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    SAUDAÇÃO

    Os velhos deuses morreram, Evoé Baco, o sempiterno Evoé Baco, o que vive Evoé Baco, Dionisius, Satã Princípio Ativo, Elohin, o deus da beleza E do fogo, Evoé todos os deuses filhos diletos do homem, Evoé faces esplêndidas Evoé desejo de perfeição, de superação de negação do que está posto em sossego Evoé potências infinitamente […]

    POR: Itamar Pires*

    Os velhos deuses morreram,
    Evoé Baco, o sempiterno
    Evoé Baco, o que vive
    Evoé Baco, Dionisius, Satã
    Princípio Ativo, Elohin, o deus da beleza
    E do fogo,
    Evoé todos os deuses
    filhos diletos do homem, Evoé faces esplêndidas
    Evoé desejo de perfeição, de superação de negação
    do que está posto em sossego
    Evoé potências infinitamente elevadas do que somos
    Evoé dialética, Evoé vinho e sexo,
    Evoé machos de rijo corpo, Evoé femeas
    possantes, insaciáveis, loucas,
    Evoé a conjunção de tudo o que somos,
    Evoé mundo estilhaçado,
    Evoé fadas e dragões em exílio,
    Evoé todos os deuses já sonhados,
    rito tântrico, cabala
    Evoé busca de compreensão, Evoé
    aos navegantes
    que mostraram serem outros os terrenos do mar,
    Evoé mundo retalhado,
    Evoé ódio de classe
    Evoé revoluções – ainda que traídas, pisoteadas
    Evoé revoluções – ainda que traídas e pisoteadas
    Evoé revoluções, deusas sangrentas como parteiras,
    e amantes ferozes que nos consomem até o bagaço,
    que dormem com outros homens
    enquanto estiolamos sangue e lava e poemas
    para ficar vivos, ainda
    Evoé luta armada, guilhotina,
    fuzilamentos traidores
    execuções em massa de canalhas,
    Evoé aos mortos em combate, aos poetas estraçalhados
    aos poetas que afrontam o absurdo, o cinzento,
    que deitaram-se lado a lado com o horror,
    que morreram em barricadas, em poços de fel curtido,
    tonéis de cachaça,
    que traduziram este mundo, este mundo
    de aço, feridas, grandes fomes e fábricas, viagens
    Evoé Walt Whitmann e Maiakovsky, Evoé Pessoae Neruda
    Evoé Borges e Brecht, vizinhos inconciliáveis
    – por que foram da ânsia do mundo
    o que o leito é para o oceano
    Evoé aos que combatem a barbárie, aos que
    na voragem da revolução
    foram muitas vezes cruéis e insensatos,
    intolerantes, loucos porque criam
    pelo que apaixonadamente sabiam certo
    Evoé aos que provaram ser o homem a matéria suprema,
    Evoé Hegel, Evoé Marx,
    Evoé aos que reconciliaram a paixão e a ciência
    Evoé aos que sempre combateram os deuses,
    Evoé Lênin, não ficavas mesmo bem em casacas de
    chumbo!
    Evoé aos que dinamitaram, enfim, o parapeito
    das pontes
    e injetaram 100 mil volts em nossa corrente sanguínea
    Evoé novas revoluções
    que arrancarão de cada século sua jóia mais pura,
    Evoé aos que dão o sangue
    para que as bandeiras permaneçam vermelhas
    Evoé aos cantares, palavras, lutas, atos
    do homem, eterno movimento,
    Evoé ao que ousaremos de mais belo,
    Evoé ao futuro
    que brande suas espadas de jóia,
    terrível ceifadeira e canta
    com toda potência de seu corpo-fêmea.

    Itamar Pires

    EDIÇÃO 24, FEV/MAR/ABR, 1992, PÁGINAS 78

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