Neoliberalismo travestido
A opinião pública busca compreender, com expectativa, o Plano FHC para o combate à inflação. O artigo que publicamos nesta edição, de autoria do economista Lécio Morais, é parte de um esforço maior de análise empreendido pelo deputado federal por São Paulo, e líder do PCdoB, Aldo Rebelo, como relator da Subcomissão de Política Monetária para exame das Medidas Provisórias que integram o referido plano.
Além de estudos elaborados por Raimundo Pereira e Luís Paulino, a iniciativa envolveu o depoimento do professor Paulo Nogueira Batista Jr. Essa análise evidenciou que estamos diante de uma dolarização indireta e disfarçada da economia brasileira, com graves ameaças à sobrevivência do parque industrial brasileiro e à própria soberania nacional. Além disso, o artigo que ora publicamos demonstra que o plano levará a uma hiperinflação para os que recebem salários ou rendas em cruzeiros reais, acarretando uma monumental transferência de renda destes setores para os setores monopolistas que fixarão de imediato seus preços em URV, que será a nova moeda nacional. O plano pretende eliminar o déficit público, mas fecha os olhos à realidade de que os principais fatores geradores deste déficit estão nos juros tanto da dívida externa quanto da dívida interna.
Vai ficando claro, então, o sentido da declaração – “esqueçam o que escrevi” – de Fernando Henrique Cardoso ao assumir o Ministério da Fazenda. O governo Itamar-FHC representa a velha política neoliberal, que as elites buscaram implementar com o desastroso governo Collor de Mello, agora em nova versão, mais eficaz porque executada por pessoas que dispõem, pelo seu passado, de certa credibilidade junto à sociedade.
Argentina e México, até agora apresentados como exemplos das virtudes da implantação do neoliberalismo, estão revelando quem está pagando a conta desses ajustes. Camadas populares do Norte argentino e índios mexicanos ocuparam as manchetes da mídia porque foram os primeiros a se rebelar contra essa ordem iníqua que os Estados Unidos, em aliança com as oligarquias locais, querem impor à América Latina.
Atemorizados ante a possibilidade de uma derrota eleitoral, conservadores buscam, através da revisão constitucional, cometer toda sorte de casuísmos para influenciar na disputa em curso. Retoma-se a tradição autoritária das elites brasileiras. Geisel, Figueiredo, Armando Falcão e Abi Ackel, autores dos últimos golpes brancos da ditadura militar, através do pacote de abril em 1977 e da mudança da legislação eleitoral em 1981, devem estar olhando para o Sr. Nelson Jobim e dizendo: “Meu garoto!!!”. De fato, introduzir o voto distrital, alterar mandatos e prazos de desincompatibilização a nove meses da eleição é golpe nas instituições, que setores democráticos e populares devem impedir.
EDIÇÃO 32, FEV/MAR/ABR, 1994, PÁGINAS 3