Figuras do Movimento Operário Atualidade de Gabriel Peri
Todos os anos, quando chega dezembro, a lembrança de Gabriel Peri se reaviva no coração dos camaradas que o conheceram e no de todos aqueles que o leram, o ouviram e o acompanharam com admiração sua luta incessante e apaixonada em favor da paz e da segurança nacional.
Como sempre acontece com os homens verdadeiramente grandes, parece que a figura de Peri cresce ainda mais com o transcorrer do tempo. É comum ouvir-se dizer: “Peri já tinha visto isso, compreendido isso, afirmado isso”. E essa homenagem à sua clarividência por vezes profética, é uma homenagem ao Partido Comunista Francês, de que ele foi constantemente o admirável intérprete,
Neste sétimo aniversário de seu assassinato (ele foi fuzilado a 15 de dezembro de 1941), não se poderia glorificar melhor a figura de Gabriel Peri do que lembrando, precisamente, o valor atual das posições fundamentais que ele defendeu. A presente situação internacional, a situação da França e as tarefas que cabem às forças democráticas executar, tornam mais viva que nunca aquilo que se poderio chamar “a lição” de Gabriel Peri.
Não pretendemos de modo algum recordar toda a luta que ele, com o nosso Partido, conduziu em favor da paz. Seria reconstituir o história de vinte anos! Pretendemos apenas referir-nos a alguns “momentos” dessa luta. Eles ilustrarão o continuidade da política comunista, a existência dum esforço permanente que associa o patriotismo mais puro, à defesa da independência nacional, ao internacionalismo proletário, e à vontade de preservar a paz à vontade de fazer avançar a humanidade pelo caminho do socialismo.
Campeão duma Verdadeira Cooperação Internacional
O campo imperialista, sob a direção dos Estados Unidos, tenta modificar a Organização das Nações Unidas, transformá-la em simples instrumento de sua política de agressão antissoviética.
Em seu discurso histórico de 18 de setembro de 1947, na Assembleia Geral da ONU, realizada em Flushing Meadows, Andrêi Vishinsky fez uma acusação verdadeiramente inapelável contra as violações das decisões da ONU, as violações da Carta das Nações Unidas, a tentativa de abolir o direito de veto e de transferir as grandes questões da alçada do Conselho de Segurança para a de uma Comissão em que os Estados Unidos seriam a própria lei. Vishinsky declarou então:
“… Quanto à União Soviética, sua política em face da ONU consiste em consolidar esta organização, ampliar e fortalecer a cooperação internacional, cumprir de maneira inflexível e consequente o que determina a Carta e pôr em prática os seus princípios. O fortalecimento da ONU só é possível com a condição de se respeitar a independência política e econômica dos Estados, de se respeitar a igualdade soberana dos povos e de se cumprir de maneira consequente e rigorosa um dos princípios mais importantes da ONU: o princípio do acordo e da unanimidade das grandes potências na solução das questões mais importantes relativas à manutenção da paz e da segurança internacional”.
A Sociedade das Nações era profundamente diferente da atual Organização das Nações Unidas. Ela tinha sido originariamente concebida e organizada como instrumento próprio para manter a hegemonia dos grandes Estados imperialistas, saídos vitoriosos da primeira guerra mundial.
O peso crescente da União Soviética nas relações internacionais e sua adesão, em 1934, à Sociedade das Nações modificaram, até certo ponto, o caráter desse organismo internacional.
Em seu admirável informe ao 18.° Congresso do Partido Comunista (b) da URSS, Joseph Stálin salientou a importância exata dessa adesão e fez notar em que medida a Sociedade das Nações, por mais imperfeita que fosse, podia ser utilizada pelos defensores da paz:
“Perto do fim de 1934, nosso país entrou na Sociedade das Nações, considerando que ela poderia, quando nada, malgrado sua debilidade, servir de tribuna para desmascarar os agressores; que ela poderia também, apesar de fraca, servir de instrumento de paz e frear o desencadeamento da guerra. A União Soviética considera que, numa época tão agitada, mesmo uma organização internacional tão fraca como a Sociedade das Nações, não deve ser desdenhada”.
Na França ninguém melhor do que Gabriel Peri, consumado dialeta, expôs os defeitos da velha Sociedade das Nações, e entretanto ele estava de acordo em utilizar, em todas as circunstâncias, esse mecanismo para deter a agressão e para conjugar os esforços das nações interessadas na paz.
Sobre o primeiro aspecto do problema (a utilização da SDN para fins de dominação por um grupo de potências, sua fraqueza diante dos agressores) ainda se pode ler com proveito duas obras de Gabriel Peri: “Genebra-Locarno” e “O Mundo sob as armas”, editadas em 1933.
Na medida em que, a partir de certo momento, a Sociedade das Nações parecia que ia se tornar um obstáculo à política de agressão dos três Estados do bloco que lutava por uma nova partilha do mundo — Alemanha, Itália e Japão — empenharam-se estes decididamente em tratá-la com desprezo, desconsiderá-la, destruí-la.
Fundada em bases diferentes, após a vitória comum sobre o fascismo, a ONU por sua vez está hoje exposta às manobras dum novo campo agressivo, dirigido pelos Estados Unidos. Esse campo procura minar-lhe as bases, estabelecidas de acordo com a União Soviética, e utilizá-la para fins imperialistas e antissoviéticos.
A crítica penetrante dos defeitos da velha SDN, feita por Gabriel Peri, nas obras citadas, além de sua veemente denúncia, dia após dia, dos ardis dos Estados fascistas para derrubar a incômoda barreira em que, não obstante, se havia transformado a SDN — tudo isso é de uma atualidade palpitante. Adiantadamente, Gabriel Peri nos fez compreender melhor a justeza da política de defesa da organização internacional e de respeito à sua Carta, política que a União Soviética, principal força do campo da paz, conduz agora com tenacidade.
Contra a Ingerência Estrangeira
Relendo os discursos de Gabriel Peri, sente-se a atualidade de suas palavras, como também a atualidade dos incidentes que provocavam, por vezes, suas intervenções sempre ávidamente escutadas.
A 23 de junho de 1936, ele falava na Câmara dos Deputados, após o golpe de força desfechado por Hitler a 7 de março, ocupando militarmente a Renânia, com absoluto desprezo pelos tratados assinados. Essa foi para Gabriel Peri, a ocasião de afirmar que a França não poderia admitir nenhuma interferência estrangeira em seus negócios internos. E para a reação, foi a ocasião de confessar que ela coloca seus interesses de classe acima do interesse nacional. Peri exclamou então:
“Não é notável, senhores, que deixando hoje de lado os textos que invocava no dia seguinte ao 7 de março, a Alemanha hitlerista, pela voz do Goebbels e Hess, não apresente mais que uma razão? ELA PROCLAMA QUE FOI PARA CUMPRIR, CONTRA A FRANCA, A MISSÃO DE GENDARME CONTRARREVOLUCIONÁRIO, QUE INSTALOU SUAS FORÇAS ARMADAS NA RENÂNIA.
“Senhores, não temos nenhuma simpatia pelas palavras e os gestos simbólicos, mas achamos que o governo francês deve dizer, com sangue frio e firmeza: a paz não se conforma com essas provocações. A FRANÇA TEM O DIREITO DE POSSUIR O GOVERNO E A MAIORIA PARLAMENTAR QUE CONSIDERE A MELHOR”.
Certamente, o “paralelo histórico” nada tem a ver com o marxismo, que se baseia na análise das situações concretas. Mas como ganha relevo, em 1946 essa afirmação proferida por Gabriel Peri em 1936!
Os Estados Unidos já atiraram para muito longe a liberdade econômica e política dos Estados “ocidentais”, inclusive da França. Eles são os responsáveis pelo afastamento dos ministros comunistas; eles anunciaram oficialmente que a “ajuda Marshall” será suprimida nos países em que os comunistas participarem da administração dos negócios públicos. “A FRANÇA — grita de seu túmulo Gabriel Peri — TEM O DIREITO DE POSSUIR O GOVERNO E A MAIORIA PARLAMENTAR QUE CONSIDERE A MELHOR”. E nosso Partido, campeão da independência nacional, repete com ele esta fórmula.
Assim, a cada passo, atesta-se a continuidade da política nacional do Partido Comunista, ao qual os patifes se atrevem a lançar a falsa acusação de que “se tornou patriota” QUANDO e PORQUE isso podia ser útil à política externa da União Soviética. No curso daquele mesmo debate na Câmara, um deputado de direita lançava a nosso camarada, já então, a calúnia favorita de Leon Blum. Dizia ele:
“Nós só aprovaremos o pacto franco-soviético quando não houver mais 72 deputados russos nos bancos da Câmara francesa”.
Retrucou Gabriel Peri:
“Eu esperava ter de responder a um aparte sério. Mas a isso não…”
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Tal era em 1936 a posição da reação: favorecer Hitler de preferência a permitir que a classe operária participasse da gestão dos negócios nacionais; favorecer Hitler antes que praticar uma política de união das forças da paz, de aliança leal com a URSS. E essa é hoje a política do “partido americano”: por antissovietismo e por anticomunismo, entra em luta contra a classe operária e seu Partido, empenha-se atrás dos Estados Unidos e sob sua tutela, na preparação da guerra contra a URSS.
Nada existe nesse sentido — nem mesmo os pretextos invocados presentemente para praticar essa política — que já não tenha sido estigmatizado por nosso grande camarada. Escutemos Gabriel Peri evocar as greves de 1936:
“Devemos lembrar a frase pronunciada por Hitler, no dia seguinte ao 7 de março: “Se amanhã a revolução irromper na França, terei de recorrer às mais sérias medidas”. Ora, senhores, há algumas semanas, somente porque, dentro da ordem, disciplinadamente, operários reclamaram melhores salários, alguns publicistas franceses escreveram: “A REVOLUÇÃO IRROMPE NA FRANÇA”. Era como se quisessem lembrar a Hitler sua promessa”!
Peri lançava então, como que se dirigindo aos governantes, esta proclamação:
“Vós só podereis defender a paz pela organização da segurança coletiva contra as manobras guerreiras do fascismo; vós só podereis salvar a liberdade pela defesa popular contra os homens de Coblentz”,
Renascimento do “Espírito de Munique”
A partir de 1933, data da ascensão de Hitler ao poder, até 1941, data do assassinato de Gabriel Peri, que se desenrola a mais admirável época da atividade militante de nosso grande camarada. Ele ganha mais autoridade à medida que os perigos crescem, sua coragem se eleva à medida que o inimigo se encarniça contra ele.
Gabriel Peri predisse que o autor de Mein Kampf, antes de realizar a agressão final, conseguiria outros aliados entre os bandidos do fascismo; que procuraria dividir a frente das democracias, fazer cair o terror sobre as pequenas nações e estrangulá-las, umas após outras, para isolar as potências maiores, especialmente a França. Ele predisse que Hitler jogaria com “quinta colunas” para enfraquecer, antes do assalto, os países que ele sonhava subjugar.
Assim Gabriel Peri se faz, em nome de nosso Partido, o campeão da segurança coletiva e, no plano interno, o campeão do combate contra os traidores. Ele convida à resistência constante à chantagem hitlerista e fascista; ele reclama que em todas as circunstâncias se demonstre aos aventureiros que a agressão não compensa. Ele se faz, em suma, o apóstolo desta ronda da paz de que falou Maurice Thorez.
Sua linguagem é aqui a da simples razão; é também a linguagem da paz a do interesse da França ameaçada.
A vida militante de Gabriel Peri pode ser resumida em duas etapas, sua participação na luta contra a agressão do fascismo na Espanha e contra a “não intervenção”, sua retumbante campanha para impedir e depois denunciar a traição de Munique.
Espanha e Munique, estes dois grupos de acontecimentos têm, em relação à atitude dos meios capitalistas dirigentes, uma flagrante identidade, de modo que se pode chamar indiferentemente “o espírito de não intervenção” ou “o espírito de Munique”.
Em seu informe ao 18.° Congresso, Stálin fez uma análise profunda da “não intervenção”. Evocando os atos de Hitler e de seus satélites, Stálin, colocou, em essência, esta simples questão;
“Assistimos a uma redivisão declarada do mundo e das zonas de influências às custas dos interesses dos Estados não agressores, sem nenhuma tentativa de resistência de sua parte, e mesmo com certa complacência. Como explicar o caráter unilateral e estranho da nova guerra imperialista,”(1).
Stálin observava que isso não se podia explicar nem pela fraqueza dos Estados não agressores (mais fortes em conjunto do que os Estados agressores), nem pelo receio, que pudesse existir, de revolução em um ou vários países, no caso de guerra geral.
A explicação, segundo Stálin, reside na passagem dos Estados não agressores às posições da “não intervenção”, da “neutralidade”.
Esses estados esperavam que os agressores se esgotassem em suas empresas, que o Japão entrasse em conflito com a URSS, e que o mesmo fizesse a Alemanha. Então chegaria a hora de intervir.
Numa palavra, Stálin mostrava que a “não intervenção” constituía um encorajamento aos agressores, e que os países que a adotavam baseavam seus cálculos no desenvolvimento da agressão até chegar à guerra contra a União Soviética .
Esta análise explica luminosamente a atitude das democracias “ocidentais”, tanto a respeite da agressão do fascismo na Espanha, como no caso de Munique.
Sacrificaram a Espanha, como sacrificaram a Tchecoslováquia ao interesse mais alto do antissovietismo e do anticomunismo. Favorecendo o agressor, faziam da França uma vítima do choque cada vez menos evitável que se preparava; mas que importa, se o objetivo final, o objetivo de classe, era atingido — golpear o país do socialismo e o movimento de emancipação dos exploradores através do mundo?
Aí reside igualmente a explicação profunda da sabotagem das negociações, conduzidas no verão de 1939, visando a conclusão de um pacto franco-anglo-soviético, capaz de opôr às empresas hitleristas uma barreira que sem dúvida Hitler não teria ousado tentar derrubar.
Assim, nesse período, defender a segurança coletiva, preconizar a fidelidade aos pactos que nos ligavam aos pequenos Estados da Europa Central, à Tchecoslováquia, a exigir fidelidade à aliança com a URSS, era defender a paz e ao mesmo tempo a segurança francesa.
Foi a essa tarefa que Peri se entregou ativamente. Lembramos seu admirável discurso de 4 de dezembro de 1936. Dizia ele, respondendo a uma interpelação sobre a questão da Espanha:
“A agressão não é necessariamente o ataque duma fronteira. Pode ser também o golpe de Estado interno, fomentado de fora. Pode-se mesmo perguntar se essa não será de agora por diante a forma concreta da agressão.
Ficamos proibidos de falar em lei internacional, em segurança coletiva, se não nos decidimos a paralisar esta nova forma de agressão… Não nos restará mais outra coisa senão voltar os olhos para os países da Europa balcânica e danubiana, pensar na agitação dos Sudetos na Tchecoslováquia, na agitação dos Guardas de Ferro na România, olhar a Bélgica e nos perguntar qual será a nova Espanha”!
Às vésperas de Munique, Peri dirigia aos governantes, que se fingiam surdos, um apelo patético. A conferência funesta ia realizar-se. Em L’Humanité de 29 de setembro de 1938, Gabriel escrevia:
“… A guerra se aproxima de nós cada vez que cedemos. Ao chefe do governo francês cabe mostrar ao Führer que a frente da paz é uma realidade atuante; cabe pronunciar enfim este NÃO que fará recuar a guerra e permitirá aos povos, inclusive ao povo alemão, soltar um grande suspiro de alívio”.
Daladier e Chamberlain não disseram este NÃO salvador; eles disseram SIM. E disso foi a capitulação total.
Por que? Gabriel Peri responde com nitidez, em seu discurso na Câmara, a 4 de outubro de 1938:
“…Amanhã se perguntará com estupefação como uma burguesia que ocupou o Ruhr na época da Alemanha republicana, abandona à Alemanha de Hitler e Renânia, a Áustria e a Tchecoslováquia.
E se chegará à conclusão de que em tais atitudes, contraditórias na aparência, harmoniosas em realidade, o amor da paz e o interesse nacional não desempenhavam um grande papel.
Tratava-se, em 1923, de enfraquecer uma jovem república alemã onde se afirmava a ascensão da classe operária. Trata-se quinze anos depois, acumulando-se as concessões diante dele, de impedir a derrocada dum regime de servidão em que as classes abastadas de todos os países veem um sólido baluarte contra as aspirações operárias”.
As raízes do “espírito de Munique” são aqui postas a nu. O interesse de classe dita um anticomunismo e um antissovietismo em contradição com o interesse da paz e o interesse nacional, que é aos nossos olhos o interesse dos povos e não o das camarilhas dirigentes o serviço dos monopólios.
Este espírito de Munique renasce sob nossos olhos. Ele anima os governos que alienam nossa independência nacional e colocam nosso país a reboque dos senhores estrangeiros do campo imperialista. Ele os anima em sua participação na preparação da guerra antissoviética que comanda, em cada Estado do campo imperialista, a luta contra a classe operária, os elementos democráticos, o Partido Comunista. Gabriel Peri combatia a quinta-coluna de Hitler na França, nós denunciamos os agrupamentos daqueles que constituem em nosso país o “partido americano”.
Embora evitando analogias fáceis, susceptíveis de falsificar a justa análise das situações, não podemos deixar de reivindicar essa herança gloriosa de Gabriel Peri. E é com emoção que releremos o depoimento do deputado de Sena-e-Oise no processo de Lucien Sampaix.
Sampaix estava perseguido por ter denunciado dois “jornalistas”, um do TEMPS, outro do FIGARO, como tendo recebido subsídio de Hitler. Lembrou Peri:
“Trezentos milhões foram destinados pela Alemanha à sua “propaganda” na França. O distribuidor é Otto Abetz. Ele pode constatar que suas palavras de ordem são fielmente traduzidas numa certa imprensa que se diz francesa. Pode rejubilar-se da atividade do Comitê França-Alemanha (do qual o presidente, De Brinon, tornou-se com efeito o “gualeiter” da França sob ocupação). Toda uma súcia de traidores trabalha em nosso país para o inimigo”.
Peri, na barra do tribunal, gritava:
“Parece-me que todos os franceses, sem distinção de opinião, devem ter ficado inquietos quando leram nos jornais que os processos movidos contra Lucien Sampaix tinham sido, por pura coincidência, precedidos duma visita do conde Welczek, embaixador da Alemanha, ao Presidente do Senado; que no mesmo dia em que Lucien Sampaix recebia sua citação judicial, Otto Abetz, através de um jornal francês, intimava os tribunais franceses a castigarem aqueles que o haviam denunciado — pois esse senhor ignora que enquanto a França for a França, os juízes franceses serão os juízes da justiça e do direito.
O que nos inquieta é ter lido, sem que ao menos um desmentido tenha se levantado, que domingo último um de nossos colegas, o Sr. Tixier-Vignancourt, se jactara do episódio seguinte, que relatou nestes termos:
“Eu fui ver Monsieur Georges Bonnet com o número de L’Humanité na mão, e tenho a boa sorte de vos anunciar que, a pedido do ministro, L’HUMANITÉ será perseguido e que seu redator responsável comparecerá perante uma Câmara correcional”.
E Peri concluía, referindo-se a Bonnet:
“Com certo ministro no governo, é impossível dar caça aos espiões!”.
Hoje nós podemos dizer que com certo governo, é impossível preservar a independência francesa.
Seguindo os Passos de Gabriel Peri
O ano de 1939 foi o ano do supremo esforço de Peri e de seu Partido para salvar a paz. Uma campanha antissoviética inaudita, de que só as campanhas atuais dão uma ideia, foi desencadeada para justificar a sabotagem à negociação tripartite, da qual poderia surgir a aliança anglo-franco-soviética, capaz de vestir em Hitler a camisola de força. Desde o mês de maio de 1939, Peri denunciou da tribuna da Câmara a sabotagem dos representantes anglo-franceses, sobre a qual fulgurantes clarões foram lançados, depois, pelo documento soviético: “Falsificadores da História”.
Depois vem o “simulacro de guerra”; um decreto de 26 de setembro interdita o Partido Comunista. Não é a Hitler que o governo faz a guerra, mas à classe operária, aos patriotas autênticos. Gabriel Peri está estre os deputados comunistas que constituem o Grupo Operário e Camponês e que dirigem, a 1.° de outubro, ao Presidente Herriot, a corajosa carta em que pedem a convocação do Parlamento e afirmam que ainda é possível lutar em favor da paz, se se leva em conta a potência soviética, ainda não empenhada no conflito.
Último esforço. Depois disso, Peri mergulha na vida clandestina. Sabe-se como ele foi aí um magnífico militante e como seus escritos contribuíram então para esclarecer uma situação infinitamente complexa, para mostrar o caminho da Libertação, para exaltar o heroísmo dos patriotas.
O exemplo de Gabriel Peri é uma advertência aos provocadores de guerra: o Partido que ele encarnou, até o sacrifício supremo, está como ontem a serviço do França e da paz. Com Gabriel Peri, ele mostrou que nem as mentiras, nem as perseguições o fazem recuar, e ainda menos o podem aniquilar. Sua força está na justeza de sua causa: a causa da paz, a causa da classe operária, do povo francês e de toda a humanidade progressista.