SOBRE A AÇÃO POLÍTICA DA CLASSE OPERÁRIA
A abstenção absoluta da política é algo impossível; todos os jornais e partidários da abstenção também fazem política. A questão é saber como e que política fazem. Fora isso, para nós a abstenção é impossível. O partido operário, como partido político, existe agora na maioria dos países. Não cabe a nós destruí-lo predicando a abstenção da política. A prática atual, a opressão política exercida pelos governos vigentes sobre os operários – com objetivos tanto políticos como sociais – obrigam os operários, queiram ou não queiram, a fazer política. Propor a eles a abstenção da política significa atirá-los nos braços da política burguesa. A abstenção da política é inteiramente impossível, principalmente depois da Comuna de Paris, que colocou na ordem-do-dia a ação política do proletariado.
Nós temos por objetivo a liquidação das classes. Qual o meio para alcançar esse fim? O domínio político do proletariado. E hoje quando isto se tornou de uma evidência incontrastável, pedem-nos que não façamos política! Todos os pregoeiros da abstenção da política se consideram revolucionários e até revolucionários par excelence (1) (em francês no original). Mas a revolução é o mais elevado ato da política: quem a tem por objetivo deve aceitar também os meios, as ações políticas que preparam a revolução, educam os operários para a revolução e sem as quais os operários após a batalha seriam enganados pelos Favre e Piat. Mas a política a ser seguida é a política proletária; o partido operário não deve ser arrastado a reboque deste ou daquele partido burguês, mas construir-se como partido independente, com objetivos próprios e política própria.
As liberdades políticas, o direito de reunião e de organização, a liberdade de imprensa são nossas armas; será que podemos cruzar os braços e nos abster da política já que nos querem arrebatar essas armas? Alguns dizem que qualquer ação política é igual à aceitação da situação existente. Mas enquanto essa situação nos oferece os meios para lutarmos contra ela, usar esses meios não significa aceitar a situação existente.
(1) por excelência.
EDIÇÃO 14, OUT/NOV, 1987, PÁGINAS 61, 62