O Realismo Socialista Estilo Revolucionário da Literatura e das Artes
A contundência da crítica de Gorki inspira atuais gerações de revolucionários na luta ideológico que têm de travar pela emergência de um movimento artístico e literário conseqüentemente transformador, alimentado pelas massas e colocado a serviço de sua educação, oposto ao decadentismo da estética "modernista" em voga, egocêntrica e apologista do espontaneísmo. De 1907 a 1917 foi uma época de absoluta abertura no campo do pensamento, da "liberdade de ação" entre os literatos russos. Liberdade expressa na propagação de idéias conservadoras da burguesia ocidental, postas em circulação depois da Revolução Francesa, nos fins do século XVIII e que voltaram a surgir em 1848 e 1871. A partir desta data, dizem os burgueses, a filosofia de Bergson (1) significou um enorme progresso na história do pensamento humano: "Bergson ampliou e aprofundou a teoria de Berkeley (2); as filosofias de Kant (3), Leibnitz (4), Descartes (5) e Hegel (6) são sistemas mortos e por cima de todos eles brilha, como um sol de eterna beleza, a obra de Platão" (7), precisamente o fundador do mais pernicioso dos erros do pensamento empírico.
Seguindo o exemplo de Schopenhauer (8), mas sob influência evidente de Baudelaire (9) e os Malditos (10), Sologub (11) pintou "a cósmica insensatez do indivíduo". Embora em versos lamurientos, suspira por essa insensatez cósmica, mas não deixa de defender sua posição, seu bem-estar de pequeno-burguês, ameaçando os alemães em 1914 de "destruir Berlim enquanto a neve tomba sobre as planuras. Lutava-se, então, pelo "herói político" e pelo "anarquismo místico". O sutil Basílio Rozanov (12) propagava o erotismo; Leônid Andreiev (13) escrevia alguns contos que eram autênticos pesadelos; Artzibaschev (14) tinha escolhido para personagem central de sua obra "o chibo vestido de calças, vertical e voluptuoso". Em seu conjunto, a época de 1907-1917 merece bem a designação de década vergonhosa. Nossa intelectualidade, por tradição democrática, era menos honesta do que a do Ocidente: a decomposição moral e o empobrecimento cerebral desta eram mais acelerados. Trata-se de uma característica que, comum à pequena burguesia de todos os países, é inevitável no intelectual que não possua energia suficiente para se incorporar à massa proletária, a única chamada a transformar o mundo em proveito dos trabalhadores.
Deve-se acrescentar que a literatura russa passa quase em silêncio os latifundiários, industriais e financistas da pré-revolução, personagens que, em seu ambiente, provocariam maior colorido e seriam mesmo mais originais do que os da literatura do Ocidente. Tipos históricos como os da célebre Saltichika, do general Izmailov e de muitos outros do gênero ficaram, assim, fora da órbita da literatura na Rússia czarista. Nem as caricaturas nem as tarefas de Gógol (15) em Almas Mortas são já tão características do que se refere à Rússia feudal latifundiária. Decerto, os Karabotchka, os Sovakevitch e os Nozdreiev (16) influenciaram de algum modo a política da autocracia através da passividade de suas existências; mas não se pode afirmar que isso seja o aspecto mais característico, dado que houve – fora da literatura e dos autores que "adoraram o mujique" (17) – alguns tipos monstruosos que bem mereciam o qualificativo de estetas.
Os traços que fazem distinguir nossa burguesia da do Ocidente são muito marcados e explicam-se pelo fato de a nossa, historicamente mais jovem, ter sido em sua maior parte de origem camponesa; enriquecia-se com maior prontidão do que a avançadíssima do Ocidente. Nosso industrial, que não conhecia a intensa rivalidade comercial dos ocidentais, conservou quase até o século XX os seus modos de "gracioso", quando não de "insolente", essa característica que lhe vinha, sem dúvida, repito, da facilidade com que ganhava alguns milhões.
Pode parecer que tudo o que aqui se diz acerca da esterilidade literária por parte da burguesia se revele demasiado sombrio; pode-se mesmo pensar que faço bastantes censuras e exagero tendenciosamente, mas os fatos são exatos e é assim que os vejo. Compreendo que seria estúpido, mesmo criminoso, não ter em conta a força do inimigo. Neste caso, todos sabemos a pujança da sua técnica guerreira que mais tarde ou mais cedo deverá ser dirigida contra nós, mas que de forma inelutável provocará a Revolução mundial e destruirá o capitalismo. Os próprios governos do Ocidente se estão a encarregar de proclamar que a guerra arrastará desta vez toda a reserva dos países em conflito. È de supor que a pequena-burguesia da Europa – que parece não ter esquecido os horrores de 1914-1918 e ao ver que uma nova carnificina se aproxima – acabe por verificar que seriam eles os únicos a se beneficiar com a próxima catástrofe, que seriam eles os criminosos que, periodicamente e a favor de seus interesses pessoais, ceifariam milhões de vidas de trabalhadores. E só nesta altura é que a pequena-burguesia ajudará o proletariado a derrubar o capitalismo. É fácil supor isso, mas também é certo que não se deve realizar tão depressa, pois o demagogo que conduz agora essa pequena-burguesia, o social-democrata, ainda está vivo. O que interessa, sim, é fazer com que evolua a consciência proletária: mas vale mais confiar simplesmente em nossas próprias forças. O ascendente dessa consciência revolucionária, o amor pela pátria por ela mesmo criada, a defesa da pátria – eis aí os problemas mais essenciais da nossa literatura.
O HERÓI CENTRAL NA NOSSA LITERATURA DEVE SER O HOMEM QUE TRABALHA
Na Antiguidade, a criação oral foi o único meio artístico de que os trabalhadores se serviram para organizar suas próprias experiências; foi a personificação da idéia nas imagens e a inspiradora da energia na coletividade. Deve admitir-se que na URSS esse meio artístico teve como objetivo fundamental acelerar de uma forma conjunta o impulso cultural de todas as unidades que a constituem, de maneira a que todos e cada um dos seus membros se apercebessem do triunfo e das conquistas feitas, aspirando a transformá-la em parte, em dirigir as forças da natureza.
Todos conhecemos mais ou menos o processo econômico e, por conseguinte, a divisão do domínio político, porque isso equivale à usurpação do direito dos trabalhadores de serem livres. Quando o conhecimento do mundo era exclusivo dos sacerdotes, estes, para organizar esse direito, recorriam a uma explicação metafísica dos fenômenos ou às forças da natureza para lutar com os braços do homem. Tal forma de excluir da natureza alguns milhões de trabalhadores constituiu um autêntico crime. Contribuiu para conservar as massas na mais profunda ignorância e numa terrível cegueira intelectual povoada de superstições, preconceitos e receios. O partido leninista e o poder operário-camponês da URSS – ao destruir o capitalismo em tudo o que antes formava o território czarista, ao encomendar as direções políticas às massas – traçou como meta a alcançar a sua salvação de um jugo que, de um modo notório, mostrou seus vícios e sua impotência. Nos limites deste propósito devemos nós, escritores da URSS, contemplar, apreciar e organizar a realidade. Ter em conta este preceito: o trabalho das massas organiza a cultura, é o criador de todas as idéias, mesmo aquelas que durante séculos contribuíram para menosprezar a significação decisiva do trabalhador; é a fonte de conhecimento, mesmo das idéias de Marx, Lênin, Stalin que, no nosso tempo, edificam a consciência revolucionária, baseando-se no direito do proletariado de todos os países. Na URSS, essa ação de massas é a base da criação científica e artística. Devemos ainda ter em conta para o triunfo da nossa causa, que o trabalho socialmente organizado entre trabalhadores e camponeses, no prazo de dez anos, ofereceu vantagens muito consideráveis: preparou-se para a defesa e poderá agora repelir qualquer agressão do indivíduo. A apreciação verídica deste fato demonstrar-nos-á a força dos ensinamentos que unem o proletariado do mundo inteiro.
Devemos confessar que escritores, operários e kolkhosianos ainda trabalhamos mal e não podemos assimilar por completo o que através do nosso próprio esforço foi criado. Nossas massas trabalhadoras não se aperceberam inteiramente de que já não trabalham para nenhum patrão, mas para si próprias. Essa consciência não atingiu ainda sua plenitude nem toda sua pujança. Nada chega ao estado de ebulição, claro, antes de ter atingido determinada temperatura. Mas ninguém como o nosso Partido soube até hoje fazer subir a temperatura da energia trabalhadora como o fizeram Vladimir Lênin e seu atual dirigente.
O herói dos nossos livros deve ser o trabalho personificado no trabalhador, que conta já entre nós com a força da técnica contemporânea; o homem que, por sua vez, organiza o trabalho tornando-o mais fácil, mais frutuoso e elevando-o à altura da arte. Devemos entender o trabalho como criação, conceito esse que, como escritores, poucas vezes temos o direito de usar. Constitui uma certa tensão extrair da reserva de nosso saber e de nossas impressões os fatos mais característicos; formam um quadro e são pormenores que a nossa inteligência envolve com vocábulos precisos e correntes. É uma qualidade de que a literatura jovem não pode ainda vangloriar-se: nem a reserva de impressões, nem a soma de conhecimentos são nela muito abundantes, tal como são ainda incipientes os desejos de incensar e aprofundar essa literatura.
O tema, tanto na literatura russa como na literatura estrangeira do século XIX, é o indivíduo em oposição com a sociedade, o Estado e a Natureza. A causa primordial que obrigava o indivíduo a tomar essa atitude radicava-se na formação (contrária à idéia de classe) dos costumes e na abundância de impressões negativas. O indivíduo sentia que essas impressões o oprimiam, o inibiam; mas de maneira bastante vaga compreendeu mesmo assim a responsabilidade que significava ser vulgar, que era um defeito básico da sociedade burguesa. Johnatan Swift (18) é único em toda a Europa, mas a burguesia retratada através desse autor apareceu apenas na Inglaterra. Em geral, pode-se dizer que o rebelde desta índole, ao criticar a vida da sociedade em que viveu, poucas vezes se mostrou consciente da sua própria culpa. Sua crítica contra a ordem reinante não era motivada pela justa compreensão de causas sociais ou políticas, mas sugerida pelo desespero sofrido na jaula do capitalismo, ou melhor, pelo desejo de vingar o seu escasso êxito e as humilhações suportadas. Pode-se dizer que, quando esse rebelde se colocava ao lado das massas trabalhadoras fazia isso com a esperança de que a classe operária, ao destruir a sociedade burguesa, lhe garantisse a liberdade de pensamento e a liberdade de ação. Repito: o tema essencial da literatura pré-revolucionária serviu de drama ao homem que considera a vida apertada, que se sente a mais na sociedade, que procura um lugar cômodo e, não o encontrando, sofre, morre ou reconcilia-se com a sociedade que lhe é hostil, se acaso não desce mesmo ao alcoolismo ou ao suicídio.
Na URSS não podem existir pessoas a mais, desde o momento em que cada cidadão goza de amplas possibilidades para desenvolver suas capacidades e seu talento. Não se lhe exige mais do que uma coisa: ser sincero e contribuir heroicamente para realizar uma sociedade sem classes.
NASCE UM NOVO HOMEM NO PAIS DOS SOVIETES
Na URSS, toda a população participa no trabalho, na nova cultura, através do poder operário-camponês. Resulta daí que a responsabilidade por erros e negligências, expressões características da pequena-burguesia, recai sobre todos e cada um de nós. De fato, deve criar-se uma espécie de autocrítica que ajuda criar a moral socialista, barômetro de iniciativa em nossas mútuas relações.
Porém, todos encaramos mal a própria realidade.
Mas a paisagem do país alterou-se. A cor local e a sua miséria desapareceram. Dantes eram a franja de luzerna ao lado da escura parcela mal semeada; o dourado plaino de centeio ou o verde do candial; os sulcos invadidos pela cinza. Em resumo, a tristeza multicolor da desagregação e da ruína, enquanto agora enormes extensões de terra se cobrem com o mesmo e invariável aspecto. Por cima de cidades e aldeias não mais a igreja se sobressai, mas os edifícios das instituições sociais. Por sua profusão de janelas, brilham as fábricas gigantescas e, cada vez mais distantes, brilham ainda as pequenas igrejas como sinais daquilo em que o povo exprimiu o seu gênio. Este contraste, esta nova paisagem que veio mudar a face da nossa terra, faz muita falta no panorama da literatura.
Vivemos, pois, em plena fase de destruição dos velhos costumes. Desperta no homem a dignidade, ele ganha consciência de si mesmo e sente-se como a força que transforma o universo.
Pelo que diz respeito ao nosso ambiente, devemos reparar que o novo tipo de homem surge particularmente e com grande força da infância, elemento esse de que quase não se ocupa a nossa literatura. Dir-se-ia que os escritores consideram indigno ocupar-se das crianças ou escrever mesmo para elas.
Estou certo de que não me engano ao fazer notar que os pais da URSS começam a mostrar-se muito carinhosos para os seus filhos. È uma coisa natural dado que pela primeira vez na vida da Humanidade as crianças se convertem em herdeiros, não do dinheiro ou dos bens de seus pais, mas antes de valores reais: de um Estado Socialista legado por seus pais e mães. Nunca existiu uma infância que possuísse a consciência da nossa, que quase sempre costuma arvorar-se em juiz do passado.
Vemos, pois, que a realidade não adultera; todos os dias nos abastece de material para generalizações artísticas. E, contudo, nem o drama nem a novela nos oferecem a imagem da mulher soviética em toda a sua plenitude, da mulher que atua livremente em todos os domínios do construtivismo e da vida social. E, além disso, esta transformação parece ter desorientado os dramaturgos dado que criam sempre poucos papéis femininos. É uma desorientação que contrasta com a realidade, onde a mulher soviética tem demonstrado seus múltiplos dotes para o trabalho.
Semelhante atitude acaba por ser uma espécie de resíduo formal. Como se o homem tivesse esquecido de que durante séculos a mulher foi educada apenas para o prazer carnal, como um animal domesticado, quando muito para desempenhar o papel de dona-de-casa. Ora, essa pequena dívida, de tal modo infame, que a história deve a mais de metade dos habitantes da Terra, o homem soviético teria de saldá-la em primeiro lugar para que servisse de exemplo aos homens de outros países.
Outro tema que nossa literatura pode realizar: descrever o trabalho e a psique feminina de tal maneira que acabe por mudar pouco a pouco, como de fato acontece, os próprios vínculos. Destruir esse caráter pequeno-burguês, aparentemente tomado por orgulho.
EXPULSEMOS O PEQUENO-BURGUÊS DA NOSSA LITERATURA
Deve confessar-se que a nossa crítica concede demasiada preferência ao redator analfabeto, um sujeito que em vez de ensinar alguma coisa serve apenas para ofender os autores. Não se apercebe de que ao atuar assim estão tentando introduzir em vida atual conceitos
pertencentes à literatura populista. Por último, coisa muito importante, não se interessam pelo desenvolvimento das literaturas regionais; costumam descuidar as declarações de escritores a propósito de seus próprios estilos.
A autocrítica é necessária, camaradas, não devemos esquecer que trabalhamos na presença de um proletariado que, cada vez mais culto, aumenta sem cessar nas suas exigências quanto a nossa conduta social.
A comunidade de idéias não coincide com a índole dos nossos atos e os vínculos do nosso meio, onde o hábito pequeno-burguês representa um papel muito sério, traduzindo-se em invejas, cobiças, vulgares calúnias ou mútuas difamações. Temo-nos ocupado demoradamente sobre estas tendências. Claro, a personificação desse desvio numa só imagem não foi ainda expressa. Torna-se, pois, necessário descobri-la com vigor, do mesmo modo que foram descritos alguns tipos universais da raça por Fausto, Hamlet e outros.
Devo recordar que a pequena-burguesia, por vezes empurrada pela necessidade, serpenteia pelas costas do proletariado, espalhando o anarquismo, a egolatria e outras confusões históricas próprias da sua condição. Em suma, é um pensamento que se nutre apenas do linguajar cotidiano em vez de se inspirar no trabalho.
A pequena-burguesia propagou sempre a filosofia individual seguindo a linha de menor resistência, procurou um equilíbrio mais ou menos estável entre duas forças. A relação entre o pequeno-burguês e o proletariado distingue-se nisto: um é ainda dono da mais miserável parcela, enquanto o outro despreza o operário da fábrica que conta simplesmente com a propriedade dos seus braços. O pequeno-burguês não se apercebeu de que o proletariado era mais forte até o momento em que o braço deste último começou a atuar revolucionariamente fora da fábrica.
Nem toda cizânia é nociva, pois existem variedades que produzem venenos que são curativos. O da pequena-burguesia é exclusivamente destruidor. Se não se sentisse tão enfraquecida dentro do anel do capitalismo, nunca teria aspirado nem defendido com tão estéril tenacidade a sua liberdade de pensamento. Pelo contrário, teria provado o seu direito de existir. Não teria criado, ao longo do século XIX, tão grande quantidade de "velhas-guardas", de "nobres arrependidos", de "heróis de tempos confusos", de pessoas que não são "corvos nem pavões reais".
Na União Soviética, a pequena-burguesia viu-se afugentada das suas guaritas. Espalhou-se e penetrou ocasionalmente no Partido de Lênin; mas apesar de ser expulsa, acaba sempre por reaparecer depois de cada depuração, exatamente como o gonococo. A direção do Partido deve ser depurada de qualquer influência pequeno-burguesa. Os membros do Partido que atuam no setor da literatura deverão ser mestres da ideologia revolucionária não apenas que organizam as energias do proletariado em todos os países do mundo, mas que revelam uma força moral e uma verdadeira disciplina. Esta força deverá bater-se, acima de tudo, por despertar a responsabilidade coletiva. A literatura soviética, múltipla pelo seus homens de talento e que cresce devido à influência de novos elementos, deve ser organizada em massa compacta, como instrumento de cultura socialista.
Mas a União dos Escritores Soviéticos não reuniu aqui todos os mestres da palavra apenas para fazer deles uma frente, mas com o objetivo de compreenderem em que consiste a sua força coletiva, a fim de precisar com toda clareza as diversas orientações que seu gênio criador pode assumir, aclarar as suas finalidades e constituir com isso uma unidade capaz de canalizar as energias de todo o país. Não se trata de limitar o gênio criador, mas pelo contrário de lhe oferecer possibilidades de ampliar o seu desenvolvimento. Deve-se ter presente que a crítica realista brotou, tal como a criação do indivíduo ególatra e isolado, por simples incapacidade de luta e porque não encontravam lugar na vida, porque começavam a notar a insensatez de vivê-la individualmente. Foram interpretando de idêntica forma como estultos os fenômenos sociais e ainda o processo histórico em geral.
Sem necessidade de negar a importância dessa crítica realista e apreciando, pelo contrário, todas e cada uma das conquistas formais da arte de escrever, devemos compreender que esse realismo já não nos serve senão para esclarecer certas vivências, para lutar contra elas, para as desenraizar; mas não para educar o socialista, dado que, criticando tudo, ele não afirma nada.
O realismo socialista afirma a existência como atividade e como criação. O seu objetivo primordial consiste em fazer evoluir as possibilidades do homem para que triunfe sobre a natureza. Quer dizer, em favor da sua própria saúde e da sua longevidade. Para viver feliz na Terra, em cujos limites aspira fazer, à medida que suas necessidades vão crescendo uma vasta morada para a Humanidade unida numa única família.
* Extratos do discurso pronunciado no I Congresso dos Escritores Soviéticos (1934). O título é de Princípios.
Notas:
(1) Henri Bergson – filósofo idealista francês (1859-1941). Foi um dos filósofos mais influentes da burguesia imperialista.
(2) George Berkeley – filósofo inglês (1 685-1735), bispo, pertencente à corrente do idealismo subjetivo. Em Materialismo e Empiriocriticismo, Lênin submeteu as concepções de Berkeley a uma crítica demolidora.
(3) Emanuel Kant (1724-1804) – fundador do idealismo alemão da segunda metade do século XVIII e começo do século XIX. Alinhou-se entre os defensores do agnosticismo, declarando ser "a coisa em si" incognoscível.
(4) Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716) – filósofo e matemático, precursor do idealismo alemão de fins do século XVIII e começo do século XIX.
(5) René Descartes (1596-1650) – célebre filósofo e sábio francês. Na luta contra o obscurantismo religioso, ele substituiu a fé cega pela razão e pela ciência, recorrendo à dúvida como método de raciocínio. É considerado o pai do racionalismo e autor da teoria idealista das idéias inatas.
(6) Georg Wilhelm Friedrich Hegel – grande filósofo alemão (1770-1831). Sua filosofia era idealista, mas ele desempenhou importante papel na elaboração da teoria dialética do desenvolvimento.
(7) Platão (427-347 antes de nossa era) – filósofo idealista da Grécia antiga, inimigo do materialismo e da ciência, defensor da aristocracia reacionária de Atenas. Referindo-se à existência de dois partidos em filosofia, Lênin opõe a linha materialista de Demócrito (460-370 a.n.e.) à linha idealista de Platão.
(8) Arthur Schopenhauer (1788-1860) – filósofo idealista reacionário alemão.
(9) Charles Baudelaire (1821-1867) – poeta francês. Autor de Flores do Mal (poemas).
(10) Fedor Kurmitch Sologub (1863-1927) – poeta, romancista e dramaturgo russo. Foi um dos primeiros simbolistas russos. Autor de O Círculo de Fogo e Aguilhão da Morte, entre outros.
(11) Os Malditos – trata-se da maneira como Paul Verlaine designou os escritores Triston Corbiére, Stephanie Mallarmé e Arthur Rimbaud que, em suas obras, abordaram os temas da angústia humana, da morte e da decomposição do corpo.
(12) Basílio Rozanov (1856-1919) – escritor russo, considerado precursor de D. H. Lawrence. Escreveu entre outros, A Lenda do Grande Inquisidor e Apocalipse do Nosso Tempo.
(13) Leônid Andreiev (1871-1919) – escritor russo. Adotou temas sensacionalistas em seus romances e peças teatrais. Autor de O Pensamento, entre outros.
(14) Mikhail Petrovitch Artzibaschev (1876-1927) – escritor russo, cuja obra é marcada pelo erotismo e sensacionalismo. Seu livro de maior sucesso foi Sanin.
(15) Nicolai Gógol (1809-1852) – escritor russo. Principais obras: Almas Mortas (romance) e O Inspetor Geral (teatro).
(16) Personagens do romance Almas Mortas de Nicolai Gógol.
(17) Mujique – camponês russo.
(18) Johnatan Swift (1667-1745) – escritor irlandês. Autor de Viagens de Gulliver.
EDIÇÃO 9, OUTUBRO, 1984, PÁGINAS 38, 39, 40, 41, 42