O livro é composto por uma série de ensaios, que datam de 1984 a 1990, tornando-o uma espécie de coletânea. Apesar de seguirem uma mesma linha de raciocínio eles se encontram de maneira dispersa, não perdendo seu caráter individual. Não é um trabalho para ser lido como um todo, mas sim como informações complementares.
A partir desse trabalho, acredito, poderemos ampliar o questionamento a respeito da imprensa operária, no que tange sua importância.

Vera Alves Crispim Capucho

Educação e questões da atualidade

SAVIANI, Dermeval. Educação e questões da atualidade. Livros do Tatu e Cortez Editora. São Paulo, 1991.

A teoria marxista aplicada à investigação das questões candentes da educação – esta é a frase que resume e mostra a enorme relevância deste novo livro do professor Dermeval Saviani.
Editado em 1991 na Argentina, e em português em 1992, o livro trata de questões que ultrapassam os limites colocados para a educação brasileira. São reflexões sobre questões atuais presentes na ordem-do-dia em nível mundial.

A importância deste livro também está no fato de ao abordar as questões emergentes e polêmicas colocadas hoje para a educação e educadores – como a pós-modernidade, a relação entre problemas sociais e problemas de aprendizagem, o pensamento de esquerda, o papel do Estado na educação e os sindicatos dos trabalhadores diante da educação escolar – o autor faz à luz da abordagem Histórico-crítica.

Na apresentação de seu livro, e durante a explanação dos diferentes temas, Dermeval nos dá importante contribuição ao debate extremamente atual acerca da chamada crise do marxismo e da crise das experiências socialistas de nosso século.

O autor entra em polêmica com as correntes que negam a atualidade do marxismo e que afirmam a morte do socialismo e sua inviabilidade como sistema.

Dermeval levanta argumentos de profundidade teórica que apontam de forma clara a necessidade histórica do socialismo.

A defesa da atualidade do marxismo é feita pelo autor levando em conta as vicissitudes históricas por que passou o marxismo em seu desenvolvimento em nível mundial; levando em conta as apropriações históricas por que passou, apontando ao mesmo tempo, tanto os elementos de sua atualidade como aqueles que devem ser levados em conta para o seu desenvolvimento.

Ao analisar questões relacionadas à crise das experiências socialistas, Dermeval, fazendo esforço crítico destas experiências, contra-argumenta com os que decretam a inviabilidade do socialismo, afirmando que exatamente pelo fato de o capitalismo enquanto sistema ainda não ter sido ultrapassado em nível mundial, é nisto que contraditoriamente reside a necessidade histórica do socialismo e sua atualidade.

Elemento de destaque no livro do professor Dermeval é a análise feita sobre a crise da educação em caráter mundial, cujas causas se encontram na fase atual do capitalismo que, como sistema em decadência, além dos inúmeros males que traz, engendra também a decadência da educação, dos processos pedagógicos e da escola.

Destaca então, como elemento conclusivo, que o dilema vivido pela educação pública na conjuntura atual coloca na ordem-do-dia a consigna socialismo ou barbárie. Portanto a ultrapassagem da crise da educação traz a necessidade da transformação das relações sociais vigentes e a construção de uma nova sociedade, o que recoloca de forma ainda mais profunda a questão do socialismo.

Apesar de ser um livro que aborda as questões da Educação, ultrapassa estes limites, é indicação de leitura, portanto, não restrita apenas aos que trabalham e produzem conhecimento neste campo.

Madalena Guasco

A lição da história

CARONE, Edgard. A II Internacional pelos seus congressos (1889-1914). Editora Anita/Edusp, São Paulo, 1993.

O período que vai da repressão à Comuna de Paris, em 1871, até a Primeira Grande Guerra, em 1914-1918, foi crucial para o desenvolvimento da luta operária, em nível internacional.
Ele marcou a virada de uma página na história do movimento operário; formas antigas de organização e do pensamento revolucionário foram ultrapassadas, substituídas por outras, alcançadas pela experiência acumulada de décadas de luta intensa.

Esse é o contexto do novo livro do historiador Edgard Carone. A II Internacional pelos seus congressos (1889-1914), lançado pela Editora Anita em co-direção com a Edusp, que rememora os congressos da Internacional pré-Primeira Guerra, marcados inicialmente pela luta entre socialistas e anarquistas. Os socialistas preconizavam a luta política revolucionária contra o capitalismo, enquanto os anarquistas enfatizavam a luta meramente econômica. Após a expulsão dos anarquistas, em 1896, a entidade foi marcada pelo conflito entre as correntes revolucionárias e as correntes reformistas. Boa parte dos textos que compõem o livro foi publicada na revista Princípios.

O Congresso de Bäle, de 1912, marcou o final melancólico da luta entre revolucionários e reformistas. Ele representou um “(…) recuo em relação às condições mais radicais e revolucionárias aprovadas em 1907”. Contudo, pergunta Carone, em que medida aquelas conclusões “(…) se aprovadas em 1912, vigorariam no ano de 1914? Como sabemos, a maior parte dos líderes e militantes socialistas aderiu ao social-patriotismo, negando toda filosofia pela qual juraram lutar”. A partir de então, a II Internacional afunda-se no pântano do reformismo e do legalismo burguês, e é abandonada pelos revolucionários.

O panorama dos congressos da II Internacional elaborado por Carone é surpreendente. Os leitores modernos podem descobrir aí que muitos temas e teses presentes na luta política dos trabalhadores contemporâneos repetem caminhos já percorridos. Essa é a lição da história.

José Carlos Ruy

EDIÇÃO 30, AGO/SET/OUT, 1993, PÁGINAS 74