No concerto geral das rivalidades entre as super-potências visando ao hegemonismo, a África constitui uma peça-mestre. É objeto da sua cupidez desenfreada. As razões são econômicas, estratégicas e políticas.

A África é um reservatório de matérias-primas para os países imperialistas. Produz 97% do cromo mundial, 85% da platina, 64% do ouro, 50% do manganês, 25% do urânio, 13% do cobre. Produz também diamantes, bauxita, fosfatos, ferro, carvão, petróleo etc. No plano agrícola, a África contribui com 2/3 da produção mundial de cacau; alimenta 60% dos mercados internacionais de amendoim; produz 1/3 do consumo mundial de café e 1/5 da madeira consumida no planeta.

Do ponto de vista estratégico, a África projeta-se sobre o Atlântico, sobre o Oceano Indico e sobre o Mar Mediterrâneo. O petróleo que abastece a Europa transita ao largo da África.

Todas estas riquezas, e a situação estratégica do continente africano, contribuíram desde cedo para atrair o apetite das potências imperialistas. O ato mais cínico, face à África, foi aquele que consistiu na escravização de seus filhos, os mais valorosos, como consta dos tratados escravocratas dos séculos XVII e XVIII; tratados que representaram um papel saliente no advento do capitalismo. Marx escreveu: "A descoberta das regiões de ouro e de prata da América, a transformação dos indígenas em escravos e seu enfurnamento nas minas ou a sua exterminação, o início das conquistas e da pilhagem nas Índias Orientais, a conversão da África numa espécie de entreposto comercial para a caça aos peles negras, eis aí os procedimentos idílicos da acumulação primitiva que assinalam a aurora da era capitalista".

Após haver esvaziado a África da parte mais valiosa de seus filhos, os imperialistas procederam ao seu desmembramento, a partir de 26 de fevereiro de 1885, em Berlim. O primeiro-ministro britânico, Lord Salisbury declarou: "Nós tratamos de dividir sobre os mapas regiões onde o homem branco não tinha jamais posto os pés. Distribuímos, entre nós, montanhas, rios, lagos, apenas constrangidos pela pequena dificuldade de não saber exatamente onde se encontravam estas montanhas, estes rios e estes lagos". As consequências deste desmembramento são ainda vivazes no continente e constituem uma arma em mãos das super-potências e das potências imperialistas para suscitar o ódio entre povos, fomentar confrontações artificiais entre distintos países, criar e atiçar contradições entre as nacionalidades no seio de um mesmo país, encorajar o tribalismo, isto com o fim sórdido de satisfazer seus objetivos rapaces. Em 20 anos de independência jurídica, os conflitos fronteiriços, os enfrentamentos étnicos, tribais e nacionalistas no interior de cada país, não têm conta. O exemplo do Chade onde – apoiando-se sobre diversas camarilhas pequeno-burguesas e burguesas chauvinistas, o imperialismo e o social-imperialismo se preparam para desmembrá-lo – é o mais ilustrativo da atualidade. Pode-se ver, assim, a importância de que se reveste para os marxistas-leninistas africanos a necessidade de um tratamento correto do problema nacional, tanto dos pontos de vista da questão antiimperialista como do livre desenvolvimento e da igualdade das nacionalidades no interior de nossas sociedades. Certamente, cabe à vanguarda de cada povo determinar, sobre a base de uma análise minuciosa, as realidades históricas, econômicas e sociais de seu país, a importância e a amplitude deste problema no processo revolucionário.

Hoje, a África é cobiçada pelas potências imperialistas e um centro de interesse em suas rivalidades hegemônicas. O imperialismo norte-americano, o social-imperialismo soviético e o social-imperialismo chinês fazem tudo para estabelecer sua hegemonia na África. Carter declarou em julho de 1977: "Pessoalmente, eu me inclino em lançar um desafio decisivo à URSS na África". Por sua parte, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha do Leste, Klaus Willerding, declarou em 15 de agosto de 1979: "Estamos decididos a reforçar nosso engajamento na África, no quadro da expansão territorial do sistema socialista". O expansionismo territorial do sistema socialista de que fala esse descarado revisionista germânico, agente do social-imperialismo soviético, outra coisa não é senão o reforçamento das posições soviéticas na África. Com efeito, cada uma das duas superpotências pretende pôr a mão sobre a África às expensas de sua rival e servir-se disto na luta contra a concorrente.

O IMPERIALISMO AMERICANO E SUA ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO NA ÁFRICA

O imperialismo norte-americano, como agressor que é dos povos, jamais poupou esforços para dominar a África. Este é o sentido da declaração de Carter. Ele arma e sustenta os regimes ditatoriais, tais como os de Mobutu, Hassan II, Numeiry, Anuar Sadat e o bastião racista da África do Sul. Mantém na África bases militares, como as das Ilhas Canárias e de Diego Garcia. Goza de facilidades militares na Monróvia, em Mombassa, etc. Seus navios de guerra, que patrulham os mares ao largo da África, constituem ameaça permanente para os povos deste continente. Além da África do Sul e do Egito, o imperialismo estadunidense tenta fazer da Nigéria um peão de sua política na África e um gendarme na África Ocidental, em especial. Neste quadro situa-se o papel da Nigéria nos acontecimentos do Chade, notadamente suas repetidas ameaças de intervenção militar, bem como as ameaças de intervenção e as medidas de desforço em Gana (corte no abastecimento de petróleo), em consequência do golpe militar do capitão J.J. Rawlings. Também neste quadro situa-se o acordo secreto entre o poder de Kerekou e as autoridades da Nigéria, visando a permitir-lhes uma intervenção militar no Daomé para proteger o poder de Kerekou, caso este se veja em sérios apuros com as oposições populares, podendo o pretexto oficial dessa intervenção ser a proteção de importantes interesses nigerianos no país. Atualmente, o imperialismo norte-americano esforça-se para ocupar a base militar de Berbera, na Somália. Ele é um grande traficante de canhões e um fautor de guerra no continente. Apóia e encoraja os atos agressivos e a pilhagem de seus parceiros alemães, japoneses e, sobretudo, franceses na África.

O imperialismo francês desempenha, presentemente, o papel de destacamento de choque de todo o bloco ocidental imperialista na África, seu braço armado, para o reforçamento de sua influência. A França mantém numerosas bases agressivas no continente africano em Djibuti, Mayotte, Reunião, Senegal, Costa do Marfim, Gabão, Chade, Mauritânia e, ultimamente, na República Centro-Africana, após sua intervenção de tipo colonialista que levou novamente ao poder o tiranete Dacko. Note-se que nessa ocasião, a França contou com os aplausos entusiásticos do imperialismo americano. Em 1977, a França interveio no Zaire, onde predominam os interesses americanos, para proteger o poder de Mobutu. No Saara Ocidental e no Chade ela empregou seus aviões jaguar contra populações pacíficas. Em quase todas estas intervenções, a França se beneficiou do apoio logístico norte-americano. Para salvaguardar suas conquistas na África, o imperialismo francês baseia-se nos chamados acordos de cooperação, que são, nem mais nem menos, acordos leoninos de pilhagem e agressão. Um exemplo disto observa-se na parte do orçamento para 1980 do ministério da Cooperação, reservada à guerra, de 14,4%, enquanto a parte consagrada à cooperação social e cultural não passa de 3,6%. Por sua política agressiva e de pilhagem, a França atrai o ódio legítimo dos povos, que lutam, e justamente bradam: "fora da África o imperialismo francês!". Seguramente, esta política agressiva na África encontrará um fim vergonhoso. É o que reconhece o ultracolonialista Pierre Messmer quando declara: "Um dia, uma intervenção de mais, mesmo justificada, desencadeará o furor geral. Se nós formos o alvo dele, toda a política francesa na África será varrida como num vendaval".

O imperialismo francês e todo o bloco ocidental tem contado com o apoio e a ajuda do social-imperialismo chinês nesta política ignominiosa na África. A POLÍTICA CHINESA NA ÁFRICA
A política chinesa com relação à África é a imagem dos vaivéns e da falta total de espírito de princípio da política dos dirigentes chineses. Quando das conquistas das independências formais de 1960, os governos reacionários dos países africanos – por pressão do imperialismo americano, do imperialismo francês e também pelo anticomunismo primário daqueles governos – recusaram-se a estabelecer relações diplomáticas com a China. Esta recusa decorria do fato de que eles temiam que a China introduzisse a subversão em seus países. Raros foram os governantes que mantiveram relações diplomáticas com Pequim. Esta situação durou até a entrada da China na ONU.

A partir desse momento houve uma corrida para o estabelecimento de relações diplomáticas com o poder de Mao Tsetung. Foi também por este período que a China, aplicando a teoria dos três mundos, recebia Nixon em Pequim. Desde então, a China fez uma entrada "triunfal" no Continente. Começaram os incessantes desfiles dos chefes de Estado africanos em Pequim, onde eram agraciados com os títulos de "grandes combatentes antiimperialistas", "grandes revolucionários" etc; todos fizeram essa viagem, de Mobutu a Kerekou, passando por Bongo, Numeiry, e outros.

Esta política nada tinha de revolucionária, foi uma oportunidade para a China lançar as bases de sua penetração imperialista. Ela começou a fornecer armas aos governos para reprimir os povos. Isto aconteceu no Sudão, em 1970, após o golpe fracassado dos oficiais ligados ao partido revisionista sudanês. Isto sucedeu também em relação a Mobutu, do Zaire. Desde 1975, quando da aliança com o imperialismo norte-americano com a África do Sul e ela própria, em plena guerra de libertação de Angola, a China tomou-se uma aliada fiel dos imperialistas ocidentais, defensora zelosa das causas mais reacionárias no continente africano.

A China apóia a aliança entre o Mercado Comum Europeu e os países da África, das Caraíbas e do Pacífico, notadamente Lome I e II. Apóia a soit-disant, nova ordem econômica mundial que não passa de um instrumento de mistificação em mãos das potências imperialistas. Ela defende as instituições neocolonialistas, a exemplo das conferências franco-africanas, bem como todas as iniciativas agressivas do imperialismo francês na África. Por sua política mecanicista e vulgar, ela dá apoio a qualquer poder reacionário que tenha alguma contradição com o social-imperialismo soviético. Já em 1967, a China apoiava a Biafra de Ojukwu, porque a URSS sustentava o governo federal da Nigéria. Ela se apressa, em toda parte, em aliança com o imperialismo americano, a preencher todo vazio deixado pela União Soviética. É o caso da Somália, onde a China se tornou um grande fornecedor de armamentos ao governo de Siad Barré. É igualmente o caso do Egito, com o qual a China coopera no grande complô urdido em Camp David contra os povos árabes e o povo palestino, e fornece armas a Anuar Sadat, de comum acordo com o imperialismo dos Estados Unidos. Sendo economicamente fraco, o social-imperialismo chinês põe em ação seus agentes dos grupúsculos maoístas para reforçar sua influência na África. Sua tática atual é de recomendar aos seus agentes a integrarem os governos reacionários a fim de fazer pender a balança em favor do social-imperialismo chinês e do grupo dos países imperialistas ocidentais; no quadro das lutas entre frações pró-imperialistas no seio dos poderes fantoches, como se verifica no Daomé. É neste contexto que se observa a integração recente do PDG, de Bongo e seus êmulos, tendo em vista reforçar a influência do social-imperialismo chinês no Gabão. O Partido Comunista da China mantém relações de partido para partido com o PDG, de Bongo, o PRPB, de Kerekou, o RPT, de Eyadema e muitos outros partidos pró-imperialistas no continente. Quando duma recente visita ao Senegal, uma delegação do PCCh declarou: "Os países africanos têm necessidade de capitais para se desenvolver. Antes de chegar ao socialismo científico é preciso passar por etapas. Segundo nossa compreensão – disse ele –, o socialismo científico deve se basear na grande produção. Nos países africanos, as forças produtivas não são ainda bastante desenvolvidas. Por conseguinte, na medida em que isto não comprometa a soberania dos Estados, estes podem utilizar a tecnologia e os capitais ocidentais para elevar o nível de vida das populações". É o complemento lógico da aplicação do pensamento Mao Tsetung, uma teoria antimarxista, eclética e sem princípios. Esta política da China desperta mais e mais a indignação e o ódio dos povos africanos, sendo certo que o social-imperialismo chinês conhecerá o mesmo destino que as outras potências imperialistas no continente africano.

A ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO DO SOCIAL-IMPERIALISMO SOVIÉTICO NA ÁFRICA

A União Soviética, da mesma forma que o imperialismo norte-americano, considera a África como um peão importante em sua rivalidade pela conquista da hegemonia mundial. A declaração citada do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha do Leste é reveladora do interesse do social-imperialismo russo pela África.

Uma das táticas favoritas da URSS para penetrar na África tem sido, nestes últimos tempos, a infiltração no movimento de libertação nacional, visando a desorientá-lo e transformá-lo em instrumento de sua política social-imperialista. Os acordos de "amizade e defesa", com a duração de 25 anos, assinados entre a URSS e os diferentes movimentos de libertação nacional, atualmente no poder, o apoio desses movimentos na ONU à agressão soviética ao Afeganistão confirmam a veracidade desta tática. Outra é a que consiste em apoiar seus agentes no seio dos exércitos neocoloniais e realizar putschs, após os quais ela se instala no país sob a cobertura dos acordos de cooperação e defesa, diligentemente assinados com os novos dirigentes. Recomenda, ainda, aos seus agentes nas organizações pró-soviéticas a se aliarem aos oficiais pretensamente patriotas para efetuar golpes ou apoiar os governos ditos progressistas saídos desses golpes, tal como sucedeu na Etiópia (com o poder de Mengistu), na Líbia, no Daomé, na Somália, no Congo (B) etc.

Como ponta-de-lança de sua penetração na África, o social-imperialismo russo se serve cada vez mais dos cubanos e dos alemães do Leste, como carne de canhão. Os cubanos mantêm um corpo expedicionário de mais de 40 mil soldados na África, dos quais mais de 20 mil no chifre da África e um pouco menos em Angola. Cuba procura obter soldados com Sekou Touré, Kerekou e, anteriormente, com Macias Nguema para servirem de corpos de guarda em outros países. O fato de que estes corpos de guarda são negros, não os permite distinguir dos nativos. A URSS tornou-se um grande negociante de canhões na África e equipa os exércitos de numerosos governos reacionários. Soviéticos, alemães do Leste e cubanos apoiaram o governo de Mengistu (Etiópia) na sua luta chauvinista contra o povo da Eritréia. A União Soviética saqueia as riquezas naturais da África e ameaça sua segurança com seus vasos de guerra que rondam o continente africano.

Todos estes atos revoltam a consciência dos povos da África, destroem a máscara soviética de "amiga" das nações africanas. Cresce cada vez mais o ódio à política da URSS, tanto quanto às outras potências imperialistas.

A LUTA DOS POVOS AFRICANOS CONTRA OS OBJETIVOS IMPERIALISTAS NESTE CONTINENTE

Os povos africanos humilhados, espoliados e explorados durante séculos jamais aceitaram passivamente a dominação e a exploração dos imperialistas e de seus agentes. Não têm conta as lutas, as sublevações que registra a história gloriosa de sua resistência. A história de dominação colonial está marcada por grandes façanhas armadas dos africanos. Os povos da África deram uma grande contribuição ao esmagamento do nazismo, durante a Segunda Grande Guerra. Estas lutas, combinadas com as lutas dos outros povos da Ásia, da América Latina e da classe operária das metrópoles imperialistas, forçaram o imperialismo a se retirar formalmente da África, com a liquidação do sistema colonial.

A abolição desse sistema constitui, do ponto de vista histórico, um progresso. Deu nascimento a uma série de Estados, juridicamente independentes, mas inteiramente submetidos às potências imperialistas, através de numerosos acordos de "defesa, amizade e cooperação” impostos pelos imperialistas. A situação desses novos países que alcançaram a soberania nacional se parece com aquela descrita por Stalin a respeito da Alemanha e do Japão, vencidos na Grande Guerra: "Estes países levam hoje uma existência lamentável – disse ele – sob a bota do imperialismo norte-americano. Sua indústria e sua agricultura, seu comércio, sua política exterior e interior, toda a sua existência está encadeada ao 'regime de ocupação americana'". A pretendida independência dos países africanos não é senão uma aparência enganosa, mascarando a dependência completa destes Estados com relação a tal ou qual grupo imperialista. Robert Galley, ministro francês da Cooperação, numa entrevista à revista Jeune Afrique, declarou, em janeiro do ano passado: "Após a deposição de Mokassa e a subida de David Dacko, é preciso que a situação econômica se levante de novo. Cabe a mim, reerguê-la". Ele, que não é ministro centro-africano, nem presidente da República Centro-Africana, julga-se com direito de restaurar a situação econômica desse país! O governador do tempo colonial de Oubangui não usaria linguagem diferente. Explorados pelo imperialismo, oprimidos por seus agentes africanos, os povos africanos não gozam das mais elementares liberdades democráticas. O direito de greve é desconhecido no continente. As greves, as mais pacíficas, são afogadas em sangue, como ocorreu no Senegal e no Mali, onde os governos de Senghor e de Moussa Traore mandaram atirar sobre os estudantes que não pediam mais do que o melhoramento das suas condições de vida e de estudo. Sistematicamente, os camponeses são massacrados ante a indiferença geral dos órgãos de imprensa imperialistas, burgueses e revisionistas. Em fins de 1979, Ahidjo, que a imprensa imperialista se compraz em chamar de sábio da África, ele, que tem as mãos vermelhas de sangue de milhares e milhares de patriotas camerunenses, fez massacrar centenas de camponeses no norte do Camerum. Em 1975, Kerekou mandou atirar sofre a multidão em Cotonou, fazendo numerosos mortos. São inúmeras as prisões de pessoas simples do povo, suspeitas de apoiar o Partido Comunista do Daomé ou que se recusam a fazer trabalhos forçados. Em 1976-77, o governo de Kerekou lançou o que denominou de luta contra os vestígios das forças feudais. Os camponeses pobres foram encerrados nas prisões ou nos comissariados de polícia sob a alegação de pertencerem a seitas de feitiçaria. Em quase todos os países da África milhares e milhares de pobres apodrecem nas prisões dos fantoches africanos, sob a vigilância dos conselheiros imperialistas da repressão.

Os revisionistas da Alemanha do leste e os oportunistas da Coréia do Norte fornecem armas sofisticadas às forças da repressão da Etiópia, Angola, Guiné, Congo (B), Benin etc. Eles dão assistência ao regime ditatorial de Mengistu nos assassinatos coletivos na Etiópia. A Guiné, de Sekou Touré, por exemplo, é um vasto campo de concentração, onde há mais de vinte anos as massas populares são vítimas do terror policial do PDG. A África é o continente cujo número de refugiados atinge a mais alta cifra do mundo: 4 milhões de pessoas deslocadas de seus países em consequência da repressão, dos conflitos suscitados artificialmente pelos países imperialistas, bem como dos enfrentamentos étnicos e tribais no interior dos diversos países.

É sabido que todos os crimes dos fantoches, todos os atentados às liberdades democráticas são feitos sob a proteção das potências imperialistas e revisionistas. Sabe-se que o assassino e torturador Mobutu, do Zaire, é protegido pelos imperialistas norte-americanos, pelos jaguars franceses e pelos social-imperialistas chineses; que a ditadura de Bokassa foi instalada e mantida durante muitos anos pelo imperialismo francês. É notório que Idi Amin Dada foi instalado pelos imperialistas anglo-saxões, com a ajuda dos sionistas de Israel; seu exército era equipado pelos social-imperialistas de Moscou. O poder sanguinário de Macias Nguema, na Guiné Equatorial, tinha o apoio dos cubanos, dos soviéticos, dos chineses; o palácio do ditador foi construído pelo imperialismo francês.

Todos esses ditadores são rejeitados pelo imperialismo como limão espremido, quando já estão bastante desgastados, ou quando as sublevações populares aproximam-se do ponto de os varrerem definitivamente. Por isso, o grande ruído feito pela imprensa imperialista após a queda de Amin Dada, Macias Nguema e de Bokassa não é mais do que manifestações da mais grosseira hipocrisia. Para nós, não há bons e maus ditadores, não há diferenças entre um Ahidjo, um Mobutu, um Mengistu, um Eyadema, um Sekou Touré, um Idi Amin, um Kerekou (que declarou, em 17 de agosto de 1979, diante dos estudantes: "Em 26 de outubro de 1972 dissemos que marcharíamos sobre cadáveres (…) é preciso acrescentar hoje que esses cadáveres serão de estudantes (…) isto não nos faz medo, podem me comparar com Bokassa (…) há motivos para matar crianças se elas são crápulas…"). É por essa razão que nós desaprovamos o papel jogado pelas tropas tanzanianas nos acontecimentos sobre-vindos em Uganda e reafirmamos nossa firme adesão ao princípio da não-ingerência nos negócios internos de outros países.

A experiência concreta da África mostrou que o imperialismo é a fonte das guerras injustas. O imperialismo e as burguesias nacionais reacionárias a seu serviço representam o amordaçamento das liberdades democráticas, as deportações maciças, o leiloamento das riquezas nacionais. Daí por que, nós, os marxistas-leninistas da África, devemos manter bem alta, como indicou Stalin, a bandeira das liberdades e da verdadeira independência. Ninguém melhor que nós pode lutar de maneira consequente pelas liberdades democráticas. Precisamos indicar às massas, na prática, que a democracia e a liberdade se conquistam na luta. A ausência total das mais elementares liberdades democráticas, a degradação das condições de vida e de trabalho suscitam na África, com muita força, a aspiração à democracia e ao socialismo. Todo democrata, todo patriota, todo revolucionário na África se diz socialista. Quase todos os movimentos de libertação nacional na África reivindicam o socialismo e mesmo o marxismo-leninismo. O socialismo, desde logo, não é considerado como um modo de produção social, com as suas leis próprias, mas como um sistema de democracia onde não há fome nem injustiças. Atolados no espontaneísmo e na subestimação do papel do partido marxista-leninista, os pretensos marxistas-leninistas africanos não souberam, durante largo tempo, pôr em prática este precioso ensinamento de Lênin: "É absolutamente preciso traçar os limites em relação a todos os outros, separar única e exclusivamente o proletariado, e em seguida declarar que o proletariado libertará a todos, aos quais ele apela e convida para a ação". Não tendo podido seguir essas indicações de Lênin, eles se meteram nos fronts antiimperialistas, animados por correntes ideológicas espontaneístas e pequeno-burguesas, afundaram-se no oportunismo. Influenciados longo tempo pelo pensamento Mao Tsetung e pelas experiências das correntes nacionalistas asiáticas, não deram o seu justo valor ao partido marxista-leninista na revolução. O proletariado, assinala Lênin, não tem outra arma em sua luta senão a organização. A adesão, da boca para fora, à necessidade da criação do partido marxista, tal a prática das seitas primitivistas que aderiram formalmente ao marxismo-leninismo, e com firmeza ao pensamento Mao Tsetung, após sua ruptura organizacional com o Partido Africano da Independência (PAI), revisionista, sobretudo nas antigas colônias francesas. Jamais pensaram em estudar e difundir a teoria marxista-leninista. Em lugar da adesão a uma linha e a princípios teóricos e ideológicos tais como o reconhecimento da luta de classe como a força-motriz da história; o reconhecimento do Estado como instrumento de dominação de classe; a necessidade da violência revolucionária para a substituição do regime burguês e, em consequência, a necessidade da instauração, e conservação da ditadura do proletariado até ao advento do comunismo; a aceitação do internacionalismo proletário – ao invés disso, as seitas recrutavam à base do "devotamento", da "honestidade", da "simplicidade" e de outros preceitos morais, acima das classes. Recomendava-se um comportamento ascético, plebeu, revelando, assim, a ideologia pequeno-burguesa dessas seitas e a origem camponesa de seus adeptos.

A fim de distinguir o revolucionário do não-revolucionário, tinha-sé à mão esta citação de Mao Tsetung: "Para determinar se um intelectual é revolucionário, não-revolucionário ou contra-revolucionário, há um critério decisivo: é o de saber se ele quer se ligar e se ele se liga efetivamente às massas operárias e camponesas. Somente isto constitui a linha de demarcação, e não de tagarelice, dos três princípios do povo e do marxismo". Sobre a “base dessa máxima espontaneísta, as seitas maoístas lançaram à pequena-burguesia intelectual ao assalto das massas operárias e camponesas; principalmente destas últimas, a fim de nelas apoiar-se para conseguir uma base política.

O movimento estudantil tornou-se de fato a vanguarda do movimento revolucionário africano, tendo à sua frente uma inter-africana pretensiosa e pequeno-burguesa. Os estudantes determinavam, não somente ao nível de cada país a etapa da revolução, após uma análise superficial e subjetiva, mas ainda estendiam essa análise para determinar a etapa da revolução em todo o continente africano, como uma etapa de igual conteúdo e sob a mesma denominação. Não tendo percebido como condição necessária e indispensável para o triunfo da revolução a criação do partido da classe operária, todo o acento era posto na formação de um certo front antiimperialista. Este front não era compreendido como forma tática possível da unidade política do povo, mas como o agrupamento necessário de um mosaico de organizações de massas e de partidos, todos em pé de igualdade, e considerados vanguarda (!) da luta. Isto tudo revela bem a natureza profundamente pequeno-burguesa das seitas primitivistas pelas quais se orientavam os estudantes. A luta armada, como meio para a conquista do poder, era tida de maneira militarista e putschista, "o poder estava na ponta do fuzil".

Sustentando tais opiniões, estas seitas não concebiam a revolução na África como integrada no processo geral da revolução proletária mundial, mas sim de maneira estreita e chauvinista. Em A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky, Lênin afirmou: "Meu dever, dever de representante do proletariado revolucionário, é preparar a revolução proletária mundial. Não é do ponto de vista do meu país que eu devo raciocinar, mas da minha participação na preparação, na propaganda, nos trabalhos de aproximação da revolução proletária mundial".

Todas estas seitas, moldadas no pensamento Mao Tsetung, influenciaram negativamente muitos dos jovens intelectuais que procuravam abraçar a ideologia do proletariado. Sem lhes oferecer uma perspectiva, elas contribuíram para jogar muitos deles nos braços do imperialismo ou a precipitá-los na apatia e na confusão. Tudo isto impõe travar uma luta de princípio contra eles para liquidar sua influência no movimento revolucionário. Compreender estas coisas e se engajar efetivamente nesta via é já uma grande contribuição no aceleramento do processo revolucionário na África, e na luta contra o oportunismo.

Conscientes dessas insuficiências do movimento marxista-leninista na África e para semear a confusão e a desesperança, os governos antipopulares, reforçados pelas diversas correntes espontaneístas e socialistas pequeno-burguesas, se apresentam como socialistas e mesmo como marxista-leninistas. Pouquíssimos são os governantes africanos que não reivindicam alguma afinidade com o socialismo. Desde o socialismo africano de Senghor, o socialismo destourien de Borguiba, até o socialismo "científico” de Kerekou, Sassou N'Guesso, passando pelo socialismo islâmico de Khadafi etc. No VI Congresso do PTA, Enver Hoxha assinalou: "Fala-se também hoje de socialismo em certos países que se libertaram da velha dominação colonial do imperialismo. De um país a outro se atribui às noções de "socialismo", de "sociedade socialista" um conteúdo diferente. Nessas teorias há coisas obscuras, confusas, ecléticas, há uma mescla de princípios socialistas com princípios capitalistas, uma mescla de ideologia socialista com a ideologia burguesa nacionalista e religiosa. A compreensão correta do socialismo é uma importante questão de princípio, pois ajuda as lutas dos povos pelo socialismo a orientar-se corretamente, a ter um objetivo claro. Eis por que é de particular importância que os revolucionários fixem um limite e uma clara demarcação entre os verdadeiros países socialistas e os que, de socialistas, só têm o nome, como igualmente é importante que se faça uma distinção entre os partidos e as forças marxistas-leninistas autênticas que lutam pelo socialismo e os partidos que de comunistas só têm o nome na tabuleta de sua sede". O socialismo existe como teoria e prática, realizada por Lênin e Stalin na URSS, antes de sua liquidação pela camarilha revisionista de Kruschev-Brejnev. O socialismo existe e se constrói hoje na Albânia sob a direção do PTA, com Enver Hoxha à frente. O socialismo permitiu à Albânia, outrora o país do beys e dos gendarmes, ser hoje um bastião da revolução mundial e o farol dos povos do mundo na luta contra o imperialismo, a burguesia, a reação, pela vitória da causa revolucionária.

Se, durante muito tempo, o movimento revolucionário africano foi dominado pelo espontaneísmo, se os comunistas africanos não puderam, neste imbróglio pequeno-burguês, desfraldar sua própria bandeira, a bandeira vermelha, vermelha do sangue dos mártires do proletariado internacional, se eles não puderam até então delimitar as fileiras dos revolucionários para marchar à frente dos democratas sinceros, dos patriotas, o desenvolvimento destes últimos anos mostraram que novas perspectivas começam a se abrir diante do proletariado africano. Com efeito, o nascimento do Partido Comunista do Daomé (PCD), do Partido Comunista Revolucionário Voltaico (PCRV), do Partido Comunista da Etiópia (PCE) e a criação da Organização Comunista de Angola (OCA), o reagrupamento de autênticos marxistas-leninistas em outros países que se propõem, prioritariamente, criar partidos proletários – é uma garantia para o reforçamento do movimento marxista-leninista na África. E, quando estes jovens partidos tiverem se reforçado e lançado à luta, à cabeça do proletariado e das massas laboriosas da África, eles livrarão este continente da exploração do homem pelo homem, limparão o opróbrio e desterrarão as desgraças que os imperialistas e a burguesia nacional reacionária fazem recair sobre os povos, com o seu escravizador sistema capitalista. Eles darão, assim, sua contribuição ao triunfo da revolução proletária mundial.

EDIÇÃO 1, MARÇO, 1981, PÁGINAS 36, 37, 38, 39, 40, 41