Novo ano na vida dos brasileiros. Afastado em definitivo o pesadelo Collor de Melo, o novo governo, resultado da luta pelo impeachment, esboça suas primeiras medidas buscando alterar, em certa medida, a política econômica inspirada no neoliberalismo. Ano de plebiscito onde decidiremos pela manutenção do presidencialismo ou daremos um passo adiante experimentando um sistema de governo, parlamentarista, que permita participação política mais ativa da sociedade.

É ano também de contraposição à nova moda das elites oligárquicas. Agora trata-se de imitar o Primeiro Mundo copiando o sistema eleitoral e partidário alemão. O objetivo não declarado é diminuir, e mesmo eliminar, a representação popular e democrática no Congresso Nacional. São propostas que atingem também direitos constitucionais. A eliminação de direitos políticos e sociais inscritos na Constituição é também plataforma das forças conservadoras que já se organizam com tal objetivo. É ano, portanto, de intensificar a resistência popular buscando criar as condições para a reversão destes planos.

Neste número dedicamos especial atenção a essa ofensiva conservadora que, sob o manto do aprimoramento das nossas instituições políticas, visa de fato a restringir a representatividade das casas legislativas. A este tema se remetem os artigos de Haroldo Lima (“Avançar ou recuar na democracia?”), Olival Freire Jr. (“Pelo parlamentarismo democrático”), Sergio Sérvulo da Cunha (“O sistema distrital no Brasil”) e Walter Sorrentino (“O voto distrital”).

Destacamos, também os artigos de Luiz Marcos Gomes (“A vitória de Clinton e a crise americana”) e de Haroldo Lima (“A propósito do socialismo na China”).

Princípios enfrenta o novo ano desfalcada de seu editor, Rogério Lustosa, prematuramente desaparecido. Rogério dirigiu a revista nos últimos três dos seus doze anos de existência. Seguramente a sua fase mais importante, onde a revista afirma-se analisando criticamente a crise do socialismo, denunciando o caráter excludente da Nova Ordem Mundial, contrapondo-se à onda neoliberal, sustentando e buscando desenvolver perspectiva socialista. A revista presta sua homenagem ao seu antigo editor através do artigo assinado por Bernardo Joffily, membro do Conselho Editorial. Mas a melhor homenagem que os colaboradores, assinantes e leitores podem prestar a Rogério Lustosa é desenvolver ainda mais o projeto da revista. Ela passa a depender ainda mais de cada um que voluntariamente escreve contribuições, faz uma assinatura ou compra um exemplar.

A Princípios não se propõe objetivos limitados. Revista teórica, política e de informação quer aglutinar o pensamento avançado daqueles que pugnam pelo futuro deste país e de seu povo. Futuro que só pode ser democrático, soberano e socialista. Futuro que está a exigir idéias novas, justas e mobilizadoras, no âmbito político, econômico, social e cultural.

Princípios quer contribuir para desenvolver o pensamento libertário do nosso tempo. Em contraposição aos arautos de seu fim a barbárie capitalista dos dias atuais atualiza cotidianamente o vigor e a justeza do pensamento fundado por Karl Marx e Friedrich Engels. A revista se pretende uma tribuna a serviço de sua divulgação e elaboração, contra as tramas conservadoras.

EDIÇÃO 28, FEV/MAR/ABR, 1993, PÁGINAS 3