Não tem sido fácil, no entanto, apesar de décadas de esforços dos Kruschev, Brejnev e Gorbachev, restaurarem plenamente as mazelas ocidentais onde antes a revolução tinha tratado de cortar pela raiz a exploração capitalista – que produz ricos e pobres, divide a sociedade em proprietários e trabalhadores, joga com as pessoas no empurra-empurra da oferta e da procura.
Mas já se noticia o desemprego em marcha acelerada. E os aposentados, ao fim de uma vida de trabalho, já recebem – à semelhança dos nossos – um salário que não permite comprar um quilo de carne.

A semelhança com o Brasil, e também com os Estados Unidos, se faz sentir inclusive na onda de desesperança e frustração revelada em pesquisas de opinião. Soviéticos e brasileiros foram, cada um a seu modo, vítimas da conversa de um Salvador da Pátria. Collor e Gorbachev usaram e abusaram da mídia para entorpecer as mentes e orientar seus povos contra o progresso. Aqui, o falso brilhante que serviu como engodo foi chamado de Primeiro Mundo. Lá, tragicamente, de Liberdade.

Liberdade de comércio e liberdade de disputar – num patamar, ricos contra ricos, para ver quem explora melhor os despossuídos, noutro, pobres contra pobres, por uma vaga na empresa onde lhes arrancarão a mais-valia. Liberdade de expressão para os donos do capital e dos meios de comunicação – instaurada simbolicamente muito esclarecedora, com a proibição do Partido que levava o nome de Comunista – não pelo que se tornou, mas pelo que já foi; expressão da vontade, da consciência e da opinião de quem trabalha. Liberdade burguesa, capitalista, inimiga irreconciliável da outra, proletária, socialista.

A primeira, das classes dominantes exploradoras, depois de 600 anos de exercício, só favorece porcentagem ínfima da população do Globo. A liberdade socialista, ainda na infância, foi golpeada pelos ataques brutais dos inimigos e por distorções que seus próprios construtores permitiriam na abordagem das primeiras experiências de sua implantação. Mas, além de interessar à imensa maioria, é a única que, no fundo, abre caminho para uma nova existência no planeta.

Nesses tempos conturbados, não é fácil perceber estas coisas, aparentemente tão simples. A manipulação das emoções, o peso fabuloso da mídia, os tropeços de revolução turvam a mente de enormes contingentes. Nunca foi, portanto, tão grande o papel do conhecimento científico da sociedade e de suas leis. E a importância da luta teórica e ideológica.

Descuidar do estudo do que já se produziu e, sobretudo, de desvendar novos caminhos da teoria, é condenar-se a seguir a onda da propaganda burguesa, leva ao pessimismo e até à capitulação, impõe-se a busca do saber como orientou Marx, não apenas para explicar o mundo, mas para mobilizar as forças capazes de transformá-lo.

Um último detalhe: a liberdade de preços tornou-se há muito obsoleta mesmo no capitalismo. Ao entrar na fase monopolista, este sistema deformou a competição do mercado e colocou os preços sob tutela das grandes corporações. Triste notícia para quem queria vender a CEI como novidade.

EDIÇÃO 24, FEV/MAR/ABR, 1992, PÁGINAS 3