"Quando ele se encontrava na vila todo mundo ficava contente, as crianças corriam, abraçavam, ficavam perto, nem parecia ele; a mesma coisa que fosse uma pessoa que entrasse pelo portão e viesse conversar com a gente (…)" e ainda: "Não teve um industrial que deu nada pro filho de um operário. Nunca deram bonificação, só ele (Street). O operário parecia que não era considerado. Não tinha nada. Só tinha que trabalhar, viu? (…) Street era diferente." (p. 96). Essa era uma das diversas visões que ficaram na mente dos que trabalharam com Street.

A historiadora mostra as diversas leis criadas e a dificuldade de sua aplicação. O trabalho infantil e feminino é o principal tema discutido, bem como o número de horas trabalhadas.
A questão da legislação sobre acidentes de trabalho levanta uma polêmica grande, já que o empresariado não se vê na obrigação de pagar indenizações, o que seria, segundo eles, uma penalização injusta. "Street considerava a legislação sobre acidentes de trabalho emocionante para aqueles que têm 'o coração no lugar certo e que lidam com operários na grande indústria'" (p. 107).

Portanto, reconhece a necessidade de assistir ao operário acidentado, mas defende o uso de companhias de seguro que indenizariam tais acidentes.

Entretanto, leis de repressão são tomadas pelo governo como a lei de Expulsão de Estrangeiros, a Lei Celerada, que põe na ilegalidade o Partido Comunista etc.

O Código de Trabalho, de 1923, será repudiado por todos os empresários. Por sua vez, Street, que é defensor da produtividade, não aceita a lei de férias, bem como a jornada de menos de 10 horas para crianças, que é regularizada em 1926.

Após a revolução de 1930 passa a haver uma nova forma de relação do Estado com os demais setores – a criação do Ministério do Trabalho centralizará a ação do Estado sobre o operariado; as medidas tomadas sofrerão influência de Street.
A aceitação e organização da Lei Sindical de agosto de 1931 ajudará e desmobilizará o movimento operário.

Desse modo, a relação entre industriais e operariado terá uma nova face, mais liberal, dado que não era compatível com a atitude anterior, onde não havia diálogo entre as duas categorias.
A obra de Palmira Petratti é importante, pois enriquece ainda mais o que se conhece sobre movimento operário e a industrialização, desde que toma como personagem principal Street, com sua visão progressista para a época.

Denise Rosa Pucci – aluna do curso de graduação de História da Universidade de São Paulo.

FIESP: a conveniência da ignorância

Livre para crescer – proposta para um Brasil moderno. Coordenação: Maria Helena Zockun; São Paulo, Cultura Editores Associados, 1990, 328 p.

Já se disse que nas opiniões, especialmente quando o tema é polêmico e compreende problemas sociais, o limite da objetividade e da ciência é dado pela conveniência dos interesses. Livre para crescer, livro elaborado por uma equipe de economistas a soldo da Fiesp e assumido pela entidade dos industriais paulistas como "documento", "proposta para um Brasil moderno", é uma eloquente amostra desta elementar verdade.

A ambição não é pequena. O documento pretende descobrir as raízes da atual crise brasileira, caracterizada por um processo crônico de "estagnação e inflação", e apontar, em variados campos, as soluções correspondentes, de acordo, é óbvio, com os ideários e interesses (são, afinal, virtudes gêmeas) da assim chamada grande burguesia brasileira.

Embora, aqui e ali, a obra contenha considerações e propostas dignas de estudo e consideração, já no diagnóstico básico se revela, como um pecado original, o collorido das intenções que movem nossas elites. Como convém à modernidade, tudo corre sob as águas do neoliberalismo.

A federação patronal começa por argumentar que a crise brasileira reflete sobretudo "o esgotamento do modelo de desenvolvimento liderado pelo Estado", em boa medida baseado na substituição de importações – e o Leste europeu estaria aí para reforçar tal interpretação. Em resumo, poder-se-ia afirmar que se trata, oxalá como no mundo, da crise do estatismo ou pelo menos do estatismo exagerado.

Há uma ironia implícita e incômoda, em tal opinião uma vez que os autores não cansam de criticar aqueles que enxergam o Estado como o responsável pelas atividades econômicas, incluindo o crescimento, as crises etc.

EDIÇÃO 20, FEV/MAR/ABR, 1991, PÁGINAS 80