O Informe Político da Comissão Executiva, ao fazer a análise crítica das debilidades partidárias na luta pela aplicação de nossa linha política e tática, constatou o quanto é baixo o nível ideológico e político de nosso Partido.

Nas atuais circunstâncias, em que se agrava cada vez mais a luta entre o campo democrático e o campo imperialista, essa séria debilidade assume um caráter bastante grave, pois sem elevar o nível ideológico e político dos membros do Partido, tanto das direções como das bases, não estaremos em condições de aplicar com êxito nossa orientação política revolucionária e de cumprir a tarefa histórica de conduzir a classe operária e as massas trabalhadoras na luta pela paz, pela independência nacional e pela conquista da democracia popular.

O levantamento do nível ideológico de nosso Partido constitui, hoje, uma tarefa política de grande importância e deve ser uma das preocupações centrais no trabalho decisivo em que nos empenhamos de construir um Partido para enfrentar e resolver os problemas da revolução.

O trabalho de elevação do nível ideológico dos nossos militantes é vital para o Partido, porque se orienta no sentido de libertá-lo completamente da influência das ideologias estranhas ao proletariado, de fazer de cada comunista um homem efetivamente de vanguarda, de preparar o Partido ideológica e teoricamente para dirigir com êxito a luta pela instauração de um governo democrático-popular.
A decisiva importância para o Partido do trabalho ideológico resulta também do fato de a nossa debilidade ideológica, o nosso baixo nível teórico determinarem o próprio atraso na organização do Partido, dependendo assim, o seu desenvolvimento orgânico, fundamentalmente, da elevação do nível ideológico e político de seus quadros.

Se em todos os Partidos Comunistas que já atingiram a maturidade, o trabalho de elevação do nível ideológico e político é uma tarefa permanente e das mais importantes, em nosso Partido esse trabalho, devido a nosso imenso atraso na frente ideológica, tem sua importância muitas vezes multiplicada. O

ATRASO DO PARTIDO NA FRENTE IDEOLÓGICA

O nosso Partido, do ponto de vista ideológico, está quase que totalmente desarmado. A maioria de nossos quadros ingressou no Partido quando nos orientávamos por uma política oportunista, e foi educada no espírito da colaboração de classes e não nos princípios do marxismo-leninismo. A luta contra a penetração da ideologia burguesa nas fileiras do Partido é uma forma com que se reveste a luta de classes, e essa luta ideológica não podia ser então por nós levada a efeito para forjar os militantes no espírito revolucionário, porque a linha política que seguíamos até janeiro de 1948 procurava amainar as contradições de classe, ao invés de revelá-las e aprofundá-las como nos ensina o marxismo-leninismo. Porque nos orientávamos por uma política de colaboração de classes, não podíamos ter uma linha de conduta combativa revolucionária e conseqüente, o que teve uma profunda influência na formação de todos os membros do Partido. Por isso mesmo, os nossos militantes ainda hoje são facilmente atingidos pela propaganda ideológica do imperialismo e das classes dominantes.

“(…) sem elevar o nível ideológico e político dos membros do Partido, tanto das direções como das bases, não estaremos em condições de aplicar com êxito nossa orientação política revolucionária”.

Na verdade, como já reconhecemos em outras ocasiões, uma das causas fundamentais dos erros oportunistas que vimos cometendo reside no nosso baixo nível ideológico, na nossa falta de conhecimentos teóricos e na nossa reduzida capacidade política.

O levantamento do nível ideológico do Partido exige que intensifiquemos a educação de nossos quadros nos princípios do marxismo-leninismo. O problema da educação teórica dos membros do Partido se reveste de importância decisiva para o sucesso da luta revolucionária que travamos contra o imperialismo e seus aliados internos – os latifundiários e a grande burguesia –, pois somente armados da teoria marxista-leninista não seremos surpreendidos pelos acontecimentos, poderemos nos orientar sem vacilações em face da situação nacional e internacional, estaremos em condições de prever o curso dos acontecimentos, de interpretar com exatidão esses acontecimentos e de dar a justa solução para todos os problemas da revolução brasileira.

Somente através do estudo persistente dos mestres do marxismo, na luta pelo domínio da teoria revolucionária do proletariado é que cada militante poderá interpretar e explicar, como é de seu dever, os acontecimentos políticos do ponto de vista do marxismo-leninismo e educar as massas no sentido da luta de classes, do combate intransigente ao imperialismo e da luta pela democracia popular.

LUTAR CONTRA A INFLUÊNCIA DAS IDEOLOGIAS ESTRANHAS AO PROLETARIADO NO SEIO DO PARTIDO

É imprescindível desenvolver séria luta ideológica dentro do Partido, realizar verdadeira reviravolta ideológica, cuidar com carinho e afinco da elevação do nível teórico de nossos quadros.
Já o grande Lênin, com seu gênio e sua clarividência, mostrava que a luta teórica era tão importante para o Partido como a luta política e a luta econômica. Referindo-se à posição de um dos fundadores do socialismo científico sobre a importância da teoria, dizia Lênin em sua obra Que Fazer? "Engels reconhece não duas formas da grande luta da social-democracia (a política e a econômica) – como se propala entre nós –, mas três, colocando a seu lado também a luta teórica”.

"Engels reconhece, não duas formas da grande luta da social-democracia (a política e a econômica) – como se propala entre nós – mas três, colocando a seu lado também a luta teórica".
Assim, não devemos nos satisfazer pelo fato de possuirmos uma acertada orientação estratégica e uma tática revolucionária. E urgente tratar com continuidade da capacitação teórica e política dos quadros do Partido, pois devemos compreender, cada vez mais, que a execução das próprias tarefas práticas, que resultam da justa orientação política, dependem na maior parte da elevação de nosso nível ideológico e político. É o que a esse respeito nos ensina o sábio camarada Stalin quando afirma: "da preparação ideológica e do fortalecimento político dependem nove décimos para a solução de todos os nossos problemas práticos".

Enquanto nos orientávamos por uma linha política oportunista, ocultando nossos objetivos revolucionários, não aprofundando a luta de classes, mas ao contrário tentando amainá-la, não sentíamos toda a importância do estudo da teoria marxista-leninista e a nossa tendência era subestimar a teoria. Mas agora, quando fazemos esforços para pôr em prática uma linha efetivamente revolucionária, a teoria marxista-leninista torna-se para nós tão necessária como o próprio ar que respiramos.

Para que possamos conquistar os objetivos revolucionários do proletariado, precisamos nos livrar de todas as concepções e teorias estranhas à classe operária, precisamos estar armados da teoria revolucionária do proletariado, dominar a ciência marxista-leninista das leis do desenvolvimento da sociedade.

Isto é tanto mais importante, quando vivemos num país em que os imperialistas norte-americanos, dominando a quase totalidade dos meios de propaganda, realizam, em todos os terrenos, uma intensa e persistente campanha ideológica que ainda exerce influência no seio do proletariado. Essa campanha ideológica do imperialismo atinge às vezes a própria cidadela da classe operária – o seu partido de vanguarda – fazendo penetrar em seus setores mais débeis contrabandos políticos e ideológicos. Não são raros os casos em que militantes do Partido se deixam influenciar pelas campanhas de mentiras e calúnias dos inimigos de nosso povo e por jornais demagógicos a serviço do imperialismo, como O Mundo, A Notícia, do Distrito Federal, e outros imundos pasquins da imprensa burguesa.

Por outro lado, o ingresso em nossas fileiras, principalmente durante o período de legalidade do Partido, de grande número de elementos oriundos da pequena burguesia, embora combativos, mas ideologicamente ainda não ganhos para o proletariado, faz com que nosso Partido sofra constantemente a pressão de ideologias estranhas à classe operária. Esses elementos, apesar de sua contribuição à luta do Partido, enquanto não forem completamente conquistados do ponto de vista ideológico para a classe operária, trazem para as nossas fileiras suas vacilações, dificultam a realização de nossa linha revolucionária, entravam a execução de uma estratégia e uma tática firmes e obstruem a condução de nossa luta de acordo com a organização e a disciplina inerentes ao proletariado.

Embora em escala muitíssimo menor do que acontece com os militantes de outra origem, também os elementos oriundos da classe operária, que vieram para o Partido, não estão imunes às influências de ideologia burguesa. Apesar de serem os elementos mais esclarecidos e combativos da classe operária – eles que possuem todas as virtudes da classe operária brasileira –, ainda padecem dos mesmos defeitos do proletariado donde provêm, proletariado na sua grande maioria vindo recentemente do campo, sofrendo pressão ideológica direta das classes dominantes que procuram desviá-lo da luta de classes e incutir-lhe, através de um trabalho sistemático de propaganda e de demagogia, a colaboração de classe, o reformismo.

"Foi por insuficiência teórica que tanto demoramos a adotar justa orientação política e tática.”

Essa situação determina que os militantes de origem proletária – que por instinto de classe têm maiores possibilidades de enxergar os desvios e erros do Partido – ainda não exerçam suficientemente sua vigilância de classe no sentido de garantir ao Partido uma orientação política justa e uma aplicação firme e independente da linha política.

GRANDE É A SUBESTIMAÇÃO DA TEORIA EM NOSSO PARTIDO

Por sua vez, nosso nível teórico e nossa subestimação da teoria, particularmente no que se refere aos quadros da direção nacional, nos causam os maiores embaraços para encontrar a justa solução para os problemas da revolução. Foi por insuficiência teórica que tanto demoramos a adotar justa orientação política e tática e ainda hoje nos debatemos entre as maiores dificuldades para enfrentar com acerto alguns importantes problemas táticos, o que vem entravando nossa ação revolucionária. Por essa mesma razão ainda não enfrentamos, como é necessário, o estudo dos problemas brasileiros, não analisamos com profundidade o caráter da revolução brasileira, não generalizamos nossas experiências, não estudamos a história do nosso Partido e a história das lutas revolucionárias de nosso povo.

Devemos, portanto, enfrentar seriamente o problema ideológico, pois sem vencermos nosso atraso no campo ideológico não aplicaremos conseqüentemente nossa linha política, não poderemos conquistar a democracia popular e abrir, assim, caminho para o socialismo.
Agora mesmo, várias foram as falhas já assinaladas no informe político, verificadas na atividade do Partido, cuja causa principal foi de caráter ideológico. Tanto as tendências de direita, o espontaneísmo na aplicação da orientação, o atraso no trabalho de organização e unificação da classe operária e na criação da FDLN, as ilusões em Getúlio etc., como as tendências de esquerda, confusão da palavra-de-ordem de agitação com palavra-de-ordem de ação imediata, posição sectária diante das eleições sindicais, menosprezo das formas legais de luta etc., são debilidades que surgiram fundamentalmente, devido a nosso baixo nível ideológico.

A realidade é que, apesar disso, temos dado pouca importância à educação teórica de nosso Partido. Devemos reconhecer que a frente ideológica é das mais subestimadas – se não a mais subestimada – entre nós. Sem exagero, podemos afirmar que quase nada fizemos para elevar o nível ideológico do Partido, para aumentar a capacitação teórica de nossos quadros, para estimular e desenvolver entre os militantes o gosto pelo estudo individual e coletivo das obras dos mestres do marxismo-leninismo. Muito pouco foi realizado por nossos organismos dirigentes para armar o Partido com a teoria marxista-leninista, capaz de assegurar a unidade ideológica em nossas fileiras, como base indestrutível do Partido. Não tivemos, como ainda não temos, a preocupação de assegurar essa unidade ideológica, organizando e executando um plano de educação teórica e combatendo, através de uma luta ideológica permanente e implacável dentro do Partido, as teorias e idéias que servem às forças reacionárias – ao imperialismo, aos latifundiários e à grande burguesia.

Nossas iniciativas práticas no campo da educação são reduzidas no que se refere tanto ao estudo individual e aos cursos e escolas de capacitação teórica e política, quanto a edição e difusão de obras marxistas.

Nossa atividade editorial só teve certo impulso durante o período de legalidade do Partido. Assim mesmo nesse período deixamos de publicar um grande número de obras básicas indispensáveis à educação de nossos militantes, e não tivemos qualquer preocupação em organizar o estudo dos livros e folhetos marxistas que editamos, nem mesmo do Compêndio de História do Partido Comunista (b) da URSS, obra imprescindível para a formação de cada comunista. Os livros marxistas por nós impressos eram distribuídos pelo Partido mais com o objetivo de angariar recursos financeiros do que para educar teoricamente os comunistas e elevar seu nível ideológico. Depois da legalidade, muito pouco foi editado. Nem mesmo tivemos a iniciativa de estimular, organizadamente, a distribuição e a leitura dos livros dos clássicos do marxismo já editados.

“A subestimação da importância da teoria resulta evidentemente de nossa incompreensão do papel de vanguarda que deve desempenhar o Partido”.

Quanto à educação dos membros do Partido através de escolas e cursos, somente durante o período de vida legal do Partido foram organizados alguns cursos que muito pouco podiam contribuir para a elevação do nível ideológico dos quadros, devido à linha oportunista que então trilhávamos. Depois da mudança da linha política em janeiro de 1948 até os dias de hoje, não realizamos um curso sequer, por mais elementar que fosse, o que revela nosso excessivo praticismo e o desprezo pela teoria, e também evidencia nossa incompreensão do sentido profundo da reviravolta que era necessário realizar em todos os aspectos de nossa atividade com o lançamento daquele manifesto.

No que se refere a nossa imprensa, apesar dos grandes progressos que fizemos, com os melhoramentos do conteúdo do nosso órgão central e da revista teórica, de um modo geral seu nível ideológico ainda não satisfaz às necessidades da nossa luta revolucionária. No entanto, a leitura cuidadosa do nosso órgão central, da revista teórica e da Democracia Popular, é uma grande ajuda para a elevação do nível político e ideológico dos membros do Partido. Mas a verdade é que dentro do Partido, existe tal subestimação pela educação, principalmente pela falta de estímulo e de orientação, que reduzido é o número de militantes que lêem e estudam os artigos e editoriais publicados nesses três periódicos.

A SUBESTIMAÇÃO DA TEORIA ESTÃ LIGADA À SUBESTIMAÇÃO DA POSIÇÃO DE VANGUARDA DO PARTIDO

A subestimação da importância da teoria resulta evidentemente de nossa incompreensão do papel de vanguarda que deve desempenhar o Partido, que não pode efetivamente ocupar essa posição de vanguarda se não estiver armado da teoria marxista-leninista, se não dominar as leis do desenvolvimento da sociedade.

Quanto aos quadros do Partido, dispomos de militantes abnegados e capazes de todos os sacrifícios pela causa do proletariado, mas nada ou quase nada temos feito para transformar esses militantes combativos em lutadores política e ideologicamente formados. Poucos são ainda em nosso Partido os quadros com capacidade de direção e, assim mesmo, seu nível ideológico está muito aquém das nossas necessidades e o seu nível teórico ainda é baixo. Os quadros intermediários, pouco mais numerosos, na sua quase totalidade são praticistas e o seu nível político e ideológico é excessivamente baixo. Os militantes de base, apesar da combatividade e da abnegação, do ponto de vista ideológico, na sua esmagadora maioria, pouco se distinguem da massa da classe operária. É evidente que falta ideologia à maioria dos quadros do Partido. Os membros do Partido não foram educados no espírito da luta de classes, no sentido de adquirir uma consciência revolucionária, para realizar as tarefas históricas do Partido do proletariado. Nossos quadros não estão sendo formados para a luta pelo socialismo como devem ser educados todos os militantes do movimento operário revolucionário. Já o camarada Stalin em sua obra Anarquismo ou Socialismo ensina:

"O ideal socialista não é um ideal de todas as classes. É somente o ideal do proletariado e em sua realização não estão diretamente interessadas todas as classes, mas tão-somente o proletariado".
Assim, como partido que somos da classe operária – embora na atual etapa da revolução não seja, por isso mesmo, o socialismo o nosso objetivo, mas sim a conquista da democracia popular –, compreendemos que, como vanguarda do proletariado, devemos forjar a consciência socialista de cada militante, ajudando por todos os meios os membros do Partido a assimilar o marxismo-leninismo.

Isso acontece em boa parte porque nós, como direção nacional do Partido, devido a nossa formação praticista, não enxergamos toda a importância do estudo da teoria para a construção do Partido e, pela mesma razão, sempre vimos a elevação do nível ideológico dos militantes como uma tarefa secundária, acessória, desligada do processo de construção do Partido.

Temos atualmente um Partido combativo que dirigiu lutas de repercussão e intensos movimentos de massa. Nosso Partido tem grandes tradições revolucionárias, luta corajosamente contra a reação e o imperialismo, é ouvido e seguido por amplos setores das massas. Mas isso não basta. Necessitamos estudar a teoria revolucionária do proletariado, o marxismo-leninismo, para termos em todo o Partido, de cima a baixo, camaradas que saibam se orientar acertadamente diante dos acontecimentos, que possam cumprir efetivamente seu papel de dirigentes da classe operária e do povo.

COMO ELEVAR O NÍVEL IDEOLÓGICO DOS MILITANTES

Mas se é de grande importância educar todos os militantes do Partido nos princípios do marxismo-leninismo, mais importante ainda é a necessidade que têm todos os dirigentes de assimilar, em íntima ligação com a aplicação de nossa linha política revolucionária, os ensinamentos do marxismo-leninismo e saber aplicá-los de maneira justa à realidade brasileira.

A respeito da necessidade de os elementos dirigentes dominarem o marxismo-leninismo, o camarada Stalin, em fevereiro de 1925, formulando os doze pré-requisitos necessários à bolchevização do Partido, deixou bem claro não só a necessidade de o Partido assimilar o marxismo-leninismo como destacou ainda mais toda a importância da educação teórica dos quadros dirigentes. Na segunda condição das doze formuladas, diz o camarada Stalin:

"É necessário que o Partido, sobretudo seus elementos dirigentes, assimilem completamente a teoria revolucionária do marxismo, unida indissoluvelmente com a prática revolucionária".

Assim, se compreendemos toda a importância para o Partido da realização de uma efetiva e profunda reviravolta na frente ideológica e a necessidade urgente de levá-la a cabo, precisamos indicar os meios que nos conduzem efetivamente à elevação do nível ideológico do Partido em seu conjunto e de sua direção em particular.

"O que é necessário é estimular o trabalho criador dos quadros, ligando as proposições teóricas do marxismo-leninismo à atividade prática do Partido”.

O nível ideológico de nossos militantes e dirigentes irá se elevando com a sua participação ativa na luta prática da classe operária e das massas trabalhadoras por suas reivindicações políticas e econômicas. Na luta persistente e corajosa pela aplicação de nossa linha política e tática, os membros do Partido irão adquirindo experiência, irão se forjando como combatentes revolucionários da classe operária. Mas só conseguirão assimilar o marxismo-leninismo e elevar efetivamente o seu nível ideológico se, simultaneamente com a luta, estudarem com afinco a teoria revolucionária do proletariado. É evidente que não devemos enveredar pelo caminho do estudo formalista, mecânico e acadêmico do marxismo-leninismo. Essa espécie de estudo não pode ajudar de forma alguma a elevação do nível ideológico e político dos membros do Partido. Não se trata de fazer os nossos militantes decorarem os textos dos clássicos do marxismo ou de fazer exposições abstratas fora da realidade brasileira e de nossa linha política. O que é necessário é estimular o trabalho criador dos quadros, ligando as proposições teóricas do marxismo-leninismo à atividade prática do Partido, à luta pela paz e libertação nacional.

Conseguiremos também elevar o nível ideológico de nosso Partido através do esforço autocrítico que precisamos fazer na prática, a fim de efetivamente nos libertarmos dos erros do oportunismo e do sectarismo que têm, até então, entravado o desenvolvimento de nossa ação revolucionária. Com o auxílio da arma revolucionária da crítica e autocrítica, que deve ser utilizada de cima a baixo no Partido, na justa medida, sem exageros ou flagelações desnecessárias e prejudiciais – como, por vezes, ultimamente entre nós acontece – que não fazem parte do método de autocritica stalinista, iremos nos temperando ideologicamente, formaremos os quadros no espírito revolucionário e protegeremos o Partido da influência desagregadora da ideologia burguesa e do oportunismo. Assim, ajudaremos os militantes a elevar o seu nível ideológico, pois serão armados ao vivo, na base dos próprios erros, com a clara compreensão das leis do desenvolvimento social e da luta de classes no país e adquirirão confiança na vitória final da democracia e do socialismo.

Por último, temos necessidade urgente de organizar o estudo teórico do marxismo-leninismo, em estreita ligação com a aplicação prática de nossa linha política e tática. Esse estudo, através da leitura individual, de escolas, cursos e palestras etc., é uma tarefa permanente e fundamental. É uma tarefa normal e constante de nosso Partido, a fim de que ele possa exercer seu papel de vanguarda e crescer no curso da luta pelos seus objetivos revolucionários.
Cada célula e organismo do Partido deve ter, entre outras finalidades, um objetivo de educação, deve ser uma escola que visa a formar ideológica e politicamente os seus membros.

MEDIDAS PRÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO TEÓRICA DO PARTIDO

Nesta intervenção, procuraremos dar uma orientação geral para o Partido sobre a maneira de estudar, nas condições em que nos encontramos, o marxismo-leninismo.
Em primeiro lugar, devemos dar uma especial atenção ao estudo individual, que é tarefa e dever de cada comunista. Precisamos ter em conta que o estudo individual é o método principal para a elevação do nível teórico dos militantes do Partido. É necessário que cada militante, em particular os dirigentes, distribua de tal maneira o seu tempo de modo que, após a realização de suas tarefas práticas, lhe sobre tempo necessário ao estudo individual. Apesar de nosso grande atraso editorial e da pouca atenção que até agora demos ao estudo teórico, já possuímos em português alguns importantes livros e folhetos marxistas que nos permitem avançar no estudo individual.

No que se refere à edição e à difusão dos livros dos clássicos do marxismo, é necessário elaborar imediatamente um plano de publicações, cujo cumprimento é imprescindível realizar sem medir esforços nem sacrifícios. Tarefa urgente, que diz respeito especialmente ao Comitê Nacional e aos principais Comitês Estaduais, é a de organizar o estudo e a análise, do ponto de vista marxista, dos problemas econômicos e sociais de nosso povo, com o objetivo fundamental de dar aos dirigentes do Partido uma visão correta e precisa da realidade brasileira, a fim de que possamos aplicar de maneira justa a nossa linha política e tática.

Outra medida prática para o estudo do marxismo-leninismo, de que o Partido não pode prescindir, é a organização de escolas e de cursos de capacitação de quadros e para a elevação do nível político e ideológico dos membros do Partido.
Com essa finalidade, é necessário e urgente organizar em caráter permanente a escola central, sob o controle do Comitê Nacional. para quadros dirigentes e intermediários. É também indispensável, em cada Comitê Estadual, dos estados mais importantes, organizar em caráter permanente sua escola estadual para ativistas.

Nesse sentido, precisamos tomar providências imediatas para elaborar os programas dessas escolas e formar com toda rapidez professores em número necessário.
Embora nessas escolas, de acordo com o seu grau, seja indispensável ensinar princípios do materialismo dialético e histórico, fundamentos de economia política, história do movimento operário internacional, história do PC (b) da URSS etc., precisamos agora, no entanto – na organização dos programas das escolas e cursos –, começar pelo estudo de todos os problemas que se relacionam diretamente com a aplicação da linha política e tática de nosso Partido, porque, hoje, a tarefa primordial no terreno da educação revolucionária é conhecer nossa linha e saber aplicá-la com acerto.

PROVIDÊNCIAS IMEDIATAS PARA ELEVAR O NÍVEL IDEOLÓGICO DOS MILITANTES

Independente dessas medidas, que demandarão algum tempo para serem executadas, nas condições em que nos encontramos, algumas medidas práticas iniciais podem ser tomadas pela direção nacional para iniciarmos desde já a reviravolta no trabalho de elevação do nível ideológico. Propomos as seguintes medidas práticas:

1) Organizar e pôr em funcionamento um curso para a formação de secretários de células de empresas.
2) Tomar as providências para elevar o nível teórico dos membros do CN: realização de seminários para discutir os problemas teóricos e políticos enfrentados pelo Partido na aplicação da linha política e tática; estabelecer para cada membro do CN um plano de estudo individual e controlar sua execução.
3) Elevar o nível ideológico de nossa imprensa, particularmente de nosso órgão central, que deve desenvolver com mais amplitude a propaganda do marxismo-leninismo, realizar cursos por correspondência e tomar outras iniciativas.

A primeira medida prática objetiva o fortalecimento e ampliação do número de nossas células de empresa. Na tarefa decisiva em que nos empenhamos, de construir o Partido nas empresas, o papel dos secretários das células de empresa destaca-se por sua importância para o funcionamento e desenvolvimento desses organismos de base. Muitos de nossos organismos de empresas fundamentais têm atividade irregular, pequena ligação com a massa e fraca vida política, devido em boa parte ao baixo nível de seus dirigentes que, apesar de combativos, pouco conhecem nossa linha política, não sabem ainda se orientar com rapidez e acerto necessários para enfrentar os problemas que surgem na empresa. Como uma das medidas iniciais para o fortalecimento das atuais células de empresas e para a criação de novas, precisamos dar uma atenção toda especial à elevação do nível ideológico dos secretários de células de empresa, explicando-lhes melhor nossa atual linha política e educando-os nos princípios do marxismo-leninismo. Nesse sentido, a organização de um curso para a formação de secretários de células de empresa é uma tarefa indispensável e imediata que dará um sério impulso no desenvolvimento do trabalho para enraizar efetivamente o Partido nas empresas, particularmente nas grandes empresas.

A segunda medida prática que sugerimos enfrenta, em parte, o problema da elevação do nível teórico da direção nacional. O papel das direções é igualmente decisivo para a aplicação de nossa justa orientação política. Precisamos nos esforçar ao máximo para nos colocarmos, do ponto de vista teórico, como nos demais aspectos de nossa ação, à altura das tarefas históricas que cabem ao partido do proletariado. Somos em conjunto, apesar dos êxitos que temos tido, uma direção ainda praticista, que pouco estuda sistematicamente a teoria e os problemas da revolução. Contribuímos muito pouco, com algumas exceções, para esclarecer e enriquecer nossa linha política e tática, e nossas colaborações na imprensa do Partido sobre a aplicação da linha política têm sido bastante insuficientes.
Através da realização de seminários com os elementos da direção para o debate e estudo dos problemas teóricos e políticos, que devemos imediatamente programar, os membros do Comitê Nacional poderão elevar, no fogo de luta pela aplicação da linha política, seus conhecimentos teóricos. A mesma finalidade educativa tem o estudo individual para os membros da direção nacional. Esse estudo, que não pode ser igual, pelo programa e pelo ritmo, ao estudo dos demais membros do Partido, propomos que seja enfrentado como tarefa e, como tal, controlado pelo Comitê Nacional.

A última medida prática proposta para ser executada imediatamente refere-se à utilização
de nossa imprensa para o levantamento do nível ideológico dos membros do Partido. Aproveitamos muito pouco a imprensa do Partido para a educação ideológica dos nossos militantes, quando nesse terreno ela pode desempenhar um papel inestimável. Devemos saber utilizar essa poderosa arma – a imprensa de nosso partido – que rapidamente chega às nossas bases, para fortalecer ideologicamente nossos militantes. A nossa imprensa, particularmente o órgão central do Partido, além de defender intransigentemente os interesses das grandes massas e popularizar nossa linha política, precisa ser um educador por excelência dos membros do Partido.
A elevação do nível ideológico virá contribuir para que nossos militantes reforcem sua posição de vanguarda na luta que nosso povo trava pela paz, pela independência nacional, pela democracia popular e socialismo.

* Maurício Grabois, jornalista, constituinte de 1946, dirigente comunista, morreu na luta guerrilheira do Araguaia.

"Se raciocinarmos como marxistas, devemos dizer: os exploradores inevitavelmente transformam o Estado (e falamos de democracia, isto é, de uma das formas de Estado) em instrumento de domínio de sua classe, da classe dos exploradores sobre os explorados. Portanto, enquanto existirem exploradores que exerçam seu domínio sobre a maioria – os explorados –, o Estado democrático será inevitavelmente uma democracia para os exploradores. O Estado dos explorados deve distinguir-se por completo de semelhante Estado; deve ser uma democracia para os explorados e um meio para reprimir os exploradores; e a repressão de uma classe significa desigualdade para essa classe, sua exclusão da 'democracia'”.
(Lênin, A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky).

EDIÇÃO 2, JUNHO, 1981, PÁGINAS 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31