Dois Caminhos na Educação Ideológica
Ao tomar o poder na Rússia, em 1917, além de erigir um novo sistema de produção, o proletariado lançou-se a um combate gigantesco contra a ideologia burguesa, por um novo modo de pensar, apoiado, como diz Lênin, "na disciplina livre e consciente dos próprios trabalhadores". Uma luta de massas longa e difícil, de muitas gerações.
0 grande chefe da revolução russa advertia que seria "uma revolução mais difícil e mais decisiva do que o derrubamento da burguesia, pois é uma vitória sobre a própria rotina, o desleixo, o egoísmo pequeno-burguês, sobre todos esses hábitos que o maldito capitalismo deixou em herança ao operário e camponês".
Depois de 1956, com a traição revisionista de Krushev, e o início da restauração do capitalismo na URSS, voltam à cena as mazelas do pensamento burguês. O próprio Gorbachev, para vender o peixe podre da "perestroika", é obrigado a revelar que o trabalhador perdeu o ardor adquirido na construção do socialismo e voltou a ver o trabalho como um castigo.
Célula do novo
O dia 10 de maio de 1919 tornou-se um marco na batalha pela nova ideologia. Os ferroviários da linha de ferro Moscou-Kazan decidiram trabalhar voluntariamente 6 horas, nos sábados, para "assegurar as conquistas da revolução", ameaçadas pela guerra civil.
O correspondente do Pravda relatou esta experiência: "Nunca se viu tanto entusiasmo e harmonia no trabalho. Terminado o trabalho, uma centena de comunistas, fatigados mas com os olhos brilhantes de alegria, saudaram o êxito do trabalho com o canto solene da Internacional. E, como ondas formadas por uma pedra atirada à água, as notas triunfais do hino propagavam-se pela Rússia operária a despertar os cansados e desleixados."
Em 17 de maio os trabalhadores introduziram os sábados comunistas na linha Alexandrovskaia. A produtividade do trabalho foi duas ou três vezes superior ao habitual. Em 31 de maio a iniciativa foi em Tver. Em 5 de julho em Sáratov. Um novo espírito movia os operários. Em vez de trabalharem para o patrão, tangidos pela fome, a troco de um salário miserável, passavam a ter interesse na produção. Eles eram os donos dos meios de produção. Vinculavam sua vida ao desenvolvimento social. Ao fortalecerem a coletividade, sabiam que este era o caminho para a emancipação pessoal de cada um.
Lênin encheu-se de entusiasmo com a boa nova. "Os sábados comunistas têm uma imensa importância histórica precisamente porque nos mostram a iniciativa consciente e voluntária dos operários no desenvolvimento da produtividade do trabalho, na passagem a uma nova disciplina do trabalho e na criação de condições socialistas na economia e na vida (…) O sábado comunista dos operários ferroviários da linha Moscou-Kazan é uma célula da sociedade nova, socialista, que traz a todos os povos da terra a emancipação do jugo do capital e das guerras."
Ele assinalou que a nova concepção de trabalho comunista é, "no sentido mais rigoroso e estrito da palavra, um trabalho não remunerado em benefício da sociedade (…) sem ter em conta qualquer recompensa, um trabalho por hábito de trabalhar para o bem geral e pela atitude consciente (transformada em hábito) perante a necessidade de trabalhar para o bem comum, um trabalho como exigência de um organismo são". Escravo ou senhor
O capitalismo reserva duas alternativas a cada um, de acordo com sua situação na sociedade: roubar os outros ou ser roubado, trabalhar para enriquecer ainda mais os ricos ou explorar o trabalho dos outros; ser dono de escravos ou ser escravo. A mudança da base material da sociedade, com o fim da propriedade privada e da exploração, cria a possibilidade de novas relações entre os homens, baseadas na fraternidade dos trabalhadores. A revolução de 17 iniciou este processo.
A classe operária, ao derrubar a burguesia do poder, passou a dirigir toda a vida do país, através do seu Partido e do Estado proletário. Com o seu heroísmo, sua abnegação e unidade, e sua visão científica das transformações sociais, era a vanguarda capaz de educar a grande massa de explorados na nova filosofia do trabalho. Era a força apta a fundir a técnica e a ciência mais avançada com a união consciente dos trabalhadores, para forjar um novo mundo.
Uma das primeiras preocupações foi livrar o povo soviético da ignorância. O socialismo herdara da opressão burguesa milhões de analfabetos. "Comunismo — afirmou Lênin discursando para a Juventude Comunista — significa que os rapazes e moças se digam: esta é a nossa tarefa; nos organizaremos e iremos às aldeias liquidar o analfabetismo."
Fiodor Matsuk, ativista da coletivização na região de Tambov, relembra: "ingressei no Partido em 1924, atendendo ao apelo lançado por ocasião da morte de Lênin. Durante o dia trabalhava no campo e, à noite, ensinava os analfabetos a soletrar "não somos es-cra-vos".
Desde 1921, ao lado do esforço para educar os milhões de analfabetos, foram criadas 87 faculdades operárias, com 27 mil alunos. Já em 1925 eram 113 faculdades, com 43 mil alunos. Em 1934 foram criadas as universidades kolkhosianas, com cursos de dois anos.
Operário de choque
Animado com a industrialização do país, definida como tarefa central pelo Partido, Nikolai Nekrasov, membro da Juventude Comunista, iniciou, em 1926, a formação de grupos de "operários de choque". O objetivo era reorganizar o sistema de trabalho, abolir os velhos métodos, inovar no sentido de obter maior produtividade. Sete anos depois já havia 5 milhões destes pioneiros.
Em 1935, 65% dos operários se enquadravam nesta qualificação.
Em 1930 operários de choque de Leningrado sentiram a necessidade deles mesmos analisarem e melhorarem, com suas sugestões, o plano qüinqüenal apresentado pelo governo soviético.
A imprensa deu ampla cobertura à proposta. Milhares de trabalhadores aderiram a esta "ousadia". Familiarizaram-se com os problemas da organização da produção. Sentiram na prática a dificuldade de transformar o entusiasmo revolucionário em objetivos concretos, metas a serem alcançadas e formas práticas de executar o planejado.
Muitas vezes tiveram que enfrentar a resistência de engenheiros e técnicos burocratizados. Mas receberam apoio caloroso dos comunistas. E, na prática, as idéias inicialmente pouco organizadas se encaixaram e aperfeiçoaram as metas. O plano qüinqüenal foi realizado em quatro anos e três meses! Os trabalhadores aprendiam com rapidez a manejar o poder que conquistaram para construir a nova sociedade.
Desafio ao gigante
Os operários da metalúrgica Ikhora, em Leningrado, como seus camaradas da Comuna de Paris, em 1871, mostraram-se dispostos a "tomar os céus de assalto".
O governo soviético encomendou à Ikhora um laminador — o primeiro a ser produzido na URSS. Encomendou também outro equipamento deste à fábrica alemã Demag — que possuía experiência e maquinário altamente sofisticado. Para se ter uma idéia, em 1930 foram produzidos, em todo o mundo, 12 laminadores. Todos pela Demag.
Os metalúrgicos da Ikhora chamaram o laminador de "encomenda da revolução", e anunciaram que derrotariam o gigante capitalista alemão. Marcaram logo' a data de concluir o trabalho. Quem estivesse preso à velha lógica do trabalho jamais compreenderia a "loucura" do desafio.
Nos últimos três dias, nenhum operário abandonou a oficina. Foram 72 horas febris. No dia 30 de abril, exaustos, mas nunca tão alegres em toda a vida, comunicaram: "Está pronto o primeiro laminador soviético, feito de materiais soviéticos, pelas mãos dos soviéticos, sem nenhum auxílio estrangeiro". O laminador foi entregue ao governo no Dia do Trabalho, cumprindo o prazo prometido, de nove meses.
Vencer a Demag não era um assunto restrito ao comércio ou à indústria, era questão da revolução e da construção do socialismo. A Demag só entregou o seu laminador em 12 meses. Três meses de diferença!
Em 1935 o Partido Bolchevique mostrou a necessidade de especializar e elevar o nível técnico dos trabalhadores. Até então, a questão chave era dotar o país de uma infra-estrutura material moderna. Concluída esta fase, "os quadros decidem tudo" dizia Stálin. O impulso para o estudo ganhou as massas. Até fins de maio deste ano, um milhão e trezentos mil trabalhadores submeteram-se a testes de qualificação para avaliar seu desempenho e planejar as medidas adequadas para melhorá-lo.
0 conteúdo da educação tinha presente a meta de forjar o novo homem socialista e não a mera elevação da produção. Nadedja Krupskaia advertia, desde o início dos cursos de especialização: "O ensino profissional não deve só preparar o executor, o operário-mecânico, mas também deve preparar o trabalhador para convertê-lo em diretor da indústria".
Batendo recordes
Em 30 de agosto de 1935, Aléxei Stakhanov, vencendo a velha rotina do trabalho, extraiu, com uma perfuradora automática, 102 toneladas de carvão na mina Irmino Central: 14 vezes a produção normal. Três dias depois, seguindo o exemplo, outro operário, Miron Diukanov, arrancou 115 toneladas. Em 8 de setembro o próprio Stakhanov bateu novo recorde, com 175 toneladas. Nova onda revolucionária, "despertando os cansados e desleixados", varreu o país. Metalúrgicos, ferroviários, operários de todas as categorias surgiam como heróis do trabalho.
Em 14 de novembro, 3 mil trabalhadores realizaram em Moscou a 1ª Conferência Stakhanovista. Representavam 40 mil operários recordistas — na maioria jovens, muitos dos quais haviam cursado as faculdades operárias. Em janeiro de 36 já eram 100 mil stakhanovistas. A iniciativa de Stakanov transformara-se em movimento de massas.
É bom salientar que a base destes avanços era principalmente a racionalização do trabalho, a introdução de métodos e técnicas mais modernos e não propriamente a aceleração dos ritmos.
No campo, coube a uma mulher, Maria Demchenko, no II Congresso dos Kolkhosianos de Choque, em Moscou, lançar o brado: colher 500 quintais de beterraba (para a produção de açúcar) por hectare. Em 1936 o desafio dos 500 já havia passado a "movimento dos mil"! (1 quintal = 58,7 kg).
Os trabalhadores da mina Artem, na região do Donetz, também para aperfeiçoar a produção, lançaram a idéia de "rebocar" os retardatários. Uma mina vizinha sempre ficava abaixo dos planos de produção. Um belo dia recebeu a visita de um "grupo rebocador", formado com operários de choque da Artem. A recepção não foi amistosa. Mas os "rebocadores" retrucaram: "Vimos trazer um auxílio camarada. E ficaremos aqui até cumprir nossa tarefa". Em pouco tempo as metas foram atingidas. E a experiência se alastrou com incrível rapidez.
No período do primeiro plano qüinqüenal, de 1928 a 32, a produtividade do trabalho subiu 41%. No segundo, de 1933 a 37, sob o impulso do movimento stakhanovista, aumentou 82%. Entre 1928 e 54, na URSS, a produtividade multiplicou-se por seis. Estes êxitos se davam em condições de pleno emprego. No capitalismo, ao contrário, o desemprego é um dos "estímulos" principais para o operário se dedicar ao trabalho.
A grande tarefa da vanguarda revolucionária era incorporar as massas operárias na direção do Estado. Até então os trabalhadores obedeciam ordens, num regime alheio a seus interesses. Agora tratava-se de assumirem conscientemente o papel de protagonistas, na produção e na administração do país.
"A organização feudal do trabalho social — diz Lênin — assentava na disciplina do cacete, na ignorância e no embrutecimento extremos dos trabalhadores. A organização capitalista do trabalho social assentava-se na disciplina da fome, e a massa enorme dos trabalhadores, apesar de todo o progresso da cultura e da democracia burguesa, continuou a ser, mesmo nas repúblicas mais avançadas, mais civilizadas e mais democráticas, a massa ignorante e embrutecida dos escravos assalariados ou dos camponeses esmagados, espoliados e escarnecidos por um punhado de capitalistas. A organização comunista do trabalho social, de que o socialismo constitui o primeiro passo, assenta e assentará cada vez mais na disciplina livre e consciente dos próprios trabalhadores."
Herói do trabalho
Com o socialismo, pela primeira vez na história da humanidade o trabalho passa a ser um dever de todos, sem distinção alguma, e todos passam igualmente a ter direito ao trabalho. O trabalho passa a ser o critério maior de honra e de heroísmo. Em vez de uma rotina estafante, torna-se uma atividade criadora, mobilizadora e alegre.
Na União Soviética, a revolução criou o título honroso de Herói do Trabalho Socialista. No capitalismo tem o empresário do ano, o mais elegante, o mais rico. Para os trabalhadores sobra o troféu de operário-padrão, que em geral quer dizer o "puxa-saco" do ano.
Gorbachev, reconhecendo o grau de putrefação a que chegou a sociedade soviética com a traição revisionista, assinala que tornou-se comum "a prática de se colocar itens falsos nos relatórios só para auferir ganhos (…) Todas as pessoas honestas viam com amargura que o povo estava perdendo seu interesse nos assuntos sociais, que o trabalho não mais possuía seu status de respeitabilidade, que o povo, principalmente os jovens, perseguia o lucro a qualquer custo".
Que distância entre esta confissão vergonhosa e o apelo entusiasmado de Mikhail Kalinine à Juventude Comunista, em 1941: "Que classe de jovens serieis se não sonhásseis com uma vida grande, se cada um de vós não pensasse em derrubar montanhas ou em levantar o mundo com a alavanca de Arquimedes?" Expressando o sentimento do cidadão comum, Lênin afirmava com muito vigor: "Que cada um tenha pão, que todos usem calçados sólidos e boa roupa, tenham casa quente, trabalhem conscientemente e que nem um só vigarista (incluindo os que fogem ao trabalho) passeie em liberdade, mas esteja na prisão ou cumpra pena de trabalhos forçados do tipo mais duro. Que nenhum rico, que infrinja as leis do socialismo, possa escapar à sorte dos vigaristas, que por justiça deve ser a do rico (…) Quem não trabalha não come, eis o mandamento prático do socialismo".
Dois caminhos
Como se organiza o trabalho no novo regime dirigido pela classe operária? Em que se diferencia do velho regime burguês de exploração?
No capitalismo manda a concorrência: a derrota ou a morte de uns, a vitória e o domínio de outros. O sucesso das empresas poderosas se dá pela quebra das que foram ultrapassadas. A economia funciona pela disputa feroz dos capitalistas em busca do lucro máximo, fruto da propriedade burguesa sobre os meios de produção.
No socialismo impera a emulação revolucionária: competição para levantar os ânimos, estímulo ao aperfeiçoamento e à melhoria da produção, mas ajuda amistosa dos adiantados aos atrasados, visando ao sucesso de todos. Os meios de produção tornam-se propriedade social. A lei econômica fundamental é, como afirma Stalin, "assegurar a satisfação máxima das necessidades materiais e culturais, sempre crescentes, da sociedade, mediante o desenvolvimento e aperfeiçoamento ininterruptos da produção socialista à base da técnica mais avançada".
Assim, se em certas empresas os trabalhadores melhoram a produção e notam-se dificuldades em outras, brigadas de ajuda dirigem-se em solidariedade aos camaradas. Vão estudar os problemas, explicar os novos métodos, dar o exemplo com o trabalho conjunto.
Não é este o pensamento da "perestroika". Gorbachev prega abertamente "o fechamento (falência) das fábricas e indústrias que operam com prejuízo (…) Como a economia pode avançar se cria condições preferenciais para empresas pouco desenvolvidas e penaliza as que mais se sobressaem"? Este procedimento é plenamente justificado no capitalismo, onde domina a anarquia na produção. Em oposição, no socialismo vigora o planejamento e o desenvolvimento harmonioso da economia.
Hoje na URSS, fecham-se empresas que outrora foram dos operários. E que, mesmo não sendo "lucrativas" em certos momentos, poderiam desempenhar papel importante para defender interesses dos trabalhadores e do conjunto da economia.
Conquista dos camponeses
Nos anos de 1929 — 30, inúmeros operários foram voluntariamente ao campo ajudar a organização dos colcoses. Cada grupo trabalhava de três a seis semanas — ajudavam tanto no trabalho com as máquinas como na educação política e ideológica, por sua compreensão mais avançada da revolução. Muitos operários acabaram ficando nos colcoses.
Isaac Babuchkine, organizador dos grupos na cidade de Dnepropetrovsk — na Ucrânia — relata que "eles não só ingressavam de bom grado nestas equipes como também criavam, eles próprios, condições materiais necessárias para o trabalho no campo". Os trabalhadores da cidade constituíam um "fundo de coletivização" com descontos nos salários de cada um, para garantir a manutenção dos voluntários. Naquela região, só no primeiro semestre de 1929, duzentas equipes operárias dirigiram-se para os colcoses.
Os jovens eram os mais entusiasmados na tarefa de construir a nova sociedade. Os participantes da Juventude Comunista que se deslocaram para a aldeia Perechepkino escreveram no seu diário: "Convocamos os camponeses e explicamos o objetivo de nossa chegada. Começamos a executar o trabalho — conserto de máquinas. Inicialmente os camponeses ficaram perplexos: como se podia trabalhar gratuitamente?"
Aos poucos, entretanto, foram percebendo o novo espírito que vigora na sociedade dirigida pelos operários. Como relata Babuchkine, "os camponeses revelavam interesse cada vez maior em relação à vida dos operários. Por este motivo, o Comitê Regional do Partido passou a organizar visitas sistemáticas de delegações de camponeses à cidade. No período de 1929-30, só na fábrica de laminação de tubos V.I. Lênin e na metalúrgica G.I. Petróvski, estiveram cerca de 7 mil camponeses".
A ligação operário-camponesa se estreitava. Os trabalhadores da oficina de altos-fornos, conta ainda Babuchkine, foram premiados com um trator, por êxitos na emulação. Ofereceram o prêmio aos camponeses. Por sua vez, os colcosianos da aldeia Teplovka, competindo com os operários, conseguiram superar o plano de produção de trigo e centeio.
Vencer o velho
É claro que isto não se realizava espontaneamente. Havia resistência furiosa das classes exploradoras derrotadas. E choque de idéias velhas e novas entre os próprios trabalhadores. Mas o processo de educação quebrava antigos tabus. No colcós Smitchka, na Sibéria Oriental, ainda como resultado de preconceitos contra as mulheres, os homens recusaram-se a trabalhar sob o comando de uma mulher, Natacha Tverina, que concluíra um curso de especialização.
Diante disto, as mulheres organizaram uma equipe feminina, que foi a primeira a cumprir a tarefa de plantio de cereais, numa área de 360 hectares. Dentro do espírito da emulação socialista, as trabalhadoras vitoriosas não deram seu trabalho por terminado. Deslocaram-se para socorrer a teimosa equipe masculina. Agora, evidentemente, tiveram de ser aceitas. E chegaram para a labuta com um grande cartaz: "Levemos a reboque a segunda equipe". Lição de trabalho e lição de idéias avançadas. Ganhou o socialismo, ganharam os homens e as mulheres.
Em que sociedade, onde predomina a exploração, alguém que termina a sua obrigação vai ajudar os colegas? No socialismo a tarefa não se limita ao trabalho do dia. Forma-se uma nova maneira de avaliar a vida e o tempo. Já não se trata de entregar o sangue e o suor para multiplicar a riqueza e o poder dos ricos. A revolução do poder político tem continuação com a revolução na produção e nas idéias.
Em tudo este sistema difere da sociedade burguesa. No capitalismo a busca do lucro faz cada invenção ser guardada como segredo. E ser "protegida" por patentes, para que outros não possam ganhar com ela. No socialismo, qualquer inovação, na técnica, na ciência, nos métodos de trabalho, são divulgadas com rapidez, transformam-se imediatamente em patrimônio de milhões. As equipes pioneiras vão a todo lado mostrar na prática os avanços e ensinar as novidades.
Visão pequena
Vale notar uma questão importante. Com a revolução, a burguesia é derrotada politicamente, perde os meios de impor, ameaçar e ludibriar as massas. Mas durante muito tempo sobrevive a pequena produção — que cria capitalismo e burguesia a cada dia. A pequena burguesia — com suas concepções estreitas, mesquinhas — permanece intimamente entrelaçada com os trabalhadores, penetra em todos os poros da sociedade.
Técnicos graduados intelectuais, pequenos proprietários, se não adotam o ponto de vista do proletariado, desconfiam do povo e da sua capacidade de aprender e de dirigir uma nova sociedade. Olham as coisas não através do social, mas a partir de seu próprio umbigo. Estão sempre prontos a revelar ao mundo a "sua" última verdade e a “sua” inovadora descoberta sobre qualquer assunto.
Vivem horrorizados com a disciplina — que pode castrar a sua sacratíssima individualidade — e com a possibilidade de não serem notados e valorizados como julgam que merecem. Fingem alegrar-se com os sucessos dos trabalhadores. Mas mal conseguem disfarçar sua desmedida ambição de dirigir tudo. A tal ponto chegou esta camada que acabou produzindo dentro do próprio Partido homens como Bukharin e Trotsky, que se tornaram inimigos mortais da revolução e do; proletariado – que no desespero de assaltar os postos de comando não vacilaram em fazer acordos com o serviço secreto nazista para sabotar a pátria do socialismo.
A pequena burguesia é uma camada intermediária, entre a burguesia e o proletariado. Sonha em subir e, ao mesmo tempo, é empurrada para baixo. Não tem um projeto próprio. Imagina uma liberdade absoluta, desligada da realidade social, que se realizaria em cada indivíduo. Não aceita que, numa sociedade dividida em classes, ou há liberdade para a burguesia e opressão para o trabalhador, ou o proletariado usa a força para se libertar, tomar o poder e construir o socialismo.
Na época do primeiro plano qüinqüenal, os pequenos burgueses, céticos, berravam: "é o delírio, só loucos planejam fundir 10 milhões de toneladas de ferro-gusa por ano". Os trabalhadores soviéticos, surdos a tais apelos, de fato reformularam o plano: para 17 milhões!
O socialismo, para avançar, deve realizar um esforço concentrado para livrar as massas desta influência ideológica. "Essas tradições e estes hábitos — dizia Stálin em 1924 – atormentam milhares e milhares de trabalhadores, dominam às vezes camadas inteiras do proletariado, representam em certas ocasiões um perigo enorme à própria existência da ditadura do proletariado".
Cultura elevada
A educação comunista, para vencer as concepções burguesas e pequeno-burguesas, abrange todos os terrenos do pensamento. Segundo Kalinine, seu objetivo é o "desenvolvimento da consciência política e da cultura geral, e a elevação do nível intelectual das massas".
No próprio Partido Bolchevique, o grande mestre da formação ideológica mostrava que o militante precisava "formular os seus próprios pensamentos, manejar independentemente a sua própria bagagem intelectual, em vez de limitar-se a fazer citações de livros. Não necessitamos de gente que só conheça a letra do marxismo, mas de homens que dominam o método marxista e saibam aplicá-lo na vida prática".
A nova mentalidade na URSS não se apoiava em concepções limitadas. Pelo contrário, o Partido insistia em demonstrar que a cultura proletária teria que assimilar e transformar toda a riqueza de conhecimentos produzidos pela humanidade em todo o seu desenvolvimento.
Na literatura, no teatro, nas ciências e nas artes em geral, o poder soviético tratou de difundir as obras clássicas russas e estrangeiras. Shakespeare, Schiller, Mollière e outros autores foram traduzidos. Da mesma forma foram reeditadas as obras de Gogol, Tolstoi e de inúmeros outros expoentes do povo russo. Novos talentos brotaram por toda parte. Gente como Gorki, Maiakovski, Alexei Tolstoi, Sholokov, Fadeiev, Furmanov, passou a ser amplamente lida no país e no exterior.
A URSS saiu do obscurantismo czarista para ser, proporcionalmente, um dos primeiros países, senão o primeiro, em edição e leitura de livros e revistas, produção cultural e científica. Na escola, os textos dos grandes autores nacionais e estrangeiros passaram a servir de base para o estudo, desde os primeiros passos.
Os trabalhadores tinham sede do saber. Anastasia Tenikhina, que militou na coletivização da terra na região de Voronej, lembra: "As mudanças ocorridas influenciavam de forma especialmente benéfica às mulheres. Entre elas despertou a aspiração de uma vida nova e independente, o gosto de adquirir conhecimentos. Às altas horas as mulheres estudavam de bom grado. E de dia trabalhavam no campo e na horta".
Os meios de informação se multiplicaram. Os jornais, tanto de alcance nacional como os locais, das fábricas, dos colcoses, das Estações de Máquinas e Tratores, brotavam aos milhares. Nos colcoses, em 1933, havia cerca de 200 mil jornais murais. As Estações de Máquinas e Tratores tinham 1.400 jornais, somando 675 mil exemplares. Em 1938 circulavam na URSS 8.550 jornais, com uma tiragem aproximada de 37 milhões de exemplares. E cerca de três milhões de trabalhadores escreviam como correspondentes destes jornais.
Em 1938, um ano antes que os Estados Unidos, a URSS inaugurou seu sistema de televisão. A ciência avançou vertiginosamente. Em 1955, os soviéticos construíram a primeira usina de energia nuclear do mundo. Em 1957, o primeiro satélite artificial, o Sputinik, subia à estratosfera, anunciando a superioridade socialista no terreno da tecnologia.
Teste de fogo
Mas a consciência socialista — o amor ao novo regime, ao Partido e ao governo proletários — atravessou uma prova de fogo com a guerra. A invasão dos tanques e divisões de elite nazistas criava a possibilidade real de esmagar toda a obra construída.
Diante da agressão, os operários de vanguarda lançaram a palavra de ordem: "trabalhar pelos camaradas que lutam na frente". No dia 17 de agosto de 1941, organizou-se um "domingo vermelho", do qual participaram nove milhões de pessoas, para contribuir com o fundo de defesa.
Na Geórgia, relata Koba Tchokheli, que trabalhava no colcós Zemo Kedi, os camponeses passaram a entregar ao Estado 1.500 toneladas de cereais, ao invés das 800 de antes da guerra. Os colcosianos recolheram voluntariamente dinheiro para adquirir um carro de combate, oferecido às forças blindadas.
Em 12 de julho de 1942, os habitantes de Stalingrado, em conjunto com o destacamento do Exército Vermelho na região, iniciaram a defesa da cidade, mobilizados pelo chamamento de Stálin: "Nem um passo atrás!" Suportaram um combate desigual, que se desenvolveu bairro por bairro, casa por casa, e cômodo por cômodo nos casarões antigos, contra tropas infinitamente melhor equipadas.
Depois de um cerco de quatro meses, em 20 de novembro de 1942 iniciaram o contra-ataque. As forças soviéticas envolveram os nazistas num movimento de pinças gigantesco. E em 2 de fevereiro de 1943, o mundo comemorou a vitória da democracia e do socialismo na frente de Stalingrado. Esta virada marcava o início da derrota hitlerista na guerra.
A história da defesa apaixonada da pátria atacada emociona até hoje todos que lêem a literatura dedicada a esta época. Operários, camponeses, mulheres e jovens, no Exército, na guerrilha, na atividade clandestina nas áreas ocupadas, mostraram toda a grandeza do novo homem socialista, já revelada no amor ao trabalho sob o novo regime.
Em Stalingrado, um casarão de quatro andares, na Praça 9 de janeiro, foi defendido das investidas alemãs — durante dois meses — por um punhado de combatentes sob o comando do sargento Pavlov. Nesta desesperada tentativa de desalojar os soviéticos, os nazistas perderam mais homens que em toda a tomada de Paris — onde a classe dominante burguesa capitulou e foi incapaz de mobilizar o povo para a luta.
Em Sebastopol o povo bateu-se também com dedicação sem igual. Foi obrigado a retirar-se depois de 250 dias de cerco, quando a fome ameaçava liquidar a todos. Mas causou 300 mil baixas ao agressor.
Papel do partido
Quem dirigia e alimentava tamanho heroísmo? Quem era o responsável maior para indicar o caminho, as formas e os planos do combate? O Partido Comunista (bolchevique) da União Soviética, que apontara os rumos para levar o proletariado ao poder em 1917, que conquistara o coração das amplas massas na construção do socialismo era, também diante das hordas selvagens do nazismo, o destacamento de vanguarda, a esperança de vitória. E, por mais que isto horrorize a burguesia, à frente deste Partido estava o grande chefe revolucionário Josef Stálin.
Prova deste reconhecimento e da estreita ligação entre o Partido e os trabalhadores, é que no ano de 1942, no auge da agressão alemã, quando ser comunista significava estar nos postos mais difíceis e colocar a vida em permanente perigo, um milhão e trezentos e quarenta e nove mil homens e mulheres soviéticos ingressavam no PCUS.
Quando o Exército Vermelho tomou a ofensiva, colados com as tropas soviéticas que expulsaram os nazistas, os trabalhadores reconstruíam o "seu" país, o "seu" socialismo. Só em 1943, nas zonas libertadas, as Estações de Máquinas e Tratores passaram de 394 para 1.072, por iniciativa dos camponeses e operários.
Se houvesse a mínima dúvida para os soviéticos, entre o capitalismo e o socialismo, bastaria um pouco menos de heroísmo. Um pouco menos de adesão e fidelidade dos trabalhadores ao Partido. Um pouco menos de confiança no Estado proletário. Os tanques alemães fariam o resto. Eles chegaram a 20 quilômetros de Moscou.
Esta confiança não era em vão. A transição do capitalismo ao comunismo é um combate em todos os terrenos. Além de vencer a sabotagem das classes dominantes derrotadas, e todos os costumes milenares, tem que enfrentar inclusive a agressão armada externa. Só um destacamento temperado pela luta, apetrechado com a ciência marxista-leninista "que goze da confiança de tudo o que há de honrado dentro da classe operária" e que incorpore os melhores e mais avançados lutadores do proletariado, pode levar a cabo a tarefa de orientar o povo até a vitória.
Sem um destacamento avançado deste tipo, a revolução não pode superar os obstáculos, não pode contar com todo o potencial dos próprios trabalhadores, vencer a apatia, a desconfiança e mesmo as tendências de acomodamento com os primeiros resultados das mudanças.
Stálin acentuava que "sem a colaboração constante e ativa das massas, será impossível transformar o aparelho do Estado de alto a baixo, eliminar dele os fatores de burocracia e corrupção". O Partido dedicava-se com afinco a pulsar o estado de espírito dos trabalhadores e chamar seus melhores elementos para intervir diretamente nos órgãos do governo. Ao mesmo tempo, sabia formular diretrizes mobilizadoras e comprovadas no dia a dia. Por isto era reconhecido como direção.
Via burguesa
É esclarecedor comparar a sólida unidade entre governo, povo e Partido vista acima, com a situação "nos últimos 15 anos", confessada por Gorbachev, depois da reconstrução capitalista: "Começou a decadência moral e pública. O forte sentimento de solidariedade forjado durante os tempos heróicos da revolução, dos primeiros planos qüinqüenais, da Grande Guerra Patriótica e da reabilitação pós-guerra, estavam enfraquecendo. O alcoolismo, o consumo de drogas e o crime aumentavam".
E tal situação só pode agravar-se com a linha da "perestroika": associação com as multinacionais (joint-ventures), legalização das empresas privadas e das cooperativas de tipo particular (capitalista) arrendando as terras dos antigos colcoses por 50 anos, incentivos para que a mulher volte a cuidar das "tarefas domésticas"…
O que permite a modificação da mentalidade de vida e de trabalho é a mudança na base material da sociedade. A revolução quebra o sistema de trabalhadores de mãos vazias e com fome, de um lado, e de ricos proprietários do outro, dando ordens. O desenvolvimento social e a satisfação das necessidades individuais passam a ser um processo harmônico. Do trabalho de cada um depende o crescimento da coletividade. E este avanço cria melhores condições para cada um. O trabalhador tem nas suas mãos o seu presente e o seu futuro. Torna-se senhor de seu trabalho e das riquezas por ele produzidas.
Nesta realidade a pregação do ideal comunista encontra guarida. A experiência prática é o maior argumento para conquistar cada dia mais o coração das massas. O espírito entusiástico, o otimismo, a alegria de viver, são características do novo homem. O ódio ao caduco, à rotina e à passividade; a busca do novo e do progresso, são as idéias com que o Partido da classe operária sempre tratou de educar o povo.
Em contrapartida, na medida em que os trabalhadores foram alijados do poder e do controle sobre os meios de produção, voltam a trabalhar para satisfazer interesses alheios, da nova burguesia soviética, só encontram frustração. O pessimismo, o medo do futuro, a filosofia do desespero, são próprias do sistema burguês.
Inimigo camuflado
Na URSS o modo pequeno-burguês de ver o mundo sob a ótica do indivíduo, afastar-se dos grandes ideais e buscar sobretudo a segurança pessoal, camuflou-se e permaneceu vivo, apesar do prolongado combate. A pequena burguesia, entrincheirada em gabinetes, escondida em cada frente de trabalho, em cada fábrica e em cada cooperativa socialista, conseguiu minar o próprio Partido. Criaram-se condições para a liquidação do poder operário e a reconstrução do capitalismo.
Desde a subida de Krushev ao poder iniciou-se a retirada dos meios de produção das mãos dos trabalhadores. Já em 1957 as primeiras Estações de Máquinas e Tratores foram vendidas aos colcoses. E Gorbachev, como produto mais refinado desta pequena burguesia, que ao assenhorear-se da máquina estatal transformou-se em grande burguesia, dá hoje um salto ainda maior na traição ao socialismo.
Não é por acaso que a argumentação matreira da "perestroika", prometendo um socialismo cor-de-rosa, que "não faz mal a ninguém", cativa tanto a pequena burguesia. É o que ela sempre sonhou: não ser atormentada pelo proletariado indomável que ousa romper com tudo o que está estabelecido em busca da "vida grande" de que fala Kalinine.
Ê esta gente que Gorbachev representa. Por isso apressa-se em afirmar que, finalmente, a "intelligentsia" deixou de ser perseguida. E cuida de "reabilitar" figuras desqualificadas como Trotsky e Bukharin. Permite inclusive que o pintor Stanislav Kapilov expresse "livremente" sua preferência peIo Czar Nicolau – que a revolução varreu do poder pintando seu retrato e o expondo, no último dia 13 de setembro, no. centro de Moscou. Só não se tem liberdade, na URSS da "perestroika" – para alívio da pequena burguesia – de defender o "desalmado" Stálin e os reais interesses socialistas.
Entre o socialismo, garantido pela ditadura do proletariado, e a ditadura burguesa, desde que enfeitada, cinicamente, como florzinhas vermelhas, como a "perestroika", o pequeno burguês se sente mais seguro ao lado de Mikhail Gorbachev.
É o divórcio entre o trabalhador e os meios de produção que gera a preguiça, a desonestidade, a falta de perspectiva, a luta para "levar vantagem em tudo", às drogas e ao alcoolismo. Marx, há mais de um século,tratou cientificamente do processo de alienação do trabalhador no sistema capitalista. Gorbachev, mesmo com seu ódio ao marxismo-leninismo, certamente já leu isto. Mas finge desconhecer. E seus adeptos por todo lado encenam o mesmo teatrinho.
Resta saber até quando será possível ludibriar e manter calada a heróica classe operária soviética, que realizou a maior transformação social jamais vista na história e inaugurou uma nova era para a humanidade, com a revolução socialista de 1917.
Bibliografia
Esquerdismo, doença infantil do comunismo — Lênin
Uma grande iniciativa — Lênin
Como organizar a emulação — Lênin
Tarefas da juventude — Lênin
A emulação e o entusiasmo das massas no trabalho — Stálin
Manual de economia política — Academia de Ciências da URSS
História da URSS — Academia de Ciências
Sobre a educação comunista (discursos e artigos) — Mikhail Kalinine
O leninismo e o problema agrário campesino — S. Trapeznikov
O materialismo histórico — F.V. Konstantinov
Restauração do capitalismo na URSS — Martin Nicolas
O primeiro sulco — depoimentos de velhos kolkhosianos
URSS, uma nova civilização – Sidney e Beatrice Webb
Perestroika — Mikhail Gorbachev
Os qüinqüênios econômicos soviéticos — Leonid Danilov
Quem foi beneficiado com a industrialização na URSS — V.V.Borodine
EDIÇÃO 16, DEZEMBRO, 1988, PÁGINAS 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53