A contra-revolução continua produzindo estragos. Dos que capitulam, além da rendição, ela exige o repúdio público ao socialismo e aos ideais de um regime sob direção dos trabalhadores.
Na URSS, não basta restaurar os mecanismos formais do capitalismo. Bóris Yeltsin se elege presidente da Federação Russa como desavergonhado pregoeiro do modo de vida ocidental burguês.
E, para esterilizar os restos de qualquer vírus de rebeldia, apaga-se a homenagem a Lênin no local que foi ponto de partida da chama revolucionária. O caráter da "modernidade" em curso ficou muito bem simbolizado pela restauração do nome São Petesburgo na cidade de Leningrado.

Na Albânia também, a maré antiprogresso avança. Incapaz de compreender a situação e, portanto, de retificar os equívocos e manter os objetivos da transformação social, o PTA renega todo o passado de lutas, joga lama sobre a memória de Enver Hoxha, liquida-se como partido do proletariado, proclama que agora faz parte da "esquerda européia", dá lugar ao PSA, social-democrata.

O patrão, entretanto, exigiu um espetáculo completo. As ruas de Tirana, que foram palco de lutas heróicas contra os ocupantes nazi-fascistas, serviram, em fins de junho, para uma recepção retumbante a James Baker, secretário de Estado dos EUA. A liberdade conquistada, em 1944, à custa do derramamento de sangue da juventude e dos trabalhadores, foi substituída pela saudação servil ao imperialismo, a troco de migalhas.

Diante da ofensiva reacionária e de derrotas do socialismo, certas parcelas da esquerda vacilam e se deixam assaltar pelo pessimismo. É fácil ser revolucionário quando as coisas marcham bem e todas as aparências apontam a favor das mudanças. Na hora das dificuldades, entretanto, a coragem revolucionária depende de uma sólida perspectiva histórica, apoiada na teoria. A firmeza de combate não pode ser dogma de fé e sim fruto de convicção cientificamente fundamentada.

Por fim, é bom ver que a vitória burguesa vai revelando traços de sua fragilidade. Na Polônia e Alemanha Oriental já se ouvem os protestos dos trabalhadores que ontem foram arrastados pelas ilusões capitalistas. Na Iugoslávia, a restauração das regras do cada um por si estraçalha o país pela guerra.

A vida indica que, por mais duro que seja o caminho, o progresso passa pela luta e não pelo acomodamento com a escravidão. O capitalismo a humanidade já conhece há séculos. Em vez de iludir-se com uma correção milagrosa de seus males de natureza estrutural, a tarefa que o mundo coloca é desenvolver e aplicar corretamente a teoria para construir um sistema superior, à qual as primeiras experiências socialistas deram início.

EDIÇÃO 22, AGO/SET/OUT, 1991, PÁGINAS 3