I. Traços Biográficos

EUGENE VICTOR DEBS nasceu a 5 de novembro de 1855, em Terre Haute, no Estado de Indiana, originalmente uma colônia francesa situada à margem esquerda do Wabash. Em sua infância ele ouviu o troar da Guerra Civil e sua juventude passou-se em meio da expansão industrial que se seguiu à guerra. Por aquela época, Terre Haute ainda guardava muitos dos aspectos do Oeste pioneiro, mas era já um centro ferroviário e crescia sua importância na indústria da carne. Os pais de Debs eram imigrantes alsacianos, que o familiarizaram com duas línguas européias. Seu pai cultivou-lhe particularmente o gosto pela literatura.

A família Debs era grande e quando Eugene fez seus 14 anos, entrou para uma oficina ferroviária de consertos. Dois anos mais tarde, ele conquistou um lugar de foguista num trem de carga a entrou para a Irmandade dos Foguistas e Maquinistas, uma das organizações operários que estavam desenvolvendo-se nesse período de expansão. Ele demonstrou aí interesse e capacidade, de forma que dentro de poucos anos chegava a secretário da Irmandade e diretor de seu jornal oficial. Verificou-se simultaneamente a formação de sindicatos de âmbito nacional. Debs contribuiu bastante, com sua energia, para promover a organização dos operários das estradas de ferro.

                                                                       Anos de Luta e Organização

ENTRETANTO, mesmo neste período de expansão sem precedentes a inevitável crise econômica cíclica estourou em 1873. Essa crise, que durou vários anos, foi talvez o mais grave pânico na história do país. Mais de três milhões de operários — que constituíam então uma grande proporção da população — foram lançados ao desemprego. Famílias inteiras morriam de fome diariamente. O movimento de sindicalização da década de 60 encontrou pela frente uma terrível ofensiva dos patrões. A luta durou até o fim da década. Na greve ferroviária de 1877, pela primeira vez foram utilizadas tropas federais contra o movimento operário, e os tribunais exprimiram sua concepção de sindicato como sendo uma “solerte conspiração”. Em 1875 a luta nos campos de antracita da Pennsylvânia chegou ao auge, com a execução de dez ou mais líderes como “Molly Maguires”. A 13 de janeiro de 1874, a polícia fez fogo sobre uma demonstração de desempregados na Praça Tompkins, em Nova Iorque, transformando-a numa luta sangrenta. Foi o maior aglomeração de massa do país, desde os distúrbios da Guerra Civil.

Muitos dos sindicatos nacionais foram destruídos. Entretanto os trabalhadores emergiram desse período com a solidariedade aumentada e com a sua consciência de classe fortalecida. O movimento pela jornada de oito horas e as lutas em seu apoio, em meados da década de oitenta, que são responsáveis pela origem do 1.° de Maio como dia internacional do trabalhador, mostraram a revivescência da organização e a vontade de luta dos trabalhadores. Em 1893 Debs foi a alavanca que impulsionou a formação da União dos Ferroviários Americanos, como sindicato industrial dos trabalhadores de todas as especialidades empregados em estradas de ferro. Ele deixou a estreita organização dos foguistas e maquinistas para tornar-se o líder da nova organização. No ano de sua formação, a União dos Ferroviários Americanos envolveu-se numa luta bem sucedida contra a “Great Northern Railroad” e participou de uma greve de solidariedade em defesa dos trabalhadores da Pullman, que haviam entrado em parede contra o corte nos salários e as intoleráveis condições da “cidade modelo” de Pullman, em Illinois, de propriedade da companhia. A luta foi árdua. Tropas federais foram enviadas pelo presidente Cleveland para ajudar a dominar a greve que estava paralisando as estradas de ferro. Os grevistas perderam e Debs foi recolhido à prisão por seis meses, acusado de conspiração e desrespeito ao tribunal, de ter continuado a luta a despeito de uma sentença judicial proferida contra ele e outros líderes.

A lei anti-truste Sherman, de 1890, que foi a última cartada da pequena-burguesia contra o capital monopolista, tornou-se um fator de luta de classe, ao lado das próprias ricas corporações supostamente visadas.

Foi durante seu encarceramento na prisão de Woodstock, em Illinois, que Debs começou a vislumbrar as conseqüências políticas das lutas e derrotas da União dos Ferroviários Americanos com a Pullman. Ele não era novato na política. Em 1878, o ano em que ele se tornou diretor do “Finemen’s Journal”, tinha recebido a oferta de ser indicado para uma cadeira no Congresso, na chapa do Partido Democrático de Terre Haute: na ordem então prevalecente das forças políticas essa indicação equivalia a eleição. Debs não aceitou a indicação, por estar absorvido na organização do sindicato. Em 1885 foi eleito pelo Partido Democrático para o Legislativo do Estado de Indiana, mas só atuou durante a primeira parte da legislatura.


                                                      Debs Torna-se Socialista

EM 1895, quando saiu da prisão de Woodstock, Debs estava abalado mas não completamente desligado de suas amarras com o partido capitalista. No ano seguinte ele apoiou William Jennings Bryan que, como candidato presidencial do Partido Democrático, reuniu em torno de si os elementos pequeno-burgueses reformistas, inclusive os populistas. Mas as lições aprendidas com a greve da União dos Ferroviários Americanos estavam cristalizando-se na mente de Debs; e em 1897 ele dirigiu aos membros da União uma carta política em que declarava que “a questão é Socialismo versus Capitalismo”. Ele próprio deixou claro ter sido levado ao socialismo através da greve da Pullman e da prisão, quando afirmou diante do tribunal, durante seu julgamento por ter dirigido aquela greve:

“Eu me batizei no Socialismo ao bramir do conflito”.
Em 1897, juntamente com seus companheiros da União dos Ferroviários Americanos, cujos membros tinham diminuído de número grandemente após a greve da Pullman, e com os representantes dos grupos socialistas do Meio Oeste, Debs organizou a Social Democracia dos Estados Unidos, que empreendeu como sua principal tarefa a organização das colônias socialistas — um programa utópico que já tinha fracassado no país, cerca de 50 anos antes, quando os Estados Unidos era um local de reunião dos aderentes dos programas de Owen e Fourier. Um ano depois, em 1898, juntamente com Victor Berger, Debs organizou uma cisão na convenção da Social Democracia e formou o Partido Social Democrático dos Estados Unidos. Este partido devia ser construído segundo o padrão dos partidos políticos socialistas europeus. Em 1900 o Partido Social Democrático fundiu-se com uma facção que se havia separado do Partido Socialista Trabalhista, formando o Partido Socialista.

Debs foi o primeiro candidato presidencial dos grupos unidos: como tal ele foi sufragado com cerca de 100.000 votos. Candidatou-se novamente em 1904, 1908 e 1912, obtendo primeiro 402.000 votos, depois 420.000 e finalmente 897.000 votos. Em 1916 declinou de sua candidatura. Nesse ano, com Allen Benson, um jornalista como candidato presidencial, o Partido Socialista viu decrescer sua votação para 585.000. Em 1918 Debs proferiu seu famoso discurso de Canton contra a guerra, pelo qual foi julgado e condenado. Em 1920, achando-se na prisão, Debs foi novamente candidato e recebeu 920.000 votos.

Além de participar das eleições nacionais como porta-bandeira do partido, Debs viajou bastante através do país em campanha de agitação para o partido e de subscrição para várias publicações às quais ele estava ligado, tais como o “Appeal to Reason”, o “Rip Saw” e outras. Debs contribuiu também para a “International Socialist Review”, um órgão da ala esquerda do Partido Socialista. A presença de Debs era sempre reclamada como orador em várias demonstrações políticas, greves, lutas pela liberdade de expressão, casos de defesa e outras lutas semelhantes.

Os escritos e discursos de Debs são raros. Além de uma coleção de discursos e escritos sentimentais dos seus primeiros tempos, no estilo de um Boswell, há uma coleção de seus discursos do tempo de guerra publicados pelo Comitê Nacional do Partido Socialista, nos quais sua atitude perante a guerra está apagada de seus discursos proferidos no tribunal durante seu julgamento em Cleveland. A escusa dada pelo Partido Socialista para a eliminação desses trechos foi que a Suprema Corte estava revendo o caso. Contudo foi publicada uma edição contendo material datado de 1925 e não são apenas as referências à sua posição diante da guerra que estão apagadas. Também suas observações concernentes aos bolcheviques e à Revolução Russa foram expurgadas. Uma recente biografia de Debs escrita por um jornalista do Partido Socialista, ressente-se da mesma falta do Partido, de omitir a referência às declarações revolucionários de Debs sobre importantes questões políticas.

Nas páginas seguintes, o escritor tenta fazer uma apreciaç5o crítica do lugar de Debs no movimento revolucionário americano. É baseada na observação pessoal de suas atividades durante um período de vinte anos.

A atitude de Debs para com os sindicatos e o Partido Socialista, assim como sua posição sobre a guerra mundial e a Revolução Russa, são as únicas questões que podem ser considerados no espaço aqui disponível. Acreditamos, contudo, que o verdadeiro caráter de Debs espelha-se em seus escritos citados nestas páginas.

                                                                  II. Debs e os Sindicatos

DEBS ERA um sindicalista revolucionário. Sua, experiência no movimento operários ensinou-lhe que só um sindicato baseado num programa militante de classe pode enfrentar a ofensiva dos empregadores e servir adequadamente aos trabalhadores em suas lutas diárias. Sua concepção revolucionária do papel dos sindicatos, como também sua experiência com associações profissionais, levou-o a adotar a idéia do sindicalismo industrial revolucionário. Estas duas forças determinantes levaram-no a apoiar a formação da entidade Operários Industriais do Mundo, em 1905.

Como socialista, Debs não acreditava na neutralidade política advogada pelo Partido Socialista diante da guerra mundial. De acordo com esta política, a Federação Americana do Trabalho e os sindicatos que a compõem deviam lutar apenas pelas reivindicações econômicas diárias dos trabalhadores, enquanto o Partido Socialista se ocuparia das fases políticas do movimento operário. Isto significo, sem dúvida, entregar os sindicatos ao controle dos dirigentes reacionários. Diferente do “puro e simples” sindicalista, Debs sabia que não era possível fazer-se absoluta separação entre as fases política e econômica do movimento operário. Em 1912, quando o Partido Socialista estava no auge de sua força e influência, ele, escreveu:

“O Partido Socialista não pode ser neutro na questão sindical. É compelido a declarar-se pela lógica da evolução e, como um partido revolucionário, não pode comprometer-se com os princípios do sindicalismo reacionário'”.
Debs defendeu o ingresso dos socialistas nos sindicatos, segundo a política de “furar por dentro”. Na realidade, esta tática foi enunciada logo no início da formação do Partido Socialista, contraposta à política de desertar dos sindicatos e entregá-los aos líderes reacionários. Debs nunca deixou de salientar a necessidade da organização dos trabalhadores — política que hoje só é seguida pelos comunistas e os sindicatos revolucionários sob a direção da Liga de Unidade Sindical. Também não recuou Debs da idéia de organizar os trabalhadores em novos sindicatos, ante o fracasso do movimento operário oficial em dar atenção às hostes de trabalhadores deixados fora das organizações de classe. Escreveu ele em 1912:

“Eu estimularia a organização independente dos trabalhadores industriais, especialmente entre os milhões que não forem absolutamente organizados, e estimularia também a política de “furar por dentro” para todos que possam ser efetuados pelos sindicalistas industriais nas associações profissionais”.
Mesmo antes disso, em 1910, numa carta ao militante sindicalista inglês Tom Mann, escreveu ele:

“Precisamos furar por dentro e por fora”.

                                         Debs e a Federação Americana do Trabalho

DEBS DETESTAVA a colaboração de classe com todo o seu coração e freqüentemente usava suas invectivas contra Samuel Gompers, que por vinte anos esteve à frente da Federação Americana do Trabalho, e que, mais do que qualquer outro, personificava essa política. As ligações de Gompers com a Federação Cívica sempre foram alvo de acerba crítica de Debs.

“Com razão Gompers foi glorificado por Wall Street, da mesma forma como Bill Haywood é desprezado por Wall Street”.
Assim comparou ele as duas figuras proeminentes que representavam os pólos opostos no movimento operário.

Embora muitos socialistas de destaque tenham sido ativos na direção de vários sindicatos, a Federação Americana do Trabalho era sempre considerada por Debs como o baluarte da reação, e sua filiação à Federação Cívica era para Debs uma indicação suficiente de sua desesperada política colaboracionista de classe. Gompers foi por muitos anos vice-presidente da Federação Cívica, valioso posto em que foi substituído, após sua morte, por Mathew Woll.

Debs sabia bem que quando uma organização operária colabora com uma organização de empregadores, esta última é que exercerá a influência, receberá o benefício de tal colaboração e desmoralizará e anulará completamente os verdadeiros fins pelos quais foi o sindicato organizado.

Embora reconhecendo inteiramente o caráter reacionário da Federação Americana do Trabalho e nunca deixando de atacar seus líderes por sua política colaboracionista de classe e sua traição aberta aos trabalhadores, em numerosas lutas, Debs não conseguiu organicamente desafiar a direção de Gompers e convocar seu partido para consolidar o grande número de operários organizados, que seguiram o partido, numa oposição organizada dentro da Federação Americana do Trabalho na plataforma da luta de classe contra a colaboração de classe. Escreveu ele em 1911:

“A Federação Americana do Trabalho, como organização, com sua Federação Cívica para determinar sua atitude e controlar seu curso, é mortalmente hostil ao Partido Socialista e a todo e qualquer movimento revolucionário da classe operária. Curvar-se a essa organização e dar as mãos a seus líderes para obter favor político só pede resultar em comprometer nossos princípios e trazer desastre ao partido”.
Como ressoam profèticamente em nossos dias essas palavras, quando observamos o apoio que os líderes do Partido Socialista agora dão aos Greens, Wolls, Schlesingers e Hillmans em sua luta contra os membros dos sindicatos. O Partido Socialista realmente trouxe o desastre para si, com sua política de fazer causa comum com os líderes reacionários da Federação Americana do Trabalho com outros inimigos do operariado.

A política de Gompers, baseada no lema de “Nada de política nos sindicatos”, sempre divertiu a Debs, que sabia que o próprio Gompers era um político do Partido Democrático e que seus lugares-tenentes trabalhavam ou pelo Partido Republicano ou pelo Partido Democrático em troca de favores ou empregos. A política da Federação Americana do Trabalho de enviar petições ao Congresso ou então de depender de órgãos do governo, era repulsiva para Debs.

“Será que eles não podem ver que temos um Congresso da classe capitalista e Legislativos da classe capitalista e que é o cúmulo do disparate e a mais profunda humilhação para uma comissão da classe operária pedir aos representantes da classe capitalista que legislem no interesse da classe operária?”
Esta linguagem viril de consciência de classe não é a linguagem dos lideres do Partido Socialista. Não pode haver dúvida de que Debs inquinaria de traiçoeiro o recente apelo do Partido Socialista ao governador de Nova York para uma investigação sobre fatos imorais nas nomeações judiciais. “Se a suspeita (compra de nomeações judiciais) é injusta”, diz o apelo do Partido Socialista, “deve ser afastada no interesse do bom governo e da confiança nos tribunais”. O “bom governo” com que se preocupa o Partido Socialista é o mesmo governo do Estado capitalista que envia tropas para esmagar as greves, e os “tribunais” a que se referem os socialistas são aqueles que proferem ferozes sentenças e prendem trabalhadores em luta, esmagam sua resistência, a fim de auxiliar os patrões.

Que a defesa do sistema capitalista e do governo capitalista é a principal preocupação do Partido Socialista no presente momento, pode-se verificar por um outro apelo oficial ao governador da cidade de Nova York, dirigidos pelo candidato socialista ao governo, nas eleições de 1930. Esse candidato, recomendando a convocação de uma sessão especial do Legislativo de Nova York para considerar a questão do seguro contra desemprego, lançou seu apelo no típico estilo do Partido Socialista:

“A importância de tal recomendação repousa no fato de que encorajaria e convenceria os trabalhadores de nosso Estado, nesta hora critica, de que o governo não negligencia seu dever e que os graves erros sociais podem ser remediados através de meios democráticos” (leia-se: capitalistas).
Isto nada mais é, sem dúvida, do que uma tentativa de semear ilusões entre os operários, de forma que eles possam acreditar que podem obter do governo do Estado capitalista de Nova York assistência real ante a assolação da presente crise econômica e o conseqüente desemprego.

                                   Debs Luta Pelo Sindicalismo Revolucionário

DESDE QUE começou a aceitar o socialismo como sua filosofia, Debs compreendeu que o único sindicato operário real é o sindicato de classe.

Ele nunca esqueceu essa lição. O velho sindicato — conforme se referia ao sindicato que Gompers ajudou a desenvolver através da colaboração de classe e que foi fundado na política de um “bom dia de trabalho para um bom salário diário” — ele considerava como inteiramente oposto aos interesses dos trabalhadores. Debs sustentava que esse sindicato é

“organizado na base da identidade de interesses entre os capitalistas e os trabalhadores assalariados, e gasta seu tempo e consagra suas energias a harmonizar essas duas classes; é uma tarefa desesperada. Quando este interesse pode ser harmonizado, mesmo temporariamente, é sempre no interesse da classe capitalista e às custas da classe operária”.
Debs tornou-se um sindicalista industrial(1) convicto, como resultado de sua experiência com os sindicatos nas ferrovias. Eis por que ele ajudou a formar a União dos Ferroviários Americanos sindicato dos trabalhadores em estradas de ferro. Ele testemunhou as disputas jurisdicionais que estavam minando internamente a vitalidade das associações profissionais, e viu que a capacidade dos patrões para derrotar os operários era aumentada pelas divisões profissionais. O caráter reacionário da associação profissional, de acordo com Debs, reside também no fato de que sua persistência era atávica, visto que não mantinha contacto com o desenvolvimento da indústria.

Debs compreendeu a natureza da luta de classe. Ele viu a disposição das forças de classe em cada luta travada pelos operários. Isto pode ser observado em todos os seus escritos. Ele também conhecia a força e o papel do Estado nos conflitos de classe. Ele próprio experimentou-o muitas vezes durante as lutas em que se empenhou. Ele viu a greve da União dos Ferroviários Americanos esmagada pela força militar do governo capitalista e quando, mais tarde, a descreveu, afirmou que

“no brilho de cada baioneta e no resplendor de cada fuzil revela-se a luta de classe”.
Os sindicatos que permaneceram completamente sem compromissos no plano da luta de classe e que foram construídos na base do sindicalismo industrial revolucionário, pelo qual se bateu Debs, acham-se hoje sob a liderança da Liga de Unidade Sindical. A Liga com seus sindicatos filiados e grupos revolucionários em vários ramos são as únicas organizações no campo sindical que estão travando uma batalha intrépida contra a ofensiva patronal, organizando os trabalhadores, desmascarando a traição da burocracia sindical reacionária e reunindo os operários em novas associações de combate para lutar contra a exploração e a dominação da classe capitalista.

                                                 III. Debs e o Partido Socialista

EM MUITAS ocasiões Debs esteve em conflito aberto com a direção do Partido Socialista. Embora considerado como tal, Debs realmente nunca foi o líder político do partido. Ele representou talvez a maior peculiaridade no movimento socialista americano. Considerado dentro do partido como a personificação do espírito combativo do socialismo e considerado pelo mundo exterior como importante personalidade no movimento socialista americano, Debs jamais teve assento no comitê executivo do partido, exceto durante os dois ou três últimos anos de sua vida, jamais foi enviado como delegado a uma convenção nacional ou a um congresso internacional, jamais participou nos conselhos do partido para formular a linha política ou elaborar a tática. A direção do Partido Socialista cautelosamente evitou de trazer Debs para os seus órgãos superiores. Ele foi conservado em atividades onde sua eloqüência era capitalizada, ou permitiam que escrevesse principalmente nos raros e particulares jornais de propriedade socialista, antes que nos órgãos oficiais do Partido.

O Partido Socialista temia a atitude revolucionária de Debs sobre as abrasadoras questões que agitavam os efetivos do partido. Ele conhecia sua posição de não compromisso sobre muitas questões e preferiam não ter qualquer disputa com Debs. Este manifestava-se de vez em quando, mas sendo organicamente removido de junto das bases não podia exercer sobra eles a influência que de outro modo teria exercido.

Debs jamais deveria ter permitido ser colocado em tal posição pelos dirigentes do Partido Socialista. Seu lugar era entre os membros proletários, preservando o partido contra os líderes reformistas e guiando os efetivos dentro de seu próprio espírito de militância. Ele devia ter sido o líder político do partido, invés de deixar que a liderança caísse nas mãos dos advogados e pregadores.

                                                Debs Adverte Contra os Reformistas

DURANTE os anos de 1910 a 1912 o Partido Socialista viu crescerem seus efetivos, atingindo o mais elevado número em sua história — mais de 120.000. Debs viu a entrada no partido de elementos que buscavam não um partido socialista revolucionário, mas um terceiro partido burguês. Enquanto em outros países havia partidos liberais nos quais os elementos pequeno-burgueses, desiludidos com os partidos conservadores, queriam ingressar, os Estados Unidos tinham dois partidos igualmente reacionários, dos quais esses elementos procuravam escapar. O Partido Socialista era o único abrigo político para todos aqueles que preconizavam reformas a que se opunham os dois partidos principais. Advogados do sufrágio feminino, da eleição direta de senadores, da abolição do trabalho das crianças, de uma legislação protetora do trabalho, da propriedade municipal e de reformas agrárias, ingressaram no Partido Socialista porque através dele esperavam promover essas reformas, sem preocupar-se com os objetivos finais que estavam inscritos no programa do partido. Desta maneira os setores proletários e revolucionários do partido eram infestados por elementos estranhos.

Com seu instinto revolucionário, Debs sentiu o perigo para o Partido Socialista com a admissão de tais elementos. Isso foi nos anos das campanhas pelo restabelecimento da confiança pública, do desmascaramento da corrupção e da oferta de toda espécie de panacéias contra os abusos da riqueza acumulada. A pequena burguesia estava começando a sentir a solidificação do capital americano e pensava em reformas que a ajudassem a sair da dificuldade. Esses elementos estavam abrindo caminho dentro do Partido Socialista, e os mais conhecidos entre eles, particularmente os escritores e jornalistas, foram imediatamente aclamados como líderes. Charles Edward Russell, Allen Benson e seus semelhantes tornaram-se logo os porta-vozes do partido. Estes foram os precursores dos Heywood Brouns de hoje. Eles foram eleitos para os comitês executivos e designados como porta-bandeiras nas eleições.

Escrevendo em 1911 sob o título “Perigo à Vista”, Debs advertiu o partido contra a degenerescência que fatalmente ocorreria como resultado da mistura de elementos inteiramente estranhos a seu programa e a seus objetivos. Escreveu Debs:

“Ele (o Partido Socialista) pode ficar infestado e corrompido com o espírito da reforma burguesa a um ponto em que praticamente destruirá sua virilidade, e o caráter revolucionário do Partido Socialista são de primordial importância. Todos os votos que o povo nos der serão inúteis se deixarmos de ser um partido revolucionário”.
Lincoln Steffens, o eminente jornalista, certa vez entrevistou Debs durante sua campanha presidencial de 1908 na presença de Victor Berger, um dos verdadeiros donos do Partido Socialista. Ele foi fazendo muitas perguntas e seu entrevistado ia respondendo com evidente desagrado de Berger, que proclamava ter sido o pai ideológico de Debs. Steffens queria saber como Debs se propunha a tratar com os trustes. “Você os indenizará ou simplesmente se apossará deles?”, perguntou Steffens, veio rápida e segura a resposta do revolucionário Debs: “Apossar-me-ei deles”. “Não, você não o fará”, gritou o reformista Berger, “não enquanto eu estiver aqui, e eu respondo que estamos dispostos a indenizá-los”. Debs confiscaria os trustes capitalistas, ele combateria para abrir caminho para o socialismo. Que diferença entre as duas atitudes: Uma é do combatente militante, a outra de um reformista pequeno-burguês.

Para muitos no Partido Socialista a essência do socialismo era a propriedade dos serviços públicos. Hoje é uma das reformas centrais advogadas pelo Partido Socialista. A esses advogados, Debs dirigia-se em sua maneira característica:

“A propriedade governamental dos serviços públicos nada significa (leia-se: não traz benefícios) para o operariado sob a propriedade capitalista do governo”.
Debs sabia como se esmagavam os greves nas indústrias de propriedade do governo, com a utilização das forças militares e a proibição da sindicalização nessas indústrias.

                                                  Debs Luta Pela Livre Imigração

DEBS TERÇOU armas com os líderes do Partido Socialista, quando eles advogavam a política da Federação Americana do Trabalho de excluir imigrantes. Em carta a um delegado à convenção de 1910, que adotou uma resolução relativa à imigração, escreveu ele:

“Eu li exatamente a maioria da relação do comitê de imigração. É literalmente anti-socialista, reacionária e em verdade ultrajante, e espero que você se oponha ao Comitê com toda a sua forca. A idéia de que certas raças devem ser excluídas por causa de expediente tático seria inteiramente coerente numa convenção burguesa de pesquisadores, mas não deve ter lugar numa reunião proletária sob os auspícios de um movimento internacional que está convocando os trabalhadores oprimidos e explorados de todo o mundo para se unir por sua emancipação”.
Para Debs tal posição, favorável à exclusão de operários de outros países, significava anular o princípio da solidariedade internacional e ele concitou os membros

“para manter firmemente nossos princípios revolucionários da classe operária e travar nossa luta abertamente e sem compromissos contra nossos inimigos, sem adotar nenhuma tática covarde e sem alimentar nenhuma esperança falsa”.

                                       Debs Ataca os Líderes do Partido Socialista

AO TEMPO da cisão do Partido Socialista, com o afastamento da ala esquerda, Debs estava na prisão. Apenas uma informação parcial pôde chegar até ele, a respeito da controvérsia política no partido, que precedeu esta cisão. Embora ligado por muitos laços ao Partido Socialista, Debs não concordava inteiramente com sua direção. Durante a convenção de 1919 os elementos remanescentes da ala esquerda conseguiram, sob pressão da cisão, forçar uma resolução que asseguraria a Debs a indicação para a presidência na convenção de 1920, onde a questão dos candidatos tinha de ser tratada. Os líderes não desejavam que Debs, que estava ainda na prisão, fosse indicado candidato. Eles temiam que o volume dos votas pudesse ser grande e não queriam apresentar ao país um candidato presidencial que estava preso. Quando ele foi finalmente indicado, em 1920, e um comitê composto de Steadman, Oneal e outros foi mandado para visitá-lo na prisão, para notificá-lo oficialmente da nomeação, Debs surpreendeu o comitê com uma crítica devastadora ao partido.

Olhando a plataforma adotada na convenção que o indicou, ele disse:

“Desejo afirmar que ela teve minha completa desaprovação”.
Mas logo declarou que as plataformas não são tão importantes, visto que

“nós podemos respirar o ar da revolução em qualquer plataforma”.
Salientou, contudo, que

“plataformas socialistas não são feitas para caçar votos”
e que

“nós somos políticos não para ganhar votos mas para desenvolver a força que emancipará a classe operária”.
Foi também significativo que naquela ocasião ele lamentasse

“que a convenção não visse seu caminho claro para filiar-se à Terceira Internacional”.
Debs aliou-se, por isso, ao terceiro dos delegados da Convenção de 1920, que defendeu a aceitação dos vinte e um pontos para a admissão à Internacional Comunista.

Aos lideres do Partido Socialista, que estavam presentes, ele dirigiu a seguinte admoestação:

“Há uma tendência do partido a tornar-se um partido de políticos, invés de um partido dos trabalhadores”.
Sonegado do mundo exterior, com seu encarceramento, Debs, talvez não pudesse ver suficientemente que esta não era mais uma tendência, porém um fato. O processo de degenerescência, começando com a luta contra a ala esquerda, foi rapidamente sendo completado, e Debs, tendo reconhecido que o Partido Socialista estava tomando-se “um partido de políticos invés de um partido de trabalhadores”, devia ter rompido definitivamente com os políticos e se unido aos trabalhadores revolucionários que deixaram ou estavam deixando o Partido Socialista em grande número. Embora na prisão, Debs devia ter-se colocado à frente dos militantes que estavam desertando do partido reformista e estavam sendo organizados sob a liderança da Internacional Comunista, invés de aceitar o conselho de seus amigos de reservar o julgamento final para depois de libertado. Debs conhecia bastante o partido para compreender que este não era mais o partido com que ele sonhava em 1908: um partido socialista, dotado de consciência de classe, revolucionário, empenhado em abolir o sistema capitalista, a dominação de classe e a escravidão assalariada; um partido que não assuma compromissos nem se desagregue, mas que preserve inviolados os princípios que o lançaram na vida e agora lhe dão vitalidade e força, um partido que avance com firme determinação para o objetivo da liberdade econômica”.

                              Debs Não Consegue Tirar Conclusões Adequadas

COMETEU o erro que muitos outros tinham cometido. No começo da Terceira Internacional alguns líderes revolucionários acentuaram o principio de unidade mais do que a unidade de princípio. “No tempo que precisamos para entrar em forma”, escreveu ele então, “temos que dividir e dissipar nossa energia em luta de facção. Pregamos a unidade eterna, mas nós mesmos continuamos divididos”.

Debs não compreendeu que o que estava então se realizando era a separação do trigo do joio, a libertação dos elementos revolucionários do partido dos políticos que ele próprio viu na direção do partido. A “luta de facção” que ele verberava não era mais que a elaboração de uma política firme e clara baseada no marxismo revolucionário, que o partido tinha poluído com toda espécie de remédios reformistas. A luta de classe era conduzida das fábricas diretamente para o partido e a divisão que se seguiu estava baseada em linhas de classe. Mais tarde a história provou isso inteiramente.

Diferentemente de Lênin em escala internacional, de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo na Alemanha, e Ruthenberg neste país que não somente criticaram os líderes reformistas mas que contra eles combateram e se organizavam, Debs permaneceu apenas o crítico. Quando saiu da prisão permitiu aos mesmos líderes, a quem tinha responsabilizado pela ruína do partido, usá-lo como escudo para proteger suas alianças com a burocracia sindica! e os políticos capitalistas. Começando sob sua “presidência”, os líderes completaram a transformação do Partido Socialista num partido do social fascismo, de modo que agora ele se adapta como uma luva à máquina estatal capitalista.

Em 1905 Debs escreveu sobre o lugar da luta de classe, no programa do movimento operário, de um partido socialista:

“Nós insistimos em que há uma luta da classe; que a classe operária precisa reconhecer isso; que ela precisa organizar-se econômica e politicamente na base dessa luta; e que quando ela assim se organizar, terá então a força de libertar-se e pôr um fim a essa luta, para sempre”.
Já tendo perdido todo e qualquer vestígio de socialismo ou semelhança com um partido da classe operária, o Partido Socialista decidiu em recente convenção apagar também da caderneta de seus membros a cláusula relativa à adesão ao princípio da luta de classe. Os trabalhadores com consciência de classe sabem que o Partido Socialista não se afastou por isso da participação na luta de classe. Está simplesmente combatendo do outro lado, do lado dos patrões. Para que possa apresentar-se como um partido, são necessários membros. Mas desde que os trabalhadores estão aprendendo cada vez mais sobre seu verdadeiro caráter, o Partido Socialista oferece-se agora como um abrigo político para todos e os mais diferentes liberais, burocratas de sindicato, pequenos e grandes homens de negócios e desertores da luta de classe de todas as cores, inclusive os renegados do comunismo.

Debs viu a degeneração aproximar-se. Era, portanto, um histórico erro seu não romper com a moribunda organização e ingressar no partido da luta de classe do proletariado — o Partido Comunista.

                                                                 IV. Debs e a Guerra Mundial

DEBS ERA um adversário decidido das guerras capitalistas e como tal foi preso em 1918. Embora conhecesse as causas econômicas da guerra, ele não compreendeu inteiramente a natureza do imperialismo moderno. Diferentemente de Ruthenberg, que compreendeu o papel do imperialismo americano e estava entre os primeiros a ser presos durante a guerra, Debs era guiado em sua posição anti-guerreira principalmente por sua lealdade ao princípio da solidariedade internacional do socialismo. Ele denunciou os socialistas europeus que viraram social-patriotas e com o pensamento nos socialistas que votaram créditos de guerra, escreveu:

“Se eu estivesse no Congresso, podia ser fuzilado mas não votava um dólar para tal guerra”.
Embora provavelmente não familiarizado com os ensinamentos de Lênin de transformar a guerra imperialista em guerra civil, ele expressou com crueza as táticas de combate à guerra imperialista e aos capitalistas de vários países com ações da classe operária.

“Quando os capitalistas declaram guerra, cabe-nos então declarar guerra a eles, paralisar a indústria pela greve e travar toda batalha pela derrubada da classe dominante”.

                                        Debs a Favor da Guerra Revolucionária

ALGUNS DOS escritos de Debs trazem noções pacíficas e repugnância à violência.

“Quando eu penso numa fria e brilhante baioneta de aço sendo mergulhada numa carne branca, trêmula, de um ser humano, recuo com horror”, declarou ele em seu discurso de Canton. Temos prova suficiente, contudo, de que Debs não se opunha à guerra em geral, mas apenas às guerras capitalistas.

Em 1915, quando a América do Norte começou a se preparar para a guerra, Debs escreveu um artigo para o Appeal to Reason, no qual escarnecia daqueles que iam alistar-se no exército. Havia muitas expressões naquele artigo que não harmonizavam com suas conhecidas convicções. Ele era, contudo, acusado de abrigar ilusões pacifistas. Numa réplica, em outra publicação, Debs voltou com uma declaração de sua posição que faz a seu auto-indicado sucessor, Norman Thomas, renunciar à sua memória para sempre! “Não, eu não sou adversário de todas as guerras, nem adversário do combate em todas as circunstâncias, e qualquer declaração em contrário me desqualificaria como revolucionário”. Esta foi uma declaração ditada pela consciência revolucionária de Debs.

Debs reiterou que era “adversário apenas da guerra das classes dominantes” e recusou-se “a obedecer qualquer ordem de combater pela classe dominante, mas não esperará ordem para lutar pela classe operária”.

Debs sentia que, uma vez levantada a questão, ele precisava responder categórica e completamente. Escreveu depois:

“Eu sou adversário de todas as guerras menos uma; e dessa sou a favor de coração e alma é a guerra mundial da revolução social. Nessa guerra eu estou preparado para lutar de qualquer modo, como necessário, até nas barricadas”.
E concluiu:

“Esta é a posição que tomo e que espero que o Partido Socialista tome ou deve tomar na questão da guerra”.
Cem o apoio do Liga das Nações, que o Partido Socialista declarou uma vez que era a Internacional Negra do Capitalismo, a Corte Mundial e outros instrumentos imperialistas entre seus artigos de fé, não causa assombros que os lideres do partido socialista estejam abandonando a memória de Debs, uma vez que ignoraram, suas opiniões quando ele estava vivo.

Debs tomou seriamente a resolução anti-guerreira adotada na convenção do partido em St. Louis, logo após a declaração de guerra pelos Estados Unidos, em abril de 1917. À luz dos ensinamentos de Lênin a resolução de St. Louis pode ser considerada apenas como um documento centrista, com uma boa mistura de pacifismo. Considerando, entretanto, o provincianismo do movimento norte-americano e a existência de uma direção reformista que via no Partido Socialista uma máquina simplesmente parlamentar, a resolução precisa ser vista como um instrumento de militância que podia ter sido usada vantajosamente para fins revolucionários. Foi, de fato, o canto de cisne revolucionário do Partido Socialista. Embora referendada pelo voto duma esmagadora maioria de membros, a resolução logo tornou-se um simples pedaço de papel. Os lideres que votaram a favor, na convenção, por causa da pressão da massa de membros proletários, sabotaram sua execução e anularam completamente as cláusulas nele contidas que chamavam à ação.

Na convenção do partido em Canton, Estado de Ohio, Debs expressou novamente o que ele tinha dito diante da entrada dos Estados Unidos na guerra imperialista. Ruthenberg, o líder do partido, em Ohio, já estava preso e Debs tomou a causa de sua prisão como o motivo para se dirigir à convenção. O governo condenou Debs e tentou fazer de sua condenação e prisão um exemplo da mesma espécie, como a execução de Sacco e Vanzetti, que devia servir como advertência aos operários, no presente período. Devido à agitação em âmbito nacional, que se seguiu à prisão, foi mais tarde oferecida a Debs sua liberdade. Mas ele só deixaria a prisão ao terminar de cumprir a sentença. A 25 de dezembro de 1921 depois de quase três anos de cárcere numa das bastilhas dos Estados Unidos, o velho revolucionário de 68 anos cruzou as portas da prisão, com a saúde abalada, que jamais conseguiu readquirir, até sua morte, cinco anos mais tarde, a 20 de outubro da 1926.

                                                     V. Debs e a Revolução Russa

 
A REVOLUÇÃO RUSSA encontrou em Debs uma resposta imediata e simpática. É preciso notar, contudo, que embora ele considerasse a Revolução de Outubro “a maior do ponto de vista do significado histórico e da mais ampla repercussão nos anais da raça”, não apreendeu seu completo significado para o movimento revolucionário mundial dos trabalhadores. Debs sentiu a diferença entre os mencheviques comprometidos, que apoiaram Kerensky, e os indômitos bolcheviques, que forjaram a revolução proletária. Dirigindo-se aos bolcheviques russos, no primeiro aniversário da Revolução de Outubro, em 1918, ele escreveu:

“A completa glória de vosso triunfo revolucionário é que preservastes inviolados os princípios fundamenteis do socialismo internacional e recusastes compromissos. Para vossa eterna honra, antes teríeis visto a revolução perecer e com ela os sovietes do que prostituir o movimento, traindo os trabalhadores com alegação de reformas progressivas, que significariam para eles uma extensão de sua servidão sob uma nova união de exploradores e parasitas”.
Quando o nome bolchevique foi pronunciado com escárnio entre seus amigos do partido, Debs declarou publicamente:

“Eu sou um bolchevique da coroa de minha cabeça às pontas dos meus dedos dos pés”.
Desafiando o júri ele declarou:

”Fui acusado de expressar simpatia pelos bolcheviques da Rússia. Proclamo a veracidade da acusação”.
Debs não foi claro a respeito da ditadura do proletariado, como não foi claro em vários problemas fundamentais, especialmente sobre o conceito do estado, como Marx e Lênin ensinaram. Ele falava sobre a “frase infeliz” e declarou que “ditadura é autocracia”. Mas ele imediatamente explicou que “não há autocracia na dominação das massas”. O experimentado revolucionário que era ele, mesmo que apenas por instinto, levou-o também à conclusão de que “durante o período de transição a revolução precisa proteger-se”. Àqueles líderes socialistas que eram “a favor” da Revolução Russa, mas “não gostavam de certos aspectos dela”, Debs declarava abertamente, falando ao comitê do Partido Socialista que veio à Penitenciária de Atlanta para notificá-lo de sua indicação para a presidência em 1920:

“Eu apoio de coração a Revolução Russa, e sem restrições”.
O Partido Socialista tem de fato várias e sérias restrições a respeito da Revolução Russa. Falando num ato público do Partido Socialista, sob os auspícios de seu órgão central, Morris Hillquit declarou, por seu partido que o estabelecimento do governo soviético era a maior calamidade para os trabalhadores do mundo. Em verdade, o estabelecimento trinta anos atrás dos sovietes de operários e camponeses, que deram as fábricas aos operários e a terra aos camponeses, era a maior calamidade para os capitalistas e proprietários de terra e seus lacaios no movimento operário. O Partido Socialista nos Estados Unidos e seus partidos irmãos da Segunda Internacional traduzem suas reservas em abertas conspirações com os emigrados tsaristas e as potências imperialistas para derrubar a primeira república de trabalhadores — a União Soviética, que já cobre uma sexta-parte da superfície da terra. Os trabalhadoras do mundo e os oprimidos povos coloniais que se inspiram, para suas lutas contra o capitalismo e o imperialismo, nas estupendas conquistas do governo soviético sob a liderança do Partido Comunista, conheceu o verdadeiro papel dos partidos socialistas e suas manifestações contra-revolucionárias.

                                                                 VI. Debs, O Orador

O FATO DE ser Debs o mais eloqüente orador que o movimento operário americano produziu, em grande parte, contribuiu para mantê-lo na chapa. A história americana está cheia de grandes oradores que floresceram nas tribunas legislativas e nos púlpitos. Daniel Webster e Wendell Phillips são provavelmente os mais ilustres representantes desses tipos da oratória americana. Debs ficou muito impressionado com as orações que leu, e em sua juventude treinou-se na arte de falar em público. As exortações ateístas de Robert Ingersoil e as eloqüente mas vazias denúncias dos “interesses”, feitas por Bryan em suas primeiras campanhas, provavelmente tiveram uma influência mais direta sobre o gosto de Debs pela oração em público.

Não havia aquela força intelectual que estava por trás da oratória de Lassalle, nem se tornou ele um tribuno público como Jaurés. Debs na tribuna era mais o evangelista. Ele apelava para seus ouvintes, mais do que raciocinava com eles. Sua maneira de falar traía sua profunda veemência. Suas imagens de discurso eram hábeis e poéticas. Ele muitas vezes se tornava lírico e seu corpo rítmico respondia ao ritmo de suas declarações. Ele conserva seus ouvintes enlevados e às vezes parecia-lhes como se estivesse em êxtase.

Seus escritos eram do mesmo padrão de seus discursos. Provavelmente ele ditou a maioria de seus artigos publicados. Eles assemelhavam-se a orações apaixonadas. Seguiam particularmente o modelo daquele “Appeal to Reason”, que foi talvez o melhor meio de agitação já produzido pelo movimento operário norte-americano.

Com sua voz eloqüente e pena cortante, Debs acendeu a imaginação de grandes setores da classe operária. Seu aparecimento na luta resultaria certamente na revivescência da militância, pois ele sabia como descrever aos trabalhadores sua vida sob o capitalismo e inspirar-lhes a esperança da vitória final.

Berger disse uma vez sobre ele: “Debs tem o coração mole — Debs é o orador”. O que ele queria dizer com isso era que Debs devia ser considerado apenas como orador público e não devia ter a oportunidade de participar no real trabalho político do partido. Seu “coração mole”, significando, sem dúvida, seu instinto proletário, que o levou a reagir militantemente diante de problemas que se levantaram da luta de classe, podia atrapalhar o trabalho dos políticos de coração-duro, os Bergers e os Hillquits.

                                                   VII. Debs — Um Revolucionário Destemido

NOS DO!S acontecimentos marcantes na vida de Debs, nos quais foi submetido à prova sua integridade de classe — a greve da União dos Ferroviários Americanos e a Guerra Mundial — ele se revelou um revolucionário destemido.

“Eu prefiro mil vezes ser uma alma livre na prisão a ser um sicofanta ou covarde nas ruas”.
Assim Debs prefaciou seu famoso discurso anti-guerreiro em Canton. Sabendo que havia agentes do governo que estavam procurando reunir “provas” contra ele, muitos entre seus ouvintes acharam que Debs estava marchando direto para o alçapão do Departamento de Justiça. Ele provavelmente lia em suas faces esse interesse por sua liberdade. Mas continuou:

“Não vos preocupeis com a acusação de traição a vossos mestres; mas antes tenhais cuidado com a traição a vós mesmos”.
Não somente durante a guerra mas em tempos de “paz”, Debs insistia com os trabalhadores para empregar a ação revolucionária. Quando os mineiros das minas de Colorado, de propriedade de Rockefeller, estavam sendo dominados pelos assassinos alugados do Estado e das companhias de carvão, quando o holocausto de Ludlow estava reclamando ação da classe operária, Debs apelou em 1914 para constituir-se um fundo de defesa para o Sindicato dos Mineiros, não para alugar advogados que vão argumentar nos tribunais acerca dos “direitos inalienáveis” dos trabalhadores à greve, mas

“munir cada membro com um fuzil do tipo mais moderno e do maior poder de fogo, igual aos usados pelos pistoleiros da corporação, e umas 500 balas. Além disso, cada distrito deve comprar bastantes metralhadoras e equipar homens para combater o exército de assassinos particular de Rockefeller”.
Comparai estas advertências revolucionárias com o ataque do Partido Socialista aos grevistas de Gastonia, que lutaram em defesa própria contra seus atacantes em 1929.

Durante o julgamento por traição, devido a seu discurso de Canton, que começou em 9 de setembro de 1918, Debs conduziu-se como um revolucionário. Ele recusou-se a permitir testemunha de defesa e falou, ele próprio, ao júri, não permitindo a seus advogados usar conhecidos truques da profissão legal para mitigar sua situação diante da lei capitalista. Debs confessava-se, ou melhor, proclamava-se culpado das acusações feitas contra ele pelo governo e usava o tribunal como uma tribuna para falar aos operários do país, por cima das cabeças dos representantes do Estado capitalista. Ele se recusou a retratar-se de qualquer coisa que tivesse dito. Falando ao júri, repetiu em substância seu discurso de Canton e, aliás, tornando-o mais forte. A resolução contra a guerra, da Convenção de St. Louis, que foi logo reduzida a mero pedaço de papel, foi revivida transformando-se em carne e sangue, quando Debs falou por duas horas ao júri naquele memorável 12 de setembro.

                                       Debs é Condenado Como Revolucionário

O JÚRI considerou Debs culpado “da acusação”, e assim foi ele levado para ouvir a sentença a 14 de setembro. Utilizando-se do direito de praxe a falar antes de ser imposta a sentença, Debs precedeu suas observações à Corte da seguinte forma:

“Anos atrás eu reconheci meu parentesco com todos os seres vivos, e formei a opinião de que eu não era nem um pouquinho superior ao mais baixo habitante da terra. Eu disse então e digo agora que enquanto houver uma classe inferior, eu estarei com ela; enquanto houver um elemento criminoso, eu participarei dele; enquanto houver uma alma na prisão, eu não serei livre”.
Quando Moyer, Haywood e Pettibone, dirigentes da então militante Federação Ocidental de Mineiros, estavam com suas vidas em julgamento, de 1906 a 1907, o presidente T. Roosevelt, numa tentativa de influenciar a opinião pública e o júri, chamou os três líderes operários de “cidadãos indesejáveis”. T. Roosevelt acrescentou também o nome de Debs. Durante muitos anos após, Debs gabou-se disso em sua apelação.

Debs aceitou sua condenação a dez anos de prisão, como um revolucionário. Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos, incluindo os chamados juizes liberais, Holmes e Brandeis, e com Holmes escrevendo a opinião da Corte, unanimemente afirmou a condenação, ele declarou:

“A decisão é perfeitamente coerente com o caráter da Suprema Corte, de um tribunal da classe dominante”.
Dez anos depois, Norman Thomas, o líder do Partido Socialista, estava advertindo um Comitê do Senado contra a proposta de nomeação do Juiz Parker, dos casos de Jim Crow e do Yellow-Dog Contract, para o banco da Suprema Corte, por que isso desonraria os nomes dos grandes liberais Holmes e Brandeis. Como ministro cristão, Thomas havia esquecido que os “dois grandes liberais” tinham posto o velho combatente Debs atrás das grades da prisão.

A 19 de abril de 1919, embora a guerra já tivesse terminado, o velho Debs, com seus 65 anos e em delicado estado de saúde, entrou na prisão de Moundsville para cumprir sua sentença. As prisões federais estavam ainda superlotadas cheias de prisioneiros políticos. Mais tarde Debs foi removido para a penitenciária federal de Atlanta. Aos trabalhadores dos Estados Unidos, cujas mentes e corações estavam voltados para ele, Debs declarou:

“Transponho as portas da prisão como um fervoroso revolucionário, minha cabeça erguida, meu espírito indômito e minha alma invencível”.
Debs começou sua carreira nas fileiras do movimento operário. Atingiu a uma alta posição em seu sindicato e conduziu várias batalhas históricas. Quando ele veio para o movimento socialista, era uma figura nacional com um passado de prisões e de heróicas lutas operárias atrás de si.

Já tivemos ocasião de nos referir à política que a direção do Partido Socialista empregou para pôr Debs a recrutar membros, a adquirir assinaturas para várias publicações e especialmente para obter votos nas eleições nacionais. Ante a política de “neutralidade” do partido, a respeito dos sindicatos, contra a qual se erguia Debs, foi ele afastado do campo das lutas operárias para os estreitos campos da atividade parlamentar e da agitação. O resultado foi que Debs, que podia organizar sindicatos operários e, através de sua grande eloqüência e inspirado apelo, pôr em ação grandes massas, tornou-se um orador e candidato a presidente.

Se Debs não se rebelasse freqüentemente contra a posição em que o colocavam os líderes do Partido Socialista, e por sua própria iniciativa não se lançasse em lutas que rebentavam de quando em quando, mantendo assim vivo seu espírito militante, podíamos ter assistido à transformação de uma águia das montanhas numa ave do paraíso.

                               Baixo Nível Ideológico do Partido Socialista

O NÍVEL ideológico do Partido Socialista era um tanto baixo. Quase nenhuma literatura marxista original foi produzida e o trabalho educacional realizado entre os seus membros era em geral superficial. Não havia base na teoria revolucionária e, construindo um partido principalmente para fins eleitorais, havia pouca oportunidade para a experiência revolucionária. O meio em que Debs trabalhava não conduzia ao desenvolvimento de sua capacidade e talento naturais como dirigentes de massa e organizador. Nem havia uma oportunidade para Debs educar-se para a direção política. Embora o reverso é que seja usual, o Partido Socialista recebeu de Debs mais do que lhe deu. Ele viveu e tirou substância de seus primeiros ensinamentos.

Esta condição ajuda a explicar a ausência de clareza e precisão teórica nas várias questões de política e tática, conforme se expressa em algumas de suas declarações. Sua principal deficiência é que ele nem sempre era capaz de fazer o julgamento de uma nova situação engendrada num novo período de luta. Que ele sempre concordasse com manifestações da luta de classe, que fosse um militante e glorificasse a ação revolucionária, atesta o material colhido em seus discursos e escritos. Mesmo quando ele estava em desacordo com pessoas ou organizações no movimento operário, sua voz e sua pena estavam sempre à disposição de todos os que se achavam empenhados nas lutas. Assim nós o vimos correr em ajuda à Internacional Operária (I.W.W.), juntar-se aos Amigos da Rússia Soviética e à Defesa Internacional do Trabalhador, embora estas últimas organizações estivessem na lista negra do Partido Socialista porque eram dirigidas pelos comunistas. Esquecidos e não contados pelo movimento operário oficial ou pelo Partido Socialista, o martírio de Molly Maguires e dos líderes operários de Chicago eram para ele páginas de ouro na história do movimento operário americano, e a campanha pela libertação de Sacco—Vanzetti contou com toda a sua simpatia.

Os democratas jeffersonianos, os anarco-liberais e os reformistas de todas as cores, que se passaram para os socialistas e estavam ligados à imprensa socialista, utilizaram Debs como instrumento, particularmente durante a guerra e durante seu confinamento na prisão. Eles resolveram apresentar Debs como o “grande humanista”, o “grande libertador”, tirando proveito de sua boa natureza e de sua amizade para com todos. Estes qualificativos inócuos não podiam significar para Debs, que escreveu que “a palavra mais heróica em todas as línguas é Revolução”, e que sempre quis ser conhecido como um revolucionário sem misturas.

Debs era um revolucionário e, com todas as suas deficiências, ele geralmente trilhou o caminho revolucionário. Como tal ele é lembrado pela presente geração de revolucionários norte-americanos, que guardarão sua memória sempre fresca para ser transmitida às gerações futuras. Eugene Victor Debs mais conhecido por todos os que com ele trabalharam como Gene Debs, pertence às tradições revolucionárias da classe operária norte-americana.

                                                             VIII. A Herança de Gene Debs

OS ESTADOS UNIDOS de hoje são diferentes dos Estados Unidos que viram Debs batalhar nas trincheiras da linha de frente da luta de classe norte-americana, por mais de duas gerações. Quando jovem, Debs foi trabalhar numa oficina de consertos de uma estrada de ferro, ganhando cinqüenta cents por dia; o país estava deixando de ser aquilo que Marx chamou então — uma colônia da Europa. Dentro de duas gerações de estupendo desenvolvimento interno e expansão, o capitalismo americano completou a conquista do mercado interno e, depois de o haver saturado, estava pronto para desafiar os velhos capitalismos da Europa na luta por mercados em outras partes do mundo.

Os Estados Unidos entravam em sua era imperialista. No fim do século estabeleceu sua hegemonia sobre todo o hemisfério americano. O resultado mais do que bem sucedido da guerra hispano-americana, que aliás, não era inesperado, deu aos Estados Unidos pontos de apoio em vasta extensão do Pacífico, colocando-os perto da base de operações no longínquo Oriente para quando rebentar ali a luta pelo controle.

Após a guerra imperialista de 1914-1918, aumentou a rivalidade anglo-americana, e os Estados Unidos, tendo-se transformado na “oficina do mundo”, está preparando-se para uma luta decisiva contra seu mais forte concorrente. Entrementes, suspendeu-se a estabilização da economia capitalista de após guerra e uma crise econômica de dimensões mundiais iniciou-se. Os Estados Unidos tornaram-se definitivamente envolvidos nela e sua própria grave crise cíclica estava aprofundada ainda mais pela crise mundial geral do capitalismo. Apenas na União Soviética a febril atividade econômica prosseguiu numa escala sem precedentes e a construção do Socialismo, sob o plano qüinqüenal de industrialização, é efetuado por operários e camponeses zelosos e entusiastas, que hoje governam o vasto país.

Durante este período os operários nos países capitalistas entraram em contra-ofensiva ante os ataques dos patrões. O espectro de uma outra guerra imperialista e a assolação da crise econômica generalizaram o desemprego e os cortes de salários, ampliou a racionalização e aprofundou as lutas dos operários. A organização revolucionária da classe operária e uma direção militante, armada com um programa de combate, são necessários para enfrentar as condições da luta de classe engendradas no presente período.

                                                              A AFL e o Partido Socialista

PELO QUE foi dito é evidente que nem a Federação Americana do Trabalho nem o Partido Socialista são organizações para os quais devem voltar-se os trabalhadores em busca de direção nas lutas com que se defrontam. Ambas essas organizações fazem parte da ofensiva capitalista contra os operários. Elas são agentes dos patrões dentro do movimento operário e como tal precisam ser desmascaradas e combatidas pelos trabalhadores. Gene Debs, durante sua vida, pôs no pelourinho a Federação Americana do Trabalho e continuamente chamou à atenção para o seu papel como contrária aos interesses operários. O Partido Socialista adotou definitivamente a política da Federação Americana do Trabalho de subserviência ao capital, embora ainda use alguma fraseologia radical. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Vestidos para Senhoras, — sindicato “socialista” — declarou durante a recente greve dos costureiros que “os interesses dos manufatureiros e os do sindicato eram idênticos” e a imprensa capitalista escreveu, ao mesmo tempo, que a greve “tem o apoio dos mais responsáveis empregadores na indústria”. Estas greves são convocadas para iludir e desviar os operários. Seu propósito é neutralizar sua vontade de luta.

Norman Thomas escreveu a 4 de outubro de 1930: “A Federação Americana do Trabalho e as organizações a ela filiadas, como os Trabalhadores Têxteis Unidos, têm sagazmente procurado evitar provocar greves nos maus tempos”. Assim como os social-patriotas de tempo de guerra preconizavam a paz civil, seus sucessores imediatos, os social-fascistas, agora advogam a paz de classe.

O Partido Socialista une-se à Federação Americana do Trabalho e a outros elementos reacionários numa cruzada contra a União Soviética; em ataques contra militantes nos sindicatos e nas oficinas; dando caça aos comunistas e a suas várias organizações. Uma verdadeira orgia de perseguições foi instituída contra operários revolucionários pelas várias agências governamentais, e os dirigentes do Partido Socialista dão ajuda e apoio aos perseguidores. Os dirigentes socialistas são aclamados pela imprensa capitalista, crescente espaço é dado a suas declarações, que são consideradas como “sóbrias” e “construtivas”. Militantes regulares do Partido Republicano e do Partido Democrático também dão seus votos aos candidatos socialistas. Norman Thomas recebe grande votação num distrito reconhecidamente republicano de New York chamado o “distrito dos armazéns de seda”, muito antes do advento do “rayon”. Os jornais capitalistas apóiam a eleição de Norman Thomas e, após sua derrota, sugerem que seja nomeado para alguma posição pública “a fim de aproveitar sua grande capacidade” .

Augusto Bebel, o pioneiro líder dos operários alemães, disse uma vez:

“Quando os capitalistas me elogiam, eu começo a suspeitar de que fiz algo errado”.
Norman Thomas, não tem escrúpulos de receber qualquer elogio da imprensa capitalista e das organizações reacionárias. Ele aceita-os de bom grado e se gaba dos mesmos. Outros líderes do Partido Socialista procuram obter o louvor dos capitalistas para suas atividades. As direções do Partido Socialista de Milwaukee e Reading são bem recebidas pelos patrões daquelas cidades e são apoiadas pela imprensa capitalista.

O Partido Socialista é agora o terceiro partido do capitalismo nos Estados Unidos. Uma grande barreira separa-os dos ensinamentos de Eugene Debs, que ajudou a fundá-lo trinta anos atrás. Hoje ele representa o contrário dos ideais pelos quais Debs lutou e com os quais inspirou grandes massas de operários norte-americanos, durante sua vida. A separação que existe entre a tradição de Debs e a realidade do Partido Socialista é a separação que hoje existe entre todos os operários com consciência de classe e aquele partido, o que devia fazer com que todos os outros operários o evitassem como a uma praga.

A tradição de Debs é a tradição de lealdade à causa da emancipação da classe operária, da luta de classe, ao sindicalismo militante, de um partido revolucionário, da luta pelo poder. A realidade do Partido Socialista é o esforço para afastar os trabalhadores da luta de classe, o conselho para que defendam os interesses dos patrões, para que sigam como cordeiros dos burocratas sindicais, para que aceitem o sistema capitalista e a escravidão assalariada.

                              Quem São os Verdadeiros Líderes dos Operários?

OPERÁRIOS brancos e negros, operários jovens e mulheres, nacionais e de origem estrangeira, empregados e desempregados — todos eles precisam lutar hoje contra os preparativos de guerra, contra a ofensiva dos patrões, contra o corte nos salários, a perseguição governamental, o desemprego, as discriminações raciais e os linchamentos. Eles precisam defender a União Soviética — a pátria dos trabalhadores; eles precisam apoiar os povos coloniais que estão se erguendo para libertar-se da dominação imperialista.

Como um revolucionário experimentado, Debs ensinou aos trabalhadores organizar e empregar a militância e a ação revolucionárias em suas lutas contra os patrões e o sistema capitalista em conjunto. Aqueles que o seguem no espírito da militância no movimento operário, pelo qual Eugene Debs tanto se bateu, ajudarão a construir os sindicatos revolucionários organizados sob a direção da Liga Sindical de Unidade. Eles se unirão ao Partido Comunista, que combate pelas necessidades dos operários e que, como um partido revolucionário de massa da classe operária americana, os conduzirá também para a vitória final sabre o capitalismo e o imperialismo nos Estados Unido

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Notas:
(1) Partidário do sindicato que abrange todos os elementos de uma indústria ou corporação, contraposto às associações por profissão