Nossa Política
ARREGIMENTAM-SE em todo o mundo as forças que lutam em defesa da paz, contra uma nova carnificina que vem sendo preparada e que se faz cada dia mais ameaçadora. A consciência dessa ameaça desperta e une, numa ampla frente, por cima das diferenças partidárias, religiosas, de nacionalidade ou de raça, todos os cidadãos — homens e mulheres, jovens e velhos — que prezam a paz e a fraternidade entre os povos.
Uma luta diuturna e cada vez mais acerba começou a travar-se, em cada país e em escala internacional, pouco depois do término da última conflagração, pelos defensores da paz contra os provocadores de guerra, pelos jornais populares contra os jornais da reação, pelas vozes dos que preconizavam, em benefício da paz, a colaboração entre as grandes potências, a despeito da diversidade de regimes, contra os pregoeiros e responsáveis pela divisão do mundo, que afinal se verificou, em dois campos definidos — o campo democrático e antiimperialista, liderado pela União Soviética, e o campo antidemocrático e imperialista, liderado pelo governo dos Estados Unidos.
Com essa divisão, que se foi acentuando dia a dia, veio crescendo e se tornando iminente o perigo de uma nova hecatombe universal. Assim é que a luta pela paz se colocou, em conseqüência, no primeiro plano das preocupações da humanidade. Preservar a paz significava e significa a possibilidade de reconstrução dos campos e cidades arrasados pelas bombas ou pela ocupação das tropas nazi-fascistas, durante a última guerra, o desenvolvimento e o progresso dos povos que se libertaram ao mesmo tempo dos seus opressores externos e internos e que hoje edificam uma nova vida em bases mais justas e mais humanas. Significava e significa, em suma, evitar que se repitam, multiplicadamente, os horrores indescritíveis que a humanidade sofreu ainda há pouco tempo. Por isso, há três anos, já dizia o camarada Prestes, no discurso que pronunciou no Parlamento, contra a guerra e o imperialismo:
“É preciso lutar peia paz. É fundamental”.
E referindo-se particularmente ao caso do Brasil, acrescentava:
“O povo quer paz, precisa de paz. Não temos mesmo elementos para participar de uma guerra. Seria derramarmos o sangue de nossa gente, em benefício dos grandes trustes, dos monopólios, dos
banqueiros estrangeiros”.
Entretanto é visível que o campo do imperialismo se prepara febrilmente para a guerra. À medida que se foi afastando o fim da guerra e que cassava a colaboração, estabelecida durante o conflito armado, entre a grande potência socialista e as potências capitalistas que combatiam o nazismo, o imperialismo ianque foi tratando de arquitetar e executar um vasto plano de dominação mundial. Esse plano começava pela relutância em abandonar o solo das pequenas noções aliadas onde os seus soldados haviam posto o pé, pela necessidade e os acordos de guerra. Assim aconteceu no Brasil, em Cuba, e em várias outras partes, onde os militares ianques ocupavam bases aéreas, navais e militares.
Os Preparativos de Guerra
A AMÉRICA LATINA foi desde o início uma das peças mais importantes desse plano, e assim, logo que se tornou possível, foi convocada pelo Departamento de Estado norte-americano a Conferência de Petrópolis, em agosto de 1947, destinada a formar um bloco regional de países, contrariamente ao espírito da Carta das Nações Unidas e da ONU. No tratado resultante dessa Conferência, consta uma cláusula, pela qual os países latino-americanos teriam que acompanhar qualquer outra nação deste hemisfério — em termos claros, os Estados Unidos — que se empenhasse numa aventura guerreira, mesmo fora do continente americano. Depois, em 1948, num ambiente de provocações guerreiras, realizou-se a Conferência Bogotá, na qual os diplomatas ianques, utilizando o chefe da delegação brasileira, sr. João Neves da Fontoura, como instrumento de sua política, procuraram sacrificar em bloco a soberania das nações americanas, a fim de mais facilmente atrelá-las à máquina de guerra do imperialismo ianque.
Coordenadamente com essa política, foi sendo posto em prática, o plano Truman de padronização militar do continente americano, de acordo com o modelo ianque. Os armamentos de outra procedência, existentes nos arsenais dos países latino-americanos, foram sendo substituídos por armas e munições fabricadas nos Estados Unidos. E além dos adidos militares, o governo de Washington enviou aos países latino-americanos, onde ainda não os havia, missões militares e comissões mistas para as forças armadas, isto é, comissões compostas de militares ianques e de militares do país onde se estabeleciam, comissões essas que representam, de fato, o supremo comando do exercito, marinha e da aviação dos países latino-americanos.
Mas ao mesmo tempo em que agia na América Latina, a camarilha militarista e financeira, que compõe o governo norte-americano, ia estabelecendo uma rede de bases aero-militares, que hoje ascendem a 436, em todo o mundo, rasgava tratados e ia restaurando a indústria pesada do Ruhr, centro armamentista que possibilitou a agressão da Alemanha de Hitler contra o mundo. Além disso, impunha à Europa o Plano Marshall, que significa a submissão política e econômica de 16 nações, em troca de empréstimos a serem gastos obrigatoriamente nos Estados Unidos, inclusive na aquisição de armamentos. Finalmente vieram as alianças de guerra, patrocinadas pelos Estados Unidos, como o Pacto do Benelux [BElgië, NEderland e LUXembourg] e outros pactos de guerra que estão sendo preparados e que visam englobar os mais variados representantes da reação: desde os governos socialistas de direita da França e da Inglaterra até o governo fascista de Salazar, com o objetivo direto e ostensivo de agressão contra a União Soviética e as democracias populares.
Ao lado dessas medidas econômicas e militares e das provocações friamente arquitetadas, como a de Berlim, os imperialistas ianques tomam providências políticas e ideológicas, tais como o incentivo e proteção aos fascistas, a absolvição peles juizes anglo-americanos de Nuremberg de notórios criminosos de guerra nazistas, a exclusão dos comunistas do poder na França e na Itália, tudo isso acompanhado de uma propaganda feroz e sistemática contra o comunismo.
A Participação do Brasil Nesse Plano de Guerra
OS PREPARATIVOS e provocações guerreiras no Brasil vêm sendo feitos desde há muito e se aceleram nos dias atuais. Nosso país, aliás, foi o primeiro centro de provocação de guerra, no Continente, escolhido pelos imperialistas ianques, quando em 1946 tentaram lançar o Brasil contra a Argentina, através do Livro Azul do Departamento de Estado norte-americano — tentativa malograda devido à enérgica campanha de desmascaramento efetuada pelos comunistas, na imprensa, na Assembléia Constituinte e nos grandes comícios populares. Pouco depois disso, tivemos a batalha pela recuperação das bases que havíamos cedido aos Estados Unidos para a guerra contra o nazismo e que os imperialistas ianques, nas novas condições do mundo, pretendiam conservar para delas fazer uso contra as forças mais progressistas e avançadas da humanidade. Devolvidas as bases, não cessaram daí por diante as ameaças, ostensivas — como a que fizeram os jornalistas Joseph and Stewart Alsop, na revista “Saturday Evening Post”, de que elas deviam ser tomadas pela força — ou veladas, como a de que nos dão notícias as agências noticiosas norte-americanas, quando informam que os homens do governo dos Estados Unidos falam em mandar seus soldados “protegerem” o litoral brasileiro contra “futuros ataques”.
Além de tudo, e independentemente de qualquer tratado, o plano Truman de padronização dos armamentos vai sendo aplicado aqui em seus mínimos detalhes, pois a ditadura do sr. Dutra, numa atitude humilhante para nossas forças armadas, passou a adquirir nos Estados Unidos não apenas armamentos e munições, mas até as camisas para os uniformes dos oficiais e sargentos brasileiros. Enquanto isso, são divididos com os oficiais superiores ianques — membros das Comissões Mistas que funcionam nos Ministérios da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica — os comandos supremos de nossas Forças Armadas.
Como parte dos mesmos preparativos, foi fechado o Partido Comunista do Brasil e cassados os mandatos dos seus representantes no Parlamento, devido à sua luta intransigente contra a guerra. Simultaneamente, fecharam a Confederação dos Trabalhadores do Brasil, Uniões Sindicais e decretou-se a intervenção em centenas de sindicatos. As mais elementares liberdades civis foram abolidas pela prepotência policial, visando com isso a ditadura Dutra sufocar as manifestações de nosso povo em favor paz. O imperialismo ianque desenvolveu grandes esforços no sentido de unificar as forças da reação no Brasil, de modo que caso de guerra pudesse o governo, sem protestos, conduzir nosso povo, como diz o camarada Prestes,
“como gado de corte para o matadouro da mais infame das carnificinas guerreiras”.
Foi então que surgiu o acordo interpartidário, de inspiração e coloração indisfarçavelmente ianque.
A tarefa dos homens do acordo interpartidário diz muito de perto com a guerra imperialista que os monopolistas ianques pretendem desencadear. Esse acordo é responsável pela aprovação da lei de exclusão dos militares, lei que visa afastar das fileiras os oficiais e sargentos julgados “extremistas”, isto é, que discordem ao menos em pensamento da nefasta e subserviente política guerreira do governo. Essa medida terrorista contra os militares estendeu-se depois, através da “lei de segurança” a toda a população brasileira. Graças ainda a esse acordo, são aprovadas intactas as verbas pedidas pelo governo para os seus ministérios militares, o que faz do nosso orçamento um orçamento de guerra, colocando-nos em terceiro lugar entre os países que no mundo têm, proporcionalmente, maiores despesas militares.
Mas se tudo isso não fosse suficiente para indicar a iminência do perigo de guerra, o criminoso caminho pelo qual a ditadura Dutra vai conduzindo a nação, bastaria atentar para os fatos mais recentes, relacionados com a vinda ao Brasil de traficantes de guerra como os generais Mark Clark e Bolling, que aqui estiveram e voltaram, e outros que estão sendo esperados, como o almirante von Heinburg. E por fim o próprio ditador está de viagem programada para os Estados Unidos, onde irá receber ordens diretas dos seus patrões de Washington e para onde viajou, aliás, o seu próprio ministro da Guerra.
A Luta Pela Paz Mundial
EM COMPENSAÇÃO, a luta pela paz vem tomando um grande impulso nestes últimos tempos. É verdade que a guerra já esteve a pique de se desencadear, durante várias vezes, mas os agressores não ousaram realizar seu intento, sendo frustrados pela política firme da União Soviética e de todas as forças do campo democrático. Em momentos da mais alta tensão, quando terríveis acontecimentos ameaçavam precipitar a catástrofe, erguia-se a voz de Stálin em defesa da paz, desmascarando os provocadores de guerra, fazendo propostas para dirimir questões pendentes, acalmando ânimos, desanuviando, enfim, a atmosfera internacional e impedindo, desse modo, que os empreiteiros da guerra se lançassem em sua aventura. Assim aconteceu, por exemplo, ainda há poucos meses, quando Stálin chegou a manifestar sua disposição de se encontrar com Truman, na Europa, fim de liquidar as divergências que ora servem de pretexto para perturbar e ameaçar a paz do mundo.
Essa atitude da União Soviética, em defesa da paz, é tradicional: vem desde o seu nascimento mesmo, pois a revolução de que ela surgiu teve como uma de suas principais forças motrizes a luta contra a guerra em que a Rússia estava empenhada. Depois, manifestou-se na Liga das Nações, onde os representantes soviéticos combateram até o último instante em defesa da paz, contra a política capitulacionista da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos, que resultava no incentivo à agressividade do Eixo Berlim—Roma—Tóquio. Com a criação da ONU, lá estavam e ainda estão os representantes soviéticos dando o melhor dos seus esforços em prol da paz. Vishinsky e Gromyko, principalmente, têm sido na ONU duas vozes poderosas cuja ressonância faz tremerem os incendiários de guerra, nominalmente desmascarados por eles.
O desenrolar dos acontecimentos pôs em ação outras forças do campo democrático, que iniciaram organizadamente uma campanha mundial pela paz. Essa luta tomou vulto e ganhou expressão concreta no Congresso Mundial dos intelectuais pela Paz, que se reuniu o ano passado em Wroclaw. Os expoentes máximos da cultura, das letras, das ciências e das artes, encontraram-se na velha cidade polonesa para debater um problema que constitui a angústia universal de nossos tempos. O êxito desse Congresso aumentou o desespero das forças imperialistas, que por sua vez recrudesceram em seus ataques à democracia e aumentaram, por todos os meios, a sua propaganda e os seus preparativos de guerra, inclusive na esfera política, mandando processar os dirigentes comunistas dos Estados Unidos, forjando um processo contra o periódico “Les Lettres Françaises”, no qual o traidor Kravchenko e outros lacaios da reação encontrassem uma tribuna pública para vomitar suas calúnias contra a pátria de socialismo.
Tudo isso veio despertar o mundo para o perigo, hoje maior que nunca, de uma nova catástrofe mundial, de conseqüências imprevisíveis. Tornava-se necessário lutar pela paz com maior ardor, com maior fé, com maior confiança. Mas ao mesmo tempo, era preciso que as forças da paz tomassem posição e dissessem claramente, como disseram Thorez na França e Togliatti na Itália, que se, apesar de tudo, os imperialistas desencadeassem a guerra, os seus povos não pegariam em armas ao lado do agressor, como o desejavam seus governos de traição nacional, mas, ao contrário, ajudariam as forças socialistas a derrotar o agressor e restabelecer a paz.
Outras manifestações organizadas e de repercussão universal têm ocorrido ou estão em preparo. Dentro dos próprios Estados Unidos, que são a sede da reação mundial, se realizará uma Conferência Cultural e Cientifica pela Paz Mundial, na qual participarão mais de 300 figuras das mais representativas da cultura e da ciência norte-americanas, além de eminentes figuras que virão de outros países como delegados fraternais, inclusive o famoso compositor soviético Shostakovitch. Durante essa reunião, o povo dos Estados Unidos, através de seus legítimos representantes, por certo fará sentir sua vontade de paz, mostrando assim que não existe a menor identidade entre os seus interesses e os dos homens de Wall Street, que compõem o governo de Truman.
Finalmente, em abril próximo, realizar-se-á em Paris o Congresso Mundial dos Partidários da Paz, que será a expressão vigorosa dos anseios de paz que animam todos os povos, a soma e a síntese de todas as manifestações em favor da paz.
Nossa Luta Contra a Guerra
EM NOSSA pátria, a luta contra a guerra também tem sido tenaz e assinalada por vários êxitos. A derrota do Livro Azul norte-americano foi um dos nossos êxitos, particularmente de Prestes, na luta contra a guerra. Cabe também ao nosso grande líder o mérito de haver continuado advertindo insistentemente o povo brasileiro contra as manobras guerreiras do imperialismo ianque. Nesse sentido são os seus discursos na Constituinte, “Paz Indivisível”, pronunciado no primeiro aniversário da vitória sobre o nazismo, e “Contra a guerra e imperialismo”, assim como o seu informe Plano Ampliado do Comitê Nacional do PCB, em janeiro de 1946, intitulado “O PCB na luta pela paz e pela democracia”.
Esses são lados positivos, sem dúvida, mas não nos fazem esquecer o avanço das forças propugnadoras da guerra as mesmas forças da reação que, a serviço imperialismo ianque, liquidaram com as conquistas democráticas de 1945, suprimiram as liberdades civis, tornando assim mais difícil a luta dos que se batem pela paz. Apesar de tudo, prossegue e se desenvolve a campanha em favor paz, na qual já participam as mais amplas camadas do povo, os intelectuais progressistas e figuras das mais destacadas em todas as esferas da atividade humana.
Em sua II Convenção Nacional, por exemplo, realizada em São Paulo, os ex-combatentes condenaram de forma vigorosa os provocações guerreiras, sendo que essa condenação constituiu mesmo uma das resoluções adotadas naquele conclave. E este ano começam se preparar e fazer manifestações coletivas desse tipo, em prol da paz, como mulheres que, em todo o país, vêm lutando contra a guerra, das organizações de jovens, notadamente estudantis, das entidades profissionais, políticos e culturais, de todas as camadas da população, enfim, que unem e proclamam sua ardente vontade de paz, através de manifestes e outras meios de divulgação e sobretudo através dos Congressos estaduais que serão realizados em todas as unidades da federação, convergindo depois para, o Congresso Nacional pela Paz — Congresso que há de constituir uma demonstração categórica e pungente dos anseios de paz do povo brasileiro, um “não” em coro de todos os patriotas e democratas aos criminosos partidários de uma terceira guerra mundial.
Conteúdo Econômico da Política de Guerra Ianque
EM SUAS luminosas análises sobre o caráter da guerra, diz Lênin:
“Os socialistas sempre condenaram as guerras entre os povos, por causa da sua barbárie e da sua ferocidade”.
Adverte, em seguida, que é preciso saber ver o caráter fundamental das guerras. E cita as guerras caractsristicamente justas, como a dos escravos contra os seus amos, dos servos contra o senhores feudais, do proletariado contra a burguesia. Entre as guerras injustas, cita notadamente a guerra inter-imperialista, que, ele classifica de “guerra de negreiros”, isto é, a guerra entre os principais proprietários de escravos pela manutenção e o fortalecimento escravidão.
Mais injusta ainda é a guerra que ora o imperialismo ianque e seus sócios do campo antidemocrático pretendem desencadear contra a URSS e as democracias populares, porque é uma guerra preparada pela união de todos os “negreiros” contra os povos livres do mundo, poderia, pois, haver maior humilhação para um povo como o nosso, que ainda vive escravizado ao imperialismo ianque, do que se deixar arrastar a uma guerra a favor dos proprietários de escravos, contra os povos que já se libertaram da escravidão.
Mas quais são as causas econômicas que impelem os Estados Unidos para a guerra? Conforme observou Zhdanov:
“O término da guerra colocou diante dos Estados Unidos uma série de novos problemas. Os monopólios capitalistas esforçaram-se para manter o nível elevado dos lucros atingidos durante a guerra. Com este escopo, procuraram fazer com que o volume das encomendas do tempo de guerra não fosse reduzido. Para alcançar este objetivo era, porém, necessário que os Estados Unidos conservassem todos os mercados exteriores que absorviam durante a guerra a produção americana e que conquistassem novos mercados, uma vez que, no após guerra, a capacidade de aquisição da maioria dos países diminuiu nitidamente.”
Atualmente já se pode afirmar que os Estados Unidos não conseguiram resolver diversos desses problemas e que a situação interna norte-americana se desenvolve rapidamente no sentido de uma crise de proporções desconhecidas. Prova disso é o fato de apesar do Plano Marshall e de outros meios que adotou para resolver suas questões econômicas internas, cresce assustadoramente o desemprego nos Estados Unidos, o que é um dos primeiros e mais seguros sinais da proximidade da crise cíclica. Efetivamente, segundo dados oficiais, o número de empregados nos Estados Unidos passou e 61,6 milhões, em julho de 1948, e de 59,4 milhões, em dezembro do mesmo ano, para 57,5 milhões em janeiro de 1949. Em um só mês, portanto, o número de desempregados cresceu de quase 2 milhões.
Os magnatas ianques, que já vêm descarregando sobre os ombros de vários povos, inclusive das massas americanas, as dificuldades resultantes dos seus desajustamentos econômicos, não trepidam em sacrificar toda a humanidade para satisfazer seus apetites expansionistas e de grandes lucros. Segundo a frase famosa de Clausewitz, “a guerra não é mais do que o prolongamento da política por outros meios”. A guerra que os imperialistas ianques querem agora desencadear é, pois, a continuação, por meios violentos, da política expansionista que vem seguindo e da tentativa de impedir o deflagrar da crise, que é inerente ao próprio sistema capitalista.
Posição do Povo Brasileiro
EM TAIS condições, qual a posição verdadeiramente justa do povo brasileiro, aquela que condiz com os interesses da pátria? A imprensa da reação, que antes silenciava sobre a luta pela paz e que hoje começa a atacar os que fazem essa luta, procura incutir em nosso povo o sentimento chauvinista, cegá-lo pela paixão, enganando-o com frases sobre uma falsa “defesa da pátria”. Esses falsos patriotas foram bem caracterizados por Lénin:
“Os social-chauvinistas realizam uma política burguesa anti-proletária, porque o que propugnam não é a “defesa da pátria” no sentido da luta contra o jugo estrangeiro, mas o “direito” de uma ou de outra “grande” potência de saquear as colônias e de oprimir outros povos”.
Vimos aqui como se têm manifestado esses chauvinistas, como fecham os olhos à exploração desenfreada de nosso povo pelas empresas imperialistas, como defendem, muitos deles, na qualidade de advogados, os seus interesses escusos, ao mesmo tempo em que deblateram contra o “perigo soviético”, fingindo uma extremada dedicação à pátria. Vale lembrar mesmo um caso concreto, qual seja o do deputado Prado Kelly, atual presidente da UDN, que, num arroubo oratório, declarou em aparte a Prestes, que se achava na tribuna:
“O coração do Brigadeiro Eduardo Gomes, quaisquer que sejam as circunstâncias e em qualquer época, pulará sempre ao lado da Pátria”.
A isso replicou o camarada Prestes:
“Ao lado da Pátria! Vejamos, srs. Representantes, de que lado estão os interesses de nossa Pátria, no caso de uma guerra imperialista. É isso que se deve discutir agora”.
E mais adiante, acentuava, de forma irrespondível:
“Não é a Rússia o inimigo que ameaça a integridade de nessa Pátria; não é a Rússia que tem interesses financeiros a defender no Brasil. Quais são então esses interesses? A Light, por acaso, é russa? São russas a São Paulo Railway e a Leopoldina? Há bancos russos no Brasil? Não. Não há interesses soviéticos a defender em nossa terra”.
Entretanto, agora que a ditadura Dutra se prepara para lançar nosso povo numa guerra imperialista, é ainda a voz de Prestes que melhor adverte:
“Quando o governo quer fazer do povo “carne para canhão”, a favor dos banqueiros, dos trustes, dos monopólios, não há patriota que deixe de se levantar contra isso. O fato, srs. Representantes, é que não se vai a uma guerra dessa natureza sem preparação ideológica muito séria. Que acontece? Os povos, os homens honestos e patriotas são arrastados e, só mais tarde, depois de terem sofrido na guerra, compreendem o erro terrível, o crime cometido contra a própria pátria pelos dirigentes”.
É evidente que a posição que Prestes indica ao povo brasileiro é a que realmente está de acordo com os interesses de nosso povo, com os mais altos interesses de nossa Pátria. É a posição conseqüente de luta pela paz, de luta sem tréguas, intransigente, sem perda de um minuto, sem poupar qualquer esforço, para derrotar os provocadores de guerra. Precisamos, pois, adquirir a convicção de que a guerra não é inevitável, de que as forças da paz são superiores às forças dos provocadores de guerra, de que essas forças da paz, unidas, organizadas, manifestando-se vigorosamente, poderão deter ainda o braço assassino do agressor. Mas, como frisaram há pouco, em documento publicado na “A Classe Operária”, diversos lideres comunistas:
“Se a despeito de todo o nosso esforço, de toda a nossa luta intransigente pela paz, os provocadores de guerra consumarem seus monstruosos objetivos, então compete a todo o nosso povo envidar ainda maiores esforços para transformar caráter da guerra imperialista e de agressão num poderoso movimento de libertação e de independência nacional.”
Essa é, de fato, a única atitude digna, patriótica e esclarecida que nosso povo cabe assumir no caso de uma guerra imperialista. Seria uma humilhação inqualificável admitirmos que fossemos tomar das armas e derramar nosso sangue para que os “negreiros” que nos escravizam possam escravizar outros povos que já sacudiram o jugo do imperialismo. Que seja divulgada para conhecimento dos imperialistas e de seus lacaios no Brasil esta advertência sobre a posição de nosso povo em face de uma guerra imperialista. Mas que ao lado disso saibamos cada vez melhor utilizar todos os recursos em favor da preservação da paz. O camarada Prestes, na recente entrevista que concedeu à imprensa, nos ensina como lutar:
“Devemos saber ligar a luta pela paz, que é o fundamental nos dias de hoje, à luta por todas as reivindicações de nosso povo, à luta contra a carestia e por maiores salários, à luta contra a lei de segurança, à luta enfim pela independência nacional contra o jugo imperialista. Especificamente, a luta pela paz significa o desmascaramento sistemático dos provocadores de guerra, a resistência prática a todos os preparativos de guerra, e a luta pela derrubada desse governo Dutra que, a serviço do imperialismo ianque, trata de amarrar nosso povo às aventuras guerreiras dos trustes e monopólios e do governo de Washington.”
* * *
As forças que querem a paz são tão grandes e importantes que, se elas derem prova de constância e firmeza, os planos dos agressores serão condenados a um completo fracasso.
Andrei Zhdanov