Um não à trajetória de opressão e resistência da metade feminina do gênero humano. Assim se poderia definir o livro de Rosalind Miles, A História do Mundo pela Mulher, leitura obrigatória dos que estão dispostos a recuperar os processos históricos tal como se deram e não pela versão dos dominantes.

Impressionando pela vastidão de sua pesquisa, o livro atravessa os séculos, destroçando, de forma avassaladora, a idéia de que a mulher vive a sua condição de subalternidade desde sempre.
Apesar de apoiar-se, muitas vezes, em teses ainda não de todo confirmadas pelas ciências, Rosalind resgata o enorme papel da mulher na formação do gênero humano. “A história da raça humana começa com a fêmea. A mulher carregou o cromossoma humano original, como faz até hoje; sua adaptação evolutiva garantiu a sobrevivência e o sucesso da espécie; sua tarefa de maternidade forneceu o estímulo cerebral necessário à comunicação humana e à organização social”. A dimensão dessas afirmações se tornaria mais evidente se a autora resgatasse as funções do trabalho que advinham da  especialização biológica, inerentes à mulher, no processo de reprodução.

Apoiando-se num número incontável de registros, o livro destaca os 25 mil anos de “status sagrado da feminilidade” expresso na magia e endeusamento das sociedades primitivas diante do então desconhecido fenômeno da reprodução. É a época da Mãe Deusa, dos primeiros santuários, das cerimônias, das estátuas e tantos outros registros.

Recuperando, mesmo que de forma passageira, as contribuições históricas do marxismo, nas citações de Engels, a autora interpreta a perda de status da mulher numa mistura da visão idealista de uma hipotética vingança do Falo com os aspectos histórico-sociais. Relaciona o surgimento da chamada sociedade falocrata com as transformações ocorridas na luta pela sobrevivência da raça humana.
Jô Moraes

EDIÇÃO 23, NOV/DEZ/JAN, 1991-1992, PÁGINAS 81