Em 1981, o Brasil já era um País industrial de desenvolvimento médio. Vivia seu terceiro ano com Figueiredo e sua primeira recessão econômica em 16 anos. As demissões se sucediam aos milhares. Em maio, estourava a bomba do Riocentro, que a ditadura engoliu e encobriu. Em julho, Joaquim dos Santos Andrade reelegia-se presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que, na época, ainda eram 425 mil. O PCB, que apoiava Joaquinzão, indicou para a primeira secretaria da entidade um militante desconhecido da categoria.

O estreante precisou até esquentar a carteira para ter condições de entrar na chapa. A direção da empresa Gradiente, num gesto de boa vontade, registrou-o como preparador de máquinas. Seu nome: Luiz Antônio de Medeiros. Na eleição seguinte, em 1984, Medeiros, já afastado do PCB, passou a vice de Joaquinzão. Na de 1987, encabeçou a chapa da situação. Em pouco tempo, patrões e trabalhadores, governo e imprensa se davam conta de que não foi uma simples troca de nomes. Uma nova proposta se apresentava no universo sindical brasileiro.

“Eu acredito num sindicalismo de resultados”, afirmou Medeiros (em entrevista ao Estado de S. Paulo de 5 de junho, uma semana antes da eleição de 1987), cunhando a expressão que designaria sua corrente sindical. Na mesma entrevista, ele se explicou melhor: “Desde que saia um acordo bom para os trabalhadores, não interessa se ele foi conseguido por abraços com Mário Amato ou por uma greve de 40 dias”.

Mais tarde Medeiros renegaria o nome; diria que prefere “sindicalismo de conquistas”. Já seus adversários traduziriam do inglês a expressão business union, denunciando o que chamavam sindicalismo de negócios (adiante veremos que a denúncia tem seu fundamento). Mas o que importa não é o rótulo e sim o conteúdo que ele encerra: uma corrente distinta das que o sindicalismo brasileiro conheceu anteriormente.

Ela se opõe ao sindicalismo combativo, que vem da estirpe anarquista-comunista e nos anos 1980 passa a aglutinar-se na CUT. Mas difere também do sindicato pelego, oficialista, burocratizado, acomodado e inerte, que se firmou sobretudo a partir da política trabalhista de Getúlio Vargas e formou o esquema de sustentação sindical da ditadura militar.

“Medeiros se aproxima do sindicalista “de resultados” em estado puro; é o paradigma da espécie”.

A nova corrente sindical não surge apenas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo nem tem em Luiz Medeiros o seu único líder. Aparece também em outras entidades, com destaque para o Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, sob a direção de Antonio Rogério Magri.

Magri, um ex-operário da Eletropaulo, já na década de 1970 apresenta-se como representante do Iadesil, instituto de estudos ligado à central internacional dos sindicatos livres, a Ciols-Orit. Nessa qualidade, encaminha vários sindicalistas brasileiros para cursos de formação sindical da Ciols-Orit e
da central norte-americana AFL-CIO.

Nos anos 1980, Magri rivaliza com Medeiros na apologia do sindicalismo de resultados, com espaço garantido na grande imprensa. “Não vejo o sindicato como um processo de revolução para tomar o poder”, afirma à Folha de S.Paulo, em agosto de 1987, “mas sim como órgão para desenvolver o capitalismo”. Defende e representa o sindicalismo de resultados também na sua entidade e nas articulações intersindicais. É em nome dele que assume a presidência da CGT, em 1989, num golpe de mão que inclui cadeiradas e desbanca do cargo o velho Joaquinzão. É também nessa qualidade que assume, em março de 1990, o cargo de ministro do Trabalho e da Previdência Social do governo Fernando Collor.

Contudo, o primeiro ministro operário da história do Brasil rapidamente se desqualifica como defensor do que quer que seja. A imprensa (mal agradecida!) faz dele uma espécie de bobo da corte de Collor, incompetente, preguiçoso, notável apenas por seus pitorescos erros gramaticais. Magri deixa o Ministério ao fim de dois anos, já sem nenhum poder real. Sua última trapalhada é uma fita gravada onde confessa, candidamente, ter aceito um suborno de 30 mil dólares – pouco mais que uma gorjeta, comparada com as milionárias caixinhas do governo que compunha, porém mais do que o suficiente para desmoralizá-lo definitivamente.

A verdade é que, por essas e outras, nem Magri, nem qualquer outro compara-se a Luiz Antônio de Medeiros como expoente do sindicalismo de resultados. Medeiros é o que mais se aproxima do sindicalista de resultados em estado puro, o paradigma da espécie.

A diferenciação entre o velho peleguismo e o sindicalismo de resultados pode ser acompanhada ao vivo no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo ao longo dos anos 1980: a política e a prática da entidade mudam qualitativamente. No início, o maior sindicato da América Latina é tido como o exemplo clássico, a principal cidadela e o símbolo número um do peleguismo. Esse quadro muda, pouco a pouco, sem vitória da oposição sindical nem rupturas maiores dentro da situação, mas nitidamente.

“A mudança no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo foi além de uma mera reciclagem ou modernização”.

O Sindicato começa a assumir e até a puxar greves por fábrica, embora evite greves por categoria e repudie greves gerais. Os diretores são forçados a deixar suas salas na sede da rua do Carmo e enfrentar as madrugadas nas portas de fábrica; quem não aceita o novo ritmo é descartado. A imprensa da entidade sofre uma reformulação geral, assim como o relacionamento com a mídia. Cria-se também uma base organizada de ativistas nas fábricas, no início chamados Décio-Malhos (referência a um personagem do jornal O Metalúrgico), mais tarde delegados sindicais, ainda que sejam indicados e não eleitos. A formação passa a ser priorizada, com abundantes cursos regulares, ministrados no sítio da entidade. O número de sócios quites com o Sindicato sobe, apesar da redução do número de trabalhadores na base: 47 mil em 1984; 78 mil em 1987; e mais de 100 mil em 1990. O discurso da diretoria também muda substancialmente.

Num primeiro momento, a mudança é vista como uma modernização ou reciclagem do velho peleguismo. É um ponto de vista compreensível, já que a nova tendência surge de dentro do peleguismo e em aliança com ele. O tempo, porém, se encarregará de mostrar que a mudança vai muito além de uma simples reciclagem.

A diferença se cristaliza com a fundação da Central de Luiz Medeiros, a Força Sindical, no Memorial da América Latina, São Paulo, entre 8 e 10 de março de 1991.

Até então, a política intersindical da corrente de Medeiros é sinuosa. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo participa da fundação da Confederação Geral dos Trabalhadores, a CGT, em 1986, e inclusive coloca Joaquinzão na sua presidência. Mas não se filia à CGT; permanece independente, correndo por fora. A decisão de formar uma central própria surge mais adiante, no auge da maré neoliberal, internacionalmente, com a crise da URSS e do Leste, e no Brasil, com o governo Collor, apoiado por Medeiros. Coincide também com o desgaste da CGT, devido ao papelão de Magri no ministério collorido.

O congresso de fundação da Força Sindical registra formalmente a participação de 1.793 delegados, de 783 sindicatos, números nitidamente hipertrofiados. Na verdade, a Força nasce bem mais fraca que a CUT e a CGT, num movimento sindical já ocupado há anos por outras centrais. Calcula-se que tenha de três a quatro centenas de entidades aderentes, com forte concentração em São Paulo (45% dos delegados no congresso de fundação), presença rarefeita no setor público e quase inexistente nos de bancários e trabalhadores rurais. Afora o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, destaca-se a adesão dos Sindicatos dos Metalúrgicos de Osasco, Guarulhos e São Caetano do Sul (todos da Grande São Paulo), assim como da Federação dos Trabalhadores da Alimentação de São Paulo (que fica com a vice-presidência da central).

É uma representação precária. Fica longe da CUT, com seus quase 2 mil sindicatos, razoavelmente bem distribuídos por todas as unidades da Federação e todos os ramos de produção, inclusive na área rural. Não se aproxima sequer da CGT – Confederação, que proclama ter 1.200 entidades filiadas, com base num forte esquema de sustentação em Confederações Nacionais (Indústria, Transporte Terrestre, Estabelecimentos de Crédito).

“Um tipo de sindicato mais parece uma repartição pública; o outro imita uma empresa privada…”

Consciente dessa fragilidade, a Força Sindical não se propõe o perfil de uma central sindical na plena acepção da palavra. Dá pouca atenção à filiação de entidades e possui uma vida interna reduzida, mais apoiada em assessores profissionais. Funciona mais como corrente de opinião. Conta para isso com os favores da mídia. Mas não é só isso.

A Força rapidamente se firmou como principal pólo de resistência à CUT. E não promove uma resistência passiva, como o peleguismo clássico, que perdeu sucessivas posições no cenário sindical brasileiro, a partir dos anos 1970 e sobretudo no início dos anos 1980. Ela vai à luta e organiza movimentos de oposição ali onde não conta com a direção da entidade. Em 1992 chegou a colher um par de vitórias, arrebatando à CUT sindicatos de razoável importância – Metalúrgicos de Volta Redonda e Aeroviários de São Paulo.

Mas o principal trunfo do sindicalismo de resultados, que lhe confere poder de fogo e viabiliza a Força Sindical, continua a ser, de longe, o controle do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. E este controle vem se consolidando, ano após ano, até se transformar numa hegemonia esmagadora e assustadora. O leitor interessado no tema encontrará, como apêndice deste artigo, um quadro sintético da disposição de forças e do resultado das eleições dos metalúrgicos de São Paulo nos últimos quinze anos. Mas basta o gráfico para dar uma dimensão do fenômeno.

Depois dos retumbantes 82,6% obtidos por Medeiros nas últimas eleições (março de 1993), concorrendo com duas chapas adversárias, impõe-se uma conclusão: o posto de oposição nos metalúrgicos de São Paulo está vago. Mas quem se candidatar a ele precisará substituir o discurso de denúncia do peleguismo por outro, capaz de revelar a essência antioperária do sindicalismo de resultados.

O sindicalismo de resultados compartilha com o peleguismo a mesma matriz essencial burguesa. Mas
constrói a partir dela uma concepção e uma prática diferentes, que configuram uma corrente sindical distinta, com perfil próprio. As diferenças são sensíveis.

O peleguismo, pelo menos no Brasil, nunca chegou a construir uma teoria, uma doutrina, um corpo de idéias assumido e coerente. É, antes de mais nada, um tipo de prática sindical. Já o sindicalismo de resultados tem pelo menos uma ambição doutrinária. Pensa, produz teoricamente, atenta para a formação de seus ativistas e quadros. Propõe-se a enfrentar e a vencer o sindicalismo combativo tanto no campo da prática como no das idéias.

Outra diferença básica está na postura diante da política. O peleguismo clássico, naturalmente, faz política; mas adota em relação a ela um discurso de distanciamento quando não de hostilidade. Circunscreve sua ação à esfera sindical no seu sentido mais estrito e acanhado – a relação contratual entre patrões e empregados dentro da sua categoria. O sindicalismo de resultados conserva do peleguismo a aversão ao engajamento partidário; repudia com ênfase o partidarismo inconsequente que atribui a seus adversários de esquerda. Mas ao contrário do peleguismo proclama que o movimento sindical pode e deve fazer política. A Força Sindical chegou mesmo a encomendar a Antônio Kandir, à frente de numerosa equipe, o livro Um projeto para o Brasil.

O alentado volume de 654 páginas, lançado em junho de 1993, contém respostas para tudo, do papel das Forças Armadas ao sistema fiscal. A bem da verdade, não é obra da Força. Percebe-se nele a inconfundível marca de Kandir, um professor de economia que especializou-se em redigir projetos por encomenda, inclusive o projetão que aprontou, no início de 1992, para o governo Collor. Mas é sintomático que a Força tenha contratado os serviços do professor Kandir, que não devem custar barato. E Medeiros assina uma introdução onde deixa claro: “Acreditamos que uma central sindical moderna e representativa deve estender sua atenção ao conjunto dos problemas relacionados com a crise que o País atravessa e sua correlação com o resto do mundo”.

Uma terceira diferença está na atitude diante do Estado. O sindicalismo pelego está intimamente atrelado ao aparelho estatal. Cresce à sombra do Ministério do Trabalho, do estatuto-padrão, das interferências da Justiça do Trabalho, do Imposto Sindical. Para proteger-se, conta com as cassações e intervenções. Com sua atmosfera poeirenta e mofada, mais parece uma repartição pública.

O sindicalismo de resultados, ao contrário, nasce sob o estandarte neoliberal do Estado mínimo, das privatizações e da desregulamentação. Proclama sua adesão à liberdade e autonomia sindical, na forma da Convenção 87 da OIT, inclusive o pluri-sindicalismo. Na sua própria organização e atividade, valoriza a eficiência, a competitividade e a modernidade tão caras ao neoliberalismo. Se o sindicato pelego parece uma repartição pública, o de resultados imita uma empresa privada.

Nenhuma dessas diferenças faz com que o sindicalismo de resultados seja melhor, ou menos pior, que o peleguismo. Pelo contrário. Por sua plataforma e sua prática, ele pode ser considerado uma variante radical do peleguismo, ainda mais traiçoeira e peçonhenta.

No sindicato pelego, o aburguesamento se processa pela via do acomodamento, da burocratização, da corrupção pessoal e institucional. No sindicato de resultados podem ocorrer e ocorrem manifestações desse tipo, já que, como vimos, as duas correntes partilham a mesma essência de classe e brotam historicamente do mesmo tronco. Mas a adesão à burguesia vai mais fundo, assumindo uma feição ideológica, política e programática. O sindicalista de resultados é um militante, um propagandista, um agitador e um organizador da causa do capitalismo.

Pior ainda: das diversas escolas do pensamento econômico, social e político burguês ele abraça a
mais extremada e cínica, a do neoliberalismo. O professor Kandir se encarregou de sistematizá-la, com exuberância de detalhes, no Projeto da Força Sindical para o Brasil. E não se trata de uma opção acadêmica. A prática segue à risca a doutrina escolhida. Basta ver a curta, mas coerente, trajetória política do sindicalismo de resultados. Ela começa pela pressão sobre a Assembléia Constituinte de 1987-88, contra a redução da jornada de trabalho e a estabilidade no emprego. Passa pelo apoio a Fernando Collor no primeiro e segundo turnos da eleição presidencial de 1989. Prossegue com a sustentação de Collor e, quando o afastamento do presidente já era inevitável, com a manifestação pelo impeachment desde que as reformas colloridas fossem mantidas. Mantém-se no governo Itamar, com a tentativa de viabilizar o Movimento Decola-Brasil. E vai até o presente engajamento na Revisão Constitucional conservadora, que foi a grande bandeira política do 2° Congresso da Força Sindical, entre os dias 13 e 15 de setembro último.

“Medeiros teoriza: o sindicato como “fator do mercado” que “faz parte da reprodução capitalista”.

Já se observou que o sindicalismo dito de resultados tem uma visão mercantil da luta salarial e sindical. Na doutrina de Luiz Medeiros, essa tendência, presente em outras correntes sindicais de matriz burguesa, alcança sua apoteose e ganha o status de elemento básico. “O sindicato é um fator do mercado”, diz Medeiros (Folha de S.Paulo, 20 de agosto de 1987). E adiante, explicando melhor: “Todo sindicato que se preza faz parte da reprodução capitalista. Porque, qual é o objetivo do sindicato? É lutar para vender a mão-de-obra pelo preço mais alto possível”.

Como quase toda grande mentira, essa tese se escora numa meia-verdade. De fato, no capitalismo a força de trabalho transforma-se em mercadoria, submetida às mesmas leis gerais que regem o mercado como um todo. O salário é o seu preço. Uma contratação de mão-de-obra é um tipo de contrato de compra e venda. O trabalhador livre (livre inclusive da propriedade dos meios de produção) sobrevive vendendo a capacidade de sua mente e de seus braços, durante tantas horas por dia, em troca do dinheiro que lhe permite, quando permite, a sobrevivência.

Ocorre que o mercado não é o que parece. As relações mercantis, na sua essência, são relações sociais, entre homens, grupos, classes sociais. Mas na sua aparência dão a ilusão de relações entre coisas, as mercadorias. No primeiro capítulo de O Capital, Marx estudou esse fenômeno, que chamou fetichismo da mercadoria, uma espécie de coisificação aparente, que oculta o verdadeiro conteúdo das relações mercantis.

O sindicalismo de resultados, pelo contrário, eleva ao grau máximo o fetichismo. Na sua reverência quase supersticiosa pelo mercado, vai ainda mais longe, proclamando um dogma absurdo quando afirma que não só o salário, mas também “(…) o sindicato é um fator de mercado”. Pobres dos sindicatos e infelizes dos trabalhadores se assim fosse!

Enquanto simples mercadoria, a força de trabalho, em todos os países capitalistas caracteriza-se permanentemente (exceto em situações de pleno emprego, raríssimas e fugazes), pela oferta maior que a procura. Todos os assalariados, mais os desempregados, concorrem entre si para vender sua força de trabalho no mercado de trabalho e precisam obrigatoriamente encontrar um comprador, sob pena de não terem como ganhar seu pão. O grande número, aqui, é um fator contrário aos trabalhadores. Divididos pela concorrência, estes tendem, pela lógica do mercado, a cair em condições de existência ainda piores que as dos antigos escravos.

“Os sindicatos nasceram”, relata Marx nas Resoluções do Congresso da I Internacional, em 1866, “dos esforços espontâneos dos operários para impedir ou ao menos atenuar as consequências da concorrência feita entre os próprios operários”. Quer dizer: nasceram precisamente para impedir a livre ação das forças do mercado. Ninguém aguenta levar o fetichismo da mercadoria ao extremo desejado por Medeiros, mais ainda quando se trata da mercadoria-força de trabalho, indissociável da figura do ser humano-trabalhador. Tanto assim que a maioria das associações que surgiram na pré-história do sindicalismo era caixa de socorro e de assistência mútua: desde o início, ainda que primitivas e limitadas, tinham a marca da união entre os homens em luta, não de simples agentes do mercado.

É este caráter, transformado em consciência, que forma a base do sindicalismo classista, o antípoda do sindicalismo de resultados. Ele inscreve em sua bandeira as palavras do Congresso da II Internacional: “Se os sindicatos são indispensáveis na guerra de escaramuças entre o trabalho e o capital, são mais importantes ainda como força organizada para suprimir e substituir o sistema do trabalho assalariado”. Apêndice

A seguir, um quadro sintético da disposição de forças e do resultado de seis eleições no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, entre 1978 e 1993.
Em 1967 e 1972 também se apresentaram chapas de oposição, tendo Waldemar Rossi como candidato a presidente. Tiveram, respectivamente, 40% e 22% dos votos.

1978
Votantes 44.809
Chapa 1 24.551
Chapa 2 3.289
Chapa 3 7.378
A Chapa 1, da situação, é encabeçada por Joaquim dos Santos Andrade, na presidência do Sindicato desde 1965. A Chapa 2, Renovação, tem à frente Cândido Hilário Garcia, o Bigode, e é apoiada pelo então PCB. Anísio Batista de Oliveira, mais tarde deputado estadual pelo PT, encabeça a Chapa 3, Oposição, reunindo desde os leques das futuras tendências do PT até o PCdoB e o MR-8. Há 49.020 metalúrgicos em condições de votar. A apuração é interrompida pelo procurador da Justiça do Trabalho, após a contagem de 36.538 votos, devido a evidências de fraude.

1981
Joaquinzão encabeça novamente a Chapa 1, que inclui também o Bigode, do PCB, e o Bira (Ubiraci Dantas), do MR-8, que integrou a Chapa 3 em 1978. Waldemar Rossi, expoente da Pastoral Operária, encabeçador da oposição em 1967 e 1972, concorre à presidência pela Chapa 2, que adota o nome de Santo Dias (o vice da Chapa 3 de 1978, assassinado pela PM em 1979). A hegemonia na Chapa 2 cabe ao Momsp (Movimento de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo). Aurélio Peres, deputado federal, está à frente da Chapa 3, União Metalúrgica, lançada pelo PCdoB. Há 54.273 trabalhadores em condições de votar. Diante dos resultados do 1º escrutínio, a Chapa 3 entra na Campanha da 2.
1º escrutínio (votação geral)
Votantes 46.175
Chapa 1 21.303
Chapa 2 15.456
Chapa 3 7.094
1º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 15.354
Chapa 2 13.901
Chapa 3 6.303
2º escrutínio (votação geral)
Votantes 45.304
Chapa 1 22.697
Chapa 2 20.293
Chapa 3 741
2º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 16.698
Chapa 2 18.525
Chapa 3 667

1984
Joaquinzão encabeça pela última vez a Chapa 1 da situação. Dentro dela, o PCB se desagrega; parte de sua militância marchará para o PDT (Walter Schiavon e outros), enquanto Medeiros proclama-se independente. A Chapa 1 inclui ainda o MR-8 (Bira) e o PCdoB (Vital Nolasco e Neleu Alves) e um setor ligado à Igreja (Juruna). A Chapa 2 tem à frente Hélio Bombardi, da Pastoral Operária, e unifica as diferentes tendências que na época formam o PT e a CUT, com peso maior para o Momsp. O número de metalúrgicos em condição de votar cai para 47.848.
1º escrutínio (votação geral)
Votantes 42.774
Chapa 1 22.516
Chapa 2 18.915
1º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 15.116
Chapa 2 16.739
2º escrutínio (votação geral)
Chapa 1 22.462
Chapa 2 19.341
2º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 14.546
Chapa 2 19.320

1987
Desta vez Medeiros encabeça a chapa da situação, com apoio de Joaquinzão e do MR-8. Mas enfrenta dissidência de um terço da diretoria eleita em 1984: seis diretores do PDT, dois do PCdoB e um do PCB. Estes se somam à Articulação Sindical, na chapa 2, a Chapa dos Metalúrgicos, encabeçada por Lúcio Belantani, da Articulação. O Momsp e outros setores minoritários do PT e a CUT lançam a chapa 3, Metalúrgicos da CUT, propondo Carlúcio Santana para presidente. Há cerca de 78 mil trabalhadores em condições de votar frente ao quadro do primeiro escrutínio; a chapa 3 se retira em apoio à chapa 2.
1º escrutínio (votação geral)
Votantes 64.000 (nº aproximado)
Chapa 1 30.086
Chapa 2 19.171
Chapa 3 14.879
1º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 24.298
Chapa 2 18.799
Chapa 3 14.633
2º escrutínio (votação geral)
Chapa 1 33.190
Chapa 2 25.858
2º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 26.949
Chapa 2 24.837

1990
Medeiros encabeça outra vez a chapa 1, entre as organizações consideradas de esquerda, conta apenas com o MR-8, que expulsará da diretoria poucos meses mais tarde. Mas conta com a adesão de Lúcio Belantani, que encabeçou a chapa 2 em 1987 e dessa vez declara-se neutro, mas trabalha discretamente pela situação. Beneficia-se também da expectativa criada por Collor, eleito com apoio de Medeiros, que toma posse uma semana antes da eleição metalúrgica. A chapa 2, Oposição, Unidade e Luta, é escolhida em convenção onde o Momsp tem maioria absoluta, indicando o encabeçador, Chico Gordo, deputado estadual do PT. Corrente Sindical Classista (PCdoB), Articulação e outras correntes também participam. O número de metalúrgicos em condições de votar sobe para 100.877. A chapa 1 vence já no 1º escrutínio.
1º escrutínio (votação geral)
Votantes 82.177
Chapa 1 60.160
Chapa 2 16.991
1º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 52.271
Chapa 2 16.337

1993
A chapa 1, mais uma vez com Medeiros na cabeça, e com a participação de Lúcio, concorre pela primeira vez sob a bandeira da Força Sindical. Pela primeira vez desde 1978 não tem o apoio de qualquer organização do arco de esquerda. A chapa 2 é definida em negociações em que a Articulação Sindical indica o encabeçador (Mauro Farabotti). Participam também o Momsp, CSC e outras tendências do campo da CUT. O MR-8 lança a chapa 3, encabeçada por Bira, que foi secretário-geral da entidade antes de ser expurgado por Medeiros.
1º escrutínio (votação geral)
Votantes 65.420
Chapa 1 54.013
Chapa 2 5.946
Chapa 3 2.819
1º escrutínio (votos nas fábricas)
Chapa 1 44.755
Chapa 2 5.591
Chapa 3 2.490 Gráficos

EDIÇÃO 31, NOV/DEZ/JAN, 1993-1994, PÁGINAS 42, 43, 44, 45, 46, 47