A ONU a serviço da guerra
Seria ilusão acreditar que uma assembléia de países fosse suficiente para debelar as guerras no mundo capitalista. Mas, é razoável exigir que sirva de fórum para discutir as divergências internacionais e, no mínimo, fazer esforços pela paz. Porém, a ONU envereda por outro rumo. Torna-se joguete nas mãos dos EUA para legalizar suas aventuras guerreiras e, agora, para intervir nos assuntos internos dos países. Em vez de fator de tranquilidade, torna-se ameaça aos povos.
No caso da guerra do Golfo, a atitude da ONU foi vergonhosa. O imperialismo americano decretou o embargo e depois o bloqueio econômico ao Iraque e exigiu aprovação da Assembléia das Nações. Decidiu ocupar o Oriente Médio e invadir o Iraque e, novamente, obteve plena aprovação. Tinha tanto controle da ONU que iniciou as operações militares sem ao menos comunicar oficialmente ao secretário-geral Perez de Cuellar.
O pretexto para tanta submissão era a ocupação do Kuwait. Mas, em relação à barbárie cometida há décadas por Israel, usurpando territórios árabes e assassinando indiscriminadamente os palestinos, a ONU limita-se a reprovações formais. E, em relação ao respaldo logístico, financeiro e militar dos EUA a tais crimes, nem uma palavra.
Agora a ONU vai mais adiante, num perigoso precedente. Interfere abertamente no conflito com os curdos e xiitas, ditando ao governo iraquiano o que pode e o que não pode ser feito na guerra civil. Agora a desculpa é humanitária. Porém, tal acesso de piedade jamais veio à tona com os massacres do Vietnã, com o bombardeio de civis no Panamá – onde foram mortos cerca de 30 mil pessoas – e com o genocídio dos palestinos. Nem com o brutal tratamento que os curdos recebem também na Turquia, por exemplo.
Não se trata de acobertar ou justificar os métodos do governo iraquiano, mas de impedir que a ONU fuja de suas atribuições, passando a intervir nos assuntos internos de cada país soberano. Se tal prática se implanta, o belicismo americano terá um reforço assustador, pois pode exercer seu domínio mundial, submeter os povos, derrubar governos e conformar regimes títeres, com o amparo de uma Organização dita de unidade das nações.
A Liga das Nações, na Primeira Guerra Mundial, colocou-se a serviço dos belicistas. E, por isso, esfacelou-se. A ONU surgiu, depois da Segunda Guerra Mundial, com o propósito de servir à paz. No entanto, sob pressão imperialista, vai pelo mesmo caminho, transforma-se em arma de guerra.
Mais grave ainda, com tal política, a ONU acirra as contradições inter-imperialistas. Alemanha e Japão, que disputam a hegemonia com os EUA, evidentemente não aceitarão que seu principal rival, que tem enorme superioridade militar, no momento, utilize a ONU para conquistar espaços políticos, áreas de influência e, obviamente, mercados e fontes de matérias-primas.
EDIÇÃO 21, MAI/JUN/JUL, 1991, PÁGINAS 3