Transparece claramente na resolução do Comitê Central que o erro mais grosseiro da revista «Zviezda» foi ter posto suas páginas à disposição de Zostchenko e Akhmatova para a publicação de suas «criações» literárias. Creio que não é necessário citar aqui a obra de Zostchenko «As aventuras de um macaco». Provavelmente todos vós a lestes e a conheceis melhor do que eu. Essa obra visa — tal é sua significação — apresentar os homens soviéticos como vagabundos e monstros, como pessoas estúpidas e primitivas. O trabalho dos homens soviéticos, seus esforços e seu heroísmo, suas altas qualidades sociais e morais, não interessam absolutamente a Zostchenko. Este tema está sempre ausente de suas obras. Pequeno burguês e vulgar escolheu ele como tema a análise dos aspectos mais baixos e mesquinhos da vida. Essa análise dos fatos insignificantes da vida não é fortuita. É familiar a todos os escritores burgueses, vulgares, aos quais também pertence Zostchenko. Sobre eles muito falou Gorki em sua época, deveis lembrar como no Congresso dos Escritores Soviéticos, realizado em 1934, Gorki estigmatizou os «literatos», se assim posso dizer, que não enxergam além da fuligem da cozinha.

«As Aventuras de um Macaco» não sai do quadro habitual dos trabalhos de Zostchenko. Essa novela só chamou a atenção da crítica porque é o exemplo mais surpreendente de tudo quanto existe de negativo em sua obra literária. Sabe-se que quando voltou a Leningrado, depois de sua evacuação, Zostchenko escreveu vários trabalhos que se caracterizam por sua incapacidade em encontrar na vida soviética um único elemento positivo, um único tipo positivo. Como nas «Aventuras de um macaco», Zostchenko está habituado a zombar das massas soviéticas, das instituições, dos cidadãos soviéticos, disfarçando essa ironia sob uma máscara de brincadeira vazia e de espírito inútil.

Se lerdes mais atentamente e se meditardes sobre essa novela, «As Aventuras de um Macaco», vereis que Zostchenko atribuí ao macaco o papel de juiz supremo de nossas instituições sociais e fá-lo ministrar aos homens soviéticos uma espécie de curso de moral. O macaco é apresentado como um ser racional capaz de julgar a conduta dos homens. Zostchenko precisou apresentar uma imagem da vida dos homens soviéticos deliberadamente monstruosa, caricata e vulgar para pôr na boca do macaco uma frasezinha pérfida e anti-soviética, segundo a qual era melhor viver no Jardim Zoológico do que em liberdade e que era mais fácil respirar na jaula do que entre os homens soviéticos.

Poder-se-á cair mais baixo, moral e politicamente, e como puderam habitantes. de Leningrado admitir uma tal perfídia; uma tal sujeira em suas revistas?

Se a revista «Zviezda» oferece a seus leitores obras desse gênero, como deve ser precária a vigilância dos que a dirigem para nela publicar obras envenenadas com uma hostilidade bestial para com o regime soviético. Só a escória da literatura pode produzir obras semelhantes e só cegos e apolíticos podem publicá-las.

Diz-se que o conto de Zostchenko percorreu as ruas de Leningrado. Como deve estar enfraquecida a direção em Leningrado para que fatos semelhantes tenham podido ocorrer!

Zostchenko, com sua moral repugnante, soube introduzir-se numa grande revista de Leningrado e nela se instalar comodamente. Ora, a revista «Zviezda» é um órgão que deve educar nossa juventude. Mas uma revista que hospeda um escritor tão vulgar e tão pouco soviético como Zostchenko, estará à altura dessa tarefa? A redação da «Zviezda» então ignorava a feição de Zostchenko? Pois ainda recentemente, em princípios de 1944, a revista «Bolchevique» criticou violentamente uma revoltante novela de Zostchenko, «Antes do Nascer do Sol», publicada em plena guerra de libertação do povo soviético contra os invasores alemães. Nessa novela Zostchenko esvazia sua alma pequena, vulgar e baixa, com deleitos, com glutoneria, desejoso de dizer a todos: «Vejam como sou canalha».

É difícil encontrar, em nossa literatura, algo mais repugnante do que a «moral» apresentada por Zostchenko em sua novela «Antes do Nascer do Sol», apresentando os homens soviéticos e ele próprio, como animais horrendas e lúbricos, sem pudor e sem consciência. Ofereceu essa moral aos leitores soviéticos na ocasião em que nosso povo derramava seu sangue numa guerra penosa, sem precedente, quando a vida do Estado soviético estava por um fio, quando o povo soviético fazia sacrifícios sem número para derrotar os alemães. Enquanto isso emboscado em Alma-Ata, absolutamente na retaguarda, Zostchenko nada fez para ajudar nessa ocasião o povo soviético em sua luta contra os invasores alemães. Foi absolutamente justa a vergastada pública que ele levou no «Bolchevique», considerado como estranho à literatura soviética, como um vulgar libelista. Pouco lhe importava nessa época a opinião pública. E eis que, dois anos mais tarde, nem bem seca estava ainda a tinta do artigo cio «Bolchevique», esse mesmo Zostchenko volta triunfantemente a Leningrado e se agita livremente nas páginas das revistas da cidade. Não só «Zviezda», como também a revista «Leningrado» aceitam de bom grado suas colaborações. As salas dos teatros são postas graciosamente à sua disposição. Muito mais, dão-lhe a possibilidade de ocupar uma posição destacada na seção de Leningrado da União dos Escritores e de desempenhar um papel ativo na vida literária da cidade. Por que razão permitis que Zostchenko percorra dessa maneira os jardins e os parques da literatura de Leningrado? Por que os ativistas de Leningrado, por que a organização dos escritores permitiram fatos tão vergonhosos?

Essa feição social-política e literária de Zostchenko, completamente podre e corrupta, já se definiu há algum tempo. Esses trabalhos atuada não foram escritos por acaso. São a continuação de todos o seu passado| literário, que remonta aos anos da década de 20.

Quem era Zostchenko no passado? Era um dos organizadores do grupo literário denominado «Os Irmãos Serapião». Qual a feição social-política de Zostchenko nessa época? Permiti que me refira à revista «Anais Literários», n.º 3, de 1922, em que os fundadores desse grupo publicaram seu «credo». Entre outras revelações encontramos nela o «símbolo da fé» de Zostchenko, num opúsculo intitulado «Sobre mim e sobre mais alguma coisa». Zostchenko, sem a menor cerimônia, faz declaração pública e exprime de maneira absolutamente clara suas «opiniões» políticas e literárias. Escutai o que ele diz:

«Em geral é difícil ser escritor. Tomemos a ideologia. . . Hoje exige-se uma ideologia do escritor. . . Que peso, francamente. . . Digam-me, qual «exatamente a ideologia» que posso ter, se nenhum partido, em seu conjunto, me atrai? Do ponto de vista dos homens de partido, sou um homem sem princípios. De acordo com meu ponto de vista, diria a respeito de mim mesmo: não sou nem comunista, nem social-revolucionário, nem monarquista, mas simplesmente russo, e ainda por cima politicamente amoral. . . Palavra de honra, não sei até hoje, digamos, por exemplo, Gutchkov, a que partido pertence? Para o inferno com o partido a que ele pertence… Sei que ele não é bolchevique, mas será social-revolucionário ou cadete? Não sei, nem quero saber», etc. etc.
Que achais, camaradas, dessa ideologia? 25 anos se passaram desde que Zostchenko publicou essa confissão. Mudou ele desde então? Não parece. Desde há 25 anos, não só nada aprendeu e não mudou, como ao contrário, com franqueza cínica, continua a ser o apologista da indiferença e da vulgaridade, um canalha literário sem princípio e sem consciência. Isto significa que as instituições soviéticas, hoje como ontem, desagradam a Zostchenko. Hoje como ontem, é ele estranho e hostil à literatura soviética. Se, apesar de tudo isso, Zostchenko quase se tornou em Leningrado o corifeu da literatura, se o Parnaso de Leningrado o incensa, só podemos nos espantar do grau de indiferença, de facilidade, a que chegaram os que abriram caminho a Zostchenko, fazendo-lhe elogios!

Permiti que cite ainda outro fato que ilustra a feição dos «Irmãos Serapião». No mesmo n. 3 dos «Anais Literários» de 1922, um outro Serapião, Lev Lounz, procura também imprimir um fundo ideológico à orientação nociva e estranha à literatura soviética, que representa o grupo em questão. Lounz escreveu:

«Nós nos reunimos num momento de poderosa tensão revolucionária e política. ” Aquele que não esta conosco está contra nós», repetiam-nos de um lado e de outro.
Com quem estais, Irmãos Serapião, com os comunistas, ou contra os comunistas, pela Revolução ou contra a Revolução? Com quem estamos, Irmãos Serapião? Estamos com o anacoreta Serapião…
Durante muito tempo e de maneira muito dolorosa a literatura russa foi regida pela política. . . Não queremos utilitarismos. Não escrevemos para fazer propaganda. A arte é uma realidade, assim como a própria vida, e, como a própria vida, não tem objetivo, nem significação, existe porque não pode deixar de existir».
Eis o papel que os Irmãos Serapião destinam à arte, negando-lhe qualquer ideologia, qualquer significação social, proclamando sua indiferença, a arte pela arte, a arte sem objetivo e sem significação. É pura propaganda de um apoliticismo podre, da burguesia e da vulgaridade.

Que conclusão tirar? Se as instituições soviéticas desagradam a Zostchenko, que se deverá fazer: adaptar-se a Zostchenko ? Não somos nós que devemos nos adaptar a seus gostos. Não somas nós que devemos modificar nossos costumes e nosso regime à sua vontade. Ele que se adapte, e se não quiser — que se despeça da literatura soviética. A literatura soviética não tem lugar para obras corruptas, vazias de idéias e vulgares.

Foi isso que determinou o Comitê Central a tomar uma decisão a respeito das revistas “Zviezda” e “Leningrado”.

                                    Degradação do Grupo Literário dos «Akmeistas»

EXAMINEMOS agora a obra literária de Anna Akhmatova. Ultimamente suas obras têm reaparecido nas revistas de Leningrado, que lhe têm concedido espaço considerável. É tão espantoso e desconcertante isso, como se alguém houvesse tido a idéia de reeditar hoje as obras de Merejkovsky, Vietcheslav Ivanov, Michel Kuzmin, André Beely, Zinaide Hippius, Feodor Sologub, Zinovieva Annibal, etc. etc.; em outras palavras, todos aqueles que nossa literatura e a vanguarda de nossa opinião pública sempre consideraram como representantes do obscurantismo reacionário, como renegados na política e na arte.

Gorki em sua época dizia que os dez anos de 1907 a 1917 mereciam ser considerados como a década mais vergonhosa e mais estéril da história da intelectualidade russa, quando depois da Revolução de 1905 uma porção considerável dessa intelectualidade afastou-se da Revolução e acabou se afundando nos charcos da mística reacionária e da pornografia, brandindo a indiferença ideológica como uma bandeira, disfarçando sua traição nesta «bonita» estrofe:

«E queimei tudo o que venerava, rendendo homenagens ao que queimará».
É exatamente dessa época que datam as obras de renegados como «O Corsário Branco» de Ropchin, as obras de Vinnitchenko e outros desertores do Campo da Revolução para o da reação, que se apressaram a trair os grandes ideais pelos quais lutou a parte mais progressista da sociedade russa. Surgiram os simbolistas, os imaginistas, os decadentes de toda espécie, renegando o povo, proclamando a tese da «arte pela arte» preconizando o apoliticismo na literatura, camuflando sua corrupção ideológica e moral em busca da beleza vazia da forma. O medo animal da Revolução proletária, que se avizinhava, unia-os a todos. Basta lembrar que um dos maiores ideólogos dessas correntes literárias reacionárias foi Merejkovsky, que chamava a Revolução proletária iminente de «Rei Malandro» e que recebeu a Revolução de Outubro com um ódio bestial.

Anna Akhmatova é uma das representantes desse pântano literário apolítico e reacionário. Pertence ao grupo literário denominado «akmeistas» que se destacou, na ocasião, do grupo dos simbolistas. É um dos arautos, da poesia vazia, apolítica, aristocrática, de salão, absolutamente estranha à literatura soviética. Os «akmeistas» representavam uma corrente extremamente individualista na arte. Preconizavam a teoria da «arte pela arte», da «beleza pela beleza», não queria nada com o povo, com suas necessidades, seus interesses, com a vida pública.

No que diz respeito a suas origens sociais, era uma corrente de nobreza burguesa na literatura, numa época em que os dias da aristocracia e da burguesia estavam contados e em que os poetas e os ideólogos das classes dirigentes procuravam evitar à realidade desagradável, refugiando-se nas alturas nebulosas e nas brumas da mística religiosa, nas suas pequenas experiências pessoais e na análise de suas almas pusilânimes. Os «akmeistas», como os simbolistas e os decadentes, ou outros representantes da dissolvente ideologia burguesa, foram os apologistas do derrotismo, do pessimismo, da crença num mundo do além.

Toda a inspiração de Akhmatova é essencialmente individualista.

O diapasão de sua poesia é extremamente pobre — poesia de uma mulherzinha histérica, que se debate entre a alcova e o oratório. O que nela domina são os temas amorosos, eróticos, acompanhados dos temas da tristeza, da melancolia, da morte, da mística, da fatalidade. O sentimento da fatalidade — sentimento compreensível num grupo social que se extingue — o tom doloroso do desespero mortal, de transportes místicos mesclados de erotismo, esse. o mundo espiritual de Akhmatova, que não é senão o vestígio de uma velha: “cultura aristocrática desaparecida para sempre na eternidade do mundo «dos bons velhos tempos. ( de Catarina». Freira ou libertina, ou antes freira e libertina, em quem, a libertinagem se alia à oração..:

«…Mas eu te juro pelo jardim dos anjos, Eu te juro pela imagem milagrosa,
Pelos êxtases ardentes de nossas noite…» (Akhmatova. Anno Domini).
Essa é Akhmatova, com sua pequena e mesquinha vida pessoal, seus sentimentos pusilânimes e seu erotismo religioso e místico.

Sua poesia não tem nada de comum com o povo. É a poesia de 10.000 privilegiados da “velha Rússia aristocrática, condenados a suspirar pelos «velhos bons tempos». As casas de campo senhoriais do tempo de Catarina II, com suas avenidas de árvores seculares, fontes, estátuas, arcos de pedra, estufas, com seus pequenos bosques românticos e seus brasões decrépitos sobre os portões. A São Petersburgo de antanho; o Tsarkoé-Selo; a música de Pavlovsk e outras relíquias da cultura aristocrática. Tudo isso esvaiu-se em um passado que não volta- Os vestígios dessa cultura tão longínqua e estranha ao povo, conservados por um milagre qualquer até nossos dias, não têm nada de melhor a fazer do que se encerrarem em si próprios e viver de quimeras. «Tudo foi pilhado, traído, vendido», escreve Akhmatova.

Um dos mais importantes representantes desse grupo, Ossip Mandeistam, escrevia pouco antes da Revolução, a respeito dos ideais social-políticos e literários dos «akmeistas»:

«Os «akmeistas» têm o mesmo amor do organismo e da organização que a idade média fisiològicamente genial… A idade média, determinando à sua maneira o peso específico do homem, o considerava e reconhecia como absolutamente independente de seus serviços… Sim, a Europa passou pelo labirinto de uma cultura cuidadosa quando a vida abstrata, a existência pessoal sem qualquer ornamento eram consideradas como uma façanha. Dai a intimidade aristocrática, ligando todos os homens, tão estranha ao espírito de «igualdade e fraternidade» da grande Revolução… A idade média nos é cara porque nela existia um alto sentimento dos limites e das barreiras. A. mistura generosa do pensamento e da mística, a concepção do mundo como um equilíbrio vivo, nos aproximam dessa época e nos levam a sorver forças nas obras nascidas na era romana, lá pelo ano de 1200».
Essas idéias de Mandeistam exprimem as aspirações e os ideais dos «akmeistas». «Voltemos atrás, para a Idade Média» — eis o ideal comum desse grupo aristocrático dos salões. Voltemos ao macaco — responde-lhe Zostchenko. Diga-se de passagem, que tanto os «akmeistas» como os Irmãos Serapião têm o mesmo antepassado.

Para uns e para outros, é Hoffmann um dos fundadores da decadência e do misticismo aristocrático de salão.

Por que então, de repente, popularizar a poesia de Akhmatova? Que tem ela de comum conosco, com o povo soviético? Qual a necessidade de conceder uma tribuna literária a todas essas tendências decadentes e que nos são profundamente estranhas?

Sabemos pela história e pela literatura russa que mais de urna vez as correntes literárias reacionárias, a que pertencem os simbolistas e os «akmeistas», procuraram pregar uma cruzada contra as grandes tradições democrático-revolucionárias da literatura russa, contra seus representantes de vanguarda; procuraram privar a literatura de seu dignificado elevado, ideológico e social, de rebaixá-la ao pântano do apoliticismo e da vulgaridade. Todas essas tendências que estão «em moda» foram afagadas no Lethes e rejeitadas no passado, com as classes ideologia refletiam. Todos esses «akmeistas», simbolistas, esses camisas «amarelas», esses «valetes de ouro», esses «negadores», que . deixaram eles em nossa literatura soviética russa? Nada, absolutamente, apesar de sua cruzada contra os grandes representantes da literatura democrático-revolucionária russa — Belinsky, Dobrolubov, Tchernychevsky, Herzen, Saltykov, Tchedrin — ter sido preparada de maneira muito ruidosa e pretensiosa- para ter fracassado tão completamente.

                                         Servilismo Ante a Literatura Pequeno-Burguesa

Os «AKMEISTAS» proclamaram: «Não modificar nada na vida c não criticá-la». Por que se opunham eles a que a vida fosse modificada? Pôr que esses velhos costumes burgueses e aristocráticos lhes eram agradáveis e o povo revolucionário se preparava para destruir esse modo de vida. Em outubro de 1917, as classes dirigentes, bem como suas ideologias e seus poetas, foram atirados aos esgotos da história.

E eis que no 29.º ano da Revolução Socialista, inopinadamente, reaparecem essas antiguidades do mundo das trevas e se põem a doutrinar nossa juventude sobre a maneira de viver. Akhmatova teve abertas, bem grandes, as páginas da revista e pôde, livremente, envenenar a consciência da juventude com o espírito deletério de sua poesia. A revista Leningrado publicou em um de seus números uma espécie de antologia das obras de Akhmatova, escritas de 1909 a 1944. Em meio a esse montão de inutilidade, notemos um poema escrito na ocasião de sua evacuação durante a Grande Guerra Patriótica. Nessa poesia, ela descreve sua solidão, que foi obrigada a partilhar com um gato preto. O gato preto encara-a como os olhos do século. O tema não é novo. Akhmatova já falava do gato preto em 1909. O sentimento da solidão e do desespero, estranho à literatura soviética, encontra-se por toda a obra de Akhmatova.

Que há de comum entre essa poesia e os interesses de nosso povo e de nosso Estado? Absolutamente nada. A obra de Akhmatova pertence ao passado longínquo; é absolutamente estranha à realidade soviética atual e não devemos admiti-la nas páginas de nossas revistas. Nossa literatura não é uma empresa privada, destinada a satisfazer os diversos gostos do mercado literário. Não somos absolutamente obrigados a ceder um lugar em nossa literatura aos gostos e costumes que nada têm em comum com a moral e as virtudes dos homens soviéticos. Que podem ensinar à nossa juventude as obras de Akhmatova? Nada, a não ser o mal. Não podem senão semear o desânimo, o derrotismo, o pessimismo, o desejo de se afastar das questões fundamentais da vida social, de deixar a grande estrada da vida e da atividade social por um pequeno e estreito universo de emoções pessoais. Como é possível confiar-lhe a educação de nossa juventude? E no entanto foi com grande solicitude que se publicaram as obras de Akhmatova em Zviezda e Leningrado e, o que é pior, publicou-se toda a coleção de seus versos. Foi um grande erro político.

Não foi por acaso que depois de tudo isso as revistas de Leningrado começaram a publicar as obras de outros escritores que também haviam adotado atitudes de indiferença e decadência. Refiro-me às obras de Sadofiev e de Komissarova. Em alguns de seus versos, esses dois poetas seguiram os passos de Akhmatova, cultivando, eles também, um espírito de desânimo, de tristeza e de solidão, tão caro ã alma de Akhmatova.

Sem dúvida alguma essas tendências, ou um estado de espírito dessa natureza, não podem deixar de ter influência negativa sobre nossa juventude, de envenenar sua consciência com o espírito corrupto a indiferença, do apoliticismo e do desânimo.

E que teria acontecido se houvéssemos educado nossa juventude no espírito de desânimo e de descrença a respeito de nossa obra? Não teríamos, certamente, obtido o triunfo na Grande Guerra Patriótica. Foi precisamente porque o Estado Soviético e nosso partido, com o auxílio da literatura soviética, educaram a juventude no espírito de entusiasmo, de confiança em suas forças, precisamente porque superamos as maiores dificuldades na edificação do socialismo, que pudemos conquistar a vitória sobre os alemães e os japoneses.

Que decorre de tudo isto ? Decorre que a revista «Zviezda» publicando obras de valor, ideológicas, estimulantes, juntamente com obras apolíticas, vulgares, reacionárias, tornou-se uma revista sem orientação, que ajuda os inimigos a desagregar nossa juventude. Ora, nossas revistas sempre foram fortes devido a suas tendências estimuladoras e revolucionárias e não pelo ecletismo, a indiferença e o apoliticismo. A propaganda da indiferença recebeu regalias na revista «Zviezda». Mais ainda, diz-se que Zostchenko adquiriu tal influência entre as organizações de escritores em Leningrado que chegou a atacar os indóceis e ameaçar de difamação os que criticassem suas obras futuras. Parecia quase um ditador literário. Vivia cercado de um grupo de admiradores que o lisonjeavam.

Por que razão, perguntamos? Por que permitistes essas atividades anti-naturais e reacionárias?
Não foi absolutamente por acaso que as revistas literárias de Leningrado se encheram de admiração pela literatura contemporânea burguesa, de baixo nível, do Ocidente. Alguns de nossos escritores começaram a se considerar não como mestres, mas como alunos dos escritores pequeno burgueses, adotaram o tom de servilismo e de admiração para com uma literatura estrangeira mesquinha. Por acaso nos convém, a nós patriotas soviéticos, esse servilismo, a nós que edificamos o regime soviético que ê cem vezes superior e melhor que qualquer regime burguês? Por acaso convém à nossa literatura soviética, progressista, a mais revolucionária do mundo, esse servilismo para com a literatura mesquinha e pequeno burguesa do Ocidente?

O grande erro de nossos escritores foi de um lado, se afastarem dos temas soviéticos atuais, se acantonarem num tema histórico, e de outro, procurarem utilizar apenas temas divertidos e vazios. Certos escritores, para se justificarem de se terem afastado dos grandes temas soviéticos atuais, dizem que chegou a hora em que o povo tem necessidade de uma literatura divertida e vazia, em que não se precisa de ideologia nas obras. Isto é fazer uma idéia profundamente errada de nosso povo, de suas necessidades o de seus interesses. Nosso povo espera que os escritores soviéticos exprimam c generalizem a imensa experiência que ele tirou da Grande Guerra Patriótica, que eles descrevam e generalizem o heroísmo com que esse mesmo povo trabalha hoje para reerguer, uma vez expulsos os inimigos, a economia nacional j do país.

                                          A Revista «Leningrado» e a Causa dos Seus Erros

ALGUMAS palavras a respeito da revista Leningrado. Zostchenko nela ocupa uma posição ainda mais sólida do que em Zviezda, assim como Akhmatova. Tornaram-se os dois uma força literária ativa nessas revistas. Assim a revista Leningrado é responsável por ter posto suas páginas à disposição de um escritor tão vulgar como Zostchenko e de uma poetisa de salão da espécie de Akhmatova. Mas a revista Leningrado cometeu outros erros. Eis por exemplo a parodia de Eugênio Oneguin, escrita por um certo Hazin. Essa obra intitula-se: «A Volta de Oneguin».

Diz-se que se pode assisti-la freqüentemente nos teatros de Leningrado. É incompreensível que os leningradenses permitam que se ridicularize publicamente Leningrado, como o faz Hazin. Pois o sentido de toda essa paródia, dita literária, não é apenas uma caçoada inofensiva das aventuras de Oneguin, correndo atualmente em Leningrado. O sentido desse libelo de Hazin consiste em comparar nossa Leningrado de hoje à São Petersburgo da época de Pushkin e em demonstrar que nosso século é inferior ao de Oneguin. Examinemos pelo menos alguns versos dessa paródia. Nada agrada ao autor na Leningrado de hoje. Somente zombarias malévolas e calúnias dos homens soviéticos e de Leningrado, ao passo que o século de Oneguin é a idade de ouro, segundo Hazin. Hoje as coisas são diferentes — surgiram os salvo-condutos, os cartões de racionamento, o serviço nos quartéis. As jovens, aquelas criaturas etéreas e sobrenaturais que Oneguin admirava outrora, tornaram-se agora inspetoras do trânsito, elas reconstroem as casas etc. etc.. Permití-me citar ao menos uma passagem dessa “?paródia?”:

«Eis que nosso Eugênio sobe no bonde.
Pobre, bom homem!
Seu século inculto
Não conheceu esse meia de transporte.
A sorte lhe sorriu
Só lhe pisaram os pés,
E apenas uma vez, empurrando-o,
Chamaram-no de «idiota».
Ele, lembrando-se dos costumes de outrora,
Quis encerrar o incidente com um duelo.
Remexeu nos bolsos,
Mas há muito tempo já lhe haviam
Subtraído as luvas.
Na .falta das luvas não teve remédio senão
Ficar de boca fechada».
Eis aí Leningrado tal como era e tal como se tornou hoje em dia: feia, inculta, grosseira; como desagradou ao pobre, ao bom Oneguin. c assim que Hazin apresenta Leningrado e seus habitantes.
Que tendência maldosa, corrupta e podre nessa parodia caluniadora! Como pôde a redação de Leningrado deixar passar essa maldosa calúnia da cidade e de seus magníficos habitantes? Como se podem admitir Hazines nas revistas de Leningrado?

Tomemos uma outra obra, a parodia de uma parodia sobre Nekrasov, escrita de tal sorte que é um insulto direto à memória do grande poeta e do homem público que ele foi, insulto com o qual se devia indignar todo homem culto. Ora, a redação de Leningrado publicou com boa vontade esse vulgar ensopado literário.

Que encontramos ainda na revista Leningrado? Uma anedota estrangeira, sem graça e vulgar, tirada provavelmente das antigas coleções de anedotas surradas do fim do último século. Não terá, essa revista nada melhor para publicar? Não há nenhum assunto literário? Vede, por exemplo, o tema da reconstrução de Leningrado. Um trabalho magnífico se desenrola, a cidade cura suas feridas causadas pelo cerco. OS leningradenses estão cheios de entusiasmo e da alegria da reconstrução do após guerra. A revista Leningrado diz, por acaso, uma palavra sobre isso? Os habitantes de Leningrado terão o prazer de ver seus feitos refletidos nas páginas da revista?

Consideremos agora o tema da mulher soviética. Será possível permitir que se cultivem entre os leitores e feitoras soviéticos as opiniões impudicas de Akhmatova sobre o papel da mulher, sem dar uma única idéia exata, da mulher soviética em geral, da jovem e da mulher heroína de Leningrado em particular, que suportaram todo o peso das enormes dificuldades da “guerra e que trabalham hoje abnegadamente para levar a caba as árduas tarefas da reconstrução econômica?

Como se vê, a situação na seção de Leningrado da União dos Escritores é tal que no momento atual as obras de valor não são suficientes para duas revistas literárias e artísticas. Eis por que o Comitê Central da Partido decidiu suspender a revista Leningrado a fim de concentrar todas as melhores forças literárias na revista Zviezda. Isto, naturalmente, não significa que Leningrado não possuirá, em condições favoráveis, uma segunda e mesmo uma terceira revista. A questão será decidida pela número de obras de qualidade, de grande valor. Se estas forem bastante numerosas e se uma única revista não for suficiente, então poder-se-á criar uma segunda ou uma terceira revista, mas sob a condição única de que nossos escritores de Leningrado produzam obras de valor, da ponto de vista ideológico e artístico.

Foram esses os erros e as deficiências maiores revelados e destacados pela resolução do Comitê Central do Partido Comunista em relação às revistas Zviezda e Leningrado.» Qual a origem desses erros e dessas deficiências?

Sua origem decorre do fato de que os redatores das revistas em questão, nossos escritores soviéticos, bem como os chefes de nossa frente ideológica em Leningrado, esqueceram-se de alguns dos princípios fundamentais do leninismo sobre a literatura. Numerosos escritores, e entre eles os que ocupam postos de responsabilidade como redatores, ou na União das Escritores, pensam que a política é um negócio de governo, um negócio do Comitê Central. Quanto aos literatos, a política não lhes diz respeito. Se um homem escreve bem, artisticamente, numa bela forma -— é preciso publicar, apesar das passagens corrompidas que desorientam nossa juventude e a envenenam. Exigimos, que nossos camaradas, tanto os responsáveis literários como os que escrevem, se inspirem no princípio sem o qual o regime soviético não pode viver, isto é, a política, a fim de que nossa juventude não seja educada num espírito de indiferença e de displicência, e sim num espírito de entusiasmo revolucionário.

                                                         O Papel Social da Arte Progressista

Sabe-se que o leninismo assimilou todas as melhores tradições dos revolucionários democratas russos do século XIX e que nossa cultura soviética nasceu, desenvolveu-se e desabrochou graças à sua herança cultural do passado, sujeita a uma crítica aprofundada., No domínio da literatura nosso Partido reconheceu mais de uma vez, através as palavras Lênin e Stálin, o importantíssimo papel dos grandes escritores e críticos revolucionários democratas — Belinsky, Dobrolubov, Tchernychevsky, Saltykov-Tchedrin, Plekhanov. Começando por. Belinsky, todos os melhores representantes da intelectualidade revolucionária democrata não reconheciam a suposta «arte pura», «arte ( pela arte», e preconizavam a arte para o povo, sua alta significação ideológica e social. A arte não se pode afastar do destino do povo. j Lembrai-vos da famosa «Carta a Gogol» de Belinsky, em que o grande crítico fustigou apaixonadamente Gogol por ter este tentado trair o ] povo e passar para o campo do tzar. Lênin caracterizou essa carta | como uma das melhores produções da imprensa democrática não censurada, tendo conservado um grande alcance literário até o presente. -Lembrai-vos dos artigos jornalísticos e literários de Dobrolubov que mostram com tanta força todo o alcance social da literatura. } Toda nossa literatura publicista revolucionário-democrática está impregnada de um ódio mortal ao regime tzarista e saturada do desejo gene- j roso de lutar pelos interesses vitais do povo, pela sua cultura, sua instrução, sua libertação das cadeias do regime tzarista. Para os grandes , literatos russos, a literatura e a arte são meios de combate e de luta pelos supremos ideais do povo. Tchernychevsky, aquele que entre todos j os socialistas utópicos mais se aproximou do socialismo científico, e cuja obra, como dizia Lênin, «irradiava o espírito da luta de classes»; ensinava que o objetivo da arte era não só compreender a vida, mas ainda ensinar os homens a apreciar em seu justo valor os diferentes fenômenos sociais. Seu amigo e companheiro de luta mais íntimo, Dobrolubov, acentuava que «a vida não segue as normas literárias, mas a literatura se adapta às tendências da vida» e preconizava intensivamente os princípios do realismo e do populismo na literatura, julgando e a arte suprema era a realidade, que esta era a fonte da arte e a arte tinha um papel ativo na vida social, formando a consciência da Segundo Dobrolubov, a literatura deveria servir à sociedade, dar s° povos respostas para as questões atuais mais prementes, e manter-se no nível das idéias de sua época.

A crítica literária marxista, continuando as grandes tradições de Belinsky, Tchernychevsky, Dobrolubov, sempre foi a campeã da arte social. Plekhanov muito trabalhou para desmascarar as concepções idealistas e anti-científicas da literatura e da arte e para defender os princípios fundamentais de nossos grandes revolucionários democratas que sempre ensinaram que a literatura é um instrumento poderoso para servir aos interesses do povo.

Foi Lênin quem primeiro exprimiu com a maior nitidez o ponto de vista do pensamento social progressista sobre a literatura e a arte. Quero lembrar-vos o célebre artigo de Lênin «A Organização do Partido e a Literatura de Partido», escrito em fins de 1905, onde eles mostrou, com o vigor que lhe é próprio, que a literatura não podia deixar de ter partido, que devia ser um fator importante na luta do proletariado. Nesse artigo ele apresentou todos os princípios que constituem a base do desenvolvimento de nossa literatura soviética. Lênin escreve:

«A literatura deve tornar-se a obra do partido. Contra os costumes burgueses, a imprensa burguesa do comércio e da empresa, contra o carreirismo e o individualismo literários burgueses, a «anarquia senhoria » e a caça aos lucros, o proletariado socialista deve apresentar o princípio de uma literatura de partido, desenvolver esse princípio e lhe dar vida da maneira mais completa».
Em que consiste esse princípio de literatura de partido? Não somente em que a literatura proletária socialista não pode ser um meio de enriquecimento de um indivíduo ou de um grupo, mas que em geral não pode ser nem individual, nem independente da obra comum do proletariado. Abaixo os escritores sem partido! Abaixo os escritores super-homens! A literatura deve tornar-se parte integrante da luta proletária».

Mais adiante, no mesmo artigo diz Lênin:

«É impossível viver na sociedade e dela não depender. A liberdade do escritor, do artista, da atriz burguesa não é senão a dependência camuflada (ou hipocritamente disfarçada) da bolsa do empresário».
O leninismo parte do princípio de que nossa literatura não pode ser apolítica, não pode considerar «a arte pela arte», mas deve desempenhar Um papel de vanguarda na vida social. Nisso se inspira o princípio leninista da literatura de partido — a contribuição mais preciosa de Lênin à ciência da literatura.

Segue-se daí que a melhor tradição da literatura soviética continua as melhores tradições da literatura russa do século XIX, tradições criadas por nossos grandes revolucionários democratas – Belinsky, Dobrolubov, Tchernychevsky, Saltykov-Tchedrin, seguidos por Plekhanov — formuladas e elaboradas cientificamente por Lênin e Stálin.

Nekrasov chamava sua poesia «a musa da vingança e da dor». Tchernychevsky e Dobrolubov consideravam a literatura como um dever sagrado para com o povo Os melhores representantes da intelectualidade ] democrática russa morriam, sob o regime tzarista, por essas grandes! Idéias generosas, eram condenados à prisão e ao exílio. Como é possível] esquecer-se dessas gloriosas tradições? Como não levá-las em consideração, como permitir que Akhmatovas e Zostchenkos lancem às escondidas palavras de ordem reacionárias da «arte pela arte» e, disfarçando-se com a máscara do apoliticismo, imponham idéias estranhas ao povo soviético?

O leninismo empresta à nossa literatura soviética uma grande importância social e educativa. Se nossa literatura soviética permitir que J esse papel educador seja rebaixado — isto significaria um recuo, ai volta à «idade da pedra».

O camarada Stálin denominou nossos escritores «os engenheiros da alma humana». Essa definição tem uma grande significação. Sub-entende a enorme responsabilidade dos escritores soviéticos na educação dos homens, da juventude, em sua vigilância para não permitir produtos literários defeituosos.

Certas pessoas estranham que o Comitê Central tenha tomado medidas tão fortes numa questão literária. Não estão habituados a isto. Acham perfeitamente natural a severidade nas questões de infrações! na produção, ou de atraso na realização de programa da produção ou dos estoques de madeira, mas quanto às infrações na educação da alma.-humana ou da juventude, estas são toleradas. No entanto, não são estas faltas muito mais graves do que a não-realização de um programa de produção ou o fracasso de uma tarefa industrial? Com sua resolução, o Comitê Central pretende colocar a frente ideológica acima de todos os outros ramos de nosso trabalho.

Ultimamente foram notadas grandes deficiências e brechas na frente ideológica. Basta citar-vos o atraso de nossa arte cinematográfica. Quanto joio entre essas produções de nosso repertório dramático, sem contar o que aconteceu nas revistas Zviezda e Leningrado. O Comitê Central foi forçado a intervir, e a modificar categoricamente a situação. Não tinha mais o direito de atenuar o golpe que vibrava naqueles que se esquecem de suas obrigações para com o povo e a educação da juventude. Se quisermos chamar a atenção de nossos ativistas para os problemas ideológicos e a fazê-lo com ordem, orientando claramente a tarefa a cumprir, deveremos criticar duramente, como convém a homens soviéticos, a bolcheviques, os erros e as deficiências do trabalho ideológico. Só então conseguiremos modificar a situação.

Certos escritores raciocinam da seguinte maneira: considerando-se que durante a guerra o povo passou fome de literatura, que se publicavam poucos livros, o leitor engolirá qualquer mercadoria, mesmo apodrecida. No entanto, não é o que acontece e não podemos admitir essa espécie de literatura que nos irão apresentar escritores, redatores e editores sem discernimento. O povo espera dos escritores soviéticos uma verdadeira armadura ideológica, uma alimentação espiritual que o ajudará a realizar os planos da grande construção, da restauração e. do envolvimento da economia nacional de nosso país.

Exige muito dos escritores, deseja ver satisfeitas suas aspirações ideológicas e culturais. Durante a guerra, devido às circunstâncias, não pudemos satisfazer suas necessidades vitais. O povo quer que se expressem os acontecimentos passados. Seu nível ideológico e cultural elevou-se. Freqüentemente não fica satisfeito com a qualidade das obras literárias e artísticas que se publicam em nosso país. Certos escritores e trabalhadores da frente ideológica não querem compreender isto.

O nível das exigências e do gosto de nosso povo elevou-se muito e aquele que não quiser compreendê-lo ou nele não se conseguir manter ficará para trás. A literatura não se destina unicamente a seguir o nível das necessidades do povo, muito mais, deve desenvolver seus gostos, elevar suas exigências, enriquecê-lo com idéias novas, levá-lo para diante. Aquele que não puder seguir o povo, satisfazer suas aspirações, manter-se no nível de desenvolvimento da cultura soviética, tornar-se-á forçosamente inútil.

Outro grande erro decorre da, insuficiência ideológica dos diretores de Zviezda e Leningrado. Esse erro consiste em que alguns de nossos trabalhadores da direção haviam colocado em primeiro plano suas relações com os escritores, não os interesses da educação dos homens soviéticos e de suas tendências políticas, mas interesses pessoais e de camaradagem. Diz-se que numerosas obras perigosas ideologicamente, e fracas artisticamente, foram publicadas por medo de ofender, este ou aquele escritor. Do ponto de vista desses redatores, .era melhor sacrificar os interesses de povo e os do Estado a fim de não defender ninguém. Essa é uma situação perfeitamente injusta e politicamente errada, é como se se pretendesse trocar um milhão por um tostão.

                                                          Desenvolver o Espírito Crítico

O Comitê Central do Partido assinalou em sua resolução o grande perigo que existe no fato de substituir uma atitude de princípio na literatura por relações, de camaradagem. Essa atitude de camaradagem, sem princípios, de certos escritores nossos, teve uma influência profundamente negativa, provocou o abaixamento do nível ideológico de numerosas obras literárias e facilitou o acesso à literatura a elementos estranhos à literatura soviética. A ausência de senso critico nos chefes da frente, ideológica em Leningrado, nos redatores das revistas da cidade, a substituição de uma atitude, de princípio por relações de camaradagem, à custa dos interesses do povo, causaram um grande prejuízo.

O camarada Stálin nos ensina que se quisermos conservar quadros, instruí-los e educá-los, não devemos ter medo de ofender ninguém, nem recear uma crítica de princípios audaciosa, franca e objetiva. Sem a crítica, qualquer organização, mesmo literária, pode desagregar-se. Sem a crítica pode-se agravar qualquer doença e será muito mais difícil vencê-la. Só uma crítica ousada e franca pode contribuir para aperfeiçoar nossos cidadãos, levá-lo para a frente e superar as deficiências de seu trabalho, Onde não existe crítica, instala-se a estagnação, falta o ar, não há mais lugar para o progresso.

O camarada Stálin assinalou mais de uma vez que a condição essencial de nosso desenvolvimento é que todo cidadão soviético deve fazer corajosamente o balanço de seu trabalho, criticar suas deficiências e seus erros, refletir sobre a possibilidade de obter melhores resultados e trabalhar sem descansa para seu aperfeiçoamento. Isto se refere tanto aos escritores como aos demais trabalhadores. Aquele que tem medo de criticar seu trabalho é um poltrão desprezível, indigno da estima do povo.

A atitude não-crítica a respeito do trabalho, a substituição de uma atitude de princípio para com os escritores por uma atitude de camaradagem também está muito disseminada na direção da União dos Escritores Soviéticos. A direção da União, e particularmente seu presidente, o camarada Tikhonov, são responsáveis pelos erros descobertos nas revistas Zviezda e Leningrado, responsáveis não só pelo fato de não terem impedido a infiltração na literatura soviética da influência nociva de Zostchenko, Akhmatova e outros escritores não-soviéticos, como também por terem estimulado a infiltração em nossas revistas de tendências e costumes estranhos à literatura soviética.

O sistema de irresponsabilidade que se instalou na direção das revistas e, particularmente, na redação das revistas de Leningrado, onde não se sabia quem era o responsável pela revista, e pelos seus diferentes setores, onde não se observava nem a ordem mais elementar, esse sistema também influiu para as deficiências das duas revistas.

É indispensável consertar essa situação. Eis por que o Comitê Central em sua resolução designou um redator chefe do Zviezda responsável por suas tendências e pelas altas qualidades ideológicas e artísticas das obras nela publicadas.

A desordem e a anarquia são inadmissíveis nas revistas, como em qualquer outra empresa. É necessária uma responsabilidade precisa para dirigir uma revista e cuidar do material literário por ela publicado.

Deveis restaurar as grandes tradições da literatura e da frente ideológica de Leningrado. É triste e penoso que as revistas de Leningrado, que sempre foram mananciais de idéias progressistas, de uma cultura progressista, tenham-se tornado o refúgio da indiferença e da vulgaridade. É preciso restabelecer a honra de Leningrado, como centro progressista, ideológico e cultural. É preciso recordar que Leningrado foi o berço das organizações bolcheviques de Lênin. Foi em Leningrado que Lênin e Stálin apresentaram os princípios do Partido Bolchevique, os princípios da doutrina e da cultura bolcheviques.

É uma questão de honra paia os escritores de Leningrado, para suas atividades partidárias, restaurar e desenvolver essas gloriosas tradições de Leningrado. A tarefa dos trabalhadores da frente ideológica, e acima de tudo os escritores, consiste em eliminar da literatura de Leningrado o apoliticismo e a vulgaridade, a elevar bem alto o estandarte da literatura soviética progressista, a aproveitar todas as possibilidades de elevar seu nível ideológico e artístico, e não ficar para trás dos temas da atualidade, das necessidades do povo, a desenvolver, por todos os meios, uma crítica ousada de suas deficiências, não uma crítica servil, nem de grupo, nem de confraria, mas uma verdadeira crítica audaciosa e independente, ideológica e bolchevique.

Camaradas, vedes claramente agora o erro grosseiro que o Comitê do Partido em Leningrado admitiu, e particularmente sua seção e seu Secretário de Propaganda, o camarada Chirokov, que havia sido colocada à frente do trabalho ideológico e que é o primeiro responsável pela má direção das revistas. O comitê de Leningrado cometeu um grande erro político adotando, em fins do mês de junho, uma decisão relativa à nova equipe da redação do Zviezda nela incluindo Zostchenko. Só uma cegueira política pode explicar que o secretário do Comitê de Leningrado, Kapustin, e o secretário de propaganda do Comitê de Leningrado Chirokov, tenham tomado uma decisão tão errônea. Repito, todos esses erros devem ser emendados o mais rapidamente e o mais categoricamente possível, a fim de que Leningrado retome seu lugar na vida ideológica de nosso Partido.

                                                              Tarefas do Escritor Soviético

Todos nós amamos Leningrado, todos nós amamos nossa organização do Partido em Leningrado, como uma das unidades de vanguarda de nosso Partido. Leningrado não deve ser o refúgio dos diversos canalhas literários que querem explorá-la no seu próprio interesse. Zostchenko, Akhmatova e tutti quanti não amam a Leningrado soviética. Vêem nela o símbolo de outras instituições sociais-políticas e de uma outra ideologia. A antiga São Petersburgo, o Cavaleiro de Bronze, que a encarna aos seus olhos, eis as visões que lhes enchem os olhos. Mas nós amamos a Leningrado soviética, a Leningrado centro progressista da literatura soviética. A célebre coorte dos grandes revolucionários democratas, provenientes de Leningrado, são nossos antepassados diretos, à cuja árvore genealógica pertencemos. As grandes tradições da Leningrado de hoje continuam essas grandes tradições revolucionárias e democráticas que não trocaremos contra nada neste mundo. Que os ativistas de Leningrado analisem seus erros com coragem, sem olhar para trás, sem se deterem a fim de retificar melhor e mais rapidamente suas faltas, e de levar avante nossa obra ideológica. Os bolcheviques de Leningrado devem novamente ocupar seu lugar na vanguarda da ideologia soviética, da consciência social soviética.

Como pôde acontecer que o Comitê do Partido em Leningrado tenha admitido um tal estado de coisas na frente ideológica? Provavelmente interessou-se pelo trabalho prático, corrente, da restauração da cidade, pelo seu progresso industrial e esqueceu-se do papel de seu trabalho ideológico, e este esquecimento custou caro à organização de Leningrado! Não se pode esquecer do trabalho ideológico! As riquezas espirituais de nossos cidadãos são tão importantes quanto suas riquezas materiais. Viver como cego, sem se preocupar, com o dia de amanhã é tão nocivo no domínio da ideologia quanta no da produção material. Nosso homens soviéticos cresceram de tal maneira que não. «engolirão» qualquer produção espiritual que lhes queiram oferecer. Os trabalhadores da cultura e da arte que não se queiram reformar, não poderão satisfazer as exigências crescentes do povo, e perderão rapidamente sua confiança.

Camaradas, nossa literatura soviética vive, e deve viver, pelos interesses do povo e da pátria. A literatura diz respeito ao povo. Eis porque o povo considera cada sucesso vosso, cada uma de vossas obras de valor como vitórias suas. Eis porque se pode comparar cada obra vitoriosa com um combate ganho, ou como uma grande vitória na frente econômica. Pelo contrário, cada fracasso na literatura soviética, é profunda e amargamente sentida pelo povo, pelo Partido, pelo Estado. É precisamente o que visa a resolução do Comitê Central, que se preocupa com os interesses do povo, com sua literatura, e que está extremamente inquieto com a situação dos escritores de Leningrado.

Se homens apolíticos querem privar o batalhão dos escritores soviéticos de Leningrado de seus fundamentos, solapar o aspecto ideológico de seus trabalhos, privar a arte de seus escritores de seu alcance social e educativo o Comitê Central espera que saberão encontrar em si próprios forças suficientes para resistir a todas as tentativas para arrastá-los e às suas revistas na corrente do apoliticismo, da indiferença e da covardia. Estais na vanguarda da frente ideológica; erguem-se diante de vós imensas tarefas de significação internacional; isto deve estimular o sentimento de responsabilidade de todo escritor soviético para com seu povo, seu Estado, seu Partido, assim como a consciência da importância do dever cumprido.

Nossos sucessos desagradam ao mundo burguês, tanto em nosso país como na arena internacional. Depois da segunda guerra mundial consolidaram-se as posições socialistas. O socialismo está na ordem do dia em numerosos países da Europa, p que contraria os imperialistas de toda espécie. Eles temem o socialismo, temem nosso país socialista que é um modelo para toda a humanidade progressista. Os imperialistas, seus êmulos ideológicos, seus escritores e seus jornalistas, seus políticos e seus diplomatas procuram por todos os meios caluniar nosso país, apresentá-lo sob uma falsa luz, caluniar o socialismo. Nessas condições a tarefa da literatura soviética consiste não só em devolver golpe por golpe toda essa odiosa calúnia e todo ataque contra nossa cultura soviética, contra o socialismo, mas ainda em fustigar e atacar corajosamente a cultura burguesa que está num estado de marasmo e corrupção.

Por. mais bela que seja a forma externa das obras dos escritores burgueses atuais da Europa Ocidental ou da América, dos empresários cinematográficos ou dramáticos,, eles não saberão, salvar ou reerguer sua cultura burguesa, pois que esta está a serviço da propriedade privada capitalista, a serviço de interesses egoístas, de . uma sociedade privilegiada burguesa. Toda a multidão de escritores, de empresários burgueses, procura desviar a atenção das camadas progressistas da sociedade das questões candentes da luta política e social, e de orientá-la para uma literatura e uma arte apolíticas, repletas de gangsteres, de figurantes das variedades, da apologia do adultério e das façanhas de toda sorte de aventureiros e velhacos.

Por acaso nos convém, a nós, representantes da cultura soviética progressista, patriotas soviéticos, esse papel servil diante da cultura burguesa ou o papel de seus discípulos? É nossa literatura, refletindo um. regime mais evoluído que qualquer regime burguês-democrático, uma cultura muitas vezes superior a qualquer cultura burguesa, que tem o direito de ensinar a outros uma nova moral humana. Onde encontrarei um povo e um país como os nossos? Onde encontrarei essas notáveis virtudes de homens de que deu prova nosso povo soviético na Grande Guerra Patriótica e de que dá prova diariamente. em seu trabalho, tendo passado à restauração e ao desenvolvimento pacíficos da economia e da cultura? Cada dia que se passa vê elevar-se mais nosso povo. Não somos mais hoje o que fomos ontem, e amanhã não seremos mais o que somos hoje. Não somos mais os russos de antes de 1917 e a Rússia não é mais a mesma, como não o é nosso caráter. Mudamos, crescemos com essas gigantescas reformas que modificaram radicalmente o aspecto de nosso país.

Mostrar essas grandes virtudes novas dos homens soviéticos, mostrar nosso povo, não somente como é hoje, mas como será amanhã iluminar com um projetor o caminho que está à frente, — tais são as tarefas de todo escritor soviético honesto. O escritor não pode ficar a reboque dos acontecimentos, deve marchar na vanguarda do povo, mostrando-lhe o caminho de seu desenvolvimento! Inspirando-se nos métodos do realismo socialista, estudando conscientemente e atentamente nossa, realidade, esforçando-se por penetrar mais profundamente na essência de nossa evolução, o escritor deve educar o povo e armá-lo ideologicamente. Apontando os melhores sentimentos e qualidades do homem soviético, revelando-lhe seu futuro, devemos ao mesmo tempo mostrar ao nosso povo aquilo que.ele não deve ser, devemos fustigar as remanescências do passado, as remanescências que impedem o homem soviético de marchar para frente. Os escritores soviéticos devem ajudar o povo, o Estado, o Partido a educar nossa juventude corajosa e confiante em suas forças, sem temer quaisquer dificuldades.

Sejam quais forem os esforços dos políticos e dos escritores burgueses para esconder de seus povos a verdade pura, os resultados obtidos pelo regime e a cultura soviéticos, apesar de todas as suas tentativas de erguer uma cortina de ferro, através da qual a verdade sobre a União Soviética não possa penetrar, de diminuir a verdadeira envergadura da cultura soviética — todas essas tentativas estarão fadadas, ao fracasso. Conhecemos muito bem. a força e a supremacia de nossa cultura. Basta lembrar os sucessos estupendos de nossas delegações culturais no estrangeiro, nossa parada de cultura física, etc.. Acaso cabe-nos, a nós, prosternar-nos servilmente diante do estrangeiro ou aquartelarmo-nos na defensiva?

Se o regime feudal, e em seguida a burguesia, conseguiram cm seu período de florescimento criar uma arte e uma literatura para consagrar um novo regime e proclamar seu brilho, tanto melhor poderemos nós criar, graças a nosso novo regime socialista, que representa o que há de supremo e de melhor na história da civilização e da cultura humanas, a literatura mais progressista do mundo que sobrepujará as melhores obras do passado.

Camaradas, que quer e exige o Comitê Central? Quer que os ativistas e os escritores de Leningrado compreendam bem que chegou o momento em que é indispensável reerguer consideravelmente o nível de nosso trabalho ideológico. A jovem geração soviética deverá consolidar as forças e o poder do regime soviético socialista, explorando plenamente as forças motrizes da sociedade soviética, com vistas ao florescimento sem precedente de nosso bem estar e de nossa cultura. Para este fim, a jovem geração deve ser educada corajosamente, ardentemente, sem temer obstáculos, marchando ao encontro de todas as dificuldades e sabendo superá-las. Nossos homens devem ser instruídos, ter idéias elevadas, exigências e gostos culturais e morais desenvolvidos. Com esse objetivo, nossa literatura, nossas revistas, não devem manter-se afastadas dos problemas da atualidade, mas, ao contrário, devem ajudar o Partido e o povo a educar a juventude num espírito de fidelidade absoluta ao regime soviético, de abnegação aos interesses do povo.

Os escritores soviéticos e todos os nossos trabalhadores ideológicos ocupam na hora atual a primeira linha, pois que na conjuntura da paz, as tarefas da frente ideológica, e em primeiro lugar dos escritores, longe de se restringirem, intensificam-se ao contrário. O povo, o Estado, o Partido não querem que os escritores se afastem da atualidade, querem que a literatura esclareça todos os aspectos da vida soviética. Os bolcheviques apreciam grandemente a literatura, vêem claramente sua alta missão histórica e seu papel na consolidação da unidade moral e política do povo, na sua fusão e sua educação. O Comitê Central quer que tenhamos uma abundante cultura espiritual, pois que vê nessa riqueza uma das principais tarefas do socialismo.

O Comitê Central está certo de que o setor literário de Leningrado, moral e politicamente são, saberá retificar rapidamente seus erros e ocupar o lugar que lhe cabe na literatura soviética.

Está certo de que as deficiências do trabalho dos escritores de Leningrado serão superadas e que o trabalho ideológico da organização do Partido nessa cidade elevar-se-á no mais breve prazo ã altura atualmente necessária aos interesses do Partido, do povo e do Estado.