O país acaba de vivenciar um aparente paradoxo. Atravessa grave crise e realiza plebiscito, onde a população majoritariamente decide pela simples manutenção das instituições políticas vigentes. O paradoxo é aparente. A real alternativa de mudança – a instituição do sistema parlamentarista – foi apresentada em uma campanha que oscilou entre dois pólos: a falsidade de apresentar esse sistema como panacéia para todos os males da sociedade brasileira e o conservadorismo de ver nesse sistema um atalho para restringir a nossa recente democracia, pugnando por um parlamentarismo sem eleição direta para presidente e associado ao voto distrital e redução do espectro político dos partidos existentes.

O eleitor optou pela manutenção do já conhecido, desconfiado da embalagem da mudança apregoada. O projeto de um parlamentarismo democrático, como aquele veiculado nas páginas de Princípios, não adquiriu visibilidade para o eleitor. As reais ameaças à democracia perduram e têm origem nas elites dominantes. No próprio dia do plebiscito, Marco Maciel, presidencialista, e Paulo Maluf, parlamentarista, irmanaram-se para defender voto distrital e redução do número de partidos. O alvo imediato destes setores concentra-se na revisão constitucional, enfocada nesta edição no artigo assinado por Aldo Arantes.

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Precipita-se a disputa presidencial. Mas o calendário constitucional prevê eleição para dentro de dezoito meses. Contudo, a crise caminha mais rápido que o calendário. Nesta crise, Itamar e seu governo vivem dilema que se decide em prazo mais curto. Ou resiste e denuncia os responsáveis pela crise, apoiando-se nas forças democráticas e patrióticas, ou se compromete irremediavelmente com os inimigos do povo e da pátria.

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Princípios esgotou a tiragem de sua última edição. Aos poucos a revista vai consolidando seu espaço como veículo político, teórico e de informação. Diversificam-se os colaboradores, crescem os assinantes e ela demonstra ousadia ao abordar os temas mais relevantes para a atualidade da perspectiva transformadora socialista.

Naturalmente, nem todos os artigos assinados refletem opiniões compartilhadas por todo o seu conselho editorial. A defesa e, especialmente, o esforço de desenvolvimento do marxismo implicam processo desigual de investigação e tomada de posição. Para desempenhar com maior eficácia o seu papel, todos aqueles que, em distintos níveis, apóiam o projeto da revista precisam realizar um duplo movimento. Elevar, ainda mais, o padrão de qualidade dos materiais publicados e contribuir para colocar a revista em um novo patamar no campo editorial brasileiro. Mãos à obra!

EDIÇÃO 29, MAI/JUN/JUL, 1993, PÁGINAS 3