A Luta pela Independência da Indonésia
Depois de 340 anos de dominação imperialista holandesa, o povo indonésio rebelou-se contra o jugo holandês e, em agosto de 1945, estabeleceu a República Indonésia.
Passada a surpresa, os imperialistas holandeses logo entraram a agir, confiantes no auxílio de seus rivais, os imperialistas britânicos e americanos que tinham o maior interesse em esmagar todos os movimentos de libertação coloniais. A história da Indonésia, desde sua libertação inicial, tem sido marcada por uma série de violentas intervenções armadas, de negociações prolongadas destinadas a permitir que os holandeses preparem novas invasões, e de crescentes lutas de classes dentro da própria Indonésia.
Atualmente o povo indonésio, com seus exércitos de guerrilheiros, suas unidades regionais de defesa, por todos os meios a seu alcance, vem resistindo ao controle dos holandeses. O povo da Indonésia está pondo em prática a tática de defesa da terra arrasada, perseguindo e dizimando as guarnições holandesas, tornando as estradas impraticáveis, destruindo os meios de comunicação dos holandeses.
Assim como o povo chinês sofreu graves derrotas e organizou sua retirada ordenada na Grande Marcha, atualmente os indonésios estão se reagrupando para o momento da ofensiva, a fim de conquistarem sua completa independência.
Nada de República, Dizem os Imperialistas
Tendo saído da guerra na Europa em 1945 grandemente enfraquecida, a Holanda foi forçada a apelar para que os seus rivais imperialistas, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha a ajudassem a destruir a República Indonésia. A Grã-Bretanha, que dominava a zona sul oriental da Ásia em 1945, enviou suas tropas para a Indonésia, a fim de repatriar as forças japonesas derrotadas. Entretanto, estando militarmente enfraquecida, a Grã-Bretanha conservou os japoneses sob suas ordens com o objetivo de combaterem os indonésios.
Os comandantes britânicos da região enviaram relatórios apressados comunicando que a situação era insustentável pois que dispunham de poucas tropas para destruir a República. Os britânicos aconselharam os holandeses a negociarem com os indonésios se não quisessem que o controle imperialista fosse totalmente destruído. Esta foi a primeira série de divergências sobre táticas entre os imperialistas. Em princípio, os imperialismos britânico, holandês e americano, estavam de acordo em que o controle imperialista devia ser restabelecido sobre a maior parte possível da Indonésia, dentro dos limites impostos pela situação.
Os indonésios, reparando apenas nas divergências, sem atentar para a causa, cometeram seu primeiro erro. O governo da República recusou-se a aceitar a proposta apresentada pela Ucrânia Soviética na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, efetuada em fevereiro de 1946, no sentido de que as Nações Unidas investigassem a presença de tropas britânicas e japonesas na Indonésia. O primeiro ministro da República, Sjahrir, declarou que “preferia” “a presença das tropas britânicas às holandesas. As» tropas britânicas permaneceram e no outono de 1946 já se haviam firmado em importantes cidades costeiras e em centros de petróleo e borracha.
A Holanda conseguiu empréstimos e armamentos dos Estados Unidos e, através da conscrição, estava preparada para substituir as forças britânicas no fim de 1946.
Os holandeses mantiveram sua intenção original de tomar a Indonésia pela força, mas as táticas foram modificadas. Ao plano britânico de negociações, foi adicionada uma política de “guerra limitada” que colocaria os holandeses em áreas estratégicas sem o problema das grandes batalhas. Empregaram, assim, a pressão política a fim de conseguir o máximo de concessões, em condições quase pacíficas, conservando como reserva o poder militar para as campanhas rápidas e decisivas.
As conversações de paz entre os holandeses e os indonésios tiveram início em fins de 1946. Em março de 1947 foi assinado o Acordo de Linggadjati que reconhecia de fato a República nas ilhas de Java, Sumatra e Madoera. A soberania sobre o resto da Indonésia era reservada à Holanda. Além disso, deveriam ser criados os Estados Unidos da Indonésia em 1 de janeiro de 1949, como parte de uma União Holandesa-Indonesia, e sob o controle conjunto dos holandeses e indonésios nos negócios estrangeiros, nas finanças e nas forças armadas. Na realidade, apesar de conceder concessões políticas bastante substanciais, o Acordo representava pouco mais do que a proposta apresentada pela Grã-Bretanha em 1943, e sob aspectos diferentes.
Em lugar de cumprir as obrigações que lhe impunha o Acordo, a Holanda violou-o estabelecendo estados títeres, o que, esfacelando a união nacional indonésia, enfraqueceu uma das principais armas de que dispunham os indonésios para sua independência, além de tornar a violar o Acordo com o envio de tropas adicionais para a Indonésia. No entanto, a República Indonésia permitiu que os holandeses conservassem suas guarnições em centros vitais de petróleo e borracha nas ilhas de Java e Sumatra, dentro do território da República. Em julho de 1947, quatro meses depois da assinatura do Acordo, os holandeses utilizaram essas guarnições como pontas de lança para seu ataque militar contra a República.
De 21 de julho a 4 de agosto de 1947, as forças holandesas ocuparam todos os centros importantes, industriais, agrícolas, e de comunicações. Nenhuma ordem de retirada das tropas foi emitida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em lugar disto foi estabelecido um “Comitê de Mediação” para “auxiliar o estabelecimento de uma paz durável na Indonésia”. O único membro do Comitê que demonstrou uma atitude amistosa para com a Indonésia foi a Austrália; os outros dois membros eram o país imperialista dominante, os Estados Unidos, e seu satélite, a Bélgica. Ninguém poderia esperar que um tal Comitê fosse favorável à causa da independência indonésia, contra o imperialismo holandês.
O Acordo de Renville, de Janeiro de 1948, realizado sob os auspícios do Comitê, entregava legalmente aos holandeses o que estes haviam tomado pela força das armas. Foi estabelecida uma paz imperialista, tão onerosa quanto a de Brest-Litovsk, tão cínica quanto a de Munique. Mas ao contrário à de Brest-Litovsk, não foi assinada pela parte mais fraca, a fim de ganhar tempo e consolidar sua força interna, nem foi denunciada pela vítima como a de Munique.
Pelo contrário, alguns líderes indonésios saudaram-na como um importante passo à frente no estabelecimento da paz na Indonésia.
Cimentando essa posição, existia um entendimento entre certos círculos imperialistas americanos e indonésios.
A Intervenção dos Estados Unidos
Antes da Segunda Guerra Mundial, a Indonésia fora importante para os Estados Unidos por duas razões: como fonte de matérias primas e como uma área para investimentos. Em 1940, os Estados Unidos conseguiram um terço de todas as exportações indonésias.
As principais entre estas (em termos de exportações totais da Indonésia para todos os países) eram: borracha, 61%; estanho, 64%; manganês, 67%; óleo de coco, 60%; tapioca, 59%. No mesmo ano os investimentos particulares, diretos, dos Estados Unidos montavam a 350 milhões de florins (cerca de 116 milhões de dólares). Mas a importância real era maior devido às propriedades dos Estados Unidos em investimentos holandeses, britânicos e outros. Entre as duas guerras mundiais, o capital britânico e americano tentou sobrepujar os investimentos holandeses, sobretudo na borracha e no petróteo.
Quando o controle da Indonésia caiu nas mãos dos japoneses, de março de 1942 a agosto de 1945, a rivalidade anglo-americana-holandesa diminuiu consideravelmente. Entretanto, em seus esforços para encontrar substitutos para as matérias primas vitais caídas nas mãos dos japoneses, os Estados Unidos não desprezaram a possibilidades de fortalecer sua posição, no período de após guerra, em relação aos holandeses na Indonésia.
Muitos americanos progressistas. que estão estatelados com a cruel agressão da Holanda à Indonésia não percebem que o que a torna possível é o apoio direto dos Estados Unidos. Deixam sobretudo de relacionar a exploração da Indonésia pela Holanda à pressão imperialista americana sobre este último pais. No momento mesmo em que os imperialistas holandeses procuram girar para trás as rodas da história com a guerra prolongada na Indonésia, o imperialismo americano sustenta o setor holandês do imperialismo mundial a fim de salvá-lo da bancarrota, ao mesmo tempo em que prejudica a economia holandesa.
Devido a esse duplo aspecto do imperialismo americano, os Estados Unidos apoiaram os holandeses contra uma Indonésia independente. Entretanto há limites distintos para esse apoio:
os Estados Unidos dão importância primordial ao continente europeu, incitando os círculos capitalistas europeus a “conter” a União Soviética e as Novas Democracias;
os Estados Unidos consideram a China o principal país asiático;
os imperialistas americanos pretendem utilizar o dilema da Holanda para arrancar concessões dos holandeses e assim fortalecer sua posição na economia da Indonésia;
esses círculos não seriam contrários a um governo indonésio livre do controle holandês que fosse considerado politicamente “de confiança” para os invasores americanos;
o imperialismo americano quer na Indonésia um governo que possa ser utilizado econômica e militarmente para “conter” a China democrática.
O desmascaramento pela União Soviética das manobras imperialistas britânicas, americanas e holandesas, no Conselho de Segurança, juntamente com o apoio consequente da União Soviética à independência indonésia, também constituem obstáculos importantes ao apoio declarado dos Estados Unidos à agressão holandesa.
Contudo, quando a guerra prolongada entre holandeses e indonésios, — que se tinha transformado numa guerra de atrito — ameaçava colocar a Holanda num impasse, os Estados Unidos compraram a retirada dos holandeses. Seria uma coincidência muito estranha explicar de qualquer outra maneira o que se segue: Em 1946, quando a questão da Indonésia foi levantada pela primeira vez no Conselho de Segurança, os Estados Unidos liberaram dois bilhões de dólares de bens holandeses congelados durante a guerra e concederam à Holanda, um empréstimo de 300 milhões de dólares. Em 28 de junho de 1947, três semanas antes da “blitzkrieg” holandesa, os Estados Unidos, num esquema enviado à República Indonésia, insistiam para que esta aceitasse as exigências holandesas e davam a perceber a possibilidade de lhe conceder alguns empréstimos. Então, quando os holandeses atacaram em julho de 1947, o Banco Internacional, do qual os Estados Unidos são o principal credor, emprestou-lhes 195 milhões de dólares. Durante as negociações holando-indonésias, que culminaram no Acordo de Renville, 442 milhões de dólares foram destinados à Holanda, e 84 milhões às “Índias Orientais Holandesas” (isto é, território indonésio sob controle holandês), através do Plano Marshall. Em 22 de dezembro de 1948, enquanto os diplomatas americanos repreendiam os holandeses por sua mais recente agressão à República Indonésia, o Plano Marshall concedeu à Holanda mais 547 milhões de dólares.
Fraquezas da República
Os progressos realizados pelo povo chinês provam a exatidão do caminho que escolheram, isto é, a decidida luta anti-imperialista, firmada no inteiro apoio de todos os setores democráticos da população. Isto é de grande importância para o povo indonésio que sofreu sérios recuos em sua luta pela independência por causa de tendências existentes entre os líderes indonésios de colaboração com
países imperialistas, principalmente com os Estados Unidos.
A República começou com uma insignificante base de coalizão dos partidos Nacionalista e Muçulmano, sob a liderança de figuras políticas de antes da guerra. Entretanto, os partidos Socialistas e Comunista, que haviam sido ilegais antes da guerra e durante a ocupação japonesa, principiaram a avançar rapidamente. Os trabalhadores formaram a Federação Geral dos Sindicatos da Indonésia com um efetivo de mais de 1.200.000 membros e que tomou forma política no Partido Trabalhista Indonésio. Igual expansão foi notada na União dos Camponeses e no Partido Socialista da Juventude. Esses cinco partidos uniram-se na coalizão da esquerda denominada Sajap Kiri e, como um bloco, controlaram 50 por cento dos votos no Parlamento.
Apesar da República iniciar vários empreendimentos dignos de louvor, tanto em suas reformas internas, como em suas relações externas, esses esforços não foram coroados de êxito devido a fraquezas vitais dentro da República. Faltava-lhe um programa que satisfizesse os interesses internos e externos do povo, isto é, internacionalmente que levasse a efeito uma luta anti-imperialista pela independência, conjuntamente com o movimento de libertação da Ásia; e, internamente, que executasse um programa mínimo de reforma agrária e de melhoria das condições do povo. Faltava ao povo indonésio um forte movimento anti-imperialista que esboçasse um tal programa e conseguisse sua vitória através de atividades diárias envolvendo as mais amplas massas, principalmente os operários e os camponeses, até a primavera de 1948.
A política da República tem sido estreitamente ligada a Soetan Sjahrir. Foi ele Primeiro Ministro da República Indonésia várias vezes, seu porta-voz nas reuniões de Conselho de Segurança e na Conferência Asiática de Nova Delhi, em 1947. Tornou-se subsequentemente principal conselheiro do Presidente da República, Achmed Soekarno. Embora afirme ser Socialista, Sjahrir foi expulso do Partido Socialista Indonésio, por causa de sua “atitude de compromisso com o imperialismo”. A tese de Sjahrir é a de que os Estados Unidos “são agora, indiscutivelmente, a maior potência do Pacífico”, e “embora nos esforcemos ao máximo, não conseguiremos poder suficiente para causar o colapso desse mundo (capitalista)”.
Esse ponto de vista ilustra a posição de derrotismo e capitulacionismo que tem caracterizado a política da República Indonésia nos momentos críticos da luta. A República em geral, aceitando a tese
e a direção de Sjahrir, deixou de avaliar corretamente a importância da luta indonésia e a inteira significação da intensa rivalidade imperialista pela dominação da Indonésia. Foram envidados esforços, não sem algum sucesso, para isolar a luta indonésia do movimento de libertação da Ásia em geral. Alguns líderes indonésios, procurando estabelecer um Estado burguês “aceitável”, colocaram o povo indonésio à mercê do imperialismo e puseram em perigo a própria existência da República. Assim, a terminologia esquerdista e a propaganda verbal do “socialismo” só serviram para encobrir concessões vitais feitas ao imperialismo.
A Independência é Traída; Cresce o Movimento de Libertação
O mês de julho de 1947 assinala uma virada na luta indonésia pela independência. Foi esse o período da primeira ação militar vitoriosa por parte dos holandeses. Foi a primeira vez que se abriu uma brecha importante na frente única que até então reunira todos os partidos indonésios em torno do programa da Republica. A coalizão da esquerda impôs a exoneração de Sjahrir por causa de suas concessões aos holandeses. Essa divergência em torno da questão de ceder às exigências dos holandeses — o que significaria abdicar do controle indonésio sobre suas próprias forças armadas — na esperança de empréstimos dos Estados Unidos, ou resistir a pressão dos holandeses apesar das reações imperialistas dos Estados Unidos, espalhou-se por todas as correntes partidárias.
Anteriormente ao Acordo de Renville, em janeiro de 1948, os Estados Unidos, por intermédio de seu “Comitê de Mediação” jogaram habilmente, uns contra os outros, os partidos indonésios por meio de ameaças e subornos. Os diplomatas americanos levaram alguns líderes indonésios a acreditar (o que estes estavam loucos por fazer), que, se a República assinasse o Acordo de Renville, os Estados Unidos impediriam a Holanda de praticar novas agressões.
Exatamente seis dias depois de assinado o Acordo, o Governo Sjahrifoeddin foi derrubado por uma coalizão das alas reacionárias dos partidos Muçulmano e Nacionalista. O imperialismo americano, tendo encontrado o que chamava de elementos indonésios de confiança — a saber, aqueles que estavam dispostos a fazer importantes concessões aos holandeses a fim de granjear a simpatia americana — exigira que a República Indonésia fosse entregue a pessoas de “confiança”. A coalizão Nacionalista-Muçulmana que expulsara o governo anterior pelo fato de haver assinado o Acordo de Renville, prontamente anunciou que se considerava obrigada a cumprir o Acordo e, mais, que o considerava como uma base aceitável para o estabelecimento de uma paz duradoura entre a Indonésia e a Holanda.
A opinião na Indonésia era tão violenta contra o Acordo de Renville que o povo começou a fazer pressão para que fosse seguido um novo curso de ação, principalmente por parte dos partidos da esquerda. Um exame dos discursos pronunciados pelo Presidente Soekarno e o Vice-Presidente Mohammed Hatta (primeiro Ministro do governo Nacionalista-Muçulmano) revela que os mesmos empregaram o máximo de persuasão a fim de impedir que o povo resistisse ao acordo.
Na primavera de 1948, os partidos da esquerda iniciaram um estudo retrospectivo de suas posições em face do Acordo de Renville, e do caminho que ainda tinha que ser percorrido para atingir completa independência.
O Partido Comunista da Indonésia saindo de uma ilegalidade de vinte anos em outubro de 1945, enfrentou vários problemas, o maior dos quais consistia em aprender como conquistar e mobilizar as massas para a ação nas circunstâncias sem precedentes na Indonésia, da luta pela independência. O Partido Comunista da Indonésia que havia apoiado a política anterior da República (juntamente com os outros quatro partidos que compunham a coalizão da esquerda), percebeu os perigos inerentes ao governo de Hatta. Este governo estava sob completa influência dos Estados Unidos. Obedecendo às diretivas do imperialismo americano, o governo de Hatta procurava transformar a República Indonésia, de centro do movimento da independência, num Estado satélite americano. No verão de 1948, o Partido Comunista Indonésio tomou a iniciativa de formular uma política que unisse todos os elementos progressistas da Indonésia.
A Frente Democrática Popular
Nesse processo de esclarecimento das massas, o próprio Primeiro Ministro do governo Sjahrifoeddin, que assinara o Acordo de Renville, denunciou esse Acordo como uma manobra imperialista destinada a privar a Indonésia de sua independência por métodos aparentemente legais. Todos os partidos da esquerda uniram-se ao Partido Comunista para formar a Frente Democrática Popular. Esta propôs uma conferência conjunta aos partidos Nacionalista, Muçulmano e outros partidos da direita no sentido de traçarem um programa adequado para a defesa da independência da Indonésia, e a fim de repudiarem a política de capitulação que havia levado a Indonésia à beira da ruína.
O imperialismo norte-americano, percebendo a disposição militante do povo indonésio, a direção positiva oferecida pela Frente Democrática Popular, e o apoio de massa que estava conquistando, exigiu que o governo de Hatta restringisse as atividades da Frente. Do contrário, os Estados Unidos “duvidavam” que conseguissem impedir os holandeses de agredir a República. O governo de Hatta não precisava de muita persuasão pois percebia que o programa da Frente era favoravelmente recebido por toda a Indonésia e que a Conferência, convocada pela Frente para princípios de outubro, resultaria na mudança da balança política em favor dos métodos militantes anti-imperialistas.
Três semanas antes da Conferência de outubro, a Divisão Trotskista Siliwangi, do Exército da República Indonésia, raptou sessenta oficiais do Exército favoráveis à Frente, em Solo, na ilha de Java.
O governo de Hatta aprovou essa provocação. Os trotskistas abandonaram sua atitude de oposição à República por falta de “militância”, e fizeram então causa comum com o governo de Hatta, a fim de destruir o centro do movimento anti-imperialista. A República havia reconhecido Tan Malaka, líder trotskista, como um agente holandês na ocasião em que seu bando raptara Sjahrir em 1946; fora solto da prisão em que cumpria pena por esse crime, em setembro de 1948, pelo governo de Hatta. Essa “união” entre os elementos nacionalista-burgueses que haviam vendido a independência da Indonésia ao imperialismo, e os agentes trotskistas do imperialismo nas fileiras dos operários e camponeses, fomentou uma onda de anti-comunismo entre as massas a fim de encobrir sua própria traição à luta pela independência. Os trotskistas tentaram destruir a direção do movimento anti-imperialista, paralisar as atividades da Frente Democrática, por meio do terrorismo, conquistar a direção das massas.
Os líderes da Frente percorreram o país, explicando o programa da Conferência que se aproximava e preveniram o povo contra a campanha de intimidação e provocação dirigida pelo governo de Hatta. A Frente convocou uma demonstração de massas para 18 de setembro de 1948 em Madioen, ilha de Java. O governo de Hatta declarou que havia estourado uma “revolta comunista” e ordenou ao Exército Republicano que “esmagasse a revolta”. Quarenta mil pessoas foram mortas ou feridas pelo Exército durante essas operações.
O governo ordenou a prisão em massa de dirigentes das várias organizações que compunham a Frente. Simultaneamente a essa campanha, os Holandeses detiveram todas as pessoas no território sob seu controle, suspeitas de “idéias comunistas”.
O Governo de Hatta: Instrumento Imperialista
A fim de fornecer a prova final de sua submissão aos interesses imperialistas dos Estados Unidos com sua campanha contra a Frente, o governo de Hatta não só enfraqueceu os sindicatos e os partidos políticos progressistas da Indonésia, como também se expôs à rápida invasão militar pelos holandeses. A Holanda imperialista não desprezou essa oportunidade. Em 19 de dezembro de 1948, os holandeses iniciaram a campanha militar que culminou na tomada dos restantes pontos chaves em poder da República e no aprisionamento de todos os dirigentes Republicanos.
Os Estados Unidos, depois de convocarem o Conselho de Segurança para uma sessão de emergência, concluíram as deliberações do Conselho em 29 de janeiro de 1949, com uma resolução convidando a Holanda a estabelecer os Estados Unidos na Indonésia sob os auspícios da Holanda, como parte de uma União Holandesa-Indonésica a ser estabelecida em 1950, “se possível”. Uma resolução soviética, exigindo a retirada das tropas holandesas para as posições anteriores ao ataque, não pôde ser aprovada porque todo o Bloco Ocidental imperialista, dirigido pelos Estados Unidos, absteve-se de votar.
O povo indonésio, e, é de se esperar, alguns líderes da República Indonésia, aprenderão com essa amarga experiência que os compromissos imperialistas entre a Holanda e os Estados Unidos, ou entre outros imperialistas, para uma guerra anti-soviética, suplantarão sempre seus compromissos com a República Indonésia, apesar da base ou da legalidade internacional destes compromissos. Toda a questão Indonésia, assim como a de toda a Ásia colonial, tem que ser encarada no contexto da projetada “União Oriental” que, juntamente com a “União Ocidental”, está destinada a seu papel na política imperialista dos Estados Unidos pela dominação mundial. Basta apontar a proposta para a formação de um bloco asiático dessa natureza, devendo incluir a Índia, o Paquistão, Burma, Ceilão, o Sião, o Vietnam e a Indonésia, apresentada por Carlos P. Rômulo, Delegado Filipino às Nações Unidas, em 14 de fevereiro de 1949, que, segundo a Associated Press, pedia “uma organização regional de todas “as nações livres, democráticas, não comunistas da Ásia”…, a fim de resistir à onda do Comunismo no Oriente” (New York Times, 15 de fevereiro, de 1949).
O governo de Hatta não hesitou em aprisionar e matar indonésios progressistas em sua ânsia de provar sua “lealdade” ao imperialismo norte-americano.
O governo de Hatta colocou a população à mercê da Divisão Trotskista Siliwangi do Exército e de outros terroristas, a fim de provar sua “estabilidade” aos imperialistas americanos. Matthew Fox, presidente e dono de 51% das ações da American-Indonesian Trading Corporation (que tem o monopólio do comércio entre os Estados Unidos e o governo da República), explicou com candura a situação da Indonésia (segundo Westbrook Pegler, 1.° de fevereiro de 1949, New York Journal-American):
“Em outubro passado, nosso Departamento de Estado andou preocupado porque o bloqueio holandês deixou o povo desprovido de roupa. Consegui um crédito de 5.000.000 de dólares para a aquisição de 12.500.000 jardas de tecido. Queria como pagamento disto, matérias primas nativas. O Departamento de Estado desejava ajudar a República devido à excelente posição que esta tomara contra o comunismo.”
Em troca desta espécie de “ajuda”, líderes republicanos, trotskistas e outros elementos desagregadores, desempenharam o papel de Judas em favor do imperialismo holandês e americano, contra os mais denodados combatentes pela causa da independência da Indonésia.
O Imperialismo Norte-Americano na Ásia
Dezenove países asiáticos reuniram-se em Nova Delhi para discutirem sobre a crise indonésia, durante as discussões do Conselho de Segurança. O New York Times em 25 de janeiro de 1949, chamou a atenção em seu editorial para o fato de que “A pulsação dos corações de centenas de milhões de asiáticos indicava sua vontade de ser livre mas a auto-determinação não era perceptível”. A Conferência Asiática discutiu a tática imperialista em relação à Indonésia, mas não apresentou propostas no sentido de enfraquecer a dominação imperialista. Pelo contrário, seguindo a linha das propostas da República Indonésia, a Conferência sugeriu métodos através dos quais a hegemonia holandesa pudesse ser fortalecida por meio da criação dos Estados da Indonésia sob controle holandês. A exclusão deliberada da Conferência da China Libertada e de Vietnam, bem como a exclusão da Ásia Soviética, eram uma prova de que a Conferência não visava a emancipação da Ásia.
A Conferência preocupou-se sobretudo com o estabelecimento de um bloco asiático dirigido contra ás forças coloniais de libertação e contra as lutas anti-imperialistas chefiadas pela China democrática.
Sua finalidade era presentear os Estados Unidos com a fundação de uma “União Oriental”, tão digna do “auxílio” do Plano Marshall, quanto a União Ocidental. A significação dessa Conferência reside em seus esforços para consolidar os agressores atuais dos países asiáticos contra as reivindicações pleiteadas pelo povo, sobretudo dos operários e camponeses, e seus consequentes dirigentes anti-imperialistas.
Os promotores de guerra imperialistas absolutamente não abandonaram o cenário, deixando em seu lugar agentes coloniais “de confiança”. Pelo contrário, tendo perdido a China como uma base estável de operações contra a libertação da Ásia, o imperialismo norte-americano está acelerando sua marcha a fim de preservar os restos de controle imperialista sobre o mundo colonial. Isto foi claramente revelado na mensagem presidencial de Truman ao Congresso, em 29 de janeiro de 1949. O apelo de Truman para a aplicação de um “grande programa” nas áreas atrasadas do mundo foi um pedido de reforço da dominação dos setores burgueses sobre os povos coloniais, a fim de conter os movimentos de libertação em seus países e de cooperar com o imperialismo. Esse programa destina-se a congelar” a situação política, isto é, a estabilizar o que resta de controle imperialista sobre o mundo colonial, quer diretamente pelos Estados Unidos, ou através de outros membros da “União Ocidental”. Finalmente, o ambicioso plano de Truman destina-se a expandir o controle econômico dos Estados Unidos sobre a Ásia, como vem sendo feito por intermédio do Plano Marshall na Europa. Esse
esquema sinistro para a dominação do mundo acelera as propostas de Bernard Baruch no sentido de que os recursos dos países coloniais são adições indispensáveis ao Plano Marshall para a “estabilização” da Europa Ocidental, e de que os Estados Unidos têm voz ativa na utilização desses recursos, principalmente borracha, petróleo, estanho, e outros materiais de guerra vitais e potenciais.
O imperialismo norte-americano programou três linhas de “defesa” para “conter” a Ásia. A primeira linha, preservação da China de Chiang-Kai-Shek, já foi partida. A fim de consertar essa brecha, toda sorte de manobras imperialistas está sendo posta em prática a fim de separar a China meridional do resto da nação e de construir uma frente hostil nas fronteiras da China democrática.
A segunda linha é um cordão sanitário de bases militares em torno do continente asiático, a fim de dificultar seu acesso ao resto do mundo e deixá-lo vulnerável à invasão das Kurilas, da Coréia meridional, do Japão, das Filipinas, e através da Indonésia. Este ultimo país é o elo mais fraco dessa cadeia, hoje em dia. Através do controle holandês sobre as Ilhas Externas e da influência dominante dos Estados Unidos sobre a República Indonésia, está se processando um esforço para levantar, uns contra os outros, os grupos indonésios (os “Estados Federais” contra a República, a República contra a Frente Democrática Popular, dentro de seu próprio território) para o fortalecimento dos imperialistas. Agora que o precário equilíbrio entre o controle imperialista holandês e americano foi destruído pela agressão holandesa, os Indonésios continuam sua luta contra o imperialismo desmascarado.
A terceira linha consiste no controle das nações do Extremo Oriente ostensivamente independente, inclusive a Coréia Meridional, as Filipinas e a República Indonésia, bem como o Japão ocupado. O apoio americano aos elementos “cooperativos” nesses países serve a dois fins: desviar o sentimento de libertação das massas “dando-lhes” um governo de sua própria nacionalidade que obedeça às ordens imperialistas, a fim de enfraquecer o movimento de libertação; e perpetuar a dominação imperialista sobre os recursos desses países. As recentes eleições no Japão, em que o Partido Comunista aumentou suas cadeiras na Dieta de quatro para trinta cinco, revelam a inevitável tendência política na Ásia, até mesmo numa nação sob absoluto controle do General Mac Arthur. A República Indonésia, agora que seu território estratégico está nas mãos dos holandeses, recebeu do Conselho de Segurança umas poucas milhas quadradas ao redor de Djokjakarta, se os holandeses respeitarem essa ordem. Um tal Governo teria tanta autoridade sobre os negócios indonésios quanto um conselho universitário tem sobre as finanças e a política de uma universidade.
Os Estados Unidos permitiram que os holandeses rompessem a frente asiática de títeres americanos. Embora os Estados Unidos tenham supremacia financeira, militar e política sobre a Holanda, não expulsaram os holandeses da Indonésia. Os holandeses, como parte de seu preço pela participação na “União Ocidental”, exigiram mão livre para ações unilaterais na Indonésia. Assim, conquanto os Estados Unidos diplomaticamente censurassem a mais recente agressão holandesa (financiada pelos Estados Unidos), nada fizeram para deter ou repelir os holandeses. Essa hipocrisia foi inteiramente desmascarada pela recusa dos Estados Unidos de apoiarem a resolução soviética no Conselho de Segurança, que propõe a retirada das tropas holandesas para as posições anteriores ao ataque.
Tarefas do Povo Americano
As contas da expansão imperialista americana estão sendo pagas pelos povos coloniais, pela classe operária dos países europeus e pelos cidadãos americanos que pagam impostos, principalmente os trabalhadores.
Porque o povo americano tem sido mal informado sobre a indonésia e tem considerado a luta pela independência indonésia uma questão remota que de maneira alguma atinge suas vidas, muitas manobras do imperialismo norte-americano na Indonésia têm passado despercebidas. O movimento trabalhista norte-americano, cujos dirigentes principais procuram impingir aos trabalhadores americanos o Plano Marshall e a guerra anti-soviética, com exceção de uns poucos sindicatos progressistas, não age rapidamente, dando demonstrações positivas de solidariedade internacional com os povos coloniais oprimidos.
Os progressistas americanos precisam começar a explicar a círculos cada vez mais amplos a verdadeira significação das vitórias da China libertada: a China democrática transferiu o poder para as
forças coloniais de libertação, e os imperialistas promotores de guerra americanos sofreram uma tremenda derrota. É necessário demonstrar claramente que os dólares dos contribuintes americanos, num montante de seis bilhões, que foram canalizados para a China de Chiang-Kai-Shek, e o bilhão de dólares que os Estados Unidos já deram aos holandeses para sua guerra contra os indonésios, são desviados da alimentação, do abrigo e das vestimentas do povo americano.
É responsabilidade dos movimentos trabalhista e progressista arregimentar amplos setores do povo americano para o apoio à luta dos indonésios por sua independência. O povo indonésio, que luta por sua liberdade, tem o direito de esperar todo o apoio dos comunistas, progressistas e do movimento trabalhista no país responsável pela escravização do mesmo povo.
O agressivo imperialismo holandês provocou protestos do povo americano. Até mesmo líderes, como Philip Murray, foram forçados pela pressão das massas a ir além do formal “protesto” do Departamento de Estado, exigindo que os fundos do Plano Marshall, para a Holanda fossem suspensos até que cessasse a agressão holandesa.
Deve ser exigido energicamente, que o C. I. O. reforce essa posição, fazendo com que seus filiados se recusem a tripular navios que carreguem mercadorias do Plano Marshall para o agressor holandês, além de outras ações concretas e positivas.
Mais do que ninguém, o Partido Comunista dos Estados Unidos tem a obrigação de esclarecer as questões relativas à crise indonésia. Isto significa, em primeiro lugar, apresentar ao povo os fatos sobre a participação americana na guerra holandesa. Significa esclarecer o povo americano sobre os esforços heróicos desenvolvidos pela Frente Democrática Popular Indonésia, no caminho da emancipação. Que o povo americano seja notificado de que o assassínio de Musso, Presidente do Partido Comunista, e de outros líderes populares, foi perpetrado pela República Indonésia sob instigação do imperialismo americano!
Atualmente, os indonésios reagrupam-se para a ofensiva destinada a conquistar sua completa independência. A independência indonésia será apressada se o movimento operário americano e os progressistas americanos lhes oferecerem inteira solidariedade internacional. O mais amplo apoio deve ser organizado a fim de exigir que cesse a atual política americana de intervenção e de apoio ao imperialismo holandês.
Que cesse toda e qualquer interferência nos negócios internos da Indonésia e sejam retiradas todas as tropas e agentes imperialistas do solo indonésio.
A guerra de agressão holandesa prossegue por causa do apoio financeiro dos Estados Unidos, principalmente através do Plano Marshall. A nossa tarefa é exigir que cesse imediatamente o auxilio americano à Holanda imperialista e que nenhum obstáculo seja interposto à independência da Indonésia.