A Expansão Econômica do Imperialismo Americano na Europa Ocidental
A EXPANSÃO imperialista na Europa faz parte integrante do plano geral da expansão política mundial empreendida pelos Estados Unidos da América em todo o mundo.
Os Estados Unidos, força dirigente do campo imperialista, saíram da guerra, não enfraquecidos como a esmagadora maioria dos países capitalistas, mas fortalecidos do ponto de vista militar e econômico. Entretanto, o fortalecimento econômico e militar dos Estados Unidos não significa absolutamente que a posição do capitalismo americano se tenha tornado estável, como o proclamam seus “sábios” apologistas domesticados. Ao contrário, o sistema econômico capitalista nos Estados Unidos desagregou-se ainda mais, em seguida à guerra.
Aprofundaram-se todas as contradições do capitalismo americano. A luta de classe entre o proletariado e a burguesia aguçou-se violentamente.
Da mesma maneira aprofundou-se a divisão dos Estados Unidos “em dois grandes grupos principais: O grupo imperialista, que está hoje em primeiro plano, e faz disso tanto alarde, e o grupo democrático, ao qual pertence o futuro”(1).
Os traços parasitários do imperialismo americano, sua decomposição e seu caráter reacionário ressaltam claramente em todos os domínios, econômicos, político e social. A preponderância dos monopólios capitalistas aumenta. Acentua-se a sub-produção do aparelho americano de produção. Aumenta a exploração assim como o empobrecimento absoluto e relativo da classe operária; o aparelho técnico é artificialmente freado, as dívidas do Estado e os impostos aumentaram consideravelmente. A militarização dos Estados Unidos reforça-se de maneira gigantesca. Aumenta a camada da população empregada em funções parasitárias enquanto diminui relativamente a camada ocupada na produção útil; a ciência, a cultura e a arte são menos apreciadas.
Nos Estados Unidos, depois da segunda guerra mundial, acentuam-se fortemente as contradições entre: “o crescimento colossal das possibilidades de produção do capitalismo, baseadas sobre a obtenção do máximo de lucros capitalistas, e a diminuição relativa do poder aquisitivo das massas trabalhadoras que os capitalistas tentam manter continuamente no nível mínimo”(2).
A redução relativa do mercado interno dos Estados Unidos de após guerra que depende muito mais do que anteriormente dos mercados externos (os quais por sua vez ficaram abalados com as destruições da guerra) acentuou fortemente os problemas de realização da economia americana. A crise cíclica econômica ameaça romper o estabilidade do capitalismo americano e mundial. O capitalismo americano tenta resolver as dificuldades e as contradições internas pela ampliação da expansão imperialista. A propósito, afirmou Molotov:
“Se os negócios internos dos Estados Unidos não fossem motivo de grande inquietação para seus meios dirigentes, especialmente em face da crise econômica que se aproxima, não haveria tal abundância de projetos econômicos de expansão dos Estados Unidos, projetos que, por seu lado, estão baseados nos planos militares e políticos agressivos do imperialismo americano”(3).
A atividade agressiva do imperialismo americano na Europa, como aliás em todo o mundo, desenvolve-se em todas as direções ao mesmo tempo, medidas militares e estratégicas, luta política e ideológica, expansão econômica. Neste artigo trataremos sobretudo das questões ligadas à expansão econômica dos Estados Unidos na Europa Ocidental, expansão que, segundo o camarada Zhdanov, “tem uma grande importância na realização do plano estratégico”(4).
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HÁ JÁ MUITO tempo a Europa tornou-se o principal objetivo da expansão dos Estados Unidos. As mercadorias americanas exportadas afluíram principalmente para os mercados europeus. Os capitais americanos eram amplamente investidos na Europa.
Basta dizer que em 1900 os mercados europeus absorviam de 70 a 80 por cento das exportações americanas e, até a segunda guerra mundial e mesmo durante os anos de crise a parte da Europa nas exportações americanas jamais caiu abaixo de 40 a 50%.(5)
Já em começos do século XX, a Europa ocupava o segundo lugar, entre todos os continentes, no que se refere aos investimentos externos dos Estados Unidos (investimentos diretos e em obrigações: em 1897 sua parte era de 22% de todos os investimentos americanos). Quando, com a primeira guerra mundial, os Estados Unidos se transformaram de país devedor em país credor do mundo, tornaram-se o “centro da exploração financeira de todo o mundo” (Stálin), os investimentos americanos na Europa não cessaram da aumentar. Em 1929, quando a exportação dos capitais dos Estados Unidos estava no auge, a Europa recebia 27% de todos os investimentos dos Estados Unidos, ao passo que em 1914 essa cifra era de 14%(6).
Os investimentos diretos (sempre predominantes nos investimentos externos americanos) desempenharam igualmente um papel fundamental na Europa; asseguraram à oligarquia americana a dominação sobre um grande número de empresas industriais européias, tanto no domínio da extração como no da transformação, bem como nas empresas de serviços públicos e transportes.
A expansão americana na Europa desenvolveu-se consideravelmente. Participando na guerra com o fim de se livrar da concorrência alemã e japonesa nos mercados mundiais e de fortalecer a posição dominante dos monopólios americanos, os Estados Unidos utilizaram para fins egoístas as possibilidades que lhe oferecia a guerra. Como sempre, os monopólios americanos experimentaram fazer com que mãos estrangeiras tirassem as castanhas do fogo, e obter os maiores lucros possíveis. As exportações americanas, inclusive o Empréstimo-Arrendamento instrumento de escravização política e econômica dos países capitalistas arrastados nesse sistema, passaram de 3 bilhões de dólares em 1938 a 14,3 bilhões de dólares em 1944, isto é, quase 5 vezes mais: em outras palavras, em 1944 que foi o ano da guerra em que o nível das exportações esteve mais alto, 65,5% das exportações americanas eram destinadas à Europa.
Durante dois anos e meio, de 1.° de janeiro de 1941 a 1.° de junho de 1943, quase todo o aumento dos investimentos externos dos Estados Unidos, ou seja 2,6 bilhões do aumento total, que foi de 2,8 bilhões, segundo o “New York Times” de 6-3-47, resultou das exportações para a Europa. Em meados de 1943 mais de um terço de todos os investimentos externos americanos estavam concentrados na Europa, isto é, mais do que em qualquer outro continente do mundo, inclusive o continente americano.
O aprofundamento da crise geral do capitalismo ao fim da segunda guerra mundial fez com que a luta imperialista pela partilha do mundo, pelos mercados de escoamento, as fontes de matérias primas e as esferas de investimentos de capitais, e que já adquirira um caráter de luta pela supremacia mundial, fosse consideravelmente intensificada. Os círculos reacionários dos Estados Unidos enveredaram por um novo caminho de aberta expansão política que como assinalou o camarada Zhdanov, baseia-se:
“sobre um vasto programa de medidas de ordem militar, econômica e política, as quais tendem a estabelecer em todos os países objeto de sua expansão o domínio político e econômico dos próprios Estados Unidos reduzindo esses países à condição de satélites daquele país, impondo-lhes regimes internos tais que afastem todo obstáculo oposto pelo movimento operário democrático à exploração patrocinada pelo capital americano”(7).
A expressão concreta desses objetivos agressivos são a “Doutrina Truman” e o “Plano Marshall” que constituem o eixo central de toda a política européia dos Estados Unidos.
A essência da Doutrina Truman, tal como ele próprio a exprimiu em março de 1947, consiste numa ofensiva declarada do imperialismo americano contra as forças democráticas mundiais, ofensiva baseada sobre a interferência ilimitada dos Estados Unidos nos negócios internos dos outros países. O Plano Marshall serve ao mesmo objetivo. Foi arquitetado sob forma velada em 5 de junho de 1947 e, depois de cerrada luta diplomática, entrou em vigor em 3 de abril de 1948. Hoje, o conteúdo imperialista e reacionário do Plano Marshall, com cujo auxílio os Estados Unidos tentam escravizar econômica e politicamente a Europa ocidental, é claro para todos. O Plano Marshall tem como finalidade formar um bloco de Estados europeus ligados por obrigações aos Estados Unidos e oferecer-lhes créditos americanos à guisa de pagamento pelo abandono de suas independência econômica e, portanto, política.
A expansão econômica de após guerra do imperialismo americano desenvolve-se em condições favoráveis para os Estados Unidos, já que dois de seus principais, concorrentes, a Alemanha e o Japão, foram afastados dos mercados mundiais e tornaram-se eles próprios escoadouros para as mercadorias e os capitais americanos, e já que estão abaladas as posições dos outros principais concorrentes, a Inglaterra e a França.
A Europa foi o teatro principal das operações militares da segunda guerra mundial e o principal objetivo da bárbara exploração fascista. Sua economia foi grandemente destruída. Os povos da Europa fizeram enormes sacrifícios enquanto os Estados Unidos enriqueceram com a guerra. Comentando esse ponto, disse o camarada Zhdanov:
“O imperialismo americano esforça-se, como um usurário, por explorar as dificuldades em que se debatem, depois da guerra os países europeus, e sobretudo a penúria de matérias primas, de combustíveis e produtos alimentícios dos países aliados que de modo mais acentuado sofreram a guerra, para lhes impor condições escravagistas de ajuda. Prevendo a crise econômica iminente, os Estados Unidos apressam-se em encontrar novas esferas monopolistas para o investimento de capitais e para a venda de mercadorias. A “ajuda” econômica dos Estados Unidos visa submeter a Europa ao capital americano. Quanto mais grave é a situação econômica de um país, tanto mais duras são as condições que os monopólios americanos se esforçam por impor-lhes”(8).
Além disso, o “auxílio” econômico dos Estados Unidos destina-se, não aos países que mais sofreram com a guerra e a agressão fascistas, mas, em primeiro lugar, à Alemanha ocidental e à Itália, embora até o presente as obrigações da Alemanha relativas às reparações pelos enormes prejuízos que causou aos Estados aliados ainda não tenham sido fixadas. Depois do fim da guerra, os círculos dirigentes americanos recusaram-se a enquadrar ”o auxilio” econômico na ONU e sobre a base de seus princípios. Apesar da decisão da Assembléia Geral de 11 de dezembro de 1946 que afirmava o “princípio de que o auxílio concedido não deverá ser nunca utilizado como instrumento» político”, o governo americano atual transformou o “auxílio” econômico em instrumento de sua política expansionista, visando reforçar sua posição dominante na Europa. Os Estados Unidos utilizam abertamente o “auxílio” econômico para fins determinados de expansão política e econômica que se chocam contra os princípios de colaboração internacional. O “Plano Marshall” é a expressão dessa política.
A expansão econômica dos Estados Unidos na Europa realiza-se sob cinco formas fundamentais, costumeiras na prática dos açambarcadores imperialistas:
expansão do comércio externo;
empréstimos e créditos de Estado, militares e políticos, para a aquisição de mercadorias americanas, etc.;
exportação do capital privado (créditos, criação de companhias subsidiárias e filiais, imposição de um controle sobre as empresas estrangeiras com o objetivo final de açambarcá-las;
açambarcamento de bens estrangeiros (compra de ações por preços vis, apropriação ilegal de despojos de guerra e de reparações);
manobras especulativas (inflação, seqüestros, reformas .monetárias, desvalorização de valores estrangeiros).
O enorme crescimento da expansão comercial externa dos Estados Unidos na Europa, depois da segunda guerra mundial, teve como resultado que os Estados Unidos, depois de ter eliminado seus concorrentes, ocuparam uma posição dominante nos mercados europeus. (Vide Quadro demonstrativo, abaixo).
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DEPOIS da guerra, cerca de 40% de todas as exportações comerciais dos Estados Unidos destinam-se à Europa, o que, expresso em preços, corresponde a um aumento de cerca de 5 vezes. As exportações dos Estados Unidos para a Europa em 1947, calculadas em preços, ultrapassaram em cerca de 4 vezes o nível de antes da guerra e a parte relativa dos Estados Unidos em todas as importações da Europa aumentou mais de duas vezes ou seja, de 22% em 1938 para 46% em 1947. Como anteriormente, a Europa continua a ser o mercado mais importante para a indústria americana e sua produção agrícola.
A política comercial externa dos Estados Unidos caracteriza-se pelo fato de que o aumento das exportações americanas para a Europa não é acompanhado de um aumento visível, sensível, das suas importações de procedência européia. Assim, expressas em preços, as exportações da Europa ocidental para os Estados Unidos só aumentaram em geral de 15% e a parte relativa dos mercados americanos nas exportações gera!s dos países europeus caiu em 1947 para 7%, em comparação com 16% em 1938. Essa política aumenta a dependência unilateral da Europa ocidental para com os Estados Unidos.
A Europa sempre foi um mercado fundamental de importação e exportação para os países do continente europeu. Como resultado da política comercial externa imperialista dos Estados Unidos, a parte relativa dos mercados europeus no comércio dos países da Europa ocidental diminuiu sensivelmente. Assim, em 1947, as exportações da França e da Suécia para os países europeus diminuíram de 12% em comparação com as de 1938. As da Noruega, Bélgica e Holanda diminuíram de 4 a 5%. As importâncias da Itália provenientes de paises europeus, diminuíram de 30%, as da Inglaterra, da Dinamarca, da Suíça e da Suécia, diminuíram de 15 a 17%, as da França da Noruega, da Bélgica e do Luxemburgo de 10 a 13%, etc., em dados aproximados. Ao mesmo tempo a parte dos Estados Unidos no comércio dos países europeus aumentou consideravelmente. Assim, a parte relativa dos Estados Unidos nas importações da França aumentou entre 1938 e 1947 de 11,4% a 28,7%; nas da Inglaterra de 12,6 a 15,5%, nas da Itália de 11 a 48,5%; nas da Dinamarca de 7,9 a 29,6%; nas da Noruega de 10 a 27%; nas da Bélgica e do Luxemburgo, de 11 a 29,1%; nas da Suécia 16,2% a 28%; de acordo com as cifras fornecidas pelo “Foreign Commerce Weekly” de 2S-2-48, págs. 7, 8 e 9, e por “Commerce Extérieur N.° 3-1948 — pág. 12 — Estatísticas para 1947, baseadas sobre os totais dos meses de setembro, outubro e novembro.
A expansão do comércio externo dos Estados Unidos estrangulou as exportações dos países da Europa ocidental que não estão em condições de concorrer com as mercadorias americanas. A crescente infiltração das mercadorias americanas nos mercados dos países coloniais e dependentes restringe esses, mercados para as mercadorias provenientes das metrópoles européias cuja estrutura comercial de exportações baseia-se sobre o mesmo tipo que a estrutura comercial dos Estados Unidos. Isto atinge de maneira particularmente grave a Inglaterra pois que as exportações para o Império têm grande importância para esse país.
Os Estados Unidos apoderaram-se nos mercados europeus do lugar da Alemanha que, antes da guerra, era o maior exportador de ferramentas, carvão, produtos químicos e outras mercadorias industriais. Tendo se apoderado da Alemanha ocidental, os monopólios preparam-se para transformá-la em sua base industrial-militar e em uma praça de armas estratégica e militar na Europa. Ao mesmo tempo os Estados Unidos impedem o renascimento dos ramos de produção de mercadorias que lhes possam fazer concorrência. As exportações da Alemanha ocidental adquiriram um caráter de exportações de países coloniais: 80 a 85% das exportações alemãs consistem de matérias primas. As importações da Inglaterra, da França, Suíça, Holanda, Dinamarca, Noruega, Suécia, Itália e outros países da Europa Ocidental que anteriormente provinham da Alemanha, são agora quase que totalmente substituídas por importações provenientes dos Estados Unidos. Assim, enquanto em 1938 a parte da Alemanha nas importações dos países da Europa ocidental chegara a 20%, em 1947 já não era senão pouco mais de 1%.
O comércio externo dos países europeus diminuiu hoje consideravelmente. As exportações dos países europeus não atingiam em 1946 senão 51% do nível de 1938 e em 1947, 63,3%, enquanto as importações atingiam 66,5% em 1946 e, 69% em 1947, segundo cálculos baseados nos preços de 1938, extraídos da intervenção do camarada Arutunian, chefe da delegação soviética na Sessão da Comissão Econômica da Europa na ONU, em 6-5-48, e publicada no “Pravda” de 8-5-48. Foi sobretudo o comércio inferno que diminuiu consideravelmente. A parte da Europa nas trocas comerciais mundiais também diminuiu sensivelmente.
Os americanos impõem aos países da Europa Ocidental mercadorias que estes últimos poderiam perfeitamente produzir.
Os Estados Unidos escoam para esses países produtos comestíveis velhos, de qualidade inferior; produtos têxteis de segunda qualidade, meias, tabaco, ovos e leite em pó, frutas secas; por outro lado impedem de todos os modos possíveis a importação na Europa de metais, máquinas e outros meios de produção através dos quais seria possível restabelecer rapidamente a economia dos países europeus devastados pela guerra.
A política de expansão e de importação dos Estados Unidos, baseada no princípio “exportar o máximo e importar o mínimo”, reflete-se de maneira desastrosa sobre os países da Europa Ocidental. A política expansionista dos Estados Unidos impede o reerguimento industrial dos países da Europa Ocidental onde o nível de produção de antes da guerra está longe de ser atingido. Assim a produção industrial da Alemanha ocidental em 1947 não atingiu nem mesmo os 40% do nível de 1936. Mesmo o índice inexato das estatísticas burguesas revelam as seguintes cifras relativas à produção industrial de 1947 (1937 = 100): França 87, Itália 63, Bélgica 83, Holanda 91. A produção industrial da Suécia marcou passo durante todo o ano de 1947 mantendo-se no nível de 1946, sendo mesmo inferior à do 4.° trimestre de 1946.
Nos Estados Unidos, em qualquer circunstância se apresentam as palavras de ordem de “possibilidades iguais”, “comércio livres”, “portas abertas”, que significam “portas abertas” unicamente para as mercadorias que exibam etiquetas comerciais americanas. Atualmente, que o nível do desenvolvimento industrial dos Estados Unidos ultrapassa muito a dos outros países capitalistas, os princípios de “possibilidades iguais” e de “porta aberta” são métodos de impor a dominação mundial do capital monopolizador americano.
Os imperialistas americanos que exigem por toda parte a introdução de “liberdades” para o comércio externo capitalista, proíbem a redução das barreiras alfandegárias é não permitem que se atente contra o sistema das licenças da própria América; protegem de todas as maneiras possíveis os altos preços monopolistas no mercado interno. O capital americano pôde conseguir na Inglaterra um acordo que enfraquece o sistema preferencial no Império; conseguiu da França a liquidação do sistema de contingenciamentos na União Francesa; os Estados Unidos exigem dos países de Benelux [BElgië, NEderland e LUXembourg] a abolição de suas diferentes barreiras comerciais externas, etc. Os Estados Unidos concluem acordos econômicos bilaterais escravizadores para seus parceiros e, ao mesmo tempo fazem pressão sobre outros países para que anulem os acordos bi-laterais concluídos entre eles. Ao mesmo tempo que diminuem as importações, os monopólios americanos desenvolvem os ramos industriais que fazem concorrência às importações de matérias primas; produção de borracha sintética, de seda artificial, de substitutos do estanho, de novos produtos químicos, de uma série de medicamentos e de gordura vegetais.
Nas conferências sobre o comércio mundial em Genebra e Havana, os representantes americanos obtiveram de seus parceiros europeus o consentimento para uma redução maior dos direitos de alfândega. Isto facilita ainda mais a introdução de mercadorias americanas nos países da Europa Ocidental, em condições excepcionalmente vantajosas para os Estados Unidos, aumenta os lucros dos monopólios americanos e cria um sério perigo para a economia e a soberania desses países.
A realização dos acordos de Genebra e Havana agrava consideravelmente a situação financeira, que já é má, dos países da Europa Ocidental. Durante estes últimos anos o saldo negativo da balança comercial com os Estados Unidos aumentou consideravelmente. Somente durante os dois anos depois da guerra, 1946 e 1947, o déficit comercial da Europa para com os Estados Unidos ultrapassou 6.500 milhões de dólares. Em 1946: 2.950 milhões de dólares; em 1947: 3.996 milhões de dólares, enquanto a média de 1936 a 1938 era de 500 milhões de dólares. Para muitos países o saldo negativo na balança comercial com os Estados Unidos atingiu proporções perigosas.
O déficit em dólares, resultante do saldo negativo na balança comerciai dos países da Europa Ocidental, não se limita a essas quantias, pois que seu comércio com os outros países do bloco do dólar, isto é, o Canadá e os países da América latina, também se caracteriza por um excedente das importações sobre as exportações. Assim, por exemplo, enquanto a parte dos Estados Unidos nas importações inglesas durante o ano de 1947 subia a 15,5% — segundo os dados referentes aos 11 primeiros meses — a parte de todos Os países do continente americano subia a 42% .
Assim, a expansão do comércio externo dos Estados Unidos leva ao escoamento artificial, pelos usurários americanos, do ouro e dos dólares para fora da Europa. Outros métodos imperialistas acelerarão ainda o transvasamento dos dólares e do ouro da Europa para os Estados Unidos: em primeiro lugar a política inflacionista dos Estados Unidos, que consiste no aumento dos preços dos mercadorias exportadas até 30%. Como resultado dessa política o empréstimo da América à Inglaterra desvalorizou-se de cerca de um terço. Segundo as declarações de Bevin e Dalton, os ingleses perderam com a alta dos preços das mercadorias americanas cerca de um bilhão de dólares do empréstimo concedido de 3,75 bilhões de dólares. Além disso, os ativos dos países europeus nos Estados Unidos durante a guerra que montavam a um total de 4,5 bilhões de dólares dos quais 2,5 bilhões pertencem aos ingleses, foram seqüestrados sob o pretexto de que “podem pertencer ao inimigo”. Esse seqüestro não foi levantado até agora. Ademais, como declarou em 16-6-48 o ministro das finanças dos Estados Unidos, Snyder, a Direção do Controle dos Bens Estrangeiros nos Estados Unidos transferirá, a partir de 1.° de setembro de 1948, para propriedade americana os ativos bloqueados cujos proprietários não houverem apresentado os documentos necessários até 1.° de junho.
A política expansionista dos Estados Unidos engendrou uma crise na balança de pagamentos, aumentou a inflação de divisas nos países da Europa Ocidental. O saldo negativo de toda a balança de pagamentos dos países europeus atingiu, em 1947, 7,5 bilhões de dólares, segunda a “Agence Economique et Financière” de 6 de abril de 1946.
Os resultados desastrosos do “auxílio” de após guerra dos Estados Unidos fizeram-se sentir em primeiro lugar na Inglaterra que já em meados da 1947 se debatia em meio a uma crise aguda de divisas. O déficit da balança de pagamentos da Inglaterra era um 1947 de 675 milhões de libras, contra 380 milhões em 1946 (“White Paper” N.° 7344, março de 1948). Os empréstimos em dólares canadenses e sobretudo americanos não cobriram o passivo da balança de pagamentos ingleses, ao contrário aumentaram-no, pois foram utilizadas para fins não produtivos. Em abril de 1948 a Inglaterra havia esgotado todos os empréstimos americanos e quase todos os empréstimos canadenses, mas a fome dos dólares não foi liquidada. Além disso a Inglaterra foi obrigada a se utilizar de sua cobertura ouro.
Os americanos inspiraram as medidas financeiras reacionárias do governo francês, que foram aplicados em fins de janeiro e princípios de fevereiro de 1948, como a desvalorização do franco, a abertura do mercado livre das divisas estrangeiras, ocasionando uma redução maior do nível de vida do povo francês e prejudicando grandemente os interesses da Inglaterra — a cotação da libra inglesa no mercado baixou para quase metade da cotação oficial.
A maior parte dos países da Europa ocidental reduziu consideravelmente suas reservas de divisas estrangeiras. De 1.° de julho de 1946 a 1.° de junho de 1947, as reservas ouro e de dólares dos 16 países incluídos no Plano Marshall diminuíram de 3.320 milhões, de dólares: as reservas ouro diminuíram de 1.925 milhões, os recursos em dólares de 990 milhões, os valores em títulos num montante de 215 milhões foram liquidados e as dívidas com os bancos comerciais americanos e com o Banco Internacional aumentaram de 190 milhões, segundo os dados do Conselho Consultivo Nacional junto à Presidência dos Estados Unidos para as questões de valores, de divisas e das finanças internacionais. Quase metade de todo o aumento da dívida da Europa Ocidental aos Estados Unidos recai sobre a França.
Em 5 meses consecutivos — de julho a novembro de 1947 — os recursos em ouro e dólares dos 16 Países da Europa Ocidental diminuíram ainda de 925 milhões de dólares. As reservas que garantem a circulação monetária interna foram gastas em grande parte, o que cria as premissas para um futuro aumento de inflação nos países capitalistas da Europa. A liquidação das divisas e a transferência dos valores para fora da Europa abalam a economia dos Estados da Europa Ocidental e agravam a situação das amplas massas trabalhadoras. Não possuindo dólares para pagar as mercadorias americanas, numerosos países puseram em vigor medidas restritivas à importação. A França, durante a segunda metade de 1947, diminuiu consideravelmente a importação de produtos americanos, inclusive produtos de consumo. A Inglaterra rompeu as cláusulas do acordo financeiro anglo-americano e diminuiu os contingentes de mercadorias americanas importadas. A Suécia proibiu a importação de automóveis, de quinquilharias, de filmes de cinema, de instrumentos mecânicos e de uma série de outras mercadorias.
Assim, a crise das divisas provocada pelos monopolistas americanos refletiu-se na economia dos Estados Unidos. As exportações americanas que em maio de 1947 atingiram seu ponto culminante, no valor de 1.422 milhões de dólares, começaram a baixar irresistivelmente, e há já mais de um ano oscilam em torno de um nível bem inferior ao do máximo atingido em maio. As exportações totais dos Estados Unidos em maio de 1948 baixaram de 23% em comparação com as de maio de 1947. Em fins de 1947 as exportações de mercadorias americanas para a França diminuíram de 27% em comparação com as de maio de 1947; as exportações para a Itália diminuíram de 25%, conforme dados do “Survey of Current Business”, de dezembro de 1947.
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A EXPANSÃO do comércio externo dos Estados Unidos com a Europa vem acompanhada de um aumento de exportação de capitais americanos.
Os Estados Unidos adquirem cada vez mais o caráter de Estado capitalista, de usurário que pilha os outros países. Depois da segunda guerra mundial as exportações de capital dos Estados Unidos atingiram um volume extraordinário, aumentando assim o caráter parasitário do capitalismo americano. Durante o período de 30 de junho de 1945 a fins de dezembro de 1946, os outros países receberam dos Estados Unidos em forma de empréstimos em dinheiro, mercadorias e serviços prestados, pagáveis a prestações, de adiantamentos em dinheiro e em material 14,3 bilhões de dólares, exclusive as quantias depositadas pelos Estados Unidos no Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento e no Fundo Monetário Internacional. Desse montante, 8,95 bilhões consistiam de empréstimos e créditos feitos inteiramente dos países da Europa Ocidental. Durante esse período o Inglaterra recebeu quase a metade dessa última quantia — 4,555 bilhões de dólares, a França, 1,951 bilhões, a Holanda 375 milhões, a Itália 205 milhões, a Bélgica 149 milhões de dólares, conforme publicou o Pravda, em 2 de julho de 1947. No curso dos dois últimos anos, de 1.° de julho de 1945 a 30 de junho de 1947, a soma total do chamado “auxílio” financeiro elevava-se a 16,26 bilhões de dólares, conforme publicava o “National City Bank Bulletin”, de julho de 1947, tendo sido a maior parte dessa soma concedida à Europa Ocidental.
A exportação de após guerra do capital americano para a Europa caracteriza-se por dois traços fundamentais:
— Faz-se principalmente, não através de pessoas particulares, mas pelo Estado capitalista por meio de aumento de impostos e pela exploração dos trabalhadores americanos. Devido ao desenvolvimento do movimento democrático que ameaça a própria existência do capitalismo na Europa Ocidental, devido também a instabilidade do mundo de após guerra, as firmas particulares não correm senão raramente o risco de emprestar a Estados estrangeiros. A oligarquia financeira americana utiliza o Estado capitalista para jogar sobre os ombros do povo as despesas dos investimentos estrangeiros e para tirar lucros da exploração de seu próprio povo e dos povos estrangeiros.
— A exportação de após guerra do capital constitui-se sobretudo de capitais improdutivos de adiantamentos, sob a forma de empréstimos, de créditos, em primeiro lugar para a aquisição das mercadorias americanas, destinados não a aumentar a produção, mas a cobrir as despesas correntes dos Estados capitalistas.
A exportação do capital dos Estados Unidos tem um pronunciado caráter de empréstimos para fins políticos e militares. Esses empréstimos destinam-se a fortalecer regimes reacionários e, particularmente, ao pagamento por estes últimos de mercadorias e de serviços indispensáveis à realização de operações militares. Os créditos americanos levam quase automaticamente à adaptação da política interna e externa dos países que receberam esses créditos, às necessidades da política de açambarcamento do imperialismo americano. O oferecimento de um crédito de 100 milhões de dólares à Itália na primavera de 1947 tinha como condição o afastamento dos ministros comunistas do governo e uma orientação mais para a direita de toda a política interna e externa da Itália. O empréstimo americano à França em 1946, às vésperas das eleições para a Assembléia Nacional, foi feito igualmente com o fim de assegurar a vitória das forças reacionárias, e os créditos abertos à França em maio de 1947 diretamente condicionados ao afastamento dos comunistas do governo. O empréstimo americano à Inglaterra causou muito prejuízo aos interesses desse país. As condições do empréstimo previam o enfraquecimento do sistema preferencial do Império e a dissolução do bloco esterlino, a abolição da conversibilidade da libra em face das mercadorias americanas; o governo trabalhista foi até proibido de “nacionalizar” a indústria siderúrgica, tendo exigida uma diminuição importante dos investimentos no equipamento industrial inglês, etc.
As reivindicações do povo alemão concernentes à socialização da indústria na Trizona, que os líderes trabalhistas da direita aceitaram hipocritamente, não foram satisfeitas. Os Estados Unidos não concedem créditos senão à condição de que seja abandonada qualquer “experiência socialista”. Os créditos americanos à Grécia e à Turquia, da ordem de 400 milhões, são concedidos como medida inicial da realização da Doutrina Truman e têm um caráter ainda mais abertamente militar e policial. Foram empregados principalmente na compra de armamentos pela reação monarquista grega que, na guerra contra o povo grego, organiza fuzilamentos em massa de patriotas anti-fascistas; foram empregados para armar o regime anti-popular reacionário da Turquia. O empréstimo americano oferecido à Espanha fascista tem finalidades semelhantes.
Assim, o capital de exportação americano adquiriu o caráter mais reacionário e parasitário, correspondendo ao aprofundamento atual da crise geral do capitalismo.
A oligarquia financeira americana tentou, e ainda tenta, utilizar o capital de exportação, bem como outros meios econômicos, para restaurar o capitalismo nas Democracias Populares da Europa Central e Sul-Oriental. Os Estados Unidos exercem pressão política e econômica sobre esses países e lhes propõem empréstimos e créditos com a condição de renunciarem à sua independência nacional e à sua soberania. Os países de democracia popular repelem categoricamente os métodos da “diplomacia do dólar”. Mas os imperialistas dos Estados Unidos continuam em sua campanha maléfica contra esses países, organizam conspirações anti-governamentais e fazem um trabalho de sapa procurando interferir nos negócios internos desses países. A exportação dos capitais dos Estados Unidos visam juntamente com objetivos militares e políticos, dar saída às mercadorias americanas. Já em seu trabalho: “O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, Lênin observou:
“É corrente que, como uma das condições do empréstimo, se exija a inversão de parte do mesmo na compra de produtos do país credor, particularmente armamentos, navios, etc. A exportação de capital para o estrangeiro passa a ser um meio de impulsionar a exportação das mercadorias”(9).
Uma grande parte dos empréstimos e créditos é oferecida pelo governo americano, pelo banco de Exportação e Importação, ou pela Corporação Financeira de Reconstrução dos Estados Unidos, para pagamento das exportações americanas. Atualmente, em comparação com a época em que Lênin escreveu o “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, a parte dos empréstimos gasta com a aquisição de armamentos americanos aumentou consideravelmente, o que prova o caráter parasitário acentuado do capital de exportação dos Estados Unidos.
A expansão do capital americano por vias governamentais também tem como finalidade preparar o terreno para a exportação do capital privado. Destina-se a sustentar regimes reacionários dos países da Europa Ocidental que protegem os investimentos privados antigos dos Estados Unidos, investimentos esses que rendem enormes lucros para seus proprietários.
Os investimentos diretos dos Estados Unidos na Europa elevavam-se em 31 de dezembro de 1941 a 1 bilhão e 420 milhões de dólares, ou 69% de todos os investimentos a longo prazo do capital americano na Europa, que atingia a 2 bilhões e 56 milhões de dólares. Desta quantia, 640 milhões estavam investidos na indústria manufatureira — 233 milhões nas indústrias de extração e distribuição do petróleo — 176 milhões nas empresas de utilidade pública — 133 milhões nas empresas comerciais e 36 milhões nas indústrias de extração(10).
As atividades do capital privado americano na Europa Ocidental manifestam-se no período de após guerra. Atualmente destinam-se em primeiro lugar à preservação dos antigos investimentos em diversos ramos da economia européia, à garantia dos grandes lucros fornecidos por esses capitais. Os empréstimos privados não são fenômenos característicos do capital de exportação de após guerra dos Estados Unidos. Entretanto, o capital de exportação, como é sabido, não se limita à emissão de valores estrangeiros. A aquisição de lotes de ações para obter o controle sobre empresas existentes ou em vias de formação, assim como a aquisição de outros valores europeus prossegue atualmente. O açambarcamento e a compra por preços vis pelos monopólios americanos de ações e obrigações tomou proporções particularmente grandes na Alemanha ocidental; esse processo prossegue ativamente também nos outros países da Europa Ocidental.
Uma das formas fundamentais da expansão econômica dos Estados Unidos é a escravização dos Estados da Europa Ocidental por meio do estabelecimento de um controle sobre as empresas desses Estados e seu açambarcamento pelo capital privado americano. Depois da segunda guerra mundial a atividade expansionista dos monopólios americanos desenvolveu-se em grande escala. Essa forma de penetração dos Estados Unidos na economia dos outros países é cuidadosamente disfarçada. Entretanto, informações esparsas na imprensa permitem-nos avaliar a enorme quantidade de empresas européias que já caiu nas mãos dos capitalistas monopolistas americanos.
A Itália pode servir de exemplo característico a esse respeito. O capital americano domina com exclusividade os ramos fundamentais da indústria italiana. Tem em suas mãos as principais empresas de construção de máquinas e motores, assim como a indústria elétrica. Os americanos açambarcaram um dos grupos mais importantes da industriais elétrica da Itália do Norte, tendo à frente a Companhia Geral de Eletricidade, de Milão, que, por sua vez, controla toda uma série de companhias menores nesse ramo de indústria na planície do Pó. O capital americano comprou numerosas ações e controla parcialmente uma série de outras grandes companhias elétricas. Os monopólios capitalistas dos Estados Unidos detêm grandes lotes de ações das maiores indústrias de algodão da Lombardia, Ligúria e da região veneziana. A luta dos trustes americanos de petróleo para impor seu controle sobre a indústria petrolífera italiana tem um caráter particularmente cínico. A Standard Oil of New Jersey, a Socony Vacuum Comp, e a Companhia do Texas apropriaram-se de quase todos os bens que pertenceram ao governo fascista italiano. O capital americano infiltra-se igualmente na indústria dos estaleiros navais da Itália. A poderosa Companhia Ansalso, de Gênova, já cedeu uma parte importante de suas empresas a grupos financeiros dos Estados Unidos. Os americanos açambarcaram às fábricas de pneus Pirelli, as usinas químicas Monte Cattini, etc.
As companhias americanas também açambarcam os transportes marítimos, as redes de comunicação e os transportes aéreos italianos.
O grande capital americano contribui para a ruína dos pequenos e médios proprietários, fortalece assim os monopólios da Europa Ocidental procurando açambarcá-los.
Ao mesmo tempo, os grupos monopolistas americanos estabelecem e ampliam rapidamente suas filiais e companhias subsidiárias nos países da Europa Ocidental. Assim, por exemplo, Ford consagra grandes créditos para ampliar suas filiais em Poissy, na França, Anvers, na Bélgica e Amsterdam, na Holanda. Desde 1.° de outubro de 1948 a filial da Ford na Inglaterra procura passar à construção de um novo modelo de carros leves. Foi prevista uma exportação de 6.000 automóveis e caminhões leves fabricados nas usinas inglesas da Ford. A filial da Ford na Suécia, que se especializou exclusivamente na montagem de caminhões; também abrangerá automóveis leves, depois da construção de uma nova fábrica de automóveis. A filial alemã da Ford em Colônia recomeçou suas atividades, e a filial francesa que em 1947 cobria 50% de toda a produção francesa de caminhões pesados, passa agora à produção de máquinas leves, segundo informa a “Agence Economique e Financière”, de 14-4-48.
Enfim, o açambarcamento ilegal dos bens estrangeiros por conta das repartições ou como espólio de guerra tem um grande papel no desenvolvimento da expansão econômica americana na Europa Ocidental. O açambarcamento pelos monopólios americanos, sobretudo na Alemanha Ocidental e na Itália, de patentes, aperfeiçoamentos técnicos, realizações e invenções, é um exemplo disso. Assim, somente na Alemanha os ocupantes norte-americanos açambarcaram mais de 200.000 patentes alemãs avaliadas em alguns bilhões de dólares.
Tais são as formas fundamentais da expansão econômica dos Estados Unidos na Europa Ocidental, que levam esta última à escravização econômica, política e militar pelo capital monopolizador americano.
O Plano Marshall é a expressão concreta da política de escravização dos países da Europa Ocidental. De fato, o controle sobre a indústria, os recursos de matérias primas, o comércio externo, as finanças e a moeda desses países passa para as mãos dos capitalistas monopolistas dos Estados Unidos, particularmente para as mãos da administração do Plano Marshall que é dirigida pelos maiores industriais como o presidente da Cia. Studebaker, Hofman e o representante oficial dos Estados Unidos no chamado Comitê de Coordenação Econômica Européia, o ex-ministro do comércio, Harriman. Os Estados Unidos já proibiram que os países participantes do Plano Marshall exportassem as matérias “importantes” para a União Soviético e as Democracias Populares. A exigência que os montantes relativos a pagamentos de mercadorias recebidas através do Plano Marshall e depositadas no» bancos em moeda local, não sejam gastos sem autorização dos Estados Unidos, constitui uma forte pressão sobre os países da Europa Ocidental. A fim de iludir as massas, os governos de certos Estados da Europa Ocidental “elaboraram” simulacros de “programas nacionais de produção”, como o Plano Monnet na França, o Plano governamental na Inglaterra, etc.
De agora em diante, mesmo os simulacros desse gênero, não lendo de fato nada de comum com um “plano”, são necessariamente submetidos à aprovação da administração americana que tem assim à sua disposição dados econômicos geralmente reservados como segredo de Estado.
As condições avassaladoras do Plano Marshall surgiram claramente na segunda metade de junho de 1948, durante a conclusão dos acordos bilaterais entre o Governo dos Estados Unidos de um lado, e os Governos dos países da Europa Ocidental de outro. Essas condições, como reconheceu o jornal oficioso francês “Le Monde”, são incompatíveis com a concepção de soberania nacional. Os acordos bilaterais, idênticos no fundo, para todos os países participantes do Plano Marshall contêm cláusulas segundo as quais os Estados Unidos têm efetivamente o direito de determinar a circulação da moeda dos países da Europa Ocidental em relação ao dólar, e de proceder à desvalorização das mesmas, à sua vontade. Os países da Europa Ocidental são obrigados a aumentar cada vez mais suas importações de mercadorias fabricadas nos Estados Unidos, bem como as dos países ou regiões sob ocupação militar americana, como o Japão, a Alemanha Ocidental e a Coréia do Sul.
Os países participantes devem pôr à disposição das numerosas missões americanas enviadas à Europa todas as informações que estas exigirem, assegurando-lhes completa “liberdade de movimentos”. Qualquer disputa entre cidadãos americanos e os Governos dos países acima mencionados é excluída da competência dos órgãos jurídicos desses países e depende do arbitramento da Corte Internacional da Haia. Os súditos americanos terão, direitos iguais (leia-se: dominantes) aos dos cidadãos dos países participantes do Plano Marshall na utilização dos recursos de petróleo, urânio, cobre e outras “mercadorias raras”.
Os acordos bi-laterais constituem, de fato, a capa diplomática do “diktat” americano. Foram elaborados nos Estados Unidos sem a menor colaboração dos países da Europa Ocidental. Reproduzem quase inteiramente as condições estipuladas por decreto, e adotadas pelo Congresso Americano em 3 de abril de 1948. Esses tratados, de fato desiguais, são impostos aos governos da Europa Ocidental até 30 de junho de 1953. Durante todo esse período de cinco anos, os países devedores serão obrigados a observar rigorosamente as cláusulas avassaladoras que aceitaram sob ameaça da serem privados dos créditos em dólares e das mercadorias americanas.
Enquanto isso os Estados Unidos não estão presos por qualquer obrigação determinada e têm a possibilidade, a qualquer momento, de romper unilateralmente os acordos, suspendendo assim o “auxílio” aos países da Europa Ocidental caso estes últimos empreendam qualquer ação julgada inoportuna pelo governo dos Estados Unidos. O Congresso americano reservou-se o direito de rever todos os anos a questão das dotações. Assim, os Estados Unidos têm possibilidade de submeter a economia dos países da Europa Ocidental, como submeteram a economia dos países semi-coloniais de outros continentes.
Condicionando à perda de sua soberania nacional a dos créditos americanos aos países da Europa Ocidental, os Estados Unidos reduziram consideravelmente as dotações do Plano Marshall. O chamado Comitê de Coordenação Econômica Européia, criado na primeira conferência dos 16 países da Europa realizada em Paris, tendo aceito as propostas de Marshall, solicitara para esses 16 países, 29 bilhões de dólares para os primeiros 4 anos, devido à pressão americana, essa quantia foi mais tarde reduzida para 22,4 bilhões de dólares. O Governo americano propôs ao Congresso que ratificasse uma quantia ainda menor, isto é, 17 bilhões de dólares, mas esta ainda foi julgada muito alta. Em março de 1948 o Congresso rejeitou categoricamente a proposta inicial do governo de ratificar adiantadamente os créditos por alguns anos.
Assim, o imperialismo americano reservou para si, durante longos anos, um poderoso meio de pressão, no domínio dos créditos, sobre os países da Europa Ocidental. Em 3 de abril de 1948 o Congresso ratificou^ ao todo a quantia de 5,3 bilhões de dólares para o período de 1.° de abri! de 1948 a 31 de março de 1949. Em junho de 1948 essa quantia foi ainda reduzida de 25%, isto é, para 4 bilhões de dólares, dispostos por 12 a 15 meses, conforme o juízo do presidente dos Estados Unidos e dos administradores do Plano Marshall. Enfim, mesmo dessa quantia assim reduzida, 300 milhões de dólares devem ser utilizados para os investimentos privados americanos, na conversão em dólares, ao câmbio oficial, das quantias, em divisas dos países europeus, que eles retirarem de seus capitais investidos na Europa.
As dotações finais do Plano Marshall são inferiores aos empréstimos e créditos anuais anteriores dos Estados Unidos à Europa Ocidental. Além disso, o Fundo Monetário Internacional,, bem como o Banco Internacional controlados pelos americanos e transformados realmente em organismos destinados a executar o Plano Marshall, suspenderam os adiantamentos em dólares para os Estados da Europa Ocidental. Isto significa a diminuição dos recursos em dólares da Inglaterra, França e outros países da Europa Ocidental membros do Fundo.
Dessa maneira os financistas americanos tiraram à Inglaterra a possibilidade de receber 25 milhões de dólares que lhe cabiam em troca de libras esterlinas até o mês de agosto de 1948, e 325 milhões de dólares para o ano seguinte. Além do mais, os países que recebem os créditos são obrigados a aceitar igualmente empréstimos dos Estados Unidos na por porção desses créditos, à condição indispensável de reembolsar as quantias apuradas com juros. A estabilidade das entregas do Plano Marshall é determinada unilateralmente pelos americanos, o que lhes proporciona a possibilidade de ampliar sua pilhagem dos povos da Europa Ocidental com a inflação e os preços artificialmente elevados.
Outros fatores muito importantes para a desorganização futura da situação econômica da Europa residem na redução das exportações de mercadorias européias para os Estados Unidos, bem como numa diminuição relativa de suas exportações na circulação comercial geral das 16 países.
As importações dos países participantes do Plano Marshall, de acordo com os projetos americanos, ultrapassam de 3,5 vezes suas exportações, o que significa um futuro aumento do soldo negativo de sua balança comercie e de pagamentos. Desta maneira, através do Plano Marshall, os monopólios americanos tentam ampliar a dependência unilateral da economia dos países da Europa Ocidental para com os Estados Unidos.
O imperialismo americano quer enfraquecer a concorrência, em primeiro lugar da Inglaterra e também da França, nos mercados mundiais, e para isto um de seus objetivos fundamentais é a limitação das exportações dos paises da Europa Ocidental. Sob a pressão dos Estados Unidos ocorre uma diminuição no ritmo da indústria da construção naval na Inglaterra, Suécia, Noruega e Holanda, na indústria de automóveis e aviões na França e na Itália, bem como na metalurgia e na construção de máquinas em numerosos outros países, isto é, precisamente nos ramos da indústria que têm mais importância para a independência desses países Assim, porque querem utilizar 13,25 milhões de toneladas de seus barcos inativos, que chegam a cerca de 1.500, os americanos exigem de fato a interrupção ou o adiamento de 6,2 milhões de toneladas de construção naval européia, ou seja, 40% de toda a construção mercante prevista. O arrendamento dos navios americanos não custa aos países europeus menos de meio bilhão de dólares em quatro anos. O Plano Marshall prevê que 50% mais ou menos dos transportes sejam efetuados por navios americanos A fim de assegurar o completo rendimento de suas fábricas de aviação, os americanos fazem uma política de estrangulamento da produção aeronáutica dos países da Europa Ocidental, etc. Assim, a execução do Plano Marshall leva ao aumento do desemprego e ao agravamento mais acentuado da situação da classe operária nos países da Europa Ocidental.
É significativo que os monopolistas americanos, ao reduzirem as dotações do Plano Marshall, tenham sobretudo reduzido as concernentes aos pedidos dos governos europeus relativos ao fornecimento de diversos instrumentos mecânicos e ferramentas, de máquinas agrícolas e certas matérias primas; ao mesmo tempo, não diminuíram as exportação de produtos de consumo e até aumentaram as entregas de qualidade inferior: leite e ovos em pó, frutas secas, etc. A exportação do carvão americano, de má qualidade a preços elevados, ultrapassará durante algum tempo as encomendas dos importadores.
Segundo uma das últimas variantes da administração Hoffmann, apresentada ao exame da Comissão de Dotações da Câmara de Representantes do Congresso Americano, em 20 de abril de 1948, a parte das máquinas e ferramentas nas entregas totais dos Estados Unidos foi diminuída para 6%, conforme revela o “Financial Times”, de 21-4-48. Atualmente, com a redução da quantia total do Plano Marshall, mesmo essa parte miserável foi ainda diminuída. O Congresso americano já decidiu reduzir de 50% as entregas de máquinas agrícolas.
A imprensa econômica inglesa comunicou que cerca da metade das entregas americanos à Inglaterra será composta de produtos alimentares e de fumo, sendo que o equipamento industrial entra com apenas 10%. A Inglaterra particularmente quase não recebe equipamentos de mineração, o que freia o restabelecimento da indústria carbonífera inglesa que atravessa uma crise, e dá aos exportadores de carvão americano a possibilidade de escoar sua produção para o mercado europeu. A diminuição das entregas de máquinas e ferramentas agrícolas acentua a degradação da economia agrária da Europa Ocidental e conduz à sua transformação em mercado de trigo e outros produtos agrícolas americanos. A exportação maciça de produtos de consumo de qualidade inferior estrangula a indústria leve da França, da Bélgica e de outros países da Europa Ocidental.
O açambarcamento das fábricas e usinas dos países da Europa Ocidental, o esmagamento de sua indústria ou sua adaptação às necessidades dos monopólios americanos, a liquidação de sua soberania — tal é o conteúdo econômico do Plano Marshall. Este não é absolutamente um plano destinado a restabelecer a economia da Europa, como tentaram apresenta-lo os apologistas do imperialismo americano, pois que não se destina a satisfazer as necessidades urgentes da produção industrial dos países da Europa Ocidental. Sua planificação geral é incompatível com a anarquia do sistema econômico capitalista. A economia americana desenvolve-se à sombra de leis cegas, espontâneas, do capitalismo. Os Estados Unidos não têm e não pode ter um verdadeiro programa econômico seja ele qual for. A demonstração do camarada N. A. VOZNESSENSKY se aplica inteiramente ao conteúdo econômico do Plano Marshall. Diz ele:
“Quanto à “planificação” dos países capitalistas, funda-se na predominância da propriedade privada dos meios de produção; por conseguinte, não é senão um desejo que não se pode apoiar sobre qualquer força econômica real”(11).
O programa econômico do “auxílio” americano à Europa é uma burla para os povos. Paralelamente ao fato de que não assegura de maneira alguma as necessidades dos Estados europeus, as entregas americanas podem ser reduzidas, ou mesmo inteiramente canceladas, a qualquer momento. Em conseqüência, esse plano representa um “jogo de cifras” por trás do qual esconde-se a política imperialista de escravização dos países da Europa Ocidental, de esmagamento de sua indústria, de sua agricultura, e de sua adaptação às necessidades do capital americano.
O restabelecimento econômico dos países capitalistas da Europa Ocidental realiza-se muito vagarosamente. A anarquia da produção capitalista, a recusa de realizar reformas democráticas, de nacionalização das grandes indústrias, dos bancos e dos transportes, a recusa de realizar reformas agrárias radicais, a política inflacionária dos governos, a preponderância dos monopólios na economia e na política, a redução contínua do nível de vida da classe operária, a ofensiva contra seus direitos políticos, eis os principais fatores que impedem o restabelecimento econômico de após guerra dos países da Europa Ocidental. A burguesia da Inglaterra, da França e de outros países da Europa Ocidental, enveredou pelo caminho da traição nacional. Dá seu consentimento às condições avassaladoras do Plano Marshall. Aceita mesmo uma diminuição parcial de seus lucros e entrega seus países à pilhagem dos monopólios americanos, para se livrar do movimento operário e democrático crescente. A ruptura dos laços econômicos entre os países da Europa Ocidental e da Europa Oriental, efetuada sob pressão dos Estados Unidos, coloca a economia da Europa Ocidental numa situação muito difícil. Os imperialistas americanos procuram reduzir continuamente o miserável nível de vida atual dos povos da Europa. Segundo o Plano Marshall, mesmo em 1952 o consumo médio individual na Europa Ocidental será inferior, pelo menos de 10%, ao de antes da guerra. O consumo de pão será inferior de 7%, o da carne de 15%, o de gordura de 10% e o do açúcar de 8%. Em sua tentativa de retardar ou de enfraquecer a crise cíclica que se aproxima dos Estados Unidos, os monopólios capitalistas americanos procuram ligar artificialmente a economia da Europa Ocidental à dos Estados Unidos. Isto significa que as conseqüências da crise econômica cíclica dos Estados Unidos enfraquecerão ainda mais a posição já precária dos países capitalistas da Europa Ocidental.
Q Plano Marshall tem por fim dividir a Alemanha, fazer renascer rapidamente uma Alemanha ocidental como base de indústria de guerra, transformá-la em Estado separado, sob protetorado americano. O restabelecimento da indústria pesada do Ruhr como potencial industrial de guerra da Alemanha é o elo fundamental do Plano Marshall. Eis porque os Estados Unidos preservaram e fortaleceram os monopólios alemães e restabeleceram as empresas de guerra na Alemanha Ocidental. Enquanto os créditos concedidos pelos americanos para o corrente ano eram desde o início reduzidos; para a Itália de 930 a 704 milhões, etc., os créditos para as três zonas de ocupação ocidental da Alemanha foram elevados a cerca de um bilhão de dólares, quer dizer, representavam pouco menos de uma quarta parte da todos os créditos do Plano Marshall. Uma grande parte dos instrumentos mecânicos e das ferramentas exportados pelos Estados Unidos, inclusive o equipamento de mineração para o Ruhr, destina-se à Alemanha Ocidental. Os vagões de mercadorias americanas, em número de 20.000 unidades, destinam-se quase que exclusivamente à Alemanha Ocidental.
O capital americano esforça-se para que o restabelecimento econômico do Estado alemão ocidental criado pelos imperialistas anglo-americanos seja mais rápido do que o restabelecimento da França, por exemplo. Na Alemanha Ocidental, prevê-se que a indústria pesada ultrapassa em 1951 o nível de antes da guerra, enquanto a produção da indústria leve e da agricultura será mantida abaixo do nível de antes da guerra. As importações na Trizona em 1948 a 1949 serão de cerca de 2 bilhões dei dólares, sendo que metade desta quantia deverá destinar-se à importação de mercadorias industriais. Da mesma maneira, os capitais americanos são enviados depois do fim da guerra, em grandes quantidades, para a Alemanha Ocidental, quando a questão das reparações, das indenizações, das perdas infligidas pelos agressores fascistas alemães aos países que mais sofreram, ainda não foi resolvida. A Alemanha Ocidental tornou-se um domínio cômodo para as ações sem controle dos monopólios americanos que, como diz a nota soviética de 6 de março de 1948 enviada à Conferência de Londres sobre a questão alemã e publicada no “Pravda” de 9-3-48:
“infiltram-se em todos os ramos da vida econômica, amarrando os a eles, a seus objetivos expansionistas”.
O povo alemão deseja a unificação econômica e política da Alemanha, a criação de um Estado pacífico e democrático em lugar de uma Alemanha agressiva e fascista. Apesar das tendências democráticas do povo alemão, os monopólios americanos edificam na Alemanha suas bases industriais de guerra, transformam-na em praça de armas estratégica militar para uma futura agressão na Europa, fazem da Alemanha a base do bloco militar dos Estados da Europa Ocidental dirigida contra a URSS e os países de democracia popular.
O camarada Stálin indicou em 1925 que o acordo entre os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, que ele chamou de “dawesização” da Alemanha, não pode ser estável de maneira alguma porque:
“1.° — foi concluído sem a participação do principal interessado, isto é, sem o povo alemão;
2.° — porque esse acordo significa um duplo jugo para o povo alemão, o jugo da burguesia alemã e o jugo da burguesia estrangeira”(12).
As decisões tomadas na Conferência de Londres pelos Estados Unidos, Inglaterra, França e os países de Benelux [BElgië, NEderland e LUXembourg] em relação à Alemanha confirmaram sua divisão e seu parcelamento político e econômico; é a base da política americana na Europa, o conteúdo principal do Plano Marshall e da “União Ocidental”. Elaboradas por trás das costas do povo alemão, dirigidas contra a paz e a segurança da Europa, essas decisões não podem ter nenhum valor legal, nenhuma autoridade moral, como foi acentuado pela declaração dos ministros dos Negócios Estrangeiros da URSS e dos Países de Democracia Popular na Conferência de Varsóvia.
Sob a capa do Plano Marshall os círculos dirigentes dos Estados Unidos fazem uma política de divisão da Europa e de criação de diversos blocos político-militares. Os objetivos políticos e militares, a disponibilidade dos créditos americanos com o fim de transformar a Europa Ocidental em praça de armas para a preparação da agressão contra as forças democráticas mundiais têm lugar primordial no Plano Marshall. Como compensação pelo “auxílio” financeiro, os imperialistas americanos exigem que sejam postas à sua disposição bases estratégicas militares ia Europa e nas colônias que dela dependem; exigem o acesso sem entraves a matérias primas estratégicas e a subordinação dos exércitos dos países da Europa Ocidental ao Estado Maior Gera! das forças armadas dos Estados Unidos; exigem igualmente o direito de inspecionar os dispositivos estratégicos militares estabelecidos nesses países, particularmente os que forem estabelecidos com o auxílio de fundos em moeda local, constituídos pela venda das mercadorias cedidas pelo Plano Marshall. Sob o pretexto do controle da execução do Plano Marshall fazem todo o possível para reunir os materiais necessários aos planos estratégicos militares os Estados Unidos e para obtenção, no interesse dos monopólios americanos, de informações econômicas.
O Plano Marshall não tem como fim assegurar relações econômicas de cooperação e amizade entre os países europeus. Provoca a discórdia e a inimizade entre os países europeus, e por conseguinte, opõe-se aos interesses fundamentais e vitais dos povos da Europa e do mundo.
A União Soviética e os países de democracia popular, que são os fundamentos do campo democrático e anti-imperialista, estão à fronte da luta dos povos contra as tentativas de dominação mundial do capitalismo monopolizador americano. A União Soviética verdadeiro baluarte da paz e da amizade entre os povos é o arrimo dos povos da Europa na defesa de sua soberania nacional e da igualdade de direitos, contra a agressão do imperialismo americano. É à diplomacia soviética que cabe o mérito decisivo de desmascarar os objetivos obscuros da Doutrina Truman e do Plano Marshall diante dos povos da Europa e de todo o mundo.
O governo soviético e os governos dos países de democracia popular não fazem nenhuma objeção à utilização de créditos estrangeiros, nem em particular dos créditos americanos, para o restabelecimento da economia de outros países. Mas ao mesmo tempo, o governo soviético é a favor de uma cooperação econômica internacional baseada sobre o respeito da igualdade de direitos e da soberania nacional, sem discriminação e sem interferência nos negócios internos de outros países.
A União Soviética e os países de democracia popular partem do ponto de vista de que os relações políticas e econômicas entre Estados devem edificar-se exclusivamente sobre os princípios de igualdade e de respeito recíproco de seus direitos soberanos, que os créditos não devem ter um caráter opressor, não devem levar à escravização econômica e política dos países que os recebem, como é o caso do Plano Marshall. Eis porque, como disse o camarada Zhdanov:
“No que concerne a URSS esta empregará todas as suas forças a fim de que este plano não seja realizado”(13).
Tendo reconhecido o conteúdo imperialista da expansão americana, os povos dos países da Europa Ocidental lutam cada vez mais decididamente contra as aspirações dos Estados Unidos que tendem a escravizar econômica e politicamente a Europa. É o proletariado da Europa Ocidental que está nas primeiras filas da luta conseqüente contra essas aspirações; para ele a expansão do capital americano significa um duplo jugo, o dos Estados Unidos e o da grande burguesia nacional. Essa luta é dirigida pelos Partidos Comunistas que se tornaram vanguardas fortalecidas por milhões de operários, que possuem a confiança e uma influência crescentes sobre os camponeses e outras camadas trabalhadoras dos países da Europa Ocidental.
Os Partidos Comunistas movem uma luta incansável e decisiva pela independência de seus países, contra a política de açambarcamento dos monopólios americanos, pelos direitos democráticos, econômicos e políticos dos trabalhadores, contra a reação e o jugo imperialista. As massas populares estão cada vez mais convencidas de que os comunistas são patriotas autênticos, verdadeiros defensores de seus interesses. Rejeitando o Plano Marshall e desmascarando perante os povos seu conteúdo imperialista, os comunistas dos países da Europa Ocidental tinham um programa construtivo para o restabelecimento econômico de após guerra, à base de reformas democráticas fundamentais no domínio político e econômico.
A política americana de avassalamento da Europa estará destinada ao fracasso, se os Partidos Comunistas, como o indica a declaração da Conferência de Informação dos Nova Partidos Comunistas, se mantiverem firmemente no caminho escolhido, se souberem reunir à sua volta e dirigir todas as forças patrióticas e democráticas de seus povos e se se opuserem a expansão dos Estados Unidos em todos os domínios, de Estado político, econômico e ideológico. Existem na Europa forças suficientes que, unidas, cheias de vontade, decididas, prontas à resistência, poderão fazer fracassar a escravização do Plano Marshall.
Uma das condições decisivas para vencerem é a unidade da classe operária, principal força dos países da Europa Ocidental, única capaz de se opor verdadeiramente à expansão americana. É por isto que o capital monopolizador dos Estados Unidos faz todo o possível para dividir a classe operária e assim quebrar a força de sua oposição.
O imperialismo americano age através de seus agentes no movimento operário: os líderes reacionários da AFL e os socialistas de direita na Europa, os social-traidores, sob a palavra de ordem enganosa de “terceira força” traíram completamente os interesses da classe operária e, a fim de preservar o capitalismo na Europa, vendem seus países aos monopólios americanos. Agindo em frente única com outros “partidos americanos” na Europa — católicos, conservadores e mesmo gaulistas neofacistas — tornaram-se os lacaios do imperialismo americano, aqueles que gabam e defendem a expansão americana. Fazendo a vontade de seus patrões de Washington e New York, tornaram-se os condutores do Plano Marshall.
Embora o Plano Marshall preveja o rebaixamento definitivo da Inglaterra e da França para a categoria de potências secundárias, e engendre a escravização total da Europa Ocidental aos interesses do capital americano, os governos da Europa Ocidental e, em primeiro lugar, os da Inglaterra e da França, apóiam-no inteiramente. Isto, entretanto, não significa absolutamente que as contradições entre o capitalismo americano e europeu (Estados Unidos e Inglaterra, Estados Unidos-França, etc.), tenham sido abolidas ou estejam a caminho de o serem. Essas contradições existem, elas são importantes, englobam grandes e complexos problemas e com o tempo se acentuarão cada vez mais, enfraquecendo ainda mais o campo imperialista. Essas contradições foram reveladas em parte na ocasião da conclusão dos acordos bi-laterais, bem como na conferência dos países do Plano Marshall em Paris, em fins de julho, conferência em que os representantes americanos foram obrigados, segundo informações da imprensa, a empregar todos os meios de chantagem e de intimidação a fim de obter que os parceiros europeus dos Estados Unidos se submetessem ao “diktat” de Washington.
O reerguimento irresistível da economia socialista da URSS, os sucessos na realização do plano qüinqüenal de após guerra, bem como as realizações econômicas das democracias populares convencem cada vez mais as massas trabalhadores de todo o mundo que o único caminho que leva ao socialismo e à democracia consiste em se libertar da escravização capitalista e da miséria.
Não há dúvida que a luta contra o Plano Marshall, a expansão imperialista americana e as forças reacionárias, levará à vitórias completa das forças ascendentes e crescentes da democracia e do socialismo, na Europa Ocidental e em todo o mundo.
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Notas:
(1) V. Molotov — “O 30.° Aniversário da Revolução de Outubro” — Problemas, n. 7, pág. 55 — Rio.
(2) J. Stalin. — “Questões do Leninistno” — 9.a edição russa, pág. 429 — Moscou. (
(3) V. Molotov — “O 30.° Aniversário da Revolução de Outubro” — Problemas, n. 7 — pág. 64 — Rio.
(4) Andrei Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — Problemas, n. 6 — Pág. 33 — Rio.
(5) Statistical Abstract of the U.S.A. — 1846 — Pás. 912 — Washington.
(6) Cleon Lewis — “America Stake In International Investments” — Pág. 606 — Washington — 1938.
(7) Andrei Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — Problemas, n. 5 — Pág. 26 — Rio.
(8) Andrei Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — Problemas, n. 5 — Pág. 38 — Rio.
(9) V. I. Lênin — “O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo” — Pág. 88 — Editorial Vitória — Rio.
(10) Cleon Lewis — “America Stake in InternaWonal Investments” — Págs, 578 a 606 — Washinston.
(11) N. A. Voznessenaki — “A Economia de Guerra da URSS” — Pág. 136 — Moscou — Edição russa.
(12) J. Stálin — “Obres completais” — Edição russa — Livre VII, pág. 98 — Moscou.
(13) Andrei Zhdanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — Problemas, n. 5, pág. 39 — Rio.