Tamanha é a dependência em que já se encontra o governo brasileiro em face do imperialismo americano que dia a dia vai se tornando mais evidente seu caráter de verdadeiro apêndice do Departamento de Estado.

O governo já não segue então outra política se não aquela que mais convém aos interesses do governo de Truman.

De um lado facilita a penetração americana no país e a exploração dos trustes e monopólios ianques, de outro lado conduz a intensos preparativos de guerra, com que apressa a colonização do Brasil pelos Estados Unidos.

De uma forma ou de outra essa criminosa política prejudica brutalmente nosso povo, enquanto favorece à larga os grandes banqueiros de Wall Street.

À medida que avança a exploração de nossa Pátria pelo imperialismo, principalmente através de uma penetração sem precedentes do imperialismo norte-americano, as empresas estrangeiras no país vão obtendo lucros cada vez maiores. Ainda o ano passado, o balanço conhecido de algumas dessas empresas atribuía à Standard lucros de 30% sobre o seu capital; ao Frigorífico Anglo, de 30%; à Johnson & Johnson do Brasil, de 61%, e assim por diante, sem falar nos lucros da Light que anualmente sobem a 500 milhões de cruzeiros.

Referindo-se a esses fabulosos lucros das empresas imperialistas no Brasil, o camarada Prestes em seu trabalho “Como Enfrentar os Problemas da Revolução Agrária e Antiimperialista”, afirma com razão que o imperialismo não somente os envia para o exterior mas também deles se serve em parte para comprar e subordinar políticos das classes dominantes, como acontece, aliás, com os advogados da Light, os sócios brasileiros da Standard, e os incansáveis defensores do Estatuto do Petróleo.

O importante, porém, é acentuar que a penetração imperialista no país já vai tão longe que, como diz ainda o camarada Prestes:

“tudo isso significa tão grande submissão do país aos monopólios norte-americanos e ao governo de Washington que a própria linguagem dos homens das classes dominantes já traduz, na falta do mais elementar sentimento de dignidade nacional, “sua completa e voluntária sujeição ao patrão estrangeiro”.
Os homens das classes dominantes encontram, assim, na exploração do país particularmente pelo imperialismo americano, o remédio desejado por eles para a terrível situação que atravessa o Brasil.

O governo de traição nacional de Dutra, por sua vez, dá mão forte ao imperialismo americano ao mesmo tempo que nele se apóia para levar a cabo uma terrível política de opressão e exploração das grandes massas brasileiras, desencadeando sobre elas todo o peso da reação e das dificuldades, visando a entrega completa do país aos grandes bancos e monopólios dos Estados Unidos.

A política do governo de Dutra é uma política americana, sistematicamente orientada contra os interesses nacionais, o que já havia levado o camarada Prestes a afirmar que:

“os mais sérios problemas de defesa nacional já são hoje apreciados pelos nossos chefes militares com honrosas exceções, não do ponto de vista dos interesses pátrios, mas dos interesses de defesa dos Estados Unidos, ou do Continente, como preferem dizer os Srs. Góis Monteiro e outros generais traidores”.
É essa, aliás, a única política que serve aos homens do governo e seus mais categorizados auxiliares, desde os ministros, como Correia e Castro, Daniel de Carvalho, Adroaldo Mesquita ou Clemente Mariani, que vivem à sombra de polpudas negociatas e de generosas retribuições da Standard, da Light e outros poderosos trastes estrangeiros, até diretores de autarquias, deputados e senadores.

Enfeudada aos interesses dos Estados Unidos, e lavada a gravitar em torno da órbita do “colosso americano”, como caracterizou com tanta precisão a subserviência senil do ministro udenista Raul Fernandes, a política do governo de traição nacional de Dutra está a serviço do plano de expansão mundial dos círculos dirigentes da América do Norte. Dutra e seu governo seguem o caminho ditado por Truman e pelo Departamento de Estado, e acompanhando a trajetória do imperialismo americano, tanto se entregam ao anticomunismo sistemático e ao combate sem tréguas às forças do progresso e da democracia, principalmente à classe operária, como se lançam a uma terrível campanha de infâmias e calunias contra a URSS e as democracias populares, visando com isso fazer de nosso povo carne de canhão para as aventuras guerreiras dos Estados Unidos.

Não é por acaso que todos os representantes brasileiros nas conferências internacionais, desde Bogotá às assembléias da ONU, acompanham invariavelmente o governe americano nas suas provocações anti-soviéticas e guerreiros, seguindo fielmente como um cão a seu dono todos os passos do secretario de Estado Marshall.

O interesse do governo brasileiro em abrir as portas do país aos imperialistas americanos, o seu esforço para facilitar grandes lucros às empresas imperialistas estrangeiras, se por um lado traduzem a impotência e o desespero em face da ameaça da derrocada de todos os velhos e caducos privilegies dos senhores feudais e grandes banqueiros, o medo dos homens das classes dominantes à classe operária e ao povo, por outro lado não deixam de significar a esperança e o vão desejo que ainda alimentam esses senhores de conservar seus velhos e caducos privilégios com o apoio do estrangeiro e seguindo a política de aventuras e guerras da América do Norte.

Daí a facilidade com que os governantes brasileiros acatam as ordens do Departamento de Estado e obedecem as suas diretrizes.

A política do governo de traição nacional de Dutra é feita, assim, não somente visando a completa colonização do Brasil pelos Estados Unidos, mas também procurando transformar a nossa Pátria numa
vasta praça de guerra a serviço dos interesses agressivos do imperialismo americano e de sua política expansionista mundial.

Em função disso, o orçamento brasileiro já se situa como um verdadeiro orçamento de guerra, com mais de 38% de suas verbas destinados aos ministérios militares, enquanto as dotações para agricultura, indústria, transportes, saúde e alimentação do povo ficam reduzidas a uma insignificância. Só em armamentos e munições, canhões, tanques, balas e navios de guerra, o Brasil já recebeu da América do Norte mais de 350 milhões de dólares, quase tanto quanto, em execução da doutrina Truman, foi fornecido à Grécia monarco-fascista para manter subjugada aquela nação e guerrear o seu heróico povo.

Além das Missões Militares americanas que dominam o Ministério da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica ampliadas com as Seções do Exército americano já existentes no país, o governo de traição nacional de Dutra vem levando a cabo a padronização de armamentos, prevista no mesmo Plano Truman. Num recente decreto, datado de 13 de agasto, Dutra concedeu ao Ministério da Guerra o crédito especial de mais de 16 milhões e meio de cruzeiros para atender a despesas com a instalação de uma grande fábrica de munições com maquinaria adquirida ao governo dos Estados Unidos. Por sua vez, o Departamento de Estado informou que durante o mês de agosto foi vendido material bélico excedente ao Brasil, somando entre peças para metralhadoras e motores de avião, carros blindados e capacetes de aço um valor total de mais de 350 milhões de cruzeiros.

Há cerca de três meses atrás o governo de Dutra assinava com o governo americano um acordo de 4 anos, segundo o qual deverá ser criada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos uma Escola Militar no Brasil, de acordo com os moldes ianques e visando ministrar aos jovens oficiais brasileiros instruções para operações conjuntas com o Exército americano.

Tais objetivos se completam com o propalado Estado Maior Unificado dos países do Continente, o que significa no caso do Brasil, conforme já assinalou o camarada Prestes, deixar o nosso glorioso Exército reduzido à condição humilhante de uma força de 2ª categoria, manobrada com visível desprezo pelos arianos do Exército de Truman. Não satisfeito, porém, o governo de traição nacional de Dutra, prosseguindo em sua política de guerra, procura cooperar com os Estados Unidos na fabricação da bomba atômica e é assim que permite a criminosa exportação de minerais de terra rara, contendo urânio e tório, bem como a evasão de nossas reservas de areias monazíticas para a América do Norte.

Denunciando essa política de Dutra como uma política de guerra visando colocar nossas Forças Armadas a reboque das Forças Armadas americanas, devemos, entretanto, acentuar o caráter incontestável de traição nacional desse governo de negocistas e lacaios do imperialismo americano, prostituído a tal ponto que já nem um só traço sequer apresenta de comum com os interesses de nossa Pátria

Tudo isso é muito claro diante da atitude do governo brasileiro rojando-se como um verme atrás dos círculos dirigentes americanos seguindo seus passos para fazer do Brasil um trampolim de guerra contra a URSS e as novas democracias.

O governo de traição nacional de Dutra precisa, porém, de uma justificativa para tão descarada posição anti-nacional, contrária a todos os interesses do Brasil e aos sentimentos de nosso povo tradicionalmente opostos à exploração e à opressão do estrangeiro bem como às guerras de conquista.

Eis porque Dutra e seus apaniguados mascaram essa política explorando a ameaça de guerra iminente, chantagem com que procuram entregar o país a seus patrões de Wall Street, conforme acentua Prestes.

Aproveitando essa ameaça, tentaram ainda há pouco a entrega das bases de Val-de-Cans e Parnamirim, aos americanos, o que só não conseguiram em virtude dos indignados protestos de toda a Nação. Mas não ficaram nisso, e acabaram entregando a nossa indústria de álcalis ao truste norte-americano da Duperial, o que significa um golpe de morte em nossa defesa militar, cuja sorte depende da indústria de barrilha e soda cáustica.

Por último, o Estatuto do Petróleo, pelo que de monstruoso representa contra os interesses nacionais, é a maior ameaça nessa política de guerra do governo brasileiro, que, exatamente para a entrega de nosso ouro negro, entre outras alegações e falsos pretextos, sustenta a inevitabilidade da guerra e a nossa pretensa falta de recursos técnicos e financeiros.

O governo de Dutra não faz a menor questão de defender os interesses nacionais, nem ao menos fala em defesa nacional, preferindo falar em defesa do Continente, que é o mesmo que dizer defesa dos interesses do imperialismo americano. Mas, seja qual for o argumento de que lancem mão, a verdade é que, de um lado, Dutra e seus auxiliares levam a efeito uma política de guerra e, de outro lado procuram desmoralizar todos os sentimentos e o culto tradicional dos feitos heróicos da FEB, da FAB e de nosso marinha de guerra e mercante na guerra contra o nazismo. Dutra e seus ministros, os reacionários de todos os tipos, os homens das classes dominantes, todos eles votam um ódio de morte aos ex-combatentes, perseguem-nos e procuram diminuir o valor do seu patriótico esforço na guerra contra o nazi-fascismo, ao mesmo tempo que o governo procura reabilitar os espiões nazi-integralistas, indulta Melo Mourão, reduz a pena do conde de Robillant, franqueia os portos do Brasil aos criminosos de guerra como Dino Grandi ou aos indesejáveis repatriados da Alemanha hitlerista que combateram as tropas brasileiras pelo rádio ou de armas na mão e torpedearam ou ajudaram a torpedear, por esta ou aquela forma, os navios brasileiros. Que visa o governo com essa criminosa atitude, senão preparar o caminho para quebrar o sentimento antiimperialista do povo brasileiro e adestrar a antiga quinta-coluna hitlerista dentro do país, os integralistas e remanescentes do fascismo que todos eles defendem agora os Estados Unidos?

Seria um erro, porém, julgar que explorando a chantagem de guerra e simultaneamente fazendo uma política de guerra, o governo de traição nacional de Dutra poderá nos atrelar ao carro guerreiro dos Estados Unidos, que premeditam uma nova agressão contra os povos da URSS e das novas democracias, visando com isso a salvação do sistema capitalista já moribundo e por isso mesmo desesperado diante da afirmação das forças do socialismo e da democracia.

O povo brasileiro, tal como os demais povos do mundo inteiro, não quer a guerra.

Entretanto, como comunistas, resta-nos compreender que as forças da paz são tão grandes e poderosas que elas por si sós estão à altura de levar à derrota os planos dos agressores, contanto que não nos intimidemos, saibamos resistir e bater a reação.

Nunca é demais repetir, como assinalou Zhdánov, que o principal perigo para a classe operária consiste atualmente na subestimação de suas próprias forças e na superestimação das forças do campo imperialista.

Dai por que devemos nos colocar à frente das massas, na sua resistência em todos os domínios ao imperialismo americano e ao governo de Dutra, seja no terreno político, estratégico militar, econômico ou ideológico.

Reunindo nossas forças às de todos os patriotas, firmemente ligados às grandes massas, seremos capazes de derrotar a política de guerra de Dutra e os planos agressivos do imperialismo americano, e assegurar para o nosso povo a paz e o caminho de sua independência nacional.

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“… o Partido não pode ser tão somente um destacamento de vanguarda mas também e ao mesmo tempo um destacamento da classe, uma parte da classe, intimamente vinculada a esta com todas as raízes de sua existência”.
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