Vivemos ainda o rescaldo do impacto dos acontecimentos políticos na antiga União Soviética. Relembremos a cronologia dos acontecimentos: Ieltsin dá verdadeiro golpe de Estado dissolvendo o Parlamento, este reage destituindo Ieltsin por violação da Constituição e dá posse ao vice-presidente Rutskoi. Clinton e demais dirigentes das grandes potências capitalistas apóiam de imediato e irrestritamente a Ieltsin; esboça-se a resistência popular ao golpe; apoiado no Exército Ieltsin massacra a resistência popular, fuzila centenas de pessoas, bombardeia o Parlamento e prende os parlamentares e populares que resistiam.

Os acontecimentos que se seguem são ainda mais ilustrativos. Mais de uma dezena de jornais e partidos políticos cassados, corte constitucional suspensa, sovietes dissolvidos e Ieltsin submete a plebiscito nova Constituição redigida por… ele próprio.

A melhor caracterização dos acontecimentos foi dada pelos chargistas Maringoni e Vasques que desenharam Hitler cumprimentando Ieltsin e afirmando “Muito bem! Eu também comecei incendiando o Parlamento!”. Ao fundo um parlamento em chamas.

Duas grandes conclusões saltam à vista. Os líderes ocidentais que, em agosto de 1991 apoiaram Ieltsin, alegadamente em nome da democracia, agora, tão rapidamente quanto em 1991, prestam total apoio político à aventura fascista de Ieltsin. Para estes líderes o discurso democrático está rigorosamente subordinado a garantir a restauração capitalista na antiga URSS e manter a nova ordem mundial com a absoluta hegemonia militar dos Estados Unidos.

A resistência dos moscovitas mostra também que a restauração capitalista não está finalizada, e que a luta prossegue. Diferentemente dos primeiros momentos da derrocada dos regimes do Leste europeu, quando a restauração capitalista teve largo apoio popular e lideranças políticas outrora revolucionárias simplesmente capitularam ou aderiram abertamente ao vendaval do liberalismo, hoje esta restauração já não tem este expressivo apoio, parcela do povo soviético opta pela resistência e luta aberta e, neste processo, vai constituindo novas referências políticas, tanto em termos de personalidades quanto de partidos políticos.

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Esta conjuntura internacional abertamente conservadora influencia negativamente o quadro político nacional. O governo Itamar-Fernando Henrique apressou-se em apoiar o novo czar russo. E o bloco parlamentar conservador, sob a liderança do PFL, mas com apoio do PMDB e PSDB, não hesita em violar a Constituição, sob o manto de revisão. O objetivo da revisão em curso é adequar o País aos ditames do neoliberalismo, especialmente desmontando o Estado brasileiro. Mas aqui também se resiste a estes planos e o País vive momentos de grande tensão com a batalha em curso. A tensão é agravada e se transforma em crise institucional com as denúncias de corrupção atingindo a alta cúpula das lideranças conservadoras. As denúncias de corrupção atingem também diversos governos estaduais. Fica cada vez mais claro não só a inconstitucionalidade, mas também a ilegitimidade deste Congresso para realizar a pretendida revisão. Mas a luta contra a revisão depende de ganhar as ruas para obter êxitos.
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Há exatamente um ano Rogério Lustosa editava, pela última vez, a revista Princípios. O seu súbito desaparecimento representou grande perda não só para a revista, mas para todo o movimento democrático e revolucionário brasileiro.

EDIÇÃO 31, NOV/DEZ/JAN, 1993-1994, PÁGINAS 3