Agenor Silva, Dissertação de Mestrado apresentada na Faculdade de Economia – PUC-SP, para obtenção de título de mestre em economia, 1992.

Este é o título da dissertação apresentada pelo economista Agenor Silva Júnior para a obtenção do título de mestre em economia da PUC de São Paulo. O trabalho, julgado em 1992, recebeu nota 10, com louvor, da bancada examinadora.

Agenor sustenta a idéia de que o sistema capitalista continua se movimentando em meio às crises e contradições cada vez mais violentas e que tal marcha inevitavelmente levará à sua própria destruição e substituição por um modo de produção mais avançado, uma forma superior de organização da sociedade.

Nos dias de hoje, em que a propaganda neoliberal embriaga as consciências e os acontecimentos do Leste parecem dotar o capitalismo de um fôlego insuspeitável, a tese não desfruta de muitas simpatias nos meios acadêmicos. Defendê-la, nessas condições, é prova de lucidez e coragem intelectual.

As leis econômicas que orientam a marcha da produção capitalista têm caráter objetivo e fazem pouco caso de fantasias burguesas como o conto do fim da história. São elas que explicam o contraste entre a euforia de alguns ideólogos do capitalismo, suscitada pelas vitórias políticas, e a mediocridade dos indicadores econômicos do sistema imperialista, sacudido por crises que abalam toda sua estrutura.

Tais leis são as referências de Agenor, baseado na teoria marxista. Ele examina, com Marx, através principalmente de O Capital, os mecanismos da crise cíclica, fenômeno que continuou operando ao longo da história do capitalismo, agora com particularidades concedidas pelo imperialismo e localiza na relação entre propriedade privada e a socialização da produção a contradição fundamental do sistema, que rompe na forma de crises.

O imperialismo é abordado conforme as idéias desenvolvidas por Lênin, como o estágio superior do sistema, uma fase em que suas contradições amadureceram e tornaram-se progressivamente mais agudas (embora isso não se desenvolva de forma linear). Enfim, é o capitalismo agonizante, a ante-sala do socialismo.

Agenor resgata, assim, teses fundamentais da economia política marxista. É essencial, mas não suficiente. Ao lado disto torna-se necessário um esforço maior voltado para a elevação da compreensão marxista sobre a presente crise do imperialismo, o que exige ir além das observações feitas por Marx e Lênin. A crise econômica atual tem caráter estrutural, não podendo ser explicada pelos mecanismos da crise cíclica, da mesma forma que a simples menção à tendência à estagnação referida em O Imperialismo, etapa superior do capitalismo não é suficiente para iluminar o pensamento a respeito do fenômeno.

Impõe-se o estudo do assunto para que uma caracterização mais nítida da crise, que vai orientar a estratégia revolucionária, seja possível.

Umberto Martins

Notas

Desaparece David Bohm

Faleceu em outubro passado, aos 74 anos, vítima de ataque cardíaco, o cientista e filósofo David Bohm. A notícia nos sensibiliza pelo seu papel na cultura de nosso tempo e pelas suas ligações com o Brasil.

Na década de 1950 ele notabilizou-se por proposta de reinterpretação de uma das teorias mais fundamentais da física moderna – a teoria quântica. Bohm buscou recuperar o determinismo próprio à física clássica que fora substituído na nova teoria por previsões de natureza probabilística. Suas tentativas constituíram, no que pese seu insucesso, controvérsia científica ainda não resolvida. Ele destacou-se também por variadas contribuições científicas e filosóficas. Contribuiu também para a valorização, no ocidente, do pensamento filosófico oriental. Dos seus livros mais importantes dois são publicados em português: Totalidade e Ordem Implícita e Ciência, Ordem e Criatividade.

Nascido norte-americano, foi uma das muitas vítimas do “MacCarthysm”. Chamado a depor no Congresso Americano foi inquirido se era comunista ou se algum comunista tinha trabalhado com Oppenheimer. Bohm tinha sido aluno de Oppenheimer, um dos criadores da bomba atômica americana durante a Segunda Guerra. Ele então arguiu os direitos assegurados na Constituição para não responder, sustentando que se o fizesse estaria submetendo outras pessoas e a si próprio a perseguições. Chegou a ganhar na Justiça o direito de manter esta posição, mas perdeu o cargo que tinha na Universidade de Princeton e qualquer chance de trabalhar nos EUA.

Foi na condição de cientista desempregado e perseguido político que veio para o Brasil, trabalhando na USP entre 1951 e 1955. Para a sua vinda contou com o empenho de Einstein, seu amigo, e dos cientistas brasileiros Mario Schenberg e A. de Moraes. Aqui ele ministrou cursos, influindo na formação de toda uma geração de cientistas brasileiros, e prosseguiu suas pesquisas publicando artigos com os brasileiros J. Tiomno e W. Schutzer. Em 1955 foi para Israel e em seguida para Londres onde fixou-se de forma permanente.

EDIÇÃO 28, FEV/MAR/ABR, 1993, PÁGINAS 73