Não há, nem deve haver contraste irreconciliável entre o individual e o coletivo, entre os interessas da pessoa individual e os interesses da coletividade. Não deve haver tal contraste, porque o coletivismo, o socialismo não nega e sim combina os interesses individuais e os interesses da coletividade.

O socialismo não pode fazer abstração dos interesses individuais, Somente a sociedade socialista é que pode satisfazer completamente esses interesses pessoais. Ainda mais: só a sociedade socialista é que pode salvaguardar firmemente os interesses do indivíduo. Neste sentido, não há contraste irreconciliável entre “individualismo” e socialismo. Porém podemos negar o contraste entre as classes, entre a classe dos proprietários, a classe dos capitalistas, e a classe dos trabalhadores, a classe dos proletários? De um lado, temos a classe dos proprietários, que é dona dos bancos, das fábricas, das minas, do transporte, das plantações nas colônias. Tais pessoas não vêem senão seus próprios interesses, sua ambição pelos lucros. Não se submetem à vontade da coletividade; esforçam-se, isso sim, por subordinar cada coletividade à sua vontade. De outro lado, temos a classe dos pobres, a classe explorada, a que não possui nem fábricas, nem oficinas, nem bancos, a que é obrigada a viver vendendo sua força de trabalho aos capitalistas e que carece de oportunidade para satisfazer suas necessidades as mais elementares. Como se podem conciliar interesses tão opostos…? Pelo que eu sei, Roosevelt não conseguiu encontrar a senda da conciliação entre esses interesses. E é impossível, como já o demonstrou a experiência. Ocasionalmente, o senhor conhece a situação dos Estados Unidos melhor do que eu, porque nunca estive lá e observo os assuntos norte-americanos sobretudo através da sua literatura. Porém tenho alguma experiência na luta pelo socialismo e esta experiência me diz que, se Roosevelt tem de fato intenção de satisfazer os interesses da classe proletária à custa da classe capitalista, esta porá outro Presidente no lugar dele. Os capitalistas dirão: os Presidentes passam, porém nós permaneceremos; se esse ou aquele Presidente não protege os nossos interesses, encontraremos outro. Pode o Presidente opor-se à vontade da classe capitalista…?

(Da entrevista concedida por J. Stálin ao escritor inglês H. G. Wells, em julho de 1934 e publicada sob o título “Marxismo e Liberalismo”).