O Novo Livro de Enver Hoxha – Mais Um Golpe Demolidor no Revisionismo Contemporâneo
Em seus quatro capítulos, esse livro apresenta um rico balanço histórico do período do pós-guerra; restabelece a verdade dos fatos, muitos dos quais distorcidos pela propaganda burguesa e revisionista; analisa a fundo as circunstâncias históricas e as condições objetivas e subjetivas que favoreceram e determinaram o surgimento do revisionismo contemporâneo e sua transformação em corrente internacional, atada por mil e um fios ao sistema de dominação imperialista e social-imperialista; demole, um por um, os argumentos e teses dos partidos que representam o eurocomunismo – o Partido Comunista Italiano, o Partido Comunista Francês e o Partido Comunista Espanhol; e, após chegar a importantes conclusões, discorre sobre uma série de questões estratégicas e táticas de grande valor para a luta que o proletariado mundial e os povos desenvolvem presentemente pela sua emancipação. Enver Hoxha não perde a oportunidade para discorrer em torno das demais correntes do revisionismo contemporâneo que. de uma ou de outra forma. estão ligadas ideologicamente ao eurocomunismo, tendo com ele traços comuns, apesar das diferenças táticas, nos métodos e nas formas. Assim, não escapam da implacável crítica de Enver Hoxha, o browderismo, o titismo, o kruschevismo e o maoísmo.
O livro do dirigente albanês vem a público num momento mais que oportuno. Surge quando são ameaçadores e perigosos os preparativos guerreiros das duas superpotências imperialistas, os EUA e a URSS; quando a crise geral do capitalismo entra numa fase em que já não é possível escamotear a difícil situação das massas trabalhadoras e populares em todos os continentes; quando estas, não tendo mais o que perder, a não ser os grilhões que as escravizam, se levantam em luta dispostas a romper esses grilhões e a construir um novo mundo, de liberdade e justiça. Enfim, se comprova cada vez mais a conhecida tese defendida por Enver Hoxha no informe ao VII Congresso do Partido do Trabalho da Albânia, reunido em novembro de 1976, e desenvolvida em sua célebre obra O Imperialismo e a Revolução, de que "o mundo se encontra numa fase em que a causa da revolução e da libertação dos povos é um problema candente que exige solução" (O Imperialismo e a Revolução, traduzido para o português, p. 125-126, publicado em 1979).
Desde que as coisas se colocam nesses termos, já não bastam à burguesia as armas convencionais na guerra que sustenta contra o proletariado. Torna-se necessário a ela uma "5ª Coluna", no dizer de Enver Hoxha, que a partir de dentro, sabote a revolução.
Para a luta que travam no Brasil os marxistas-leninistas frente aos multilaterais ataques de concepções políticas e ideológicas hostis, provenientes de todos os lados, a obra de Enver Hoxha reveste-se de grande importância. Precisamente agora, tem lugar no seio do Partido revisionista brasileiro, o chamado PCB, uma luta sem princípios entre duas correntes igualmente contra-revolucionárias e oportunistas a prestista (pró-soviética) e a auto-proclamada pró-eurocomunista, que disputam entre si a hegemonia na defesa dos interesses da burguesia e no oferecimento de favores ao regime ditatorial brasileiro para sua institucionalização. Por outro lado, as mudanças superficiais levadas a cabo por Figueiredo e seus consortes na fachada da ditadura têm dado margem ao ressurgimento de novas ilusões no caminho pacífico. Setores da pequena-burguesia, que se pretendem fazer passar por inovadores, numa atitude de franca capitulação, fazem auto-crítica por terem um dia empunhado armas, ou defendido a luta armada, e lançam anátemas às forças políticas que, mantendo a coerência revolucionária, marxista-leninista, valorizam, na devida altura, significativas experiências de lutas armadas desenvolvidas no Brasil. É um velho tipo de renegação que ressurge sempre nos momentos de viragem da história como o atual.
– I – O REVISIONISMO – PEÇA INSEPARÁVEL DA ESTRATÉGIA DO IMPERIALISMO
O fim da Segunda Grande Guerra encontrou o mundo mudado. À derrocada política e militar da brigada de choque do capital financeiro internacional – o nazi-fascismo – seguiu-se o desmoronamento do velho sistema colonial e a formação do campo socialista. Em vários países, passou a ondear triunfante a bandeira da revolução, da democracia popular e do socialismo. A URSS, principal fator da vitória dos povos sobre o fascismo, baluarte seguro da revolução e representante máxima do sistema social mais avançado conhecido até então pela humanidade, elevava seu prestígio na arena internacional e enchia de esperança o coração dos povos. Na velha Europa, os Partidos Comunistas, que tinham tido destacada participação na resistência antifascista, transformaram-se em importante força política, mobilizavam massas de milhões. A humanidade se preparava para ultrapassar a fase de sua pré-história e ingressar em uma nova era de seu desenvolvimento.
O imperialismo pressentira o perigo e se dispôs a enfrentá-lo. Coube ao imperialismo norte-americano, como potência imperialista vencedora na guerra, a tarefa de elaborar a estratégia que possibilitasse esse enfrentamento. Concebe e põe em prática um plano de recuperação econômica de seus aliados europeus – o Plano Marshall –, coloca em funcionamento sua indústria de guerra e desenvolve de maneira sem precedentes seu potencial militar. Para mostrar que tem força, e sobretudo para ameaçar a URSS, inicia a chantagem nuclear cometendo os bárbaros crimes de Hiroshima e Nagazaki. E não fica nessas medidas. Dá início a uma furibunda campanha anticomunista baseada em calúnias e difamações. Ao mesmo tempo, mobiliza seu arsenal de "filósofos", “sociólogos”, "economistas" e politiqueiros e lhes encomenda as mais estapafúrdias e reacionárias “teorias'', que a todo custo tentam demonstrar a superioridade do capitalismo sobre o socialismo. É por essa época que surgem as "teorias" sobre o ''capitalismo popular", sobre o "Estado de bem-estar geral”, sobre o "florescimento do capitalismo"; e assim por diante. Enver Hoxha, apoiando-se num todo de análise materialista e dialético nos fatos, que ele demonstra conhecer a fundo, argumenta de maneira clara, concisa e precisa sobre todas essas emocionantes e decisivas circunstâncias históricas, chegando a uma importante conclusão: "O surgimento do revisionismo contemporâneo, diz ele, assim como do velho revisionismo é um fenômeno social condicionado por muitas e diferentes causas históricas, econômicas, políticas etc. Tomado em seu conjunto, ele é produto da pressão da burguesia sobre a classe operária e sua luta (O Eurocomunismo é Anticomunismo, traduzido em espanhol, p. 14, publicado em 1980 – grifo meu).
Durante a Segunda Guerra Mundial, e principalmente no final, quando já era clara a derrota do fascismo, surgiram, sobretudo nos partidos italiano e francês, dirigidos respectivamente por Palmiro Togliatti e Maurice Thorez, pontos de vista e práticas errôneas que, de forma embrionária, eram o revisionismo. Confundindo o objetivo tático com o estratégico, esses partidos se contentaram com a vitória sobre o fascismo e se recusaram a levar adiante a luta revolucionária. Depuseram as armas e se contentaram em apoiar, de fora ou de dentro, os governos burgueses formados então. Sem dúvida, a democracia burguesa, por um curto período, foi amplamente reimplantada. Na França e Itália, os Partidos Comunistas conquistaram a legalidade. Estes partidos chegaram mesmo a ter representantes seus no governo, por um certo lapso de tempo. As Constituições asseguravam no plano formal amplos direitos democráticos. Tudo isso havia sido conquistas importantes, em primeiro lugar das massas trabalhadoras desses países que, com heroísmo e abnegação, deram o melhor de si, o sangue de seus filhos mais diletos e honrados nos embates contra o fascismo. Essas conquistas eram também a confirmação da força do movimento comunista internacional que, sob a direção de Stalin, elaborara uma tática ampla, combativa e flexível para conduzir a luta contra o fascismo.
Outro, porém, era o ponto de vista em voga nas direções de alguns Partidos. Apareceram as ilusões reformistas, o sonho do caminho pacífico, na vitória do socialismo pela via eleitoral, do parlamento e da ocupação de postos importantes nos governos burgueses.
Por outro lado, o Plano Marshall entrava em franca aplicação. A Europa destruída pela guerra se recuperava intensamente. A economia passava por um período de pleno crescimento. Reconstruíram-se fábricas e setores inteiros, antes ociosos. Surgiu o fenômeno da "fome de mão-de-obra", como diz Enver Hoxha, e o desemprego, por um dado momento, parecia coisa do passado. Tudo isso criou ilusões. Estaria o capitalismo mudando de natureza?
Enquanto isso ocorria, a URSS empreendia sua recuperação econômica e a reconstrução do país. Era uma tarefa ciclópica, se se leva em conta que tudo tinha de ser feito no rumo da completa construção do socialismo no país, quando se exigia atenção especial à solução de contradições próprias do estágio de desenvolvimento que a URSS estava atravessando. Entre essas contradições, sobressaíam a existente entre os salários mais altos e os mais baixos, entre o trabalho físico e o intelectual, entre o campo e a cidade, etc. Paralelamente, era necessário reforçar a unidade interna do Partido e seus laços com as massas, combater o liberalismo e o burocratismo. Enfim, era preciso desenvolver, a favor do proletariado e num caminho justo, a luta de classes, nos campos político, econômico e ideológico. Dadas essas condições objetivas, o decisivo passava a ser o fator subjetivo. É nesse marco que, após a morte de Stalin, ocorre o criminoso golpe de Estado, a vil traição kruschevista, que se apóia numa casta de burocratas incrustados no Partido e no aparelho estatal. Essa traição se dá também devido à pressão da burguesia e do imperialismo.
Em relação aos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, a traição kruschevista da URSS foi uma espécie de abertura de comportas, a partir do que se iniciou a enxurrada de renegação ao marxismo-leninismo e à revolução.
– II – QUEM É QUEM NO REVISIONISMO CONTEMPORÂNEO
Armado dessa compreensão e conhecendo o prejuízo que o revisionismo contemporâneo acarretou à causa do proletariado e dos povos, Enver Hoxha se lança corajosamente a uma ardente polêmica com as suas diversas correntes e afirma que, apesar das diferenças de formas e de táticas existentes entre elas, todas encontram seus pontos comuns na negação da revolução e dos princípios gerais do marxismo-leninismo, e têm como fonte ideológica os desgastados conceitos das velhas comadres da II Internacional, como dizia Lênin.
"A primeira corrente que antecedeu o revisionismo contemporâneo no poder foi o browderismo", afirma Enver Hoxha (O Eurocomunismo é Anticomunismo, tradudizo para espanhol, p. 26 publicado em 1980). Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, Earl Browder, ex-secretário-geral do PC dos EUA, sai em cena com o slogan de que "o comunismo é o americanismo do século XX". Para ele, o capitalismo norte-americano, possuidor de um grande potencial econômico e militar, deixara de ser reacionário e adquirira condições de curar as chagas sociais e ajudar o progresso dos países e povos atrasados. Browder proclamou o fim das diferenças de classe nos EUA e preconizou a "unidade nacional", ou seja, a união entre burgueses e proletários. A "democracia americana" era tida, segundo seu ponto de vista, como um modelo. Toda luta política, para Browder, poderia desenvolver-se no marco do sistema bipartidário norte-americano, por isso o PC já não era necessário, a revolução seria coisa do passado. Tudo se resumia em consolidar e aperfeiçoar a "democracia americana". Por isso, Browder dissolveu o PC dos EUA e o transformou numa associação de tipo iluminista, para lutar pela paz social e pela defesa da constituição dos EUA. "Browder, afirma Enver Hoxha, foi o primeiro pregoeiro daquela linha ideológica e política capitulacionista que o imperialismo norte-americano tentaria impor aos partidos comunistas e aos movimentos revolucionários" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit. p. 26). E, mais adiante: "Com seus conceitos revisionistas sobre a revolução e o socialismo, Browder deu uma ajuda direta ao capitalismo mundial" (O Eurocomunismo é Anticomunismo). E não seria cansativo citar mais um texto sobre o browderismo, de particular importância para nossa realidade: "O browderismo acarretou um grande dano ao movimento operário e comunista nos EUA e em alguns países da América Latina. No seio de alguns velhos partidos comunistas da América Latina ocorreram abalos e divisões que tiveram sua origem na atividade dos elementos oportunistas que, cansados da luta revolucionária, se agarraram aos galhos que o imperialismo norte-americano lhes estendia para sufocar as revoltas populares, a revolução e para deteriorar os partidos que trabalhavam pela educação e a preparação dos povos para a revolução" (O Eurocomunismo é Anticomunismo). Com efeito, foi com base nas concepções de Browder que se manifestaram os pontos de vista liquidacionistas de Fernando Lacerda, Carlos Marighela, José Maria Crispim e outros que, no início dos anos 1940, apregoavam abertamente a dissolução do Partido Comunista do Brasil sob o falso argumento de que a existência do Partido constituiria um entrave à unidade nacional.
Mas Enver Hoxha demonstra que naquela época não era só Browder que flertava com o imperialismo norte-americano e tecia loas ao sistema de governo dos EUA. Em seu livro informa que num encontro com John Service, conselheiro político do comandante das forças chinesas, o próprio Mao Tsetung disse a esse emissário do imperialismo ianque: "Acima de tudo, nós, os chineses, consideramos vocês, os americanos, como o ideal da democracia" (citado por Enver Hoxha em O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit. p. 42). Aprofundando sua crítica ao maoísmo, Enver Hoxha analisa o conceito apregoado por Mao Tsetung de instaurar um estado de "nova democracia", após a vitória da revolução chinesa. Esta "nova democracia" – que, segundo o próprio Mao afirmou no VII Congresso do PCCh realizado em 1945, "assegurará condições para o desenvolvimento livre da economia capitalista privada" – não passa de um eufemismo para camuflar o fato de que, desgraçadamente, a revolução chinesa, democrática e antiimpenalista resultou na instauração de uma democracia burguesa, porque à frente daquela revolução estava um partido que de comunista só tinha o nome e a fachada. Segundo Enver Hoxha, nesta questão de fundamental importância para os destinos da revolução chinesa, Mao se apoiou, ao formular sua "teoria" sobre a "nova democracia", na surrada tese de Kautsky de que um país atrasado só pode chegar ao socialismo se passar antes por um longo período de desenvolvimento do capitalismo. Dessa forma, Enver Hoxha aporta mais uma importante contribuição ao entendimento do chamado "pensamento Mao Tsetung" e ao seu desmascaramento como mais uma variante do revisionismo contemporâneo. Em 1948, estimulado pelo imperialismo anglo-americano, com quem tinha estreitas ligações políticas e materiais desde a guerra, abraçando as concepções de Browder, também Tito aparece em cena com uma série de concepções oportunistas e funda a primeira corrente revisionista no poder, o revisionismo titista, ou iugoslavo. Muito rapidamente, a Iugoslávia se converteu num fator de cisão do campo socialista, de ataques desmedidos à URSS, e de investidas e ameaças de anexação a países socialistas vizinhos, principalmente a Albânia, numa flagrante violação da soberania nacional desse país balcânico.
Para tornar o revisionismo um fenômeno internacional foi preciso primeiro tomar por dentro a fortaleza mais poderosa do socialismo, liquidar a magnífica obra de milhões de trabalhadores, que durante mais de 30 anos, sob a direção, primeiro de Lênin e depois de Stalin, construíram com suas próprias forças, e em meio a imensas dificuldades, o sistema social mais avançado que a humanidade já conheceu até hoje.
– III – EUROCOMUNISMO – ANTICOMUNISMO DECLARADO
Nos últimos tempos, particularmente a partir da segunda metade da década de 1970, a imprensa burguesa ocidental tem feito uma ruidosa propaganda em torno do chamado eurocomunismo e das figuras de seus principais teóricos Enrico Berlinguer, George Marchais e Santiago Carrillo. Faz-se grande agitação de suas consignas, às quais se procura dar um caráter de originalidade e exequibilidade, nas condições do mundo atual. Fala-se também indefinidamente da suposta independência face a Moscou.
É natural que nessas circunstâncias, se manifestem, no seio das massas trabalhadoras e das forças de esquerda, interrogações a respeito do eurocomunismo. Afinal, perguntam-se, “o que se esconde por trás de lemas tais como ‘compromisso histórico', 'socialismo com as cores francesas' e 'reconciliação nacional', freneticamente propagandeados pelos partidos de Berlinguer, Marchais e Carrilo?" O que vem a ser, em essência, o badalado e mal-afamado eurocomunismo? A essa questão, Enver Hoxha responde de maneira clara e taxativa, a partir do título da introdução de seu livro, bastante ilustrativo: “os compadres capitalistas, diz ele, batizaram esta corrente do revisionismo contemporâneo de eurocomunismo, enquanto para nós, os marxistas-leninistas é anticomunismo”. Como afirma Enver Hoxha: "O eurocomunismo é uma variante do revisionismo contemporâneo, um conglomerado que pseudo-teorias que se opõem ao marxismo-leninismo. Seu objetivo é impedir que a teoria científica de Marx, Engels, Lênin e Stalin continue sendo uma arma poderosa e infalível em mãos da classe operária e dos autênticos marxistas-leninistas para destruir desde as suas bases o capitalismo, sua estrutura e superestrutura, para instaurar a ditadura do proletariado e construir a nova sociedade socialista" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit. p. 109).
Os eurocomunistas atacam em seu todo a doutrina de Marx, Engels, Lênin e Stalin, mas concentram o fogo de sua verborréia e atividade política oportunista naquilo que ela tem de essencial – a estratégia e a tática da revolução e da construção do socialismo.
Os cabecilhas do eurocomunismo renegaram por completo a luta de classes, renunciando abertamente ao ensinamento de Marx de que esta é o motor da história.
Colocando o caminho pacífico, as reformas estruturais, a via eleitoral e parlamentar como ponte de passagem para o socialismo, os eurocomunistas sabotam a luta emancipadora do proletariado e dos povos e passam a desenvolver a mais desavergonhada colaboração de classes.
Os comunistas e demais forças revolucionárias, que se batem em todos os países para conduzir a revolução por um caminho consequente, não são adeptos do princípio da utilização da violência revolucionária por um absurdo desejo de ver derramamento de sangue. Mas, analisando cientificamente o desenrolar dos acontecimentos, o desenvolvimento histórico, e encarando de frente a realidade, sabem que jamais, em nenhuma época histórica, e muito menos agora quando a humanidade se encontra no prelúdio de uma nova era, as classes dominantes cederam suas posições e abriram-mão voluntariamente de seus interesses espoliadores.
Aplicado ao Brasil, o código eurocomunista, que em muitos de seus aspectos essenciais está contido desde há muito na linha de conciliação do chamado Partido Comunista Brasileiro, constitui um plano estratégico e tático que vem em socorro do regime militar em agonia. Esse partido, o PCB, também fala sem parar das reformas estruturais, do caminho pacífico, da reconciliação nacional e anuncia aos quatro ventos que está disposto a aliar-se até com o diabo, desde que se lhe assegure um assento, ainda que seja perto da cozinha, na mesa do banquete distensionista de Figueiredo e dos generais que o apóiam.
Combatendo o princípio da violência revolucionária para derrocar a burguesia e o imperialismo, os eurocomunistas procuram inviabilizar a própria revolução. Atacando a ditadura do proletariado, eles tentam impedir a construção do verdadeiro socialismo.
– IV – O OBJETIVO DA CRÍTICA AO REVISIONISMO
A crítica ao revisionismo, por mais justa que seja, resultaria inconsequente e acadêmica se não estivesse voltada para o objetivo maior de encontrar as maneiras de percorrer vitoriosamente os tortuosos caminhos da revolução. Afinal, combate-se o revisionismo com base na teoria e na prática revolucionária, que ele procura negar. Consciente disso, Enver Hoxha dedica todo o quarto e último capítulo de sua nova obra à abordagem de questões atuais de ordem tática e estratégica da luta do proletariado e dos povos de todo o mundo, mostrando, com a clareza teórica e a experiência de quem dirigiu uma revolução, e há 36 anos dirige a construção do socialismo num pequeno país cercado de inimigos, que, em boa parte, o desenlace exitoso dessa luta depende da solução, na prática, dessas questões.
Retomando a tradição de Lênin e Stalin, Enver Hoxha, homem de Partido, nos faz ver que sem um destacamento organizado da classe operária, guiado pelo marxismo-leninismo, claramente demarcado de todo tipo de revisionismo, dotado de uma clara linha política consoante com a realidade nacional, contando com uma disciplina férrea e uma unidade de aço em suas fileiras, apetrechado de uma larga experiência de direção de renhidos combates contra a burguesia e seu aparato estatal, e ligado, como unha e carne, à sua classe e às amplas massas populares, sem um Partido desse tipo, a revolução está condenada ao fracasso.
Com a agudização da luta de classes em todo o mundo, tornam-se imensos os problemas e as dificuldades com que os Partidos marxistas-leninistas têm de se defrontar para seguir adiante no cumprimento de sua missão histórica. Em muitos países, a repressão policial se abate brutalmente sobre os combatentes de vanguarda da classe operária. No Brasil, na altura em que predominava o terror fascista, a ditadura militar empregou amplamente o método da repressão selvagem. Crimes cometidos na Lapa, em São Paulo, em 1976, estão bem vivos na memória do povo. Mas há também problemas de outra natureza. Sobretudo na Europa, é grande ainda a confusão existente no seio das massas, acarretada pela atividade oportunista dos partidos revisionistas. Em alguns países até hoje se faz sentir marcantemente, sobre determinados setores revolucionários pequeno-burgueses, os reflexos da influência negativa exercida durante longos anos pelo maoísmo, gerando em alguns partidos comunistas vacilações que impedem uma nítida e radical demarcação ideológica e orgânica. E, não raro, aqui e ali, surgem no interior dos verdadeiros partidos marxistas-leninistas grupos e frações de inimigos infiltrados que, no velho estilo trotskista, agem capciosamente para liquidá-las.
Incansável e otimista, um otimismo baseado no conhecimento da realidade objetiva e na tendência de seu desenvolvimento, Enver Hoxha conclama os comunistas e revolucionários de todo o mundo a lutarem tenazmente pela revolução, e empunharem firmemente a bandeira do marxismo-leninismo, apesar de todos os percalços que surjam. "Os partidos marxistas-leninistas dos países capitalistas, diz Enver Hoxha, trabalham e lutam em condições difíceis e enfrentam numerosos perigos, que provêm de diversas partes. Estes perigos não são imaginários. São perigos reais, com os quais se chocam a cada dia, a cada passo, em cada ação. Não podem ser enfrentados se os comunistas não compreendem que seu programa de ação e de luta se fundamenta na necessidade de fazer sacrifícios pelos grandes ideais da causa do proletariado e do comunismo, se estes sacrifícios não são aceitos de maneira consciente e são feitos sem vacilar em qualquer momento, situação e circunstância, que exige o grande interesse do proletariado e do povo" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit., p. 265).
Enver Hoxha também discorre amplamente sobre a importância decisiva que assume hoje para a revolução a unidade da classe operária, o desmascaramento dos dirigentes sindicais reacionários e oportunistas, o forjamento da ampla união das massas populares e dos setores progressistas da sociedade no marco de uma frente única, afirmando, entre outras coisas: "Lutando pela unidade da classe operária, os partidos marxistas-leninistas consideram isso como base da unidade de todas as massas populares, que é algo radicalmente oposto às uniões e alianças sem princípio e contra-revolucionárias que os eurocomunistas predicam" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit., p. 273). E, mais adiante: "O trabalho do partido marxista-leninista entre as massas, sua união em torno de objetivos políticos concretos é uma importante tarefa, porque a revolução não é feita unicamente pela classe operária e muito menos somente por sua vanguarda, o partido comunista. Para sua realização, a classe operária se alia com outras forças sociais, com partidos progressistas ou frações dos mesmos, com homens progressistas, com os quais tem interesses comuns sobre diversos problemas e em diversos períodos. Com essas forças cria amplas frentes populares com determinados programas políticos. O partido da classe operária não se dilui nessas frentes, mas conserva sempre sua independência organizativa e política" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit., p. 278 e 279). Nesse contexto, o dirigente albanês também confere importância aos movimentos da juventude, dos estudantes, da intelectualidade e das mulheres, afirmando: "quando as inesgotáveis energias da juventude, das mulheres e das outras massas se unem às energias da classe operária sob a direção do partido proletário, não há força que possa impedir o triunfo da revolução e do socialismo" (O Eurocomunismo é Anticomunismo, op. cit., p. 275).
Por tudo isso, a nova obra de Enver Hoxha merece ser lida e estudada cuidadosamente por todos aqueles que sinceramente buscam um esclarecimento sobre essa doença incurável que é o revisionismo, e encontrar o verdadeiro caminho que conduz à revolução e à libertação da classe operária e de todos os explorados e oprimidos da sociedade contemporânea.
EDIÇÃO 1, MARÇO, 1981, PÁGINAS 46, 47, 48, 49, 50