O Que Representa “Problemas” Para Elevar o Nosso Nível Ideológico
Festejamos o primeiro aniversário de “Problemas”. Doze números na rua. Cem mil exemplares distribuídos. Diante de uma enorme e sórdida publicidade de crimes sensacionais, novelas radiofônicas, gibis e “contos curtos” americanos, folhinhas pornográficas exportadas de Nova York, “memórias” de fascistas e “espiões” forjadas nas redações dos jornais da reação para aumentar a vendagem, cem mil exemplares de “Problemas” significam um triunfo. Esse fato se torna mais importante ainda se levamos em conta a nossa condição de país com milhões de analfabetos, dominado por uma ditadura semi-feudal e na hora em que a ofensiva imperialista para colonizar o Brasil chega a seu auge.
Sabemos que os grupos dominantes no país e seus amos imperialistas fazem funcionar todos os seus aparelhos de publicidade para tentar impedir que o pensamento democrático atinja as grandes massas. Por outro lado, exercem a violência indiscriminada e brutal. Essa publicidade, apoiada nessa violência, abrange também as miúdas e complicadas correntes chamadas filosóficas, a poesia hermética e fora de qualquer sentido, os romances desenrolados numa atmosfera de mórbida irrealidade, de alheamento e desprezo das grandes ações humanas, o cinema americano, o abstracionismo na pintura, o sensacionalismo na deformação dos fatos. Tudo isso constitui o caldeirão ideológico das classes dominantes.
Para dar fim a esse caldeirão, necessitamos fortalecer a nossa frente ideológica, a frente de nossas idéias, de nossas polemicas, de nossos debates, a frente de nossa educação política, de agitação e de propaganda, a frente de nosso pensamento. Em apoio à nossa frente, temos a força da vida que vem do povo, o legado das grandes idéias e das experiências históricas na luta pelo progresso. Diante de nós está aberto um caminho infinito. Para o inimigo, resta o bagaço ideológico, o beco sem saída, a vala comum.
Para dar uma idéia da sorte da ideologia burguesa é necessário recorrer a um símbolo, o de Stalingrado. Essa mesma ideologia preparou o ataque à cidade imortal e os seus bandidos que atacaram a cidade aparentavam forças invencíveis. Foram cercados e batidos. Tal é, na luta ideológica, a situação do mundo atual, reflexo da situação na luta política entre os dois campos, o campo democrático e sócialista cada vez mais forte e mais consciente de sua força e o campo imperialista cada vez mais fraco e por isso mesmo mais cego na sua violência desesperada.
“O Cadáver da Sociedade Burguesa”
Bem sabemos que não se podem enterrar os detritos, o monturo dessa ideologia condenada sem uma luta longa e firme. Por trás desse monturo existe ainda o poder policial e financeiro da reação e do imperialismo, a violência organizada dos que sabem que estão condenados e por isso mesmo se tornam mais ferozes. Estão os bancos, os trustes, os monopólios que pagam os seus agentes de publicidade, os seus camelos que soltam os últimos berros e grunhidos contra o que é impossível deter: a marcha dos povos. Contra nós agirá por muito tempo ainda, a tradição dessa ideologia, cuja força conservadora, a que aludia Engels, deve ser levada em conta com vigilante e combativa seriedade. Já dizia Lenin na famosa carta aos operários americanos:
“O cadáver da sociedade burguesa não pode ser simplesmente posto no esquife e sepultado. Decompõe-se junto de nós; empesteia o ar que respiramos, contamina as nossas vidas, agarra-se às coisas novas, frescas, vivas, com milhares de tentáculos invisíveis, de fios, de ganchos, de costumes, mortos e pútridos”.
A falta de mínimas liberdades agrava os efeitos dessa decomposição, como acontece em nosso país. Age também pelos meios mais indiretos e por onde menos se poderia supor. Muitas vezes não somos apenas dominados diretamente pela opressão, por uma ditadura, mas em aspectos em que nos julgamos livres. Pensando ainda como os opressores pensam, quantas vezes não os servimos, cheios ainda da ideologia com que eles exploram milhões de homens e mulheres, destroem a vida e degradam a espécie humana? A! está o poder da ideologia inimiga, o poder ativo de sua podridão mesma, o poder do cadáver insepulto.
Para que possamos enterrar o cadáver e conquistarmos a consciência da liberdade, é essencial o poder maior, o do conhecimento daquele guia para a ação e para a luta, daquele método de análise e de exposição que é hoje a ciência verdadeira do homem, a ciência das sociedades livres, a ciência do proletariado, filha dele e criadora do socialismo — o marxismo-leninismo.
Guiado por esta ciência foi que nasceu “Problemas” no Brasil. Para assentar golpes sobre golpes contra a vasta publicidade organizada da reação em nossa terra, “Problemas” ocupa o centro da nossa frente de idéias e dirige o fogo de nossa ofensiva ideológica.
A ideologia da reação perde hoje o seu caráter independente — independente naquele sentido que lhe dá Engels. Diz este que uma ideologia, uma vez constituída, desenvolve-se à base das representações que surgem da natureza ambiente e da própria natureza do homem e ao mesmo tempo vai com seu desenvolvimento enriquecendo essas representações. Daí partindo é que Engels define o que é ideologia:
“Um conjunto de idéias vivendo uma vida independente, desenvolvendo-se de maneira independente e unicamente submetido às suas próprias leis. O fato de que as condições de existência material dos homens em cujo celebro se desenvolve esse processo ideológico, determinam, em última análise, o curso desse processo, é por eles necessariamente ignorado, senão teria fim toda ideologia”(1).
Este fim é o que acontece à ideologia capitalista. Para os imperialistas americanos, que a dirigem, como dirigem um negócio, não há mais a menor distinção entre um romance de Sartre e um “conto curto” dos jornais sensacionalistas, entre o existencialismo e o “pensamento” do FBI.
Por toda a parte, por exemplo, encontramos uma revista cheia de cores, papel agradável à vista e ao tato, feita nas melhores oficinas gráficas do imperialismo americano. Chama-se “Seleções”, um sub-sucedâneo de cultura, artigos e romances em pílulas, gotas condensando a civilização dos “boys” que assaltam nas ruas de Chicago e matam negros. É a revista dos que consagram como herói nacional o Tarzan e consideram o espinafre como o específico mágico do heroísmo. À primeira vista, parece feita apenas para passatempo no bonde, no ônibus, no trem, na hora da fila. No entanto, é uma das armas pérfidas e venenosas da propaganda imperialista contra a cultura, contra a liberdade, contra a independência das nações onde essa revista goza de todas as vantagens para circular, mentir, caluniar e oferecer entorpecentes a milhares de leitores. Tal é esse padrão da ideologia imperialista. Entre anúncios de matéria plástica, gasolina, carros, tapetes, geladeiras e refrescos, notinhas sobre se o leitor tem poderes psíquicos ou guarda dinheiro sobre a chaminé, insinua-se a mentira, a infâmia em papel couchê, sobretudo os métodos de burrificar o leitor, dando-lhe uma falsa noção do mundo e uma mesquinha concepção de literatura, das artes plásticas, da música. Essa é, de fato, a estandardização da mentalidade, é a camisa de força de seda e metida no corpo, de mansinho, até que a vítima pare de pensar, aceite a camisa como um traje comum e se torne para sempre num instrumento dos colonizadores, dos assaltantes de nosso petróleo. É a confecção do homem estúpido, de que falava Gorki, tão necessário à conservação da “ordem” capitalista.
Oposto a essa caricatura de idéias, a essa falsificação em série da cultura e da inteligência, “Problemas” é uma revista que reflete em suas páginas uma ideologia no que esta possui de mais sério e para o conhecimento da verdade. Em doze meses, “Problemas” abriu um caminho para a nossa cultura e para a nossa formação ideológica. Podemos afirmar que é a nossa única revista de pensamento, a nossa melhor revista. Pela primeira vez, temos um órgão que nos oferece uma amplitude de informações e conhecimentos, uma concepção do mundo em plena mudança e nos leva a compreender melhor o que representa, cotidianamente, para o homem esse instrumento científico que é o marxismo-leninismo. Em “Problemas” vemos como os povos marcham e sobretudo vemos, em síntese, como se processa nestes dias a transição do capitalismo para o socialismo, a saída, afinal, da humanidade de suas cavernas pré-históricas.
Dificuldades da Revista
Mas convém saber que essa revista começou com dificuldades e essas dificuldades são grandes.
Para o aparecimento de “Problemas” foi preciso antes um movimento de idéias e de ação prática em nossa terra, que cresce e se consolida, vanguarda da luta do proletariado e das grandes massas populares pela libertação do Brasil a cuja frente está o camarada Prestes. “Problemas” não é, pois, um produto de acaso, uma revista de circunstância, nascida espontaneamente, sem ligações com o que se processa no Brasil e no mundo. Tivemos antes que atravessar muitos acontecimentos, o país sofreu um longo processo histórico, um processo de educação política que aumenta vigorosamente. Em todo o país, é evidente, surgiram milhares de patriotas e democratas que querem saber o que se passa no mundo, para onde vai o Brasil, como se agitam os grandes problemas fundamentais da humanidade e quais os nossos caminhos para o socialismo. Contra essa avidez de conhecimentos, a reação nada poderá fazer nem mesmo atirando confetes sobre a cabeça de milhares de leitores como o faz, recorrendo a “Seleções”. O povo quer ver o que há no fundo dos acontecimentos, quer saber de tudo porque compreende o quanto foi enganado durante tanto tempo e vai descobrindo o caminho para a conquista de uma vida sem a exploração e sem a miséria, sem o tenor e sem a mentira.
Em “Problemas” temos o espelho desse despertar de cultura em nosso país, age o pensamento da classe operária, o pensamento que hoje dirige todas as correntes criadoras da inteligência humana. Temos em “Problemas” a soma das grandes transformações que ocorrem no mundo. Trata-se de uma revista que “manda o povo pensar”, que faz do leitor um homem atento e certo de que o caminho do homem é para a frente e não para trás como querem os coveiros da liberdade. As dificuldades por que passa “Problemas” são as dificuldades por que passa o movimento operário, todos os movimentos patrióticos e democráticos num país semi-colonial, como o nosso, dominado pelo imperialismo. Desde as dificuldades materiais até os obstáculos impostos pela reação contra a circulação da revista. Por exemplo, o correio entende de impedir sempre a remessa de volumes para os Estados. Cerca de mil exemplares ficaram encalhados no Estado do Rio porque o correio não permitiu a saída. Enfim lutamos contra a falta de liberdade que não é apenas a que fecha jornais, prende cidadãos, lança granadas sobre comícios mas também a que inventa mil e uma dificuldades econômicas e políticas de todos os instantes, de todos os matizes e geralmente ignorados do grande público. E isso torna, realmente, mais complexa e mais áspera a luta democrática, a luta pela cultura e pela independência do país.
É claro que temos de lutar contra essas dificuldades, inclusive denunciando, todas as secretas manobras e artimanhas da reação contra a circulação da nossa revista. Cabe a todos os nossos leitores e amigos cooperar nessa campanha em defesa da mais rápida e mais intensa circulação de “Problemas”. Assim estarão contribuindo para o maior fortalecimento de nossa frente ideológica.
Um Curso Mensal de Marxismo-Leninismo
“Problemas” é um curso mensal de marxismo-leninismo. Doze cursos foram dados. Os melhores estudos sobre política internacional, sobre a experiência das democracias populares na Europa, sobre a atividade democrática na Itália e na França, sobre a guerra de libertação na China dirigida pelos exércitos de Mao Tse Tung, sobre a gigantesca realização do socialismo na URSS. Já sabemos alguma coisa sobre o até então desconhecido movimento democrático e nacional nos países coloniais e semi-coloniais, o que serve de vigorosa experiência para nós. Acerca do movimento operário norte-americano e inglês e das questões relativas à situação política e econômica nos Estados Unidos e na Inglaterra temos em “Problemas” material de primeira ordem. Na seção “Figuras do Movimento Operário”, encontramos a lição do verdadeiro heroísmo, a história daquele novo heroísmo revolucionário tão bem assinalado por Lenin, a mais alta significação dos valores humanos. Hoje não podemos deixar de consultar os doze volumes de “Problemas” se queremos saber algo sobre a situação nacional e internacional nestes últimos doze meses.
Na situação nacional, vimos o estudo do camarada Prestes sobre a reforma agrária e sobre eleições municipais, os artigos do camarada Marighella que registram os vários aspectos de nosso ambiente político nestes últimos meses, a viragem da luta democrática. Finalmente lemos o documento histórico do camarada Prestes que fixa os objetivos da revolução agrária e antiimperialista. Nesse documento, verificamos mais uma vez a honradez de princípios, a coragem da autocrítica como força criadora para a ação e para o pensamento, graças a uma exata aplicação do marxismo-leninismo. O camarada Prestes, nesse documento fundamental para o estudo da revolução brasileira e para a realização das tarefas diárias na luta pela independência nacional, confirma o vigor de suas qualidades de dirigente revolucionário e faz aumentar assim a imensa confiança que a Nação deposita no grande comandante e no seu Partido.
Na situação internacional, “Problemas” traz em um dos seus números o documento de Zhdánov que marcou uma viragem na luta pela paz e pela independência dos povos contra o imperialismo. Sem a leitura desse documento, publicado no número 5, dezembro de 1947, não é possível ter bem clara a noção da marcha dos acontecimentos internacionais nem distinguir de modo correto, os dois campos em luta, o campo democrático e o campo imperialista.
A respeito da situação dos povos coloniais e semi-coloniais, acompanhamos de perto a luta do povo coreano pela independência e democratização do país. Sabemos como surgiu a república democrática do Viet-Nam, as realizações ali feitas no campo político e no campo cultural pelos patriotas e democratas da jovem nação que se liberta da escravidão imperialista. Na Indonésia, onde nasceu uma república popular ainda em luta pela independência do país, vemos como são grandes as perspectivas de progresso e como as forças imperialistas dos Estados Unidos levaram a guerra ao povo indonésio a fim de impedir esse progresso. Conhecendo o movimento agrário nas Filipinas, já não mais perdemos de vista a luta ali travada entre os patriotas filipinos e os imperialistas americanos. Estamos certos de que os filipinos ganharão a batalha e um dos fatores dessa vitória está no apoio que lhes dá a crescente superioridade das forças mundiais da democracia e da paz contra o imperialismo. Na Birmânia, vimos como o imperialismo tenta aplicar novas táticas para conservar o seu domínio e expandir-se sobre o mundo. Todas essas táticas imperialistas, suas concessões, recuos, manobras, foram analisadas num magnífico estudo de E. Zhukov, publicado no número 5 de nossa revista: “A agravação da crise do sistema colonial”. E aqui vemos o que significa a força do pensamento marxista na interpretação da luta dos povos coloniais para a destruição do secular e feroz sistema que os oprime. Esse pensamento dirige as atuais batalhas decisivas contra o imperialismo. Sem essa direção ideológica, não seria possível enfrentar o poder dos trustes e dos monopólios e derrotá-los. Em que se apóiam os crescentes êxitos da guerra de libertação do povo chinês senão na aplicação do marxismo-leninismo? Os informes de Mao Tse Tung publicados em nossa revista confirmam esse fato. Não esqueçamos a afirmativa de Zhdánov ao dizer que a vitória da democracia na última guerra mundial foi também uma brilhante vitória do marxismo.
A publicação dos informes dos Partidos Comunistas à reunião do Bureau de Informações é mais uma prova de como o marxismo-leninismo é uma teoria em movimento. Esses informes são a viva aplicação teórica, trazem a prática e a experiência das lutas e das tarefas que se processam no surgimento das democracias populares e nos novos e grandiosos empreendimentos da construção do socialismo na URSS. É a ação constante do marxismo-leninismo com os seus novos ensinamentos, a riqueza de seus novos êxitos e a imensa perspectiva que abre para os povos. Essa é a força ideológica do marxismo-leninismo que comanda as grandes lutas pela independência das nações, pela democracia e pela paz. À frente dessa força, na liderança dessas lutas, está a URSS, cujos exemplos na construção do socialismo e na justeza de sua firme política de paz, são seguidos por todos os povos que querem ser independentes e progressistas.
Outros estudos em “Problemas” mostram o quanto a análise revolucionária dos problemas econômicos, políticos, culturais no mundo inteiro vem enriquecendo o marxismo-leninismo e como esta teoria sabe guiar a ação que se avoluma no mundo contra o imperialismo e a guerra, criando condições para o florescimento de uma verdadeira civilização.
A Leitura de “Problemas”
A leitura de “Problemas” não é um passatempo. Ler “Problemas” como se lê um jornal, por acaso, uma revista ilustrada, não significa coisa alguma. Ler “Problemas” é ter diante de si um novo horizonte de ensinamentos e experiências que abrem ao leitor uma visão nova do mundo e do Brasil, uma transformação para a sua vida no sentido de se libertar de uma pesada carga de mentiras e preconceitos legada pelo passado e pela reação. A leitura de “Problemas”, feita atenta e assiduamente, tendo em conta o necessário estudo de seus primeiros doze números já publicados, e também como objeto de assídua consulta, prepara o leitor para lutar contra as velhas coisas que pesam em nosso espírito e que são a ferrugem das velhas armas ideológicas do inimigo que devemos transferir para o museu.
O nosso atraso, a nossa ignorância, os nossos milhões de analfabetos produzidos pelo latifúndio e pelo imperialismo, esse ópio intelectual que constitui a educação ministrada pelas classes dominantes contribuem para que não tenhamos hábitos de leitura. Mal podemos distinguir ainda do pensamento científico o pensamento metafísico que orientou todo o nosso passado e dirige até hoje a ação dos classes dominantes contra o povo. Mal sabemos raciocinar. Ainda apalpamos o terreno e milhões de brasileiros não podem seguir ainda uma filosofia e um sistema de vida que levam à verdadeira liberdade. Temos ainda de lutar contra o inimigo que tenta separar esses milhões de brasileiros da ideologia que os conduzirá para uma vida melhor. É a própria ideologia que nos fornece as armas dessa luta. Ela não é estática, não espera no fim do caminho como uma terra de promissão. Sendo dinâmica, sempre em movimento, ela vem em busca dos caminhantes e orienta-os na remoção dos obstáculos e dos imprevistos da viagem.
É claro que a reação sustenta a ignorância do povo na qual se apóia para dominar e manter o nosso país no atraso secular e progressivo. A reação obriga o povo a ficar cada vez mais ignorante, e tudo faz contra os que conseguem sair do analfabetismo, negando-lhes livros, bibliotecas e honestas oportunidades. Para que cultura? perguntam os grandes proprietários de terras. Para que os camponeses nos venham tomar a terra? Para que seus filhos instruídos ocupem lugares nos parlamentos, nas prefeituras, nos ministérios, nas universidades, nos negócios públicos? Para que cultura? Resmungam os banqueiros. Para que multidões de “pés raspados”, venham acabar com as nossas negociatas e impedir que façamos o que queremos com os nossos amigos e patrões estrangeiros?
Realmente essa minoria não quer cultura, quer fazer negócio para ganhar mais com o menor esforço possível. O resto são as farsas mundanas dos Chateaubriand para recepções e festins às madames de La Rochefocauld.
Num ambiente assim não há condições para a cultura em nosso país. O nosso mercado editorial se acha numa crise gravíssima. Os livros tornaram-se cada vez mais objetos de luxo. As atividades intelectuais na ciência, na literatura, nos estudos históricos, nas pesquisas sociológicas, no campo universitário estão praticamente estagnadas. Não há estímulo para isso, não só nos Estados como no Rio. Não há oportunidades para dezenas e dezenas de escritores, cientistas, professores, estudantes, sociólogos desenvolverem livre e honestamente os seus trabalhos, seguirem a sua vocação. E a situação se agrava em face do terrorismo policial, e das aperturas econômicas em que o intelectual é quase sempre obrigado a vender-se ou sufocar-se no ganha-pão, reduzindo os seus trabalhos a mercadorias a baixo preço. Ler e pensar livremente é caminho de cadeia e da fome. Ter um livro na mão pode causar suspeita. Não é o que ameaça a chamada “lei lameira”, já apresentada no Parlamento? A “lei lameira” pretende fichar todos os que têm uma certa quantidade de livros, pretende contar o número de livros nas bibliotecas particulares, nas raras estantes que existem em nosso país. A quantidade dos livros suspeitos aumentará à medida que a polícia for considerando o “perigo” dos volumes científicos, de sociologia, de todo o volume que falar em questão social. É claro que os livros, cujos autores possam ser considerados como russos ou tchecos, serão imediatamente lançados ao forno crematório. Esta é a lei desejada pela ditadura Dutra, a lei necessária para que o imperialismo possa mais rapidamente ocupar o nosso país, saquear as nossas riquezas e fazer do nosso povo um rebanho de escravos.
Isto também significa que a reação perdeu confiança nos seus velhos livros com que contava antes enganar e oprimir o povo. É o que se observa em todos os campos da cultura. Os seus juizes, por exemplo, não escondem mais a sua justiça de classe sob retorcidas formulações do direito ou da jurisprudência. Lavram suas sentenças contra os democratas e patriotas sem mais nenhum disfarce ideológico. Decidem contra o povo, contra a liberdade, tão sumaria e ferozmente como agentes de polícia, como primários políticos da reação. A vasta cultura jurídica foi posta de lado. Não significa quase nada aos que pretendem antes de tudo impedir que essa mesma cultura se transforme e aceite os novos tempos para servir ao direito de uma maioria, o direito a uma existência digna e livre. Na ciência, na filosofia, na literatura, o traço significativo é a dúvida crescente por tudo que possa obrigar os intelectuais das classes dominantes a pensar, a acreditar nas idéias, na dignidade humana e nas altas aspirações, a agitar o chamado problema do conhecimento. Essas classes perderam a confiança nas suas próprias idéias. A sua ideologia se decompõe. As velhas superestruturas do capitalismo estão ruindo. E com elas se afundam os teóricos ou “mestres” das classes dominantes como o Sr. Afonso Arinos e o Sr. Gilberto Freyre que passam a colaborar na fatura de leis especiais de repressão e a louvaminheiros de ditadores tipo Natalício Gonçalez. Resta a máquina brutal da publicidade e da violência.
As idéias vivas, o pensamento vivo do homem encontram-se no outro campo. O campo em que se movimentam as grandes massas, o campo em que Marx apontou para os povos o caminho do socialismo, que continua e revoluciona a cultura para engrandecê-la. E bem sabemos que não há rádios patrulhas, não há publicidades sustentadas por milhões de dólares, não há bombas atômicas nem muros de fuzilamentos nem postes de forca que possam deter a marcha das idéias, a marcha do homem. Foi sempre assim a lição da história. O homem, que há milhões de anos, numa primitiva caverna, guardava o fogo para guiá-lo, cozer os alimentos, defendê-lo contra as feras, tem hoje uma tocha contra as feras de agora e o conduz para os largos caminhos. O fogo da inteligência humana não se apaga.
Por isso é que “Problemas”, em nossa terra, obteve um triunfo evidente. Contra os restos da ideologia condenada que se arrasta na lama das negociatas, da chantagem guerreira, da corrupção sistemática, no bojo dos carros policiais, “Problemas” apresenta a ideologia revolucionária que guia milhões de homens e mulheres, trazendo em suas páginas o espírito daquela revolução nas idéias, de que falava Zhdánov.
Em doze números de “Problemas”, confirma-se mais uma vez que o marxismo-leninismo não é um receituário, não é catecismo. Não é uma espécie de tábua sagrada com dez ou doze mandamentos. Trata-se de uma ciência cada vez mais profunda e humana no seu dinamismo e cuja profundidade é simples e clara.
O Avanço do Mundo
Com o marxismo-leninismo, o pensamento humano conseguiu fundir como nunca foi possível antes, a experiência à iniciativa, a prática à teoria, os fatos e as idéias. Lenin dizia que os fatos doutrinam os homens. Realmente, o marxismo-leninismo nasceu dos fatos sociais e sua teoria se inspira nos fatos, sempre nos fatos. O marxismo não apresenta a verdade como uma coisa absoluta tirada magicamente da cabeça e sim como um fato que vem da observação e da discussão, da experiência, de uma verificação crítica, constante e ágil no conjunto da vida social.
É a teoria, de que fala Stalin:
“experiência do movimento operário de todos os países, tomado em seu aspecto geral. É claro que a teoria deixa de ter sentido se não está vinculada à prática revolucionária, do mesmo modo que a prática é cega se a teoria não lhe ilumina o caminho. Mas a teoria pode converter-se em uma formidável força do movimento operário se esta teoria colocar-se em indissolúvel relação com a prática revolucionária, pois ela e só ela pode infundir ao movimento, a . segurança, a força de orientação e a compreensão das relações internas dos acontecimentos que nos rodeiam, pois ela e só ela pode ajudar a prática a compreender não só como e até onde se movem as classes no momento atual, como também como e até onde hão de mover-se em futuro próximo”.(2)
Essa formidável força é que levou Zhdánov a lançar revolucionariamente a definição de história da filosofia, da história do pensamento humano, mostrando como a descoberta de Marx e Engels, de fato:
“representa o fim da velha filosofia, isto é, o fim daquela filosofia que pretendia dar uma universal explicação ao mundo” (3).
Essa definição abre uma nova etapa na história dos estudos filosóficos:
“A história científica da filosofia, consequentemente, é a história da germinação, nascimento e desenvolvimento da concepção materialista científica e suas leis. À medida que cresce o materialismo e este se desenvolve na luta contra as correntes do idealismo, a história da filosofia é também a história das lutas do materialismo contra o idealismo”(4).
Essa formidável força é que leva Molotov a fazer esta serena e justa afirmativa:
“Vivemos numa época em que todos os caminhos conduzem ao comunismo”(5).
Em “Problemas” não encontramos apóstolos ou pregadores sim autores que não se fecham nos gabinetes mas fazem parte dos acontecimentos e analisam os acontecimentos, num balanço crítico do que se faz e do que se pensa no mundo, no campo político e ideológico. E em tudo isso aquele método que deu ao homem a maior e inesgotável possibilidade de dominar a natureza a criar um mundo à sua vontade. Eis porque “Problemas” é uma revista do mundo atual. Os grandes acontecimentos nela refletidos em artigos, estudos, informes, documentos históricos, durante os doze meses últimos significam mais para a vida humana do que os acontecimentos em cinqüenta anos ou num século em anteriores épocas da humanidade.
O tempo adquiriu, hoje, uma qualidade cada vez mais rica e mais densa. O mundo avança com uma velocidade que não se compara com aquele vagar de carro de boi que foi o vagar dos séculos de feudalismo e da ascensão da burguesia. Andamos vertiginosamente, mudamos todos os dias, o mundo apressou a sua renovação e essa qualidade tem um valor decisivo. É que o mundo pertence cada vez mais aos povos e o socialismo ocupa hoje uma quinta parte da terra.
Para que o mundo avança tão depressa? É a lastimosa pergunta dos pessimistas, dos desesperados, dos descrentes, os que gostariam de continuar a andar de carro de boi, voltar à casa grande e senzala do Sr. Gilberto Freyre.
Respondemos: para que desapareçam rapidamente os últimos vestígios das rodas do velho carro, para que desapareça esta época cruel, que durante séculos foi vagarosa demais em suas monstruosidades, na espoliação, no assassínio, no ódio, no sistema de rapina dos seus trustes e monopólios, na devastação das terras e dos povos. Para que se extinga esse inferno que são os continentes longamente explorados pelo imperialismo, onde os negros africanos, os hindus, os birmaneses, os indonésios, os malaios, todos os povos oprimidos e espoliados, a maior parte da população humana, não têm sequer a noção do que seja liberdade, do que seja viver.
Por isto é que não podemos ficar sob esse lixo deixado pela história e que se despeja na vala comum de uma classe condenada. A história, que são milhões de homens em luta e em marcha, não espera por ninguém.
Por alguns instantes, pensamos que tudo é o mesmo, que tudo paralisou e que, por exemplo, o governo do Sr. Dutra durou já muitos séculos e parece eterno. Grupos e velhas instituições parecem demorar bastante no velho palco. Triste eternidade a deles. O tempo trabalha contra eles de tal forma, com tamanha velocidade, que não percebemos bem. Comparemos a duração dos velhos impérios escravagistas e feudais com a do Império de Hitler. Essa qualidade revolucionária do tempo teve início há um século quando Marx e Engels lançaram o canto heróico e libertador do “Manifesto Comunista”. Daí em diante, a história, como uma águia, vem conduzindo nas suas garras a luz que lhe deu o proletariado, a luz que varrerá de todos os lugares os pesadelos da exploração do trabalho e do poder do dinheiro.
E quando chegar o triunfo, quando, plantado como uma árvore, o socialismo oferecer à humanidade toda a sombra e todos os frutos que os povos reclamam, é possível, então, que se tenha outro sentido da velocidade do tempo. O mundo poderá caminhar com os vagares da liberdade e da paz.
O Rumo na Tempestade
Nesta hora, “Problemas” é o nosso instrumento ideológico na marcha da Revolução Brasileira. O inimigo atira contra nós os destroços de sua ideologia morta. A luta se trava num momento culminante. Intelectuais a serviço do inimigo, repudiam a cultura, esmagam a sua consciência ao peso dos empregos e das gorjetas e acreditam que nos podem fulminar com seus escritos brilhantes e confundir os nossos quadros. Eles perderam o rumo na tempestade e pensam que podem abafar a tormenta com seus cantos de sereia dentro dos camarotes fechados. Aqui fora os marinheiros estão firmes, a bússola funciona bem, o barco pode jogar muito mas há um comando. Temos certeza de que saberemos chegar ao grande porto. Que importa que alguns velhos e incômodos passageiros se atirem ao mar por desespero e por pânico ou sejam levados pelo temporal?
Muitos desses passageiros irão aliviar a carga e facilitar os nossos movimentos. O desmascaramento de um Silo Meireles na ação política ou de um Gilberto Freyre no campo ideológico, serviu para libertar muitos companheiros e muitos intelectuais de concepções, de influências estranhas e caducas e conduzi-los à frente de nossa luta ideológica.
“Problemas”, nesta viagem difícil, é um dos mapas do roteiro. Revista nacional e internacionalista, reflete em suas páginas o pensamento humano em toda a sua atividade universal. Hoje mais do que nunca estamos ligados universalmente pelas idéias e princípios que nos levam para a democracia e o socialismo. Somos internacionalistas e sabemos que é pelo internacionalismo de nossas idéias, pela fraternidade que nos liga aos demais povos, que saberemos lutar pela independência nacional, pela revolução agrária e antiimperialista que libertará o nosso povo do atraso e da miséria dominantes.
Quero recordar aqui Castro Alves que, no seu tempo, saudava já o internacionalismo dos trabalhadores, a união dos povos, a paz e a liberdade no mundo:
“No mundo — tenda imensa da humanidade inteira —
Que o espaço tem por teto, o sol tem por lareira,
Feliz se aquece unida a universal família
. . . . . .
Dos saharas africanos, dos gelos da Sibéria,
Do Cáucaso dos campos dessa infeliz Ibéria,
Dos mármores lascados da terra santa homérica
dos pampas, das savanas desta soberba América
prorrompe o hino livre, o hino do trabalho!
E, ao canto dos obreiros, na orquestra audaz do malho.
O ruído se mistura da imprensa, das idéias.
Todos da liberdade forjando as epopéias.
Todos com as mãos calosas, todos banhando a fronte
Ao sol da independência que irrompe no horizonte. (6)
O poeta não se enganou. Estamos em pleno caminho dessa paz e dessa universal família. O importante é saber que depende de nós, homens do Brasil, homens da China, homens da Malásia, homens da Birmânia e da Indonésia, homens da Grécia e da Espanha, homens do Paraguai e da Coréia, homens do mundo inteiro, dependem de nós trabalhar e saber unir a nossa ação prática ‘ao pensamento, à força teórica que se criou na experiência das lutas. A nossa luta não se trava por amor à luta, sim porque o mundo hoje avança em meio de acontecimentos gigantescos e tinha razão Gorki ao dizer que a atualidade é monumental.
Para lutarmos é necessário saber se as armas estão bem calibradas, se funcionam bem. Ê necessário ver o caminho na selva dos acontecimentos, ver o que está diante de nós porque não podemos caminhar cegos. Essa é a lição do marxismo-leninismo. E com esta lição é que nasceu “Problemas”, cujo primeiro aniversário marcou uma nova fase na cultura brasileira e lançou a primeira ofensiva pela elevação do nível teórico de milhares e milhares de combatentes antiimperialistas.
Nesta ofensiva, saibamos ser dignos do grande e cada vez mais vitorioso pensamento da classe operária. Esse pensamento não quer “interpretar o mundo mas transformá-lo”. Essa transformação já se opera numa quinta parte do mundo e agita a consciência de toda a humanidade. Tenhamos confiança cada vez maior em nossas idéias, em nossas convicções, não as separemos da vida de onde nasceram e com elas façamos da vida o que aspiram milhões e milhões, de seres humanos.
A nossa tarefa ideológica é aprofundar cada vez mais a luta entre o novo e o velho, entre o que morre e o que nasce e está crescendo. Temos que enterrar o cadáver, de que fala Lenin. Para isso sentimos a necessidade de reunir todas as nossas forças dentro do campo democrático e antiimperialista e consolidar a nossa frente ideológica. Em “Problemas”, temos o novo contra o velho, contra esse velho que se oferece aí numa ruidosa e repugnante publicidade. E nossas forças aumentam. Falemos como Zhdánov:
“É preciso apenas mais fé em nossas próprias forças, mais emprego dessas forças nos ativos combates, no levantamento e soluções dos empolgantes problemas contemporâneos. É preciso acabar com a falta de espírito de luta, ter mais dinamismo no trabalho”.
Em “Problemas” temos um curso em que podemos aprender a expulsar o caduco e o morto que ainda nos envenenam. Temos um guia que nos ensina a intensificar os nossos combates teóricos e a participar melhor na atividade prática da luta, cuja vitória é certa e não tardará para a nossa Pátria e para o mundo.
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Notas:
(1) F. Engels — Ludwig Feuerbach — capítulo sobre o MATERIALISMO DIALÉTICO.
(2) Stalin “SOBRE OS FUNDAMENTOS DO LENINISMO” — Questões do Leninismo: pág. 23 — Ediciones Sociales — México, D.F. 1941.
(3) Zhdánov — “O MARXISMO É A REVOLUÇÃO NA FILOSOFIA” “Problemas”, n.° 7, pág. 66 — Fevereiro, 1948.
(4) Zhdánov — Obra citada, pág. 64.
(5) Molotov — “O 30º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO” — “Problemas”, n.° 7, pág. 61.
(6) O vidente — Castro Alves — Obras completas de Castro Alves.
“O patriota de verdade coloca-se ao lado dos que lutam, faz a crítica viva da realidade, busca suas causas profundas, procura sem repouso o caminho a seguir para removê-las e dá sua vida com alegria pelo objetivo n alcançar: a felicidade de seu, povo, livre da exploração feudal e capitalista.”
Prestes
“O Partido não pode dirigir a classe operária se não está ligado às massas sem partido, se não existem laços de união entre o Partido e as massas sem partido, se estas não aceitam sua direção, se o Partido não goza de crédito moral e político entre as massas”.
Stálin