O COMIÍTÊ CENTRAL do Partido Comunista (bolchevique) considera que a ópera «A Grande Amizade» — música de V. Muradeli, libreto de G. Mdivani — posta em cena no teatro Bolshoi da URSS, na comemoração do XXX aniversário da Revolução de Outubro, é uma produção anti-artística, viciada tanto em sua música como em seu argumento.

Os defeitos fundamentais da ópera residem, sobretudo, em sua falta de expressão e na pobreza de sua música. Nela não há nenhuma melodia ou ária que se retenha na memória. É ruidosa e desarmônica, construída sobre contínuas dissonâncias, sobre combinações de sons que ferem os ouvidos. Algumas partes e cenas que pretendem ter certa melodia são repentinamente interrompidas por um ruído inarmônico, inteiramente estranho ao ouvido humano normal e que deprime a quem o escuta. Não existe vínculo algum entre o acompanhamento musical e o desenvolvimento da ação na cena. A parte vocal — coros, solos e canto conjunto — deixa uma pobre impressão. Isto não permite aos cantores e à orquestra pôr em jogo todas as suas possibilidades.

O compositor não utiliza a fonte das melodias populares — canções, estribilhos, motivos de bailes e danças — de que são tão ricos os povos da URSS e, em particular, os que habitam o norte do Cáucaso, onde se desenrolam as cenas representadas na ópera.

Procurando uma falsa «originalidade» musical, o compositor Muradeli abandona as melhores tradições e a experiência já assegurada na ópera clássica em geral e na russa em particular, que se destaca por seu conteúdo interior, sua riqueza de melodias e sua amplitude de diapasão, por sua essência popular, sua forma musical elegante, bela e clara, que fizeram da ópera russa a melhor do mundo e um gênero musical que agrada e é acessível às grandes massas populares.

A fábula, que pretende representar a luta pelo estabelecimento do Poder soviético, e a amizade dos povos do norte do Cáucaso nos anos de 1918-20, é historicamente falsa e artificial. Da ópera surge a idéia falsa de que os povos caucasianos como os georgianos e ossietinos se achavam naquela época inimizados com os russos, o que é historicamente falso, posto que, naquele período, o obstáculo para o estabelecimento da amizade entre os povos do Norte do Cáucaso foram os inguches e os tchechenes.

O Comitê Central do Partido Comunista (b) considera que o fracasso desta ópera é resultado do caminho formalista, falso e pernicioso para sua composição, que o camarada Muradeli adotou.

Como demonstraram as deliberações tomadas no Comitê Central do Partido Comunista (b) pelos trabalhadores soviéticos da música, não se trata de um caso particular mas de um caso estreitamente ligada ao estado desfavorável em que se acha a música soviética, em conseqüência da difusão da tendência formalista entre os nossos escritores.

Já em 1936, por ocasião da apresentação da ópera de Chostakovitch «Lady Macbeth do distrito de Mzemsk», as deformações antipopulares, formalistas desta obra foram objeto de uma severa crítica no órgão do C. C. do Partido Comunista (b) «Pravda», onde se pôs em evidência o mal que causava e o perigo que acarretava esta tendência para a sorte do desenvolvimento da música soviética. A «Pravda», por indicação do Comitê Central do Partido (b), formulou então claramente as exigências do povo soviético para com os seus compositores.

Apesar destas advertências e a despeito também das indicações feitas pelo Comitê Central do Partido Comunista (b) em suas resoluções sobre as revistas «Zviesda» e «Leningrado», sobre o filme «A Grande Vida» e sobre o repertório dos teatros dramáticos e as melodias necessárias ao seu aprimoramento, na música soviética não se produziu qualquer melhora. Certos êxitos de alguns compositores soviéticos no campo da criação de novas canções — que tiveram acolhida e ampla difusão entre o povo —, na criação da música para cinema, etc., não modificam o quadro geral da situação. Esta é particularmente má na produção sinfônica e de óperas. Trata-se aqui dos compositores que aderem à tendência formalista anti-popular. Esta tendência encontrou sua expressão mais completa nos compositores D. Chostakovitch, S. Prokofieff, A. Khatchatürian, V. Chebalin, G. Popov, N. Miaskovsky e outros, em cujas obras se acham presentes de maneira particularmente visível, deformações formalistas, tendências anti-democráticas, alheias ao povo soviético e a seu gosto artístico. Traço característico desta tendência é a negação dos princípios básicos dá música clássica, a pregação da atonalidade, a dissonância e a desarmonia como supostas expressões de «progresso» e «inovação» no desenvolvimento da forma musical, a rejeição de importantíssimas bases — como a melodia, por exemplo, — da obra musical, a preferência pelas combinações ruidosas, neuropáticas, que transformam a música numa cacofonia, num ajuntamento caótico de sons. Com isto se presta marcado tributo à música atual burguesa modernista da Europa e da América, que reflete o marasmo da cultura burguesa e é a negação completa da arte musical, seu beco sem saída.

Traço essencial da tendência formalista é também a rejeição da música polifônica e do canto — que se baseiam na combinação e no desenvolvimento simultâneo de linhas melódicas independentes — e a atração pela música unitonal, uníssona e um canto freqüentemente sem palavras, o que representa uma violação do sistema polifônico de música e canto de nosso povo e conduz ao empobrecimento e à decadência da música.

Desprezando as melhores tradições da música clássica, russa e ocidental; rejeitando estas tradições como supostamente «envelhecidas», «fora de moda», «conservadoras», tratando altivamente de «partidários do tradicionalismo primitivo» e «epígonos» aos compositores que procuram conscientemente assimilar o desenvolver da música clássica, muitos compositores soviéticos, em busca de uma inovação compreendida num falso sentido, se afastaram em sua música das exigências e do gosto do povo soviético, se encerraram num círculo estreito de especialistas e apreciadores de musicais, o elevado papel social da música e restringiram sua importância, limitando-a à satisfação dos gostos deformados de individualistas com pretensão estetas.

A tendência formalista na música soviética em uma dos compositores a atração unilateral pelas formas complexas da música sinfônico-instrumental sem texto e o tratamento desdenhoso do gêneros musicais como a ópera, a música coral, a popular para pequena orquestra, instrumentos populares, conjuntos vocais, etc.

Tudo isto conduz inevitavelmente à perda das bases da cultura musical e do domínio dramatúrgico, e os compositores se esquecem de escrever para o povo, como o atesta o fato de que nos últimos tempos não se criou uma única ópera soviética que esteja à altura da ópera clássica russa.

Em alguns, este afastamento do povo chegou a tal ponto que tornou possível entre eles a difusão da teoria de que a incompreensão por parte do povo da música de muitos compositores soviéticos contemporâneos, se explicaria pelo fato de que este «não se elevou» ainda até a compreensão de música tão completa, que a compreenderá dentro de séculos e que não há por que lamentar-se se algumas obras musicais não encontram ouvintes. Esta teoria de ponta a ponta, realmente anti-popular, contribuiu para que alguns compositores e musicólogos se afastassem ainda mais do povo, da crítica do povo soviético e se fechassem em sua carapaça.

Cultivar todas estas opiniões e outras semelhantes traz enorme, prejuízo à arte musical soviética. Tratar com tolerância estas opiniões significa difundir entre os trabalhadores da cultura musical soviética tendências alheias a ela e que conduzem a um beco sem saída o desenvolvimento de nossa música, à liquidação de nossa arte musical.

À tendência viciada, antipopular, formalista da música soviética exerce também perniciosa influência na preparação e educação dos compositores jovens em nossos conservatórios, em primeiro lugar, no Conservatório de Moscou (que tem como diretor, o camarada Chebalin), onde a tendência formalista é dominante. Não se inculca nos estudantes o respeito pelas melhores tradições da música clássica russa e ocidental, não se cultiva neles o amor ao acervo popular, às formas musicais democráticas. A obra de muitos discípulos dos conservatórios é uma cega imitação da música de D. Chostakovitch, S. Prokofieff e outros.

O Comitê Central do Partido Comunista (b) comprova a intolerável, situação da crítica musical soviética. Predominam entre os críticos os adversários da música realista russa, os partidários da música decadente e formalista. Estes críticos declaram que cada produção estrelada de Prokofieff, Chostakovitch, Miaskovsky, Chebalin, é «uma nova conquista da música soviética», e glorificam nesta música o subjetivismo construtivismo, o individualismo extremo, a complexidade profissional da expressão, quer dizer, precisamente o que deve submetido à crítica. Em lugar de destruir as opiniões e teorias perniciosas, alheias aos princípios do realismo socialista, a própria critica musical contribui para sua difusão, ao elogiar e declarar «avançados» os compositores que compartilham em sua produção dos falsos princípios criadores.

A crítica musical deixou de expressar a opinião do público soviético, a opinião do povo, e se converteu em porta-voz de certos compositores. Alguns críticos musicais em lugar de exercer uma crítica objetiva, se fizeram, por razões de amizade, complacentes e servis ante tais ou quais figuras musicais, exaltando suas obras de mil modos.

Tudo isto significa que numa parte dos compositores soviéticos persistem as sobrevivências da ideologia burguesa, alimentadas pela influência da ideologia da música contemporânea decadente do Ocidente da Europa e da América.

O Comitê Central do Partido Comunista (b) considera que esta situação desfavorável, na frente da música soviética, surgiu como resultado da linha incorreta aplicada no campo da música soviética pelo Comitê das Artes, adjunto ao Soviet de Ministros da URSS, e pelo Comitê de Organização dos compositores soviéticos.

O Comitê das Artes adjunto ao Soviet de Ministros da URSS, cujo diretor é o camarada Khrapchenko e o Comitê de Organização dos Compositores soviéticos dirigido pelo camarada Khatchaturian, em lugar de desenvolver na música soviética a tendência realista, cujas bases são o reconhecimento do enorme papel progressista da herança clássica, em especial das tradições da escola musical russa, a utilização desta herança e seu desenvolvimento ulterior, a combinação de um elevado conteúdo com a perfeição artística da forma musical, a veracidade e a realidade da música, seu profundo vínculo orgânico com o povo e sua criação musical e vocal, o elevado domínio profissional com a simplicidade e a acessibilidade simultâneas das obras musicais, estimulou essencialmente a tendência formalista, estranha ao povo soviético.

O Comitê de Organização dos Compositores Soviéticos se converteu em instrumento de um grupo de compositores formalistas, tornando-se o viveiro principal das deformações formalistas. No Comitê de Organização criou-se uma atmosfera de relaxamento, com a completa ausência de discussões frutíferas. Os diretores do Comitê de Organização e os musicólogos que se agrupam em torno deles enchem de elogios as produções anti-realistas, modernistas, que não merecem apoio; em troca, a obras que se destacam por seu caráter realista, por sua aspiração a prolongar e desenvolver a herança clássica, são declaradas secundárias, passam desapercebidas e são mal julgadas. Os compositores que se orgulham de seu «inovacionismo» e «arquirevoluicionarismo» no campo da música, de sua atividade dentro do Comitê Organizador agem como campeões do conservadorismo mais retrógrado e impenitente, revelando uma presunçosa intolerância para com a menor crítica.

O Comitê Central do Partido Comunista (b) considera que a atmosfera e o tratamento com respeito às tarefas da música soviética que se desenvolveram no Comitê das Artes adjunto ao Soviet de Ministros da URSS e o Comitê Organizador da União dos Compositores Soviéticos não podem ser tolerados por mais tempo porque produzem um mal enorme ao desenvolvimento da música soviética. Nos últimos anos, as exigências culturais e o nível do gosto artístico do povo soviético esperam dos compositores produções de alta qualidade e idéias, em todos os gêneros — na música de ópera, sinfônica, coral e coreográfica. Em nosso país se deu aos compositores possibilidades ilimitadas para a criação, estabelecendo-se todas as condições necessárias para um autêntico florescimento da cultura musical. Os compositores soviéticos têm um auditório como jamais conheceu qualquer compositor do passado. Seria imperdoável não utilizar todas essas riquíssimas possibilidades e não orientar todos os esforços criadores pelo verdadeiro caminho realista.

O Comitê Central do Partido Comunista (b) resolve:

  1. Condenar a tendência formalista na música soviética como antipopular e que conduz na realidade à sua liquidação.
  2. Propor à Direção de Propaganda e Agitação do Comitê Central e ao Comitê das Artes a modificação da situação em que se acha a música soviética, a liquidação dos defeitos assinalado»na presente resolução do C.C. e assegurar o desenvolvimento da música soviética dentro da tendência realista.
  3.  Convidar os compositores soviéticos a adquirir plena consciência das elevadas exigências que o público soviético faz sobre a criação musical e, depois de haver afastado de seu caminho tudo o que debilita nossa música e estorva o seu desenvolvimento, assegurar um ascenso tal que impulsione rapidamente nossa música e a cultura musical soviética e conduza” à criação, em todos os domínios da produção musical de obras cheias; de valor, de alta qualidade, dignas do povo soviético.
  4. Aprovar as medidas organizativas dos órgãos partidários correspondentes, destinadas à melhoria  do problema musical.

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«Juntamente com as forças democráticas de todo o mundo precisamos apenas usar nossos esforços e poderemos, com toda a certeza, derrotar os planos imperialistas de escravização, impedir a eclosão de uma terceira guerra mundial, derrubar a opressão de todos os reacionários e conquistar a vitória da paz eterna para a humanidade.»

Mao Tse-Tung