A Palestina é um país agrário. É fraco seu desenvolvimento industrial. Aproximadamente 67% de sua população (1.912.000 habitantes, dos quais 1.143.000 Árabes e 600.000 Judeus)(1) ocupam-se na agricultura. Entretanto, a superfície de suas terras de cultura é muito restrita, não ultrapassando 8.000 quilômetros quadrados numa extensão total de 26.000 quilômetros quadrados. A densidade média da população é de 73 habitantes por quilômetros quadrado.

A quem pertencem as terras? Perto de 45% dessas terras estão concentradas nas mãos dos senhores feudais árabes, mais de 20% pertencem aos fundos de colonização judaicos, que os cedem em arrendamento a longo prazo aos colonos individuais e às cooperativas agrícolas judaicas(2); uma outra parte é controlada pelas grandes sociedades judaicas e pela comunidade religiosa muçulmana dos Vecufs.

Assim, os camponeses árabes, em sua grande massa, só dispõem de pequenos pedaços de terra, que obtêm, por arrendamento, dos grandes proprietários árabes os quais lhes impõem uma espécie de servidão. Quanto aos camponeses sem terra, esses são também explorados nas plantações da burguesia judaica.

No que se refere aos fundos de colonização judaica, a revista “Eretz Israel” publicou índices relativos à atividade do mais importante entre eles, o “Kerem Hassoyed”, órgão financeiro da Agência Judaica(3) que, em 24 anos de existência, recolheu 13 milhões de libras esterlinas entre os Judeus da Europa e sobretudo da América, para a compra de terras na Palestina. Atualmente, dos 170.000 hectares aproximadamente, de que dispõe a população judaica na Palestina, 30% pertencem ao “Kerem Hassoyed”. E contam-se por dezenas de milhares os proprietários árabes que perderam suas terras, devido à aquisição das mesmas pelas sociedades de colonização judaica, ligadas ao Banco Rothschild de Londres, assim como a outros bancos internacionais.

Além disso, graças aos créditos de que dispõem, em razão dessas ligações, as plantações judaicas são munidas de equipamento técnico moderno enquanto que as pequenas explorações árabes empregam, na sua maioria, métodos primitivos de lavoura. Estas últimas cultivam principalmente cereais, que servem para o consumo interno do país; aquelas cultivam especialmente ameixa principal produto comercial do país e que é exportado para os Estados Unidos.

Já vimos que é fraco o desenvolvimento industrial da Palestina. A indústria existente é sustentada por capitais ingleses, americanos, e, em pequena parte, judeus, investidos principalmente na produção de potassa, de soda e de energia elétrica, assim como na transformação do petróleo.(4) Quanto às empresas industriais médias, essas pertencem, em grande parte, à burguesia judaica imigrada. Graças à imigração dos operários judeus, que se produziu principalmente durante os últimos anos, a experiência dos métodos modernos de produção difundiu-se nessa indústria, ao mesmo tempo em que se ampliava o mercado interno.

A Imigração Judaica

Foi no período compreendido entre as duas guerras que se tornou mais forte a imigração judaica na Palestina. Nos vinte anos que decorreram após a obtenção do mandato sobre a Palestina, pela Inglaterra, de 1919 a 1939, 400.000 imigrantes judeus instalaram-se naquele país. Foi assim que a composição da população modificou-se da seguinte maneira no decorrer desse período: em 1919, contavam-se 65.000 judeus num total de 648.000 habitantes; em 1939, contavam-se já 446.000 judeus num total de 1.502.000 habitantes; em 1946, 600.000 em 1.800.000.

Ao mesmo tempo, aumentava consideràvelmente o afluxo dos capitais. Em 20 anos, 575 milhões de dólares foram investidos na Palestina, dos quais três quarta partes a favor da burguesia judaica, sendo uma parte utilizada na compra, para os imigrantes, das terras dos “felahs”, enquanto a maior parte era investida no comércio e na indústria. Como essa colonização das terras árabes pelos Judeus poderia ter deixado de agravar consideràvelmente a tensão árabe-judáica? Depois da ida de Hitler ao poder, do aguçamento da perseguição aos judeus na Alemanha e das conseqüências da crise econômica na Europa, o número dos imigrantes passou de 5.200 em 1929, 4.900 em 1930, 4.000 em 1931, 9.500 em 1932, a 33.300 em 1933, 42.300 em 1934 e 61.800 em 1936(5). Nessas condições, como poderiam os Árabes deixar de temer a possibilidade de se tornarem, um dia, minoria? Tanto mais que a Inglaterra excitava artificialmente e explorava, para seus próprios fins imperialistas, a discórdia árabe-judáica.

Indústria, Comércio e Finanças

Por mais fraca que seja, a indústria da Palestina, que trabalhou durante a guerra, para as necessidades militares da Grã-Bretanha, desenvolveu-se, então, consideràvelmente. Foi assim que o valor global da produção passou de 10 milhões de libras esterlinas em 1939 a 36 milhões em 1943. A percentagem da população empregada na indústria passou, em conseqüência, de 14 em 1931, a 25 em 1942. Várias indústrias novas, trabalhando em parte para a população, foram, além disso, criadas no decorrer destes últimos anos: indústrias químicas, farmacêutica, de silicatos, de conservas, etc.

Isso não altera o fato de que é muito fraco o capital nacional árabe. Algumas pequenas empresas de transformação dos produtos agrícolas (indústria do vinho, do sabão, etc.) são as únicas que se acham concentradas nas mãos da burguesia árabe. É a burguesia judia quem controla a maior parte da pequena indústria e da média, em particular a indústria de lapidação de diamantes, que utiliza a matéria prima da União Sul-Africana, e que recentemente tomou especial desenvolvimento, com a exportação dos diamantes lapidados para os Estados Unidos. Dessa maneira, segundo os cálculos da Agência Judaica, a produção das empresas judaicas passou de 9 milhões de libras, em 1937, a 20,7 milhões em 1942, e o número dos operários que elas empregam passou ao mesmo tempo de 30.000 para 56.000. (6)

O comércio exterior, aliás, representa um papel importante na economia da Palestina, economia essa que depende, em conseqüência da situação colonial do país, da importação dos produtos manufaturados. (A balança comercial da Palestina sempre foi passiva e acha-se coberta pelo produto das exportações invisíveis, imigração, turismo, peregrinações). O volume total desse comércio exterior passou, de 1939 a 1944, de 19,7 milhões de libras esterlinas, para 50 8 milhões(7). É conveniente observar, a esse respeito, que, enquanto que antes da guerra a parte da Inglaterra atingia a perto de 20% nas importações e 50% nas exportações da Palestina, e o segundo lugar era ocupado pela Alemanha, foram os Estados Unidos e os países árabe que, durante a guerra, se beneficiaram com um aumento da sua parte.

Do ponto de vista financeiro, a Palestina depende do capital inglês e americano (Barclay’s Bank, Banco de Hipotecas da Palestina, Banco central das cooperativas, etc.), com o qual o capital judeu se acha ligado intimamente, assumindo com frequência o papel de intermediário. Além disso, a Palestina, durante a guerra, foi, como o Egito e a índia, credora da Inglaterra. A dívida inglesa para com a Palestina é de 120 milhões de libras.

Uma História de Esperanças Malogradas e de Violências

O período compreendido entre a primeira e a segunda guerra mundiais, foi marcado, na Palestina, por uma agravação brusca das contradições internas, por atritos e choques contínuos entre as autoridades britânicas e a população, por um lado, e por outro lado entre Judeus e Árabes. A história da Palestina, nos últimos anos, é uma história de promessas não cumpridas, de esperanças Malogradas de violências e de ultrajes aos sentimentos nacionais dos dois povos.

Até 1939, a Inglaterra contava principalmente com a burguesia judaica, encorajando-lhe as aspirações sionistas. Ao mesmo tempo, fazia tentativas de aproximação junto aos senhores feudais árabes, e provocava conflitos entre a burguesia judaica e a grande massa dos camponeses árabes explorados por essa burguesia e pouco a pouco eliminados de suas terras pela força do capital judaico.

Assim, longe de criar no país as condições propícias à organização de uma administração democrática, longe de estimular o desenvolvimento de órgãos administrativos autônomos, como havia sido previsto pelo mandato, as autoridades britânicas aplicaram na Palestina uma verdadeira política colonial imperialista, usando de medidas arbitrárias e pouco se importando com o direito. O fato de que as despesas com a polícia eram, sem termo de comparação, as mais importantes do orçamento (18 milhões de dólares americanos para a “manutenção da ordem”, contra 2 milhões, apenas, para a saúde pública e outro tanto para a educação) dá, aliás, uma idéia dessa política. E se os ingleses sempre procuraram justificar suas medidas policiais invocando a “discórdia” nacional e a dificuldade e fazer co-habitar Árabes e Judeus, isso não passa de uma ironia, pois eram eles que, fieis à sua divisa: “divide et impera” excitavam o antagonismo e o ódio, açulando os Árabes contra os Judeus e os Judeus contra os Árabes e provocando periodicamente massacres e progroms.

Grandes levantes antiimperialistas marcaram, também, a história da Palestina nessa época, em 1920-21, 1929-33, 1936-38.

Esses levantes foram cruelmente reprimidos pela Inglaterra. Entretanto, esse desejo de se libertar do domínio da Inglaterra, que persistia na grande massa dos Judeus assim como nas dos Árabes, constituía o fator principal da aproximação entre esses dois povos e representava, portanto, uma ameaça suplementar para a Inglaterra.

Por isso, o imperialismo inglês perseguia todos os elementos democráticos e progressistas, apoiando-se ora na direita judia, ora nos meios reacionários árabes, política que foi seguida tanto pelos governos trabalhistas quanto pelos conservadores. E as comissões enviadas periodicamente pelo governo britânico à Palestina, para “examinar a situação” só podiam pretender, nessas condições, redigir projetos e propor paliativos incapazes de resolver o verdadeiro problema.

O Livro Branco

Às vésperas da segunda guerra mundial, a Inglaterra reforçou seus preparativos militares e estratégicos no Oriente-Próximo. Temendo uma agressão por parte da Itália fascista, assinou um pacto militar com o Egito e se viu obrigada, em certa medida, a fazer a revisão de sua política relativamente aos Árabes da Palestina. No Livro Branco, publicado por ela em 1939, tornou-se visível, com mais precisão, que ela se propunha a adotar uma política “que levaria em conta os desejos da maioria árabe” e se apoiaria nas camadas sociais superiores dessa maioria. Acabavam de se realizar, nessa época, importantes manifestações antiimperialistas, ao mesmo tempo em que se tinham agravado as relações árabe-judáicas, em conseqüência da intensificação da imigração judaica.

Em novembro de 1937, os líderes árabes tinham exigido do comissário inglês na Palestina a formação de uma administração árabe autônoma, a interdição da venda das terras árabes aos colonos judeus e a interrupção imediata da imigração judaica. Essas exigências tendo provocado a indignação da população judia, o governo britânico instituiu uma comissão especial, dirigida por Lord Pill, para o exame do problema da Palestina. A comissão recomendou, então, a divisão do país em três partes sendo que uma formaria o Estado Judaico, outra o Estado Árabe e a terceira ficaria sob controle inglês. Mas o governo britânico julgou quimérico esse plano e anunciou a convocação da conferência da Mesa Redonda de 1939, conferência a que tanto os líderes políticos árabes quanto os líderes políticos judeus recusaram comparecer.

O Livro Branco fixava da seguinte maneira os planos ingleses a respeito da Palestina:

1.° — criação, num prazo de 10 anos, de um Estado Palestino independente, se fosse realizado o acordo entre os Judeus e os Árabes;
2.° — limitação da imigração judaica, ficando esta fixada, durante 5 anos, em 75.000 pessoas por ano, e, a partir de 1944, submetida ao consentimento dos Árabes;
3.° — atribuição, ao alto comissário para a Palestina, do direito de regulamentar e de proibir a transferência das terras de um proprietário para outro.
A publicação do Livro Branco foi interpretada, não só pelos Judeus da Palestina, mas também por numerosos ingleses, como o repúdio, por parte da Inglaterra, dos compromissos assumidos outrora e relativos à criação do Lar Nacional Judaico. Durante os debates no Parlamento, vários líderes conservadores e trabalhistas tomaram posição, resolutamente, contra a política proclamada pelo Livro Branco. O governo britânico anunciou, então, sua intenção de submeter esse caso ao Conselho da SDN mas o início da segunda guerra mundial forneceu o pretexto para adiar ainda uma vez a solução desse problema.

O Problema de Biltmore e a Ação Judaica

Mais tarde, o governo britânico confirmou sua intenção de limitar estritamente a imigração de judeus, e, a 28 de fevereiro de 1940, foram publicadas na Palestina novas regras aplicáveis à colonização das terras. O país era dividido em três partes; numa delas, era proibida a venda da terra aos Judeus pelos Árabes; em outra, essa venda era limitada e, na terceira, era admitido o livre povoamento das terras pelos Judeus. Entretanto, essa terceira zona representava apenas 5% da superfície total do país.

Enquanto isso, a segunda guerra mundial tinha dado muito maior acuidade ainda ao problema da criação de um lar nacional judaico. O fascismo escrevera novas páginas sangrentas na história trágica do povo Judeu. Nas câmaras de tortura e nos campos de concentração hitleristas milhões de Judeus tinham sofrido tormentos desumanos e tinham sido exterminados.

Com o início da guerra, afluirá para a Palestina uma imigração judaica clandestina, com o apoio ativo da população judaica do país. Em face do perigo representado pela Alemanha fascista, essa população judaica abandonara provisoriamente a palavra de ordem de luta contra a política formulada no Livro Branco. Ela contava apresentar novamente suas reivindicações à Inglaterra após o fim da guerra. De 20.000 a 30.000 judeus serviam em destacamentos das forças armadas inglesas.(8)

Depois, à medida que ia diminuindo a ameaça da agressão fascista, a maioria dos judeus de Palestina travou a luta não só contra a administração britânica mas também contra a Agência Judaica, que representava, naquela época, o papel de intermediário entre a população judaica e a Inglaterra. Além disso, em 1942, a maioria dos sionistas da Palestina havia formulado suas reivindicações no programa de Biltmore. Esse programa pode ser resumido em três pontos:

imigração ilimitada;
venda ilimitada das terras;
criação de um Estado judaico como objetivo final.
Esse programa se destinava a ganhar, para os sionistas, a massa dos judeus médios da Palestina.

Entretanto, diante da penetração cada vez mais profunda dos Estados Unidos no Oriente-Próximo, e diante da resistência reforçada da população judaica da Palestina ao domínio inglês, tornava-se cada vez mais difícil para a Inglaterra continuar a política exposta no Livro Branco. Nessas condições, no momento em que a imigração de judeus só deveria ser admitida com o consentimento dos Árabes, após haver expirado o período de 5 anos fixado pelo Livro Branco para a entrada dos imigrantes, a administração inglesa, levando em conta a situação criada pela guerra, autoriza a continuação da imigração. Isso se passava na primavera de 1944 e foi no outono do mesmo ano, na véspera das eleições americanas, que os Partidos Republicano e Democrata dos Estados Unidos adotaram, com o fim de atrair eleitores, uma resolução a favor, igualmente, na imigração judaica ilimitada.

Liga Árabe e Congresso Sionista

Na mesma época, ainda, que a perspectiva próxima do fim da guerra e da vitória dos Aliados gerou entre os povos dependentes do Oriente árabe a esperança de ver realizadas as promessas de independência que lhes haviam sido feitas. Espelhou-se amplamente nesses países o movimento de libertação nacional. Os meios nacionalistas árabes exigiam com determinação cada vez maior a evacuação de seus territórios pelas forças inglesas, o reconhecimento de sua soberania e a instauração de sua independência.

Mas as tendências ultra-nacionalistas, pan-islamistas e pan-arábicas predominavam entre os nacionalistas árabes, nas camadas superiores da população, e foram exatamente essas tendências que a diplomacia inglesa decidiu explorar em seu próprio interesse.

Foi então que se fundou, com o apoio da Inglaterra, a Liga dos países árabes, por decisão da conferência dos ministros e dos representantes dos Estados árabes. Tratava-se, no caso, de uma manobra da diplomacia britânica, que garantira sua influência na Liga, graças aos sentimentos pró-inglêses de seus membros como Nouri-Said, primeiro ministro do Iraque e secretário geral da Liga, Azzam-Pacha, representante do Egito. Por intermédio da Liga, a Inglaterra ficou doravante capacitada a controlar e dirigir a política exterior dos países árabes.

Sabe-se que a finalidade oficial da Liga é a de coordenar a política estrangeira dos Estados membros e realizar sua colaboração, em vista de salvaguardar sua independência nos setores econômico, cultural, social e outros. Sob essa máscara, entretanto, ela desenvolveu, desde o início, uma política favorável aos interesses da Inglaterra. No que se refere ao problema da Palestina, em todo caso, sabe-se como a Liga que é — tomemos nota disso — uma emanação das camadas sociais superiores dos diferentes Estados árabes, proclamou sem tardar que a Palestina era um país exclusivamente árabe e tomou posição contra a imigração dos judeus. Por outro lado, decidiu fortalecer a imigração na Palestina dos árabes da África do Norte, e tomou, com uma celebridade que não lhe é habitual, várias medidas tendentes a boicotar as mercadorias vendidas pelos judeus e a unir os partidos políticos árabes da Palestina.

Sem dúvida, o imperialismo britânico se vê obrigado a fazer certas concessões na política que desenvolve a respeito do Oriente-árabe. Mas tenta incessantemente reduzir a nada essas concessões, introduzindo-lhes toda espécie de restrições e de emendas, no sentido de modificar apenas as formas exteriores de seu domínio. Foi assim que, em seguida à conferência do Partido Trabalhista na primavera de 1945, conferência de preparação das eleições, durante a qual foi decidido abandonar inteiramente a política do Livro Branco (um dos líderes trabalhistas, M. Dalton, pronunciou-se, então, a favor da criação de um Estado Judaico) o Congresso sionista, que se realizou em Londres no verão do mesmo ano, adotando uma resolução que exigia a criação, na Palestina, de um Estado Judaico “uno e indivisível”, preveniu a Inglaterra contra qualquer espécie de “meias-medidas e adiamentos”. Apresentava também várias reivindicações urgentes:

— imigração ilimitada dos Judeus na Palestina;
— concessão de um empréstimo internacional para auxiliar a transferência do primeiro milhão de judeus nesse país;
— auxílio Internacional para a organização do transporte dos imigrantes para a Palestina, etc…
Por seu lado, Mr. Truman exigia do governo britânico, pouco tempo depois do Congresso sionista, a autorização da entrada, na Palestina, de 100.000 Judeus europeus, isso com a finalidade de assegurar o apoio dos judeus tanto nos Estados Unidos quanto na Palestina, país que o imperialismo americano conta submeter à sua influência.

Foi então que o governo britânico, sem dar resposta à nota de Truman, enviou reforços militares para a Palestina, o que provocou, nesse país, uma nova onda de indignação e de vários atos de terrorismo. Na data aniversaria da declaração Balfour(9), por exemplo, o “Haganah” organizou greves, dinamitou trens e provocou perturbações em Tel-Aviv. Em Jerusalém, os terroristas judeus dinamitaram, nessa época, o grande hotel “O Rei David”, onde se encontrava hospedado o estado-maior das tropas inglesas, e produziram-se, no Cairo, em Trípoli e em outras cidades árabes, excessos anti-semitas.

Quanto à polícia inglesa, foi também contra a população judaica que, auxiliada por um exército de 80.000 homens, ela se encarniçou com extrema crueldade, multiplicando batidas, prisões e perseguições. Não pôde, entretanto, destruir os grupos terroristas clandestinos, que desfrutavam o apoio da população .

O Relatório da Comissão Anglo-Americana de 1948

Diante de tal situação, o governo britânico propôs aos Estados Unidos a organização de uma comissão mista anglo-americana, com o objetivo de examinar as condições políticas, econômicas e sociais da Palestina. Os Estados Unidos que, conforme já dissemos, manifestam um interesse todo especial pelo Oriente árabe em geral e, mais particularmente, pela Palestina, aceitaram. Essa comissão publicou seu relatório em Londres, a 30 de Abril de 1946.

Convidando o mundo inteiro a “compartilhar da responsabilidade da sorte dos Judeus vítimas da perseguição fascista” e notando que as manifestações do anti-semitismo são uma herança direta do fascismo, propunha autorizar a imediata imigração de 100.000 Judeus na Palestina, e assegurar a autonomia de toda a população desse país.

Pode-se observar, entretanto, que ela se abstinha de mencionar a esse respeito, que nem a Inglaterra nem os Estados Unidos combatiam realmente, eles próprios, o anti-semitismo. O relatório constava ainda que a hostilidade existente entre os Judeus e os Árabes, e a tendência de cada um desses povos de assegurar seu domínio pela força, só podia destinar à falência o plano que visava criar um ou vários Estados independentes, por que esses ficariam expostos ao perigo da guerra civil. Por essas razões, a comissão recomendava prolongar o mandato até o estabelecimento da tutela da ONU sobre a Palestina.

Tendo assim reduzido a questão da Palestina à hostilidade entre Judeus e Árabes, a comissão anglo-americana guardou silêncio sobre a causa principal dessa tensão: o domínio inglês sobre a Palestina e a existência do sistema do mandato. Melhor ainda: embora reconhecendo a existência, na Palestina, de uma “atmosfera de extrema tensão”, a recrudescência da imigração clandestina e o desenvolvimento “sinistro” das formações militares judias, recomendava prolongar o mandato, o que não podia deixar de exasperar ainda mais tanto, os Árabes quanto os judeus; os sionistas ficaram descontentes porque o relatório não preconizava a criação do Estado judeu e os Árabes protestaram porque a comissão não levara em conta seu desejo de criar uma Palestina árabe.

A conseqüência aliás foi clara: o terrorismo continuou, a administração inglesa reprimiu sempre com a mesma dureza a imigração clandestina dos judeus; a população judaica armou-se clandestinamente para sua autodefesa e os Árabes aplicaram de forma sistemática a decisão da Liga relativa ao boicote das mercadorias judias, enquanto iam por sua vez preparando formações armadas.

O Ponto de Vista Soviético

Como se vê, a luta diplomática que se travou em torno da questão da Palestina sempre foi extremamente completa. A Inglaterra e os Estados Unidos, com efeito, mascaram constantemente suas verdadeiras intenções nesse setor, com declarações solenes de toda espécie e com promessas. Essas duplicidade foi, aliás, relevada em parte, no que se refere à política americana, pelos documentos confidenciais citados por Burtley Cram em seu livro: “Atrás da Cortina de Seda”. Foi assim que — conforme provam esses documentos — cada vez que eram feitas promessas aos Judeus, no sentido de resolver o problema da Palestina, o Departamento de Estado nunca deixava de prevenir imediatamente aos líderes árabes que não tomassem em consideração essas promessas.

Ao contrário, é muita nítida a posição da União Soviética quanto ao problema da Palestina. E a União Soviética, país multinacional, onde foi resolvido com sucesso o difícil problema das nacionalidades, pode falar com conhecimento de causa. Graças aos sábios princípios da política leninista-stalinista, sessenta nacionalidades diferentes vivem nos territórios soviéticos, fraternalmente unidas, substituindo a velha Rússia czarista onde se sucediam os progroms de judeus e os massacres dos Armênios. Existe, aliás, na URSS, uma região autônoma judaica.

Tendo dado ao mundo inteiro o exemplo do triunfo de uma justa e eficaz política das nacionalidades, a URSS não pode permanecer indiferente à sorte dos povos que estão ainda oprimidos pelo imperialismo. Por isso mesmo, ela sempre lutou com conseqüência e continua a lutar pelo reconhecimento da independência dos Egípcios, dos Indonésios e dos outros povos dependentes e escravizados. E a sorte do infeliz povo judeu, tão maltratado pela guerra, não pode deixar de despertar sua simpatia.

Em sua intervenção na sessão especial da Assembléia geral da ONU, A. Gromyko, representante da União Soviética, examinou várias possibilidades relativas à futura organização da Palestina. Indicou os seguintes projetos:

— formação de um único Estado árabe-judáico, sendo que os dois povos devem gozar de direitos iguais;
— divisão da Palestina em dois Estados democráticos independentes, um árabe e outro judeu.
A. Gromyko fez ressaltar, a esse respeito, que tanto os Árabes quanto os Judeus possuem raízes históricas na Palestina e ocupam um lugar importante na vida econômica e cultural desse país. Qualquer outra solução, desprezando os direitos legítimos de um ou de outro povo, não poderia, portanto, dar uma solução eqüitativa ao problema da Palestina, e só traria conseqüências desastrosas.

Tomando esse fato em consideração, isto é, que a Palestina se tornou a Pátria dos dois povos, a delegação soviética tinha chegado à conclusão de que “a solução mais realista do problema seria a criação de um único Estado duplo, árabe-judáico, independente e democrático”. Nesse Estado, que garantiria, efetivamente, partindo dos princípios democráticos, a igualdade dos direitos e a colaboração econômica pacífica dos Árabes e dos Judeus, os povos veriam abrir-se ante seus olhos perspectivas ilimitadas de desenvolvimento cultural e econômico, para o máximo benefício de toda a população do Estado democrático bi-nacional. Como o fez ainda notar A. Gromyko, a criação de um Estado assim constituiria, além de tudo, um fundamento sólido para a co-habitação pacífica e a colaboração dos Árabes e dos Judeus, não só no interesses dos dois povos, mas também no da paz em todo o Oriente-Próximo.

Mas a brutal agravação das relações árabe-judaicas, a que hoje assistimos, por culpa da intervenção estrangeira, só permitiu que fosse encarada a segunda solução proposta pela delegação soviética, isto é, a divisão da Palestina em dois Estados, dos quais um, o Estado de Israel, já está formado e reconhecido pela URSS.

Mas, de um ou de outro modo, e apesar da forte opressão exercida sobre a opinião pelos agrupamentos ultra-nacionalistas, tanto árabes quanto judeus, e apesar, também, de toda sorte de subtilezas jurídicas, a União Soviética repele resolutamente qualquer projeto de organização da Palestina que não quisesse levar em consideração os direitos legítimos quer dos Árabes, quer dos Judeus.

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Notas:
(1) “Bulletin of Current Statistics” — Maio de 1947. 
(2) Segundo os índices da Agência Judaica, 25% dos imigrados judeus fixaram-se nos campos, 75% residem nas cidades. 
(3) A função da Agência Judaica foi prevista pelo art. 4, do mandato palestino de 1922 . Sua finalidade é a de tomar, sob o controle da administração inglesa, todas as medidas necessárias à criação do lar nacional judaico. 
(4) A grande refinaria do “Irak Petroleum Co.”, em Haifa, transforma cerca de dois milhões de toneladas por ano. 
(5) John Marlowe “Rebellion in Palestine” — 1946. 
(6) “Great-Britain and Palestine, 1915-1945” Royal Institute of International affaírs, London, 1946, pág. 79. 
(7) Obra citada, pág. 80. 
(8) Segundo as informações do representante oficial da Agência Judaica, o Dr. Haim Weizman, e o líder do Partido Sionista da Palestina, David Ben-Hurion, mais de 30.000 judeus auxiliaram a Grã-Bretanha a combater o fascismo. 
(9) Declaração pela qual, em 1917, o governo inglês prometia a criação de um lar nacional judaico na Palestina. 

“O Exército de Libertação do Povo na China fez andar para trás as rodas contra-revolucionárias do imperialismo americano o impeliu a camarilha de bandidos de Chiang Kai Shek para o caminho da ruína. Este é o ponto decisivo da história. É o ponto em que termina o crescimento e começa o declínio do domínio contra-revolucionário de Chiang Kai Shek, que já se prolonga por vinte anos. É o ponto em que termina o crescimento e começa o extermínio da dominação imperialista na China que se exerce já há mais de cem anos.”
                                                                                                                                                                         Mao Tze Tung
                                                                                                                              A guerra de libertação do povo chinês
                                                                                                                                                        Informe de 25-12-1947.


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“Os povos do mundo não querem a guerra. As forças que querem a paz são tão grandes e importantes que se elas forem firmes e tenazes na luta pela defesa da paz, se elas derem prova de constância e firmeza, os planos dos agressores serão condenados a um completo fracasso”.
                                                                                                                                                                                   Zhdanov