Galileu Herético / Ciência e Historicidade
Através de documentos, processos, festas, academias, palácios, escolas, homens, livros e revivendo os ritos e os sentimentos religiosos e as paixões políticas e intelectuais, o Galileu Herético, de Redondi, revê de forma estimulante as reações que a filosofia de Galileu havia provocado, oferecendo uma riqueza de fatos históricos que convencem o leitor de sua tese sobre o processo deste grande homem.
Repisar uma controvérsia que foi um diálogo de surdos, segundo Redondi, fará com que valorizemos a conquista da "autonomia de pesquisa e da razão de que nos beneficiamos hoje. E será possível avaliar que esta não desceu para a terra do céu (…) mas foi duramente conquistada no século XVII, como qualquer outra liberdade humana. Um bem comum a defender".
Pietro Redondi nasceu em Milão, em 1950, e formou-se em história das ciência e técnicas em Paris. Atualmente é pesquisador do CNRS (Centro Nacional de la Recherche Scientifique), com o cargo de diretor-adjunto do Centro Alexandre Koyre da Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales.
Margareth Miranda de Oliveira, pós-Graduação do IFUSP.
Ciência e Historicidade
Ciência e Historicidade, Luiz Felipe Serpa, Edição do Autor, Salvador, 1991.
Quando alguns afirmam ser tempo de jogar os livros de Marx e Engels na lata do lixo, Felipe Serpa pensa exatamente o contrário. Este é seguramente o primeiro destaque deste livro. Apoiado nestas leituras e na análise das mudanças conceituais trazidas pela ciência do século XX, o autor sustenta a "capacidade preditiva do materialismo dialético". Analisa em particular o livro Dialética da Natureza, de Engels, fazendo uma inovadora análise de suas categorias.
Retomando a afirmação de Marx de só reconhecer uma única ciência, a da história, o autor esboça então seu principal objetivo: "chegar ao espaço-tempo histórico como objeto teórico unificador das ciências na natureza e do homem, introduzindo a historicidade no espaço-tempo das ciências da natureza e a dimensão espaço-temporal na historicidade das ciências do homem". Felipe Serpa desenvolve ainda as características que deveriam ter "a construção de uma teoria da estrutura do espaço-tempo histórico".
Embora seja bastante discutível a possibilidade de uma tal unificação nos marcos de uma determinada estrutura científica, devemos registrar a grande riqueza epistemológica contida nos "insights" presentes neste livro.
Estas valiosas elaborações estão, no entanto, contidas em uma moldura mais geral bastante discutível, até porque não constitui parte necessária da própria reflexão. Falando mais concretamente, Felipe Serpa toma como moldura histórica a noção de "crise civilizatória" de F. Capra e o conceito de ciclos civilizatórios de A. Toynbee. Não é o caso de nos limites desta resenha nos determos sobre tais questões, mas somos de opinião de que estes são conceitos e noções no mínimo muito insuficientes para analisarmos a "Nova Ordem Mundial".
Infelizmente o livro não saiu por uma editora com capacidade de colocá-lo em todo o mercado nacional. Sendo uma leitura obrigatória para os interessados na reflexão sobre a ciência e para os que têm no marxismo o referencial teórico, deixamos a "dica": não encontrando nas livrarias escrever para o autor na Faculdade de Educação – UFBA, Salvador.
Olival Freire Jr.
EDIÇÃO 27, NOV/DEZ/JAN, 1992-1993, PÁGINAS 55