O que esconde o gráfico do The Wall Street Jornal
Tamanha precisão torna possível a elaboração de gráficos como os das páginas seguintes, feitos por Geoffrey H. Moore para o The Wall Street Journal, que registra o número de meses de cada período de expansão e de recessão vividos pelos EUA desde 1790. Moore é diretor do Center for International Business Cycle Research, da Universidade de Colúmbia.
Segundo ele, o gráfico mostra que os períodos de recessão tornam-se cada vez mais curtos, e os períodos de expansão mais longos, significando que a capacidade capitalista de manter controle sobre a economia teria crescido. Realmente, as expansões parecem mais longas: em 1790/1840, elas duravam em média 30 meses; entre 1940/1990, duravam em média 53 meses, sendo que a última expansão capitalista durou 92 meses! Em contrapartida, as recessões parecem durar cada vez menos. Entre 1790/1840, duravam em média 26 meses; entre 1940/1990, as recessões duraram em média 11 meses, e a última foi de 8 meses!
A economia tornou-se mais orientada para o setor de serviços, menos dominada pela produção agrícola e de bens manufaturados, que é sujeita a amplos e freqüentes altos e baixos. O governo intervém para manter as rendas, apoiar os empreendimentos, fomentar a confiança dos consumidores durante a recessão, além de bancar o seguro desemprego, os pagamentos da previdência social e garantir os depósitos bancários. "O Federal Reserve Board, criado em 1914, influencia as taxas de juros e a criação de créditos em seus esforços para estabilizar a economia, evidentemente com algum sucesso", diz Moore.
Este é o mundo dos sonhos dos capitalistas os negócios correndo livremente, e o governo funcionando como anteparo para as quedas mais perigosas. Esta é também a ilusão oculta no gráfico do The Wall Street Journal. Ao invés de apresentar o tempo duas vezes – no eixo horizontal e vertical o gráfico poderia, para ser mais esclarecedor mostrar a amplitude da variação do Produto americano nesses períodos. Esse dado ajudaria a visualizar bastante as fortes tendências à estagnação manifestadas pelo desenvolvimento capitalista das últimas décadas: o crescimento tem se tornado cada vez mais lento nas economias capitalistas desenvolvidas, acompanhadas do crescimento do desemprego, brutal nessas nações e arrasador no novo campo incorporado ao sistema capitalista, as nações do Leste Europeu.
Nos EUA, a principal nação capitalista do planeta, as médias anuais de crescimento do PIB estavam em 3,98% nos anos 50 e 4,05% nos anos 60, e começaram a cair nos anos 70, quando foram registradas médias de 2,83% ao ano. Nos anos 80, o crescimento pode ser estimado em 2,23%, e para os anos 90 a previsão geralmente otimista, do próprio governo Bush é de um crescimento médio anual de 1,71 %. Entre 90 e 95 a desaceleração do crescimento da produção é visível, e é ela – na verdade – que condiciona a atual transformação no perfil do emprego nos países capitalistas, onde cai o número de pessoas ocupadas em atividades ligadas à produção material (como a agricultura e a indústria) e cresce o emprego na área de serviços. Esta é a herança que Clinton agora deve administrar.
Em todas as economias capitalistas desenvolvidas a situação é a mesma. No Japão, por exemplo, o PNB japonês cresceu quase a taxas médias anuais de 10% ao longo dos anos 60; na primeira metade dos anos 70, elas ainda foram altas, superiores a 6%. Desde então, a mais próspera economia capitalista tem mantido taxas anuais médias de aumento do PIB por volta de 4%.
Em 1990 existiu um incremento de 3 %, e prevê-se que em 1992 a economia japonesa tenha praticamente parado, com um aumento irrisório de 0,3% no PIB. Na Inglaterra, outra importante nação capitalista, a recessão dura desde o último trimestre de 1990.
Nesse quadro, o desemprego é crescente. Na Inglaterra, passou de 6 milhões em meados de 1990 para quase 10 milhões de trabalhadores em 1992. Nos EUA, era de cerca de 5,5% dos trabalhadores no começo de 1990, e passou para 7,4% no final de 1992 – e prevê-se que se manterá superior a 5,5% até 1995. Na Europa, as taxas beiram os 10% – e muitas vezes são superiores – em quase todos os países. No Leste europeu, as taxas de desemprego descrevem a catástrofe que está sendo a incorporação das antigas repúblicas populares ao bloco capitalista. Na Albânia, o desemprego foi de 18% em 1992, e poderá chegar a 27% em 1994. Na Bulgária, Hungria e Polônia, passará da faixa de 14% a 15% em 1992 para 20% em 1994. Na Tchecoslováquia e na Romênia, passará de 8% e 10% em 1992 para algo próximo dos 17% em 1994. Na antiga URSS, o desemprego foi de 0,2% em 1992, mas poderá chegar a 24% em 1994.
Esse quadro que parece terrível e assustador para os trabalhadores, mostra-se ameno para os que estão no topo, ilustrando outra tendência do desenvolvimento capitalista: nos EUA, por exemplo, a fatia dos 5% mais ricos na população, que tinha 16,5% da renda nacional, em 1980 chegou a ter 19% em 1989.
Nesse quadro, é difícil reconhecer aquele mundo de sonho, de crescimento constante, sob controle, que o gráfico do The Wall Street Journal descreve – ao contrário, o desenvolvimento futuro do capitalismo parece ocultar muita turbulência.
(José Carlos Ruy)
EDIÇÃO 28, FEV/MAR/ABR, 1993, PÁGINAS 25, 26, 27