítimas maiores, e que somente enganadas e envenenadas pela preparação psicológica, feita pelos agentes do imperialismo, podem a ela ser arrastadas.
O capitalismo nos dias de hoje já é mais do que a exploração do homem pelo homem, porque, na verdade, só poderá subsistir por algum tempo mais com a destruição continuada do homem pelo homem, com hecatombes guerreiras cada vez mais sangrentas e bestiais, com a aterrorização de populações inteiras por métodos copiados das bestas-feras do nazismo e ainda piores, se possível. A luta pela paz, pelo progresso da humanidade, pela cultura, pela tranqüilidade, pelo bem-estar e a felicidade do ser humano, é, fundamentalmente, a luta contra a capitalismo e, na época que atravessamos, de concentração cada vez maior nos Estados Unidos do capital financeiro e monopolistas em luta pelo domínio do mundo, é, essencialmente, a luta contra o imperialismo norte-americano.
Os anos de luta contra o nazismo despertaram e elevaram de tal maneira a consciência das grandes massas populares que o imperialismo para poder dominá-las, enganá-las e arrastá-las a uma terceira hecatombe guerreira precisará fazer uso de um terror sangrento pior do que toda a bestialidade já empregada por Hitler nos campos de concentração e de extermínio. Não é certamente por acaso que os técnicos da tortura, as feras e os carrascos dos antigos campos de concentração, em número cada dia maior têm as suas condenações comutadas pelos delegados do imperialismo na bi-zona ou Alemanha ocidental.
Nesta situação e diante de tão terrível perspectiva, não é possível pensar em meio termo, em compromisso das vítimas — a maioria esmagadora da humanidade — com os exploradores e assassinos — a minoria dos senhores todos poderosos, donos dos trustes e monopólios, juntamente com os políticos e militares que governam sob suas ordens e os jornalistas e intelectuais prostituídos. O antagonismo é total e a humanidade se divide, de alto a baixo, em dois campos irreconciliáveis, “de um lado o campo imperialista e antidemocrático, e de outro, o campo antiimperialista e democrático”, na síntese feliz de Zhdánov em seu memorável Informe à Conferência de Varsóvia de que resultou a instituição do Bureau de Informação dos maiores Partidos Comunistas europeus. Mas Zhdánov define os dois campos antagônicos com maior precisão:
“Os Estados Unidos são a principal força dirigente do campo imperialista. A Inglaterra e a França atuam junto aos Estados Unidos, e a existência de um governo trabalhista Atlee—Bevin na Inglaterra e de um governo socialista Ramadier na França, não impedem à Inglaterra e à França de seguirem em todas as questões principais os rastros da política imperialista dos Estados Unidos, na qualidade de seus satélites. O campo imperialista é sustentado também pelos Estados coloniais, como a Bélgica e a Holanda pelos países de regime reacionário e antidemocrático como a Turquia e a Grécia, e também pelos países dependentes, política e economicamente dos Estados Unidos, como o Oriente Próximo, a América do Sul, a China”.
“As forças antiimperialistas e antifascistas formam o outro campo. A URSS e os países da nova democracia são as suas pilastras. Fazem parte deste campo também os países que romperam com o imperialismo e que se puseram resolutamente sobre a estrada do desenvolvimento democrático, como a Romênia, a Hungria, a Finlândia. Ao campo antiimperialista aderem a Indonésia, o Viet-Nam, e com eles simpatizam a índia, o Egito e a Síria. O campo antiimperialista apóia-se no movimento operário democrático, nos Partidos Comunistas irmãos em todos os países, nos combatentes do movimento de libertação nacional nas colônias e nos países dependentes, sobre todas as forças progressistas democráticas que existem em cada país”(15).
É evidente, compreensível e lógico que, nas condições atuais do mundo, cabe aos povos da União Soviética, que livraram a humanidade, a custa de sacrifícios imensos, da vida de mais de 16 milhões de seus filhos, do banditismo nazista, cabe à União Soviética, que é hoje a mais poderosa nação do mundo, o papel dirigente no campo das forças que lutam pela paz, o socialismo, a democracia e o progresso da humanidade, assim como são os comunistas, através do mundo inteiro, os lutadores esclarecidos e conseqüentes, únicos capazes de dirigir os seus povos na gigantesca batalha pela paz, contra o capitalismo e o terror imperialista, pela independência e o progresso de suas pátrias. Esta a realidade objetivo que os dirigentes políticos do campo imperialista vêem a sentem, a realidade objetiva que determina e orienta sua propaganda e a preparação ideológica para a guerra, toda ela feita no sentido do ataque à URSS, que é caluniada e difamada de maneira sistemática, e por meio da luta contra o comunismo e os comunistas, segundo os métodos mais ou menos aperfeiçoados da velha propaganda nazista de Hitler, Goebbels & Cia.
Na luta ideológica contra a URSS a plataforma que, como diz Zhdánov, “une todos os inimigos da classe operária, sem exceção”, desde os Chateaubriand e Macedo Soares, os Dutra e Pereira Lira, até Hamilton Nogueira, Velasco e todos os intelectuais “de esquerda” anti-comunitas, consiste em defender a falsa democracia burguesa e acusa de totalitarismo a URSS e ao comunismo. Com esse objetivo são mobilizados os Kravchenko de todas as laias, e não há jornal e revista que se preze na imprensa das classes dominantes que não dedique diariamente algumas colunas, quando não páginas inteiras, para as “memórias” repugnantes desses indivíduos que começam por se declarar espiões e traidores, crápula imunda de uma sociedade decadente e moribunda.
Já em parte gasta e desmoralizada a velha tecla do partido único como ponto central das acusações de totalitarismo à União Soviética, em contraste com a democracia burguesa, bi ou multipartidária, retomam agora os líderes da social-democracía de direita, os Blum, Attlee e Saragat, os antigos argumentos do trotskismo, falam em “burocracia”, em “aparelho burocrático militar”, composto de privilegiados, em oposição à miséria das massas, na tola ilusão de que os trabalhadores do mundo inteiro possam esquecer que essa pretensa “burocracia soviética” foi que dirigiu a luta vitoriosa contra a máquina militar de Hitler e contou, e conta, com o apoio, não só decidido, mas pleno de amor e carinho, da totalidade dos povos soviéticos e dos antifascistas do mundo inteiro.
Outra maneira também empregada pelo imperialismo, visando lançar a confusão e abalar a confiança da classe operária na União Soviética e na orientação geral de sua política exterior, consiste em agitar o fantasma de um pretenso “imperialismo soviético”. Esses técnicos da calúnia e da mentira fingem ser objetivos e imparciais, não criticam propriamente o regime soviético, dizem reconhecer a existência de um imperialismo americano, mas que também existe um “imperialismo soviético”, que se não é pior, nada tem também de melhor ou diferente do outro. Uma acusação dessa natureza, por mais absurda que seja para todos aqueles que sabem distinguir o socialismo do capitalismo e conhecem o verdadeiro significado científico da palavra imperialismo, sempre serve para lançar a confusão entre as massas trabalhadoras e muito essencialmente entre os elementos mais vacilantes das camadas médias e a burguesia nacionalista.
Como essa agitação caluniosa se baseia fundamentalmente na política da URSS no Oriente europeu entre os povos que o Exército Vermelho libertou da escravização, é explicando essa política às grandes massas, seu conteúdo, que poderemos desfazer a insídia imperialista. Ninguém pode contestar à União Soviética o direito de impedir que se reconstruam em suas fronteiras, em terras libertadas à custa do sangue de seus filhos, novas bases de agressão imperialista, e daí a ajuda decidida que tem dado a todos os povos daquela região para que liquidem com a base objetivo da reação, com o latifúndio semí-feudal e com os grandes trustes e monopólios capitalistas. Singular “imperialismo” esse que a ninguém quer explorar e que ajuda as massas trabalhadoras o dividirem a terra, a nacionalizarem a grande indústria, a tomarem em suas próprias mãos os destinos de seus povos! É compreensível, no entanto, o desespero dos latifundiários, da grande burguesia reacionário de todos esses países do Oriente europeu e muito particularmente o ódio dos senhores dos trustes e monopólios americanos, ingleses ou franceses, que perderam suas empresas, poços petrolíferos etc., e não podem mais explorar as massas trabalhadoras daqueles países.
Os Oportunistas a Serviço do Imperialismo
O que é inadmissível é que dirigentes comunistas, homens que já lutaram contra o fascismo, que se dizem marxistas e afirmam pretender levar seus povos pelo caminho do socialismo, se deixem impressionar peias calúnias do imperialismo e admitam a “reconciliação” dos dois campos em luta, à custa de concessões ao imperialismo.
Foi, no entanto, o que aconteceu com os dirigentes iugoslavos. Sob a influência de elementos nacionalistas que chegaram aos postos de direção do Partido Comunista, se deixaram intimidar pela chantagem imperialista, aceitaram a teoria infame dos “dois imperialismos”, pretendendo comparar a política externa da URSS, política de paz e de ajuda dos povos do Oriente europeu para que se libertem da exploração capitalista, com a política de expansão e de guerra do imperialismo norte-americano.
É evidente que semelhante orientação, fundamentalmente falsa e contrária aos interesses do povo iugoslavo, leva o país pouco a pouco para o campo do imperialismo, da reação e da guerra. Neste sentido diz a Resolução de Bucareste:
“Fazendo isso eles partem tacitamente de uma tese nacionalista burguesa bem conhecido, segundo a qual “os Estados capitalistas apresentam menor perigo que a URSS para a independência da Iugoslávia”(16).
O que Tito e seus amigos não compreendem ou fingem não compreender é que a Iugoslávia no campo do imperialismo evoluirá rapidamente, como vem acontecendo a todos os povos no mundo capitalista, para a situação de país dependente, de mais uma colônia do imperialismo .
O exemplo iugoslavo é suficientemente claro e instrutivo. É o desvio nacionalista tão bem caracterizado por Stálin:
“…a adaptação da política internacionalista da classe Operária à política nacionalista da burguesia”, “reflete as tentativas da burguesia no sentido… de restaurar o capitalismo”(17).
O exemplo iugoslavo nos mostra como a propaganda imperialista, a hábil exploração de sentimentos nacionalistas estranhos ao proletariado mas que se insinuam em suas fileiras, na falta de suficiente vigilância de classe, sempre conseguem “assustar as pessoas indecisas ou fracas de nervos”, “obter por meio da chantagem, concessões ao agressor”, como diz Zhdánov (18).
Mas, ao imperialismo, para levar avante seus planos de guerra, para conseguir instaurar por toda a parte governos ditatoriais e terroristas, para acabar enfim com os últimos vestígios democráticos e arrastar populações inteiras à psicose guerreira, indispensável ao desencadeamento de uma terceira guerra mundial, ao imperialismo se apresenta a tarefa imediata de neutralizar a ação da classe operária e, afastar a pequena burguesia do proletariado, ganhando-a para o seu lado.
Para neutralizar a ação da classe operária, anular seu impulso democrático e progressista, trata o imperialismo de impedir sua organização, de dividi-la, de corrompê-la, de quebrar pela violência suas armas de luta, a greve em particular, cada vez mais “legalmente” proibida ou reprimida pela violência, mas trata o imperialismo muito particular e tenazmente de conseguir também isolar a vanguarda da classe operária, a fim de poder esmagá-la, no momento que lhe (parecer oportuno. Bem sabemos o quanto é ainda precária a organização da classe operária em quase toda a América Latina e o quanto tem isto permitido e facilitado a penetração crescente do imperialismo ianque em nossos países. Estamos convencidos que está mesmo nessa falta de organização e de unidade das forças da classe operária a brecha maior e mais perigosa na frente da luta de nossos povos pela paz, a democracia e a independência nacional.
No caso particular do Brasil é indispensável reconhecer que a classe operária continua na sua imensa maioria desorganizada e, por isso, impotente diante da ação nefasta do imperialismo através de seus agentes do ministério do Trabalho. A liberdade sindical assegurada pela Constituição de 18 de setembro não passa ainda de preceito legal que só existe no papel e o imperialismo sabe tão bem avaliar a vantagem da permanência desse estado de cousas que já utiliza agora a demagogia “socialista” do Sr. João Mangabeira para tentar conservá-lo sob nova forma, substituindo o predomínio direto do ministério do Trabalho sobre o movimento sindical pelo mesmo ministério com outra denominação qualquer de justiça eleitoral ou cousa semelhante.
Mas é contra a forma superior de união de classe dos proletários, contra o partido revolucionário do proletariado, a sua vanguarda organizada, que se dirige fundamentalmente a luta do imperialismo, preocupado em limpar o terreno para ter assegurado seu predomínio e facilitada a preparação de massas para a guerra. É o mesmo anticomunismo sistemático do nazismo que se apresenta agora sob a égide do imperialismo ianque, de forma tão ou mais brutal ainda do que nos tempos de Hitler e do pacto anti-Komintern. Vai desde a violência física, desde as medidas legislativas, administrativas e policiais, arrancadas de governos fantoches sob ameaça de represálias econômicas ou através da chantagem política, das profecias sobre guerra próxima e imediata, até o emprego de métodos mais sutis, tais como as tentativas persistentes no sentido de conseguir liquidar os Partidos Comunistas de dentro, pela infiltração em suas fileiras de provocadores e agentes do imperialismo.
Mas nessa luta do anticomunismo sistemático utiliza o imperialismo ianque todos os recursos e consegue unir a todos os inimigos da classe operária, desde os magnatas seus associados, desde os seus agentes cínicos e já desmascarados até os homens “honestos” que se proclamam “democratas”, “homens de esquerda” e até “socialistas” ou mesmo “comunistas não-internacionalizados”, e mobiliza toda essa gente para a propaganda sistemática contra o comunismo e os comunistas.
“Inimigos da pátria”, “agentes dos estrangeiros”, são os epítetos mais comuns por meio dos quais, explorando os sentimentos patrióticos do povo pretendem isolar a vanguarda da classe operária para depois esmagá-la. Ainda agora, os mesmos senhores que vivem falando na alienação da soberania nacional para justificar a submissão ao imperialismo, procuram utilizar a traição dos dirigentes iugoslavos para voltar à posição de defensores do nacionalismo e insistir na velha tecla de que os comunistas subordinam os interesses da pátria aos interesses de Moscou. Ora, se é verdade que os comunistas não separam a luta pela independência da pátria do internacionalismo proletário, do apoio franco e decidido à política de paz e de progresso da União Soviética, é também verdade que os seus acusadores não poderão ser levados a sério enquanto se mantiverem na conhecida posição de inimigos sistemáticos da União Soviética para defender os interesses do imperialismo ianque que explora e oprime o nosso povo. Se os comunistas se voltam para os povos da União Soviética é porque vêem na pátria do socialismo a grande fortaleza dos trabalhadores, de todos os povos que lutam pelo progresso e a independência nacional; voltam-se para a União Soviética justamente porque sabem os comunistas colocar em primeiro lugar e acima de tudo os interesses do Brasil, do progresso e da felicidade de seu povo; porque sabem que não é possível a vitória na luta contra a exploração dos trustes e monopólios internacionais, na luta contra o imperialismo, sem a união internacional do proletariado sem o apoio dos povos que já se libertaram da exploração imperialista, tanto daqueles que marcham para o socialismo, como, muito especialmente, daqueles que já alcançaram o socialismo, os povos vitoriosos da grande União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Mas, à medida que tão grosseiros processos deixam de produzir os efeitos desejados, graças ao desenvolvimento da consciência de classe e à elevação do nível político das massas, outras formas mais sutis passam a ser empregadas, visando, de um lado, a desmoralização dos dirigentes comunistas e, de outro, ganhar os elementos menos firmes do Partido para o oportunismo e o liquidacionismo.
Ainda agora vemos como surgem na imprensa brasileira através da pena dos chamados “homens de esquerda”, particularmente de antigos perseguidos da ditadura, novos argumentos e novas teorias, todas com o mesmo objetivo de difamar os dirigentes comunistas e de tentar liquidar a ação política da vanguarda do proletariado.
É conhecido o caso da revista PANFLETO que chegou a apelar em editorial para que os comunistas não mais participassem da campanha em defesa do petróleo e isto, como afirmava, para que a campanha pudesse prosseguir sem a pecha de comunista — teoria oportunista que pretende separar a luta em defesa do petróleo da luta pela democracia, pelo direito que têm todos os brasileiros, quaisquer que sejam suas ideologias ou pontos de vistas políticos, de participar da luta contra a entrega de nosso petróleo aos trustes imperialistas. Uma capitulação dessa espécie seria o passo decisivo para que fosse em seguida silenciada a voz do povo, liquidado por completo o movimento de massas em defesa do petróleo.
Já o Sr. Domingos Velasco que, como diz, foi criado entre os vaqueiros de Goiás, pretere a teoria da “vaca brava”. A reação é uma “vaca brava” que os comunistas, mais ignorantes ou menos sabidos que os vaqueiros de Goiás, impensadamente, provocam. Escreve o Sr. Velasco:
“Só gente boba é que provoca o bicho, a toa e desarmado, só gente besta é que o atiça, sem precisão quando a tarefa é outra”(19).
É claro que para o Sr. Velasco nunca há de chegar a hora de atacar a reação, a sua tarefa é sempre outra, e, certamente por isso, ao desenvolver a sua teoria oportunista de fugir, com o rabo entre as pernas, da “vaca brava”, não nos diz quando poderá chegar o momento em que, como faz o vaqueiro goiano, se disponha a montar a cavalo para atacá-la.
Tudo isso não deixa de ser ridículo, mas o essencial para o imperialismo é convencer as massas de que os comunistas são gente boba e besta, são provocadores enfim.
Outra teoria oportunista mais própria para intelectuais e “marxistas” é a lançada há pouco pelo Sr. João Mangabeira. O presidente do PSB cita Lenin e repete a frase de Goethe que era por aquele citada:
“a teoria é seca, mas a árvore da vida é sempre verde”.
Com esta frase pretende o Sr. Mangabeira criticar o sectarismo dos comunistas brasileiros e justificar a capitulação oportunista de seu projeto de lei sindical a que já nos referimos anteriormente. Só quem nada conhece da obra de Lenin da sua intransigente irreconciliabilidade com qualquer forma de oportunismo e sua persistente luta em defesa de princípios, pode ser enganado com a má fé do Sr. Mangabeira ao pretender utilizar Lenin para justificar sua submissão à reação e ao imperialismo. O compromisso no terreno sindical que traduz o projeto de lei do Sr. Mangabeira é contrário aos interesses da classe operária que reclama e necessita da completa liberdade sindical, só pode ser útil à burguesia, aos exploradores, à classe a que pertence o Sr. Mangabeira. Lenin dizia sempre que há compromissos e compromissos, e acrescentava:
“É preciso saber analisar a situação e as circunstâncias concretas de cada compromisso ou de cada variedade de compromisso. Deve aprender-se a distinguir o homem que entregou aos bandidos sua bolsa e suas armas, com o fim d« diminuir o mal causado por eles e facilitar sua captura e execução, daquele que dá aos bandidos sua bolsa e suas armas para participar na repartição da presa”(20).
Essas são algumas das idéias e teorias sempre numerosas e, tanto quanto possível, adaptadas às circunstâncias, ao meio e à ocasião, ao nível político das massas, mas que visam todas a mesma cousa — desarmar politicamente o proletariado, colocá-lo à reboque da burguesia, submetê-lo ao imperialismo. São, sob novas formas, sempre aqueles mesmos dogmas teóricos dos oportunistas, tão atentamente estudados por Stálin (21) que os desmascarou para sempre. O dogma sobre a incapacidade do proletariado para tomar o poder e dirigir a luta contra o imperialismo. O dogma sobre a falta de quadros, de homens suficientemente cultos entre o proletariado que precisaria educar-se primeiro. Os dirigentes proletários são os “sequazes imbecilizados” de Prestes, na expressão de um literato “de esquerda”(22) que pretendeu introduzir a podridão e a degenerescência de sua classe no meio operário. O dogma de que a greve e todos os métodos de luta revolucionária do proletariado são praticamente perigosos e que não podem substituir as formas parlamentares de luta.
A verdade é que, ainda presentemente, em toda a América Latina, vai conseguindo o imperialismo, aqui e ali, de uma forma ou de outra, enganar as grandes massas, graças ao atraso político, à formação ainda recente do proletariado como classe que ainda se encontra em geral sob forte influência da ideologia pequeno-burguesa, apesar da rica experiência adquirida nestes últimos anos de crise geral do capitalismo e de luta contra o fascismo. Mas nessa tarefa de enganar as massas, para melhor e mais facilmente submetê-las ao jugo do imperialismo, continuam exercendo um papel de destaque os chamados “esquerdistas”, pequeno-burgueses mais ou menos intelectualizados, que passam rapidamente do nacionalismo revolucionário para o reformismo e que, empregando expressões radicais, dizendo-se “de esquerda”, “socialistas”, e até mesmo “marxistas” e “comunistas”, chegando, por vezes, a lutar contra os governos reacionários e ditatoriais, quando já de todo impopulares e prejudiciais ao imperialismo, conseguem arrastar as massas a reboque da burguesia e mantê-las sob o jugo do imperialismo.
Dois Exemplos Negativos, Mas Importantes
É essa gente que, a serviço do imperialismo, tudo faz para desarmar a classe operária, tenta infiltrar-se em seu partido de vanguarda, busca por todos os meios exercer influência ideológica sobre seus quadros dirigentes, a fim de desagregar por dentro os Partidos Comunistas, dividí-los, transformá-los de vanguarda do proletariado em meras agrupações eleitoreiras a reboque da burguesia, trata de liquidá-los enfim.
Um exemplo disso, que mostra de maneira contundente até onde pode chegar a influência de ideologias estranhas ao proletariado, quando conseguem se infiltrar no seu partido de vanguarda, é o ocorrido com o Partido Comunista do Haiti que, segundo manifesto publicado no jornal comunista do país, “Combat”, de 26 de abril de 1947, foi dissolvido por decisão suicida do próprio Bureau Político.
No seu singular manifesto os companheiros do Haiti, após se referirem à opressão política do imperialismo ianque que ameaça estrangular economicamente o país, sob o pretexto de ser a República do Haiti um país comunista, já que o seu governo admite a prática da democracia e a existência do Partido Comunista, declaram:
“O Partido Comunista do Haiti não seria o partido dos operários e das massas trabalhadoras se não tratasse de tomar as decisões que lhe são determinadas pela situação internacional e pela posição das forças em antagonismo no seio da nação, a fim de aliviar os sofrimentos inúteis do proletariado;
“Considerando que o proletariado do Continente americano bateu em retirada diante da ofensiva do imperialismo americano;
“Considerando que seria um crime continuar o PC do Haiti uma luta desigual e atualmente desesperada contra um colosso industrial que quer antes de tudo estrangular economicamente a população do país de Toussaint e de Dessalines;
“Considerando que o P. C. do Haiti não seria capaz de comprometer, por falta de tática, o futuro da nação, assinalando-a ao ataque injusto de qualquer vizinho belicoso que tomasse da existência do P. C. do Haiti por pretexto para criar males irreparáveis ao povo haitiano;
“O Partido Comunista do Haiti, depois de ter analisado a situação com a maior lucidez, decidiu sua dissolução até que a resistência nas Américas da antítese proletária e as determinantes da História necessitem de sua participação na luta mundial”.
Jacques Duclos, em longo artigo em maio de 194.7, já havia chamado a atenção dos companheiros de Haiti, de maneira a mais fraternal para o erro cometido. Primeiramente, não é certo que o proletariado do Continente tenha batido em retirada diante da ofensiva do imperialismo ianque. A luta é dura e difícil, o inimigo é brutal, impiedoso, mas os povos do Continente continuam lutando e resistindo, desde a classe operária com os comunistas à frente, que lutam por maiores salários e contra a brutalidade da exploração imperialista, às massas camponesas, ao povo em geral que resiste aos governos traidores que vendem a pátria aos trustes e monopólios, até os intelectuais a serviço do povo, como Pablo Neruda, cujos versos ecoam pelo mundo inteiro e proclamam a luta heróica de nossos povos contra o imperialismo e marcam a fogo a traição dos Gonzalez Videla, dos Dutra, dos Trujillo e tantos outros.
Quem bate em retirada são os comunistas do Haiti que assim procedendo entregam seu povo à exploração imperialista, cometem na verdade a maior de todas as traições. Ou como escreve Duclos:
“Se nenhuma resistência popular se manifesta, se a política de submissão total triunfa, se em lugar de organizar uma luta de massas de acordo com as condições do país, os comunistas do Haiti se contentam em dissolver seu Partido, eles impedirão por muito tempo talvez, qualquer possibilidade de desenvolvimento e abrirão a porta à reação a mais negra em seu país”(23).
Desnecessário insistir, tão evidente o erro dos comunistas haitianos que se retirando da luta aceitam de fato a ignominia da escravização crescente de seu povo, cujo valor e cujas tradições de luta subestimam com prejuízo para o progresso do Continente e a luta do proletariado do mundo inteiro.
Queremos assinalar somente a identidade das teses falsas em que se baseiam os comunistas do Haiti com as dos nossos “socialistas” e “homens da esquerda”, muito especialmente com as teses ultimamente defendidas pelo Sr. Domingos Velasco ao declarar que são os comunistas os principais responsáveis pelo retrocesso democrático dos dias que atravessamos aqui em nossa terra. E, isto, porque não permitimos que o proletariado fosse arrastado em 1945 a reboque da burguesia e soubemos desmascarar o caráter essencialmente reacionário e imperialista da quartelada de 29 de outubro daquele ano.
Os comunistas do Haiti dizem ainda que se retiram da luta por tática e por serem bastante inteligentes (“com a maior lucidez”) para compreender a situação e não querer sacrificar seu povo. Não são estas justamente as qualidades que, segundo dizem, nos faltam, os defeitos que tanto lamentam em nós, comunistas brasileiros, os porta-vozes do imperialismo? Falta-nos inteligência, habilidade tática, prudência para não atacar impensadamente a “vaca brava” da reação. . . É claro que ao imperialismo ianque interessaria livrar-nos de tantos defeitos, a fim de que tomássemos o ruma “inteligente” dos comunistas do Haiti e dissolvêssemos o nosso Partido.
Outro caso não menos contundente de como consegue o imperialismo ianque fazer penetrar sua influência nas fileiras de um partido operário, para arrastá-to por falsos caminhos desmoralizá-lo e assim conseguir liquidá-lo por muito tempo, temos nos recentes e sangrentos acontecimentos de Costa Rica.
Referimo-nos ao movimento rebelde contra o governo do presidente Teodoro Picado, eleito por uma frente democrática que incluía os comunistas, organizados no país sob a legenda política de “Vanguarda Popular” e que não só apoiavam o governo do Sr. Picado como já haviam por mais de uma vez organizado e dirigido o povo para defender a democracia no país contra os ataques repetidos da reação, constituída pelos grandes proprietários de terras aliados do imperialismo ianque. O movimento rebelde contra o governo do Sr. Picado foi descaradamente organizado pelos agentes norte-americanos que utilizaram o pretexto das eleições presidenciais para lançar o país na guerra civil. Na emergência foram ainda os comunistas de “Vanguarda Popular” que “souberam lutar de armas na mão em defesa da legalidade democrática e, no momento em que o presidente Picado, sob pressão diplomática, econômica e militar do imperialismo ianque, resolveu capitular, “o grosso das forças armadas (legais) estavam sob nosso controle”, sob o controle dos dirigentes de “Vanguarda Popular”, como escreve em recente artigo, tentando explicar a posição dos comunistas, o companheiro Arnoldo Ferreto, dirigente nacional do Partido.
Que fizeram então os comunistas? Souberam honrar as tradições gloriosas de Sandino, de Mella, de Jesus Menendez, que deram suas vidas na luta pela libertação de seus povos do jugo do imperialismo? Lamentavelmente não foi o que aconteceu, porque os dirigentes de “Vanguarda Popular” se deixaram influenciar pelos argumentos oportunistas dos agentes do imperialismo. Confessa-o, no citado artigo, o companheiro Arnoldo Ferreto que, depois de dizer que o presidente Picado justifica sua conduta capitulacionista como conseqüência da pressão de “forças incontroláveis”, escreve:
“Tais “forças incontroláveis” eram constituídas, segundo confissão do Sr. Picado ao Secretário Geral do Partido Vanguarda Popular, pela intervenção direta do Departamento Estado, por meio do embaixador dos Estados Unidos, que ordenou a imediata capitulação. Naturalmente, o pretexto aduzido foi o de que “o governo já não controlava suas forças armadas, mas o partido dos comunistas costa-riquenses, o partido Vanguarda Popular.
“Ao ser notificada a capitulação ao nosso partido, estávamos diante da alternativa de aceitá-la ou não. Se dela não tomássemos conhecimento teríamos que assumir o comando de todas as forças armadas e o Poder. Quer dizer, teríamos que constituir-nos em partido no Poder. Consideramos que não estávamos em condições de fazê-lo, não porque o exército rebelde de Figueres pudesse derrotar-nos, mas porque dávamos bases para que o imperialismo ianque consumasse seus planos intervencionistas, com a aprovação covarde dos governos latino-americanos, cujos diplomatas informariam apresentando “Vanguarda Popular” como um Partido Comunista levantado em armas contra um pacto em que eles, os diplomatas, haviam feito o papel de intermediários, para pôr fim a uma guerra civil, que havia sido instigada e iniciada pela reação”.
De maneira que, como está acima escrito, para evitar “que o imperialismo ianque consumasse seus planos intervencionistas” no país, preferiram os dirigentes de “Vanguarda Popular” depor as armas, facilitar o caminho para a dominação imperialista e, na prática, trair os interesses de seu povo que chegou a neles confiar, na esperança de libertar-se do jugo explorador do imperialismo. Erraram, como se vê, os dirigentes de “Vanguarda Popular” por excessiva falta de confiança nas massas, no povo de Costa Rica e nos demais povos do Continente, inclusive no proletariado norte-americano, que não deixariam de dar seu apoio ao povo costa-riquense e impedir a intervenção imperialista.
É claro que a capitulação dos dirigentes de “Vanguarda Popular”, três dias depois da do presidente Picado e diretamente a Figueres, é mais uma prova das ilusões pequeno-burguesas que predominavam na direção de “Vanguarda Popular”. Refere-se Arnoldo Ferreto ao pacto assinado por Figueres e pelo Presbítero Benjamin Nunes, presidente da Central Sindical Católica “Rerum Novarum” e hoje ministro do Trabalho:
“Nesse pacto, cujos termos foram dados à publicidade, Figueres promete manter e ampliar as conquistas sociais do povo, distribuir terras entre os camponeses, respeitar e apoiar a Confederação de Trabalhadores de Costa Rica e respeitar os direitos do Partido “Vanguarda Popular”.
Que o agente da reação e do imperialismo assinasse essas promessas e muito mais ainda, enquanto o povo estava de armas na mãe não é de admirar, mas que dirigentes do proletariado pudessem nelas acreditar é realmente difícil de compreender. Assim procedendo, os dirigentes de “Vanguarda Popular” ajudaram a Figueres e ao Presbítero Nunes a enganar o povo que desarmaram e entregaram traiçoeiramente à brutalidade da exploração imperialista da ditadura terrorista que se instaurava no país. É evidente que os dirigentes de “Vanguarda Popular” não souberam ver a identidade de classe e de propósitos de Figueres, a quem se renderam, e daqueles a quem diretamente capitulou o presidente Picado — eram todos representantes e agentes do mesmo imperialismo ianque, capazes de todas as promessas e da mais cínica demagogia, quando se trata de desarmar o povo, de desmoralizar e liquidar seu partido de vanguarda, de separar as massas de seus dirigentes honestos e combativos, mas sempre com o mesmo objetivo de abrir as portas à penetração imperialista e impedir que a nação se liberte da exploração brutal, semi-feudal e semi-colonial.
São esses dois grandes e importantes exemplos, exemplos negativos que dizem como não se deve fazer as cousas, mas que justamente por isso merecem o exame cuidadoso de todo o proletariado revolucionário da América Latina, pois, ensinam ao vivo, à custa dos sacrifícios de dois povos irmãos, o justo caminho da luta contra o imperialismo, pela independência e o progresso de nossos povos. Não temos nenhuma dúvida de que os operários revolucionários do Haiti e da Costa Rica serão os primeiros nesse exame e que, na base de vigorosa e honesta auto-crítica, saberão reconstruir com rapidez seus partidos de vanguarda para prosseguir, mais esclarecidos e mais fortes do que antes, à frente da gloriosa luta de seus povos pela independência nacional, contra a brutalidade da exploração imperialista.
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O que é certo é que se aprofunda a luta de classes em toda a América Latina e que, se de um lado, o imperialismo ianque, porque vê nos comunistas os lutadores mais vigilantes, enérgicos e conseqüentes na luta pela emancipação nacional, não poupa esforços para conseguir a liquidação do Partido Comunista de cada país, cabe, de outro lado, aos comunistas, para que possam levar seus povos à vitória, adquirir plena consciência da importância histórica de sua missão de vanguarda a fim de poder exercê-la sem vacilações mau grado a dureza da luta e a solércia insidiosa do inimigo.
Mais do que nunca os nossos povos reclamam um partido de vanguarda, um partido efetivamente do proletariado, revolucionário de verdade, livre de qualquer influência burguesa e imperialista, capaz de levantar as reivindicações das massas, do proletariado, dos camponeses, da pequena-burguesia empobrecida e desesperada, um partido que exista organizadamente, apesar de todas as perseguições, e que lute efetivamente contra a miséria e a fome, contra a polícia, que lute contra o imperialismo, em defesa da independência nacional, que lute enfim contra a guerra imperialista e a ocupação de nosso solo pelas forças do imperialismo.
Mas, não nos esqueçamos todos nós, comunistas, que não estamos dispostos a aceitar o jugo do imperialismo, que, para constituirmos um partido verdadeiramente revolucionário, bastante intrépido para conduzir seu povo no luta contra o imperialismo, capaz de orientar-se, como diz Stálin, nas condições complexas da situação revolucionária e bastante flexível para saber contornar todos os obstáculos, para constituirmos um tal partido necessitamos aprender a manejar com desembaraço a grande arma teórica do proletariado, a ciência social do marxismo-leninismo-stalinismo e lutar sem desfalecimento pela elevação do nível político e ideológico de todo o Partido.
Só assim conseguiremos derrotar o inimigo imperialista no terreno ideológico, condição primeira, como vimos, para impedir que o nosso povo seja enganado pelos demagogos, dividido, separado de sua vanguarda revolucionária e finalmente arrastado pela burguesia à completa submissão ao imperialismo ianque, à reação fascista e à guerra contra a União Soviética.
Só armados com a teoria revolucionária do marxismo estaremos em condições de desmascarar a propaganda ideológica dos agentes do imperialismo contra a democracia, contra a União Soviética e o comunismo, e de impedir que se propaguem no meio operário as teorias oportunistas dos social-democratas, social-reformistas, dos demagogos esquerdistas, “trabalhistas”, “socialistas”, etc. e, muito particularmente que tais teorias possam de longe sequer exercer influência nas fileiras de nosso Partido.
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Notas:
(1) “Folha da Manhã”, 31 de março de 1948 — São Paulo
(2) “Correio da Manhã”, 25 de setembro de 1948 — Rio.
(3)”Correio da Manhã”, 25 de setembro de 1948 — Rio.
(4) “Folha da Manhã”, 10 de junho de 1948 — São Paulo.
(5) “Folha da Manhã”, 21 de setembro de 1948 — Rio.
(6) “O Jornal”, 21 de setembro de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(7) “Diário do Congresso”, 2 de julho de 1948, pág. 5171, Rio. (retornar ao texto)
(8) “Correio da Manhã”, 22 de agosto de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(9) “A Classe Operária”, n.° 6, de 3 de abril de 1946 — Rio. (retornar ao texto)
(10) R Palme Dutt — “Reforcemos a luta pela paz” — “Problemas”, n.° 12, julho de 1948, pág. 73 — Rio. (retornar ao texto)
(11) O. Kuusinen — “Sois a favor ou contra a União Soviética?” — in “Temps Nouveaux”, n.° 39, pág. 3 — Moscou.(retornar ao texto)
(12) A. Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — “Problemas”, n.° 5, pág. 42 — Rio. (retornar ao texto)
(13) “O Jornal”, 8 de agosto de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(14) Eugène Dennis — “O Terceiro Partido e as eleições de 1948″ —”Problemas”, n.° 12 — Julho de 1948, pág. 27 — Rio. (retornar ao texto)
(15) Andrei Zhdánov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — “Problemas”, n.° 5, de dezembro de 1947, pág. 28 — Rio. (retornar ao texto)
(16) “A Classe Operária”, n.° 133, de 17 do julho de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(17) J. Stálin — “O marxismo e o problema nacional e colonial”, pág. 345, Editorial Vitória — Rio. (retornar ao texto)
(18) Andrei Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — “Problemas”, n.° 5, dezembro de 1947, pág. 42 — Rio. (retornar ao texto)
(19) Domingos Velasco, in “Diário da Notícias”, 19 de setembro de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(20) Lenin — “A Doença Infantil no Comunismo”, obras em espanhol, Vol. IV, pág. 340 — Edições em línguas estrangeiras — Moscou. (retornar ao texto)
(21) Stálin — “Os Fundamentos do Leninismo”, obras em espanhol, pág. 19 — Edições em línguas estrangeiras — Moscou. (retornar ao texto)
(22) “Correio da Manhã”, 25 de setembro de 1948 — Rio. (retornar ao texto)
(23) Jacques Duclos — “Démocracie Nouvelle”, n.° 5, de maio de 1947, páá-. 225 — Paris. (retornar ao texto)