O Brasil é um país de jovens. Mais da metade de sua população ainda não completou 20 anos e a média de idade de seus habitantes é de apenas 19 anos, situando-se como uma das mais baixas do mundo (1). Esta vasta e poderosa força humana está distribuída no Brasil nos mais diversos ramos da atividade produtiva e intelectual, sendo que o jovem operariado industrial e a juventude estudantil compõem, por seu peso numérico e importância social, as forças de vanguarda da massa juvenil do país.

Em que pese as dificuldades para coleta de dados e informações, sabe-se com segurança que mais da metade de nossa classe operária industrial tem menos de 30 anos e 34% têm entre 18 e 21 anos de idade (2), o que explica a preponderância de jovens nas assembléias e jornadas de luta que marcaram este início de década nas áreas industriais do Brasil.

Um milhão e meio de universitários espalhados por dezenas de universidades e centenas de institutos de ensino superior, ao lado de aproximadamente 15 milhões de secundaristas de milhares de escolas de 1° e 2° graus, formam o grosso do contingente estudantil, incluindo aí os alunos de escolas técnicas e militares nos seus mais variados graus.

Refletir sobre a ação, através da história, as tarefas presentes e as perspectivas futuras da juventude brasileira, é o que tentaremos fazer neste artigo.

Na história, do lado certo

Na história da humanidade, em todos os tempos, por todos os campos de combate, os movimentos revolucionários buscaram na juventude alimento e vitalidade para seguir avante. Na rebelião de jovens escravos liderados por Espártaco e Crixo teve início a contagem regressiva do Império Romano; nas barricadas da Comuna de Paris, em 1871, o jovem proletariado francês mostrou ao mundo a face radiante de um novo poder; jovens operários revelaram-se habilidosos políticos e diligentes administradores no nascente poder operário constituído na Rússia em 1917; 90% de jovens compunham as fileiras do exército que libertou a Albânia da opressão fascista; até hoje os povos da América Latina respeitam e admiram o heroísmo e o desprendimento do jovem médico argentino Ernesto "Che" Guevara. Aqui, na América Latina, adolescentes e mesmo crianças, enfrentam desde a tenra idade a dura realidade da opressão neocolonialista e encontram no manusear precoce do fuzil a única esperança de um amanhã de liberdade e independência. Vietnã, Nicarágua, Palestina, El Salvador são exemplos recentes desses combates onde a juventude esteve e está nas primeiras fileiras dos combatentes.

NO BRASIL, A VOCAÇÃO DEMOCRÁTICA E PATRIÓTICA

Registra a memória recente do país uma cena ordinariamente repetida nas barreiras policiais montadas pelo regime ao longo das estradas, a caça de opositores, nos anos mais tenebrosos do fascismo: obrigados a descer do ônibus ou do veículo, os passageiros iam sendo sumariamente identificados e interrogados até que a presença de alguém de feições jovens fazia estacar com especial atenção e cautela o grupo policial. Ali estava o maior suspeito e o alvo predileto da perseguição.

Mesmo considerando contradições de classe e de outros níveis, é perfeitamente possível destacar dois elementos comuns e invariavelmente presentes na trajetória e nos momentos mais diversos da luta da juventude no Brasil: uma ardente vocação democrática combinada com um profundo sentimento patriótico. A aversão à tirania e à opressão nacional estiveram sempre presentes como elo de ligação e traço comum de todos os grandes movimentos dos quais tenham participado com algum peso os jovens do nosso país. Um exame, mesmo que sucinto e superficial de alguns deles, é o suficiente para uma conclusão mais segura sobre este ponto de vista.

"Os que guardavam a rua Direita eram todos moços. Quantos? Quatrocentos ou quinhentos, se tanto. Desiguais, nas armas, como no vestuário, tinham-se reunido à pressa, ao acaso. Cada um apanhava a primeira arma que encontrava à mão. Eram quase todos estudantes… E antes que Duclerc desse o sinal de ataque, já eles o atacavam, de surpresa, arrojando-se irrefletidamente" (Olavo Bilac, Contos Pátrios). Citada por Artur Poerner como a primeira manifestação estudantil registrada na história do Brasil, trata-se da reação de estudantes dos Colégios Jesuítas à tentativa dos franceses chefiados por Duclerc de invadir o Rio de Janeiro no ano de 1710.

As campanhas pela Independência, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República registram testemunhos inesquecíveis de amor à liberdade e sentimento patriótico por parte da juventude na nossa história pré-republicana. Os negros traziam desde há muito o espírito libertário, de inconformismo com o cativeiro, exercitado nos quilombos de Zumbi e nas constantes fugas das senzalas. A Revolução Francesa de 1789 e a guerra que libertou as 13 Colônias norte-americanas do domínio inglês trouxeram vigor e alimento aos sonhos de liberdade e independência de boa parcela da juventude intelectualizada do país. Estudantes brasileiros na França fundaram um clube secreto para lutar pela independência do Brasil, e um deles, José Joaquim da Maia, até escreveu a Thomas Jefferson, na época ministro dos Estados Unidos na França, pedindo apoio para uma revolução que libertasse o Brasil do jugo colonial português. Jovens como José Álvares Maciel foram inseparáveis companheiros de Tiradentes na Inconfidência Mineira, movimento inapagável em nossa memória pelo exemplo de patriotismo dos que o conduziram.

A campanha abolicionista foi outro momento importante da presença juvenil na cena política do país. Aos 24 anos, quando morreu, Castro Alves já se imortalizara não apenas como poeta, mas como tribuno de levantar auditórios e fazer tremer os escravocratas.

Os ventos republicanos sopravam forte país afora. Era a República, na época, sinônimo das idéias revolucionárias francesas de liberdade, igualdade e fraternidade, lema sob o qual tinha-se feito a revolução de 1789. Em torno dessas idéias, mesmo que algumas vezes não formalizadas claramente, a juventude travou memoráveis combates, organizou e participou de rebeliões como a Revolta dos Alfaiates e a Sabinada. Na primeira, afirmam os historiadores, a grande maioria dos conspiradores contava com 17 a 30 anos e, na segunda, foram diretamente envolvidos estudantes de medicina da Bahia que tinham no próprio Sabino, professor da Escola, a principal liderança.

Nas escolas militares fervilhavam os ideais republicanos; o cadete Euclides da Cunha (mais tarde autor de Os Sertões), então com 17 anos, foi preso e expulso da escola ao deixar cair a espada em protesto contra a presença do ministro da Guerra do Imperador numa solenidade militar.

"O DESTINO DELES MUDOU, TUDO AGORA É DIVERSO" (Capitães de Areia, Jorge Amado)

As primeiras três décadas deste século passaram sob o signo de mudanças importantes no país. Em 1911, sob o comando do jovem marinheiro João Cândido (o almirante negro cantado por João Bosco e Aldir Blanc em Mestre Sala dos Mares), os marujos amotinam os encouraçados Minas Gerais e São Paulo, o cruzador Bahia, apontam armas para pontos estratégicos do Rio de Janeiro e exigem o fim dos castigos cruéis, como o açoite da chibata. Conhecido como Revolta da Chibata, o movimento alcançou vitórias à custa de prisões e mortes de seus participantes.

Em 1922, um movimento cultural de cunho nacional e renovador, a Semana de Arte Moderna, levado a cabo por um grupo de jovens intelectuais e artistas, abre horizontes à vida cultural e artística do país com repercussões que duram até os dias atuais. Neste mesmo ano, 9 operários e intelectuais, a maioria dos quais jovens, reunidos em Congresso no Rio de Janeiro, fundam o Partido Comunista do Brasil, organização política que a partir daquele momento marcaria definitivamente a vida política nacional. Ainda em 1922, um grupo de jovens oficiais rebela-se e marcha do Forte de Copacabana contra as tropas do governo, no episódio que ficou conhecido como "os 18 do Forte".

Em 1924, jovens oficiais dão início a uma marcha de mais de 24 mil quilômetros, combatendo sem sofrer uma única derrota às tropas governamentais, tendo como reivindicação maior reformas democratizantes nas estruturas oligárquicas mantidas no país pelos fazendeiros do café e do gado, de São Paulo e Minas Gerais, senhores da República até então.

Getúlio Vargas implanta o Estado Novo em 1937, ditadura cujo texto constitucional outorgado tinha-se inspirado nos modelos fascistas da Polônia e da Itália. Neste mesmo ano funda-se a União Nacional dos Estudantes (UNE) que, já no seu 2° Congresso em 1938, conclama a juventude do Brasil e da América Latina à luta pela democracia. Tem início a Segunda Guerra Mundial e parte dos estudantes, através da UNE, a primeira manifestação pública e de massas em favor da entrada do Brasil no conflito ao lado dos aliados.

Entrando o Brasil na guerra, a UNE e as forças democráticas fustigam a contradição existente entre o combate que a FEB (Força Expedicionária Brasileira) dava ao fascismo na Europa e a existência de uma ditadura fascista no país. Abre-se a campanha pela anistia e pela convocação de uma Assembléia Constituinte, que se faz finalmente vitoriosa.

Nas décadas de 1950 e 1960 forma-se no país um vigoroso movimento democrático e patriótico, sempre com estudantes e jovens à frente ou no seu interior. Conquista-se o monopólio estatal do petróleo e impede-se a tentativa golpista em 1961 quando os militares procuraram impedir a posse de João Goulart, o vice de Jânio Quadros que renunciara seis meses após assumir a Presidência.

"ELES VENCERAM, E O SINAL ESTÁ FECHADO PARA NÓS, QUE SOMOS JOVENS" (Belchior Como nossos pais)

O golpe veio em 1964. Patrocinaram-no o imperialismo norte-americano, cuja embaixada no Brasil era o centro das operações golpistas, a grande burguesia monopolista nativa e os latifundiários. No dia seguinte ao golpe a sede da UNE foi incendiada pelos golpistas, ação cujo simbolismo já demonstrava a natureza reacionária do golpe, seu conteúdo fascista e fúria antipopular.

A resistência ao golpe se dá nas fábricas, nas ruas e nas escolas. Nas ruas, aos milhares, a juventude, particularmente a estudantil, exige o fim da ditadura, quando em dezembro de 1968 é editado do Ato Institucional n° 5 e o regime elege o terror fascista como método de governo. Avaliando incorretamente a situação e a correlação de forças, um punhado de jovens lança-se à guerrilha urbana. A maioria tomba heroicamente nas ruas ou nos cárceres da ditadura, levantando alto o protesto do povo contra seus carrascos. A UNE perde seu último presidente, Honestino Monteiro Guimarães, seqüestrado, torturado e assassinado pelas forças repressivas.

Nas selvas do Araguaia dezenas de jovens, entre os quais Helenira Resende, ex-diretora da UNE, empunham armas em defesa dos direitos dos camponeses e do povo da região, enfrentando heroicamente as tropas do governo que, mesmo superiores em número e armas, sofreram reveses consideráveis até conseguir derrotar os valorosos combatentes do Araguaia.

À natureza antidemocrática, antinacional e antipopular do golpe, os estudantes e a juventude opuseram uma resistência inquebrantável de caráter democrático, patriótico e popular. Toda batalha era válida, até mesmo a escolha de um paraninfo como sucedeu no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em 1977, quando os formandos rejeitaram a tentativa da direção da Escola de impor o ditador Geisel como paraninfo e escolheram o físico José Goldenberg, cujo filho havia sido expulso da Escola dois anos antes, acusado de subversão. A escola vetou a indicação dos estudantes, mas não teve como impor o general Geisel. A turma ficou sem paraninfo.

A UNE voltou em 1979. A UBES em 1981. As greves operárias voltaram nesse mesmo período. Os Centros Acadêmicos e os Sindicatos enchem-se cada vez mais de jovens estudantes e trabalhadores. Querem respostas, soluções e perspectivas para seus anseios.

"TUDO ME NEGARAM. O QUE VOCÊS QUERIAM QUE EU FOSSE?" (Wilsinho Galiléia, menor, fuzilado pela polícia em 1978)

Soma hoje 4,5 milhões o número de jovens desempregados no Brasil. Eles chegaram, nos últimos 3 anos ao mercado de trabalho, à média de 1, 5 milhão ao ano e o encontraram de portas cerradas pela recessão imposta ao país a partir de 1981. No campo, só este ano, cerca de 1 milhão de trabalhadores, a grande maioria de jovens, migrará para as cidades tangidos para o latifúndio, grilagem, seca, fracasso de colheitas etc. Apenas no Paraná, 500 mil trabalhadores volantes (bóias-fria) estão sem trabalho no período de entre-safra.

“A taxa de desemprego entre os jovens é, em média, cerca de 21% nas regiões metropolitanas, sendo que o desemprego entre a população feminina é maior. No Rio de Janeiro e em Recife, cerca de 27% das mulheres entre 15 e 24 anos estão desempregadas" (Folha de S. Paulo, 28-08-1983). Há também a discriminação racial e social denunciada por um órgão do próprio governo que apontou rejeição de jovens negras e pobres por parte de empresas que haviam solicitado trabalhadores.

Na educação o quadro é estarrecedor. Oitenta por cento das matrículas do ensino superior estão nas mãos de escolas particulares que controlam também 52,7% do ensino de segundo grau. Em São Paulo, sobe a 87% o controle das escolas particulares sobre o ensino universitário e no Rio de Janeiro é de 82% nas escolas de 2° grau. Em todo o país, aproximadamente 40% das crianças em idade escolar estão fora das escolas, o que dá um total de mais de 7 milhões só na faixa dos 7 aos 14 anos. De cada 1.000 crianças que se matriculam na 1ª série do 1° grau, apenas 180 atingem o 2° grau, compreendendo uma evasão absurda de 82%. O governo, além de estimular o ensino pago, ou talvez por isso, diminui ano a ano as verbas para a educação, que passaram de 11,07%, em 1965, para uma média de 5% nos últimos anos, a despeito da recomendação do órgão da ONU para a educação e cultura, a Unesco, para que os países em desenvolvimento, como o Brasil, destinem 25% do orçamento global para a educação e a cultura.

No Brasil, a juventude não tem acesso à cultura, ao esporte e ao lazer. Sessenta e cinco por cento dos nossos atletas amadores têm mais de 18 anos, dos quais apenas 11% são mulheres, quando na maioria dos países a prática do esporte se dá principalmente nas faixas inferiores de idade e é menor a diferença proporcional entre os sexos (3). Alienado e distanciado da formação social e cultural da nossa juventude, o lazer é também alienante quando impõe aos jovens valores e realidades que lhes são estranhos; 41% da nossa programação de televisão são estrangeiros, salvo honrosas exceções; de péssima qualidade; 72,8% dos filmes exibidos nas salas de projeção são também estrangeiros, a maioria dos quais de qualidade no mínimo duvidosa, e no teatro apenas 28,5% dos espetáculos encenados são de autores nacionais (4).

A HORA É DE LUTAR, COMO AFIRMA GONZAGUINHA, OU DE FUGIR, COMO DIZ ROBERTO CARLOS?

“ Eu vou à luta com essa juventude/ Que não corre da raia a troco/ de nada/ Eu vou no bloco dessa mocidade/ Que não tá na saudade/ E constrói / A manhã desejada" (Luís Gonzaga Júnior).
"Eu prefiro as curvas/ Da estrada de Santos/ onde tento esquecer" (Roberto Carlos).

O regime militar, em que pese haver conquistado jovens quadros técnicos e militares para serviços burocráticos e de repressão política, jamais conseguiu formar entre a juventude corrente de opinião favorável aos seus objetivos e planos políticos mais gerais.

Nunca, porém, as classes dominantes abriram mão da tentativa de neutralizar, por todos os meios e formas, a energia revolucionária da juventude. Investiram na alienação e despolitização, ora criticando o engajamento em ações e atividades políticas como "velho", "careta" e "ultrapassado", apresentando a "neutralidade", o "tecnicismo" e a postura "apolítica" como o "novo" e o "moderno"; ora usando da repressão aberta, abolindo completamente qualquer opção para o posicionamento político.
O verniz "inovador" e "modernizante" não consegue esconder o miolo retrógrado e obscurantista, mesmo com a ajuda de poderosos meios de comunicação como Rede Globo, Veja, O Estado de São Paulo etc. Para combater a militância política, particularmente no meio intelectual e jovem, forjam situações, modismos e intrigas. Todos conhecem a expressão "patrulha ideológica" transformada em consigna antimilitante por O Estado de São Paulo e correlatos, até que Henfil criou a "patrulha odara" como contraponto aos que enlouquecem em proveito próprio, como denunciou o próprio Henfil. No afã de confundir a juventude, a burguesia não hesita em lançar-mão da picaretagem mais torpe e do charlatanismo mais vulgar. Elevam à condição de "profeta" tipos como Herbert Marcuse, ou à de "filósofos" sempre adjetivados de "novos", os franceses André Glucksmann, Bernard-Henri Lévi, entre outros, apresentados, principalmente à juventude, como "renovadores", "superadores" do marxismo e do "conceito antiquado" da luta de classes. Por não serem novos e muito menos filósofos, caem rapidamente no esquecimento, até que outros apareçam com uma "nova filosofia" ou "novo pensamento", invariavelmente saudados e festejados por manchetes glamorosas, entrevistas exclusivas, edições luxuosas, palestras em circuitos cuidadosamente preparados, e depois já devidamente consumidos, desaparecem como surgiram: sem explicação ou lamento.
A burguesia prefere o cérebro da juventude entorpecido de maconha e cocaína a ver neles florescerem idéias que ponham em perigo sua sobrevivência. Sem o apoio da burguesia européia e norte-americana e sem a chefia pessoal de vários ditadores e oligarcas latino-americanos, o comércio e o tráfico de drogas não sobreviveriam. Quem tem forças e meios para depor governos e invadir países tem como desbaratar a rede internacional de tráfico de droga se não tivesse aí profundos interesses econômicos e políticos.

Em países como Bolívia e Colômbia, o tráfico chega a constituir verdadeiros Estados paralelos, com controle de áreas geográficas e milícias paramilitares às vezes melhor equipadas que os próprios exércitos regulares desses países. Daí partem os lucros fabulosos e os entorpecentes que envenenam diariamente o corpo e a mente de milhões de jovens no Brasil e no mundo. No Brasil, nos primeiros 5 meses do corrente ano, segundo a própria Polícia Federal, foi apreendido o dobro da quantidade de maconha do que em todo o ano passado (Folha de São Paulo, 04-06-1983).

A droga, além de alimentar um comércio fabuloso, supre de recursos bandos fascistas na Europa e América Latina e leva parcelas consideráveis da juventude das camadas médias a um drama existencial de onde dificilmente saem em perfeita saúde física e mental. Em São Paulo, por exemplo, de cada 100 tentativas de suicídio, em 1981, 65 foram cometidas por jovens de menos de 24 anos e 70 por mulheres.

"EU NÃO POSSO DEIXAR DE DIZER, MEU AMIGO, QUE UMA NOVA MUDANÇA, EM BREVE, VAI ACONTECER" (Belchior, Roupa Velha)

Mas, por fulminante e maciça que seja, a propaganda burguesa não consegue formar a consciência das amplas massas juvenis da Nação, particularmente dos jovens trabalhadores. É na experiência coletiva e diária com seus companheiros de ofício, no labutar duro da fábrica e no contato com as idéias revolucionárias e avançadas que o jovem operário se educa e forma sua consciência de classe. Da mesma forma, nas universidades e escolas os jovens estudantes aprendem mais nas refregas de rua, por melhores condições de ensino e liberdade, do que nas aulas de Estudos de Problemas Brasileiros e Educação Moral e Cívica.

Principalmente para 70% de jovens trabalhadores que, segundo o IBGE, na faixa de 10 a 18 anos não têm ainda carteira de trabalho assinada; para mais de meio milhão de jovens que, segundo o Estado-Maior das Forças Armadas, são anualmente considerados imprestáveis para o serviço militar por deficiência física, entre outras; para os jovens camponeses tangidos das roças a toque de seca ou fuzil; para milhares de jovens negras ainda na flor da idade atiradas nos prostíbulos; para milhões de jovens deserdados pelo regime odioso e cruel existente em nosso país, certamente, que as soluções individuais não podem ser pensadas. Jamais serão médicos, engenheiros, advogados ou trabalhadores de direitos respeitados, se não forem antes homens e mulheres livres, de uma pátria livre, senhores de seus destinos.

Para impor tal situação, o regime suprimiu liberdades, impôs o controle sobre os sindicatos, pôs na ilegalidade as entidades estudantis, tornou-se carrasco de brasileiros, carcereiro de padres, jornalistas e posseiros, fez-se protetor de assassinos e corruptos dos casos Mandioca, Baumgarten etc. etc.
Mesmo perdendo eleições após eleições, continua a impor governos ilegítimos e sem nenhum apoio popular. Transforma a Lei de Segurança Nacional e as "Salvaguardas do Estado" (Medidas de Emergência, Estado de Emergência e Estado de Sítio) na Constituição de fato do país, com o que pode violar domicílios, proibir reuniões, mesmo em recinto fechado, e cassar direitos políticos e sindicais.
Contra o clamor da Nação, gerencia a intervenção estrangeira no país transformando o próprio Palácio do Planalto e o Conselho de Segurança Nacional em casamatas do Fundo Monetário Internacional e dos banqueiros estrangeiros. Com essa orientação fazem o país retroceder economicamente à condição de neocolônia e politicamente ao nível da barbárie e do primitivismo.

Por isso, "nada a temer/ senão o correr da luta / nada a fazer senão perder o medo", como diz Milton Nascimento. Somente livre das peias e garrotes dos opressores nacionais e estrangeiros o Brasil assegurará à sua juventude o direito sagrado à felicidade e à realização individual e coletiva em busca de um sistema social novo, de igualdade de direitos e deveres, que ofereça a esse povo, "que é mar e que é rio", o destino de "um dia se juntar".

* Aldo Rebelo, ex-presidente da UNE na gestão 1980-81, jornalista profissional e suplente de deputado federal.

Notas:
(1) Dados e cálculos com base no censo do IBGE, 1980.
(2) RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais), citado por Duarte Pereira em Perfil da Classe Operária.
(3) SEADE (Sistema Estadual de Análises de Dados – SP).
(4) SEADE, idem.

OBS: Foram utilizados, para consulta, documentos da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e trabalhos dos jornalistas Raimundo Pereira, Duarte Pereira, Luiz Fernando Emediato (Geração abandonada, EMW Editores), Carlos Alberto Luppi (O massacre do menor no Brasil, Brasil Debates).

EDIÇÃO 7, DEZEMBRO, 1983, PÁGINAS 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50