Atual, este livro de Argemiro Ferreira traça um amplo painel da política de segurança interna promovida pelo governo norte-americano, contribuindo assim para o desmascaramento da chamada “democracia americana”, paradigma das correntes liberais/democráticas ocidentais.

O termo macarthismo foi utilizado, num primeiro momento, para designar a atitude política do período em que o senador Joseph MacCarthy imperou soberano no cenário norte-americano, encabeçando o movimento da caça aos comunistas e aos democratas que se posicionavam contra a histeria anticomunista e os preparativos febris para uma nova guerra mundial. Pouco a pouco o macarthismo passou a designar qualquer política que atentasse contra as liberdades de expressão e de organização, mesmo quando garantidas formalmente pela Constituição.

Conforme afirma Ferreira, o termo ajudou a encobrir a real dimensão do fenômeno, “reduzindo-o e atribuindo-o à ação controversa de um senador demagogo e irresponsável”, e isto “subverteu a realidade e evitou questões incômodas – como a dos fatores relevantes que contribuíram para o aparecimento do macarthismo”. E conclui: “MacCarthy apenas soubera tirar proveito do clima vigente para fornecer um símbolo e um nome aos excessos e desmandos obscurantistas de um período iniciado bem antes de sua afirmação política”.

A ofensiva conservadora e obscurantista teve como um dos seus marcos o anúncio da Doutrina Truman, na qual os EUA se outorgavam o papel de xerife do mundo. A política externa agressiva exigiu uma política interna mais dura. O primeiro passo foi a criação, ainda em 1947, da comissão presidencial Sobre a Lealdade do Empregado, cujo objetivo era livrar a administração pública dos funcionários “desleais”. Esse método de “seleção de pessoal” passou a ser padrão de organização interna de toda a vida pública e privada nos EUA.

A explosão da primeira bomba atômica soviética, que pôs fim ao monopólio atômico norte-americano, e a vitória dos comunistas na China assustaram a grande burguesia monopolista e acabaram impulsionando ainda mais a política interna reacionária norte-americana. A histeria anticomunista, insuflada pela grande imprensa, impregnou amplos setores da população.

Foi em meio a esse clima que MacCarthy pôde emergir como figura de projeção nacional, constituindo-se o símbolo se uma época. Nesse período, toda a vida política e cultural norte-americana foi vasculhada e violentada. A indústria cinematográfica tornou-se um dos alvos principais dos caçadores e teve como ponto alto o interrogatório e a posterior prisão dos chamados “Dez de Hollywood”. As listas negras se multiplicavam. Centenas de pessoas (atores, diretores, roteiristas etc.) desapareceram do mercado de trabalho por não se submeterem ao papel de delatores.
Os grandes estúdios abandonaram as produções de boa qualidade e conteúdo social e passaram a colocar no mercado filmes de propaganda anticomunista, cujo nível era tão baixo que beirava o ridículo. A vida acadêmica não ficou imune, o “expurgo” atingiu as escolas secundárias e as universidades.
Durante os governos Truman e Eisenhower, foram perseguidos e demitidos mais de seiscentos professores.

Insuflado pela extrema direita, MacCarthy ultrapassou os próprios limites e investiu contra o governo republicano e o exército, convocando generais e submetendo-os a interrogatórios vexatórios. Atacado pela imprensa, que até então o apoiara, condenado pelo Senado por violação dos procedimentos e comportamento inadequado, MacCarthy desapareceu de cena.

Segundo Argemiro Ferreira, livrando-se de MacCarthy “o sistema apenas se defendeu, protegendo-se de danos maiores. Tolerava o macarthismo, desde que com bons modos”. E prossegue: “O naufrágio político do senador em nada reduziu o caça às bruxas, da mesma forma como não se devera a ele o aparecimento daquela histeria obscurantista”.

O macarthismo deitou raízes profundas na vida política americana, “tanto assim que dois personagens revelados para a política da sombra do macarthismo, Richard Nixon e Ronald Reagan, acabaram consagrados nas três décadas seguintes”.