A primeira edição de 1995 da revista Princípios traz uma agenda rica em temas políticos, econômicos e sociais. A revista simplesmente reflete, em certa medida, os problemas candentes postos para a sociedade brasileira, dos quais os mais emblemáticos são, sem dúvida, a bancarrota e a subserviência que tomou conta do México.

A crise da economia mexicana tem sido um verdadeiro pesadelo para os arautos dos ajustes da economia brasileira que visam a nossa integração nos mercados globais, não só porque o México era apresentado como verdadeiro exemplo a ser seguido, mas também, e principalmente, porque o conjunto de medidas adotados pelos governos Collor e Itamar e anunciadas pelo governo Fernando Henrique segue o mesmo receituário aplicado no México e na Argentina já há alguns anos. Os círculos que dominam as informações têm procurado minimizar as repercussões internas da crise mexicana, remetendo-as para as páginas de economia ou para os últimos noticiários televisivos da noite. Tentam evitar que a população brasileira adquira a consciência de que o Plano Real, um dos fatores responsáveis pela vitória eleitoral de FHC, é primo carnal da política econômica que está levando o México a retroceder à condição de colônia. O México é por isso objeto de matéria especial, pautada com a ajuda de Raimundo Pereira e redigida por Aldo Rebelo e José Carlos Ruy. O México é também tema de outros dois artigos, um do historiador Marco Antonio Villa e outro da rede Mexicana de Ação Frente ao Livre Comércio. As novas tendências políticas e econômicas são analisadas por Renato Rabelo e
Edson Silva.

O porquê do interesse renovado, nos círculos financeiros internacionais e nos setores conservadores brasileiros, pela quebra do monopólio estatal do petróleo é o tema de alentado estudo de Haroldo Lima que, com Cícero Gontijo, em outro artigo, examina o acordo comercial do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), aprovado pelo Congresso e assinado pelo governo brasileiro no final do ano passado, revelando aspectos nocivos aos interesses nacionais contidos naquele acordo.

A violência no Rio de Janeiro é tratada por uma equipe de pesquisadores do ISER (Instituto Superior de Estudos da Religião), em relatório que publicamos em primeira mão. Duas mulheres analisam temas de imensa atualidade: Sara Sorrentino discute a recente Conferência do Cairo sobre direitos reprodutivos e Fátima de Oliveira revela o conteúdo racista e anticientífico do livro A curva do sino, novo best-seller americano. Resgatando a nossa história, Paulo Cunha nos traz a luta camponesa de Trombas e Famoso, enquanto Edgard Carone retoma uma página do movimento operário na virada do século. Também com sentido histórico, publicamos artigo de 1949, no qual Albert Einstein argumenta em defesa do socialismo.

Quando terminávamos esta edição, o presidente Fernando Henrique Cardoso enviou ao Congresso Nacional as cinco primeiras emendas de um conjunto de outras tantas destinadas a praticamente promover a reformulação total do texto constitucional. Este objetivo só teria sentido legal se fosse tarefa de uma nova Assembléia Constituinte convocada com tal finalidade. A análise desse conjunto de propostas será preocupação do próximo número da revista Princípios.

* Olivial Freire Jr.

EDIÇÃO 36, FEV/MAR/ABR, 1995, PÁGINAS 3