O livro reúne diversos artigos elaborados nos marcos de um projeto de pesquisa, de mesmo nome que o livro, desenvolvido pelo Centro de História da Ciência da USP ao longo de um período de dez anos. O principal atrativo do livro está na carência brasileira de estudos sobre a relação entre indústria e tecnologia, em que pese a abundância de estudos sobre o primeiro desses aspectos. Conforme Motoyama, “parece que os que falam sobre a industrialização entendem, em geral, a tecnologia mais como uma dado importante, mas não como uma variável informadora do próprio processo industrial.
Uma percepção melhor parece faltar também àqueles que discutem a tecnologia”.

Os estudos apresentados são ainda heterogêneos quanto à extensão abrangida, tanto em termos cronológicos quanto em termos geográficos. O mais extensivo versa sobre a indústria da construção civil, tendo recebido oito dos dezessete artigos, elaborados por Milton Vargas, Júlio Katinsky e Marilda Nagamini. Outros capítulos, dedicados às “novas tecnologias e desenvolvimento industrial brasileiro”, revelam as vicissitudes associadas ao nosso desenvolvimento científico e tecnológico em áreas-chave, como projetos espaciais, energia nuclear e informática. Compreendendo tecnologia como conhecimento científico aplicado à técnica, característica que só emergiu claramente em sociedades capitalistas ao longo do século XIX, os autores evidenciam que a chamada “transferência tecnológica” só tem chances de ocorrer se o país que recebe tiver quadros técnicos e científicos, além de condições de infra-estrutura capazes da promover a assimilação da nova tecnologia. Daí que a modernização tecnológica seja indissociável de políticas estáveis para educação e ciência. Os estudos realçam também as vicissitudes nestas políticas estão associados à nossa tradição cultural “prático-imediatista”. Bem como às oscilações, nos sucessivos governos federais, entre tendências com certas preocupações nacionalistas e tendências voltadas abertamente para o aprofundamento da nossa dependência, com o largo predomínio, no tempo, desta última.

O estudo coordenado por Motoyama evidencia assim que a possibilidade de uma modernização tecnológica na sociedade brasileira passa pela existência de um poder nacional digno deste nome, isto é: mais do que tendências nacionais isoladas em certos governos, carecemos de um projeto nacional soberano constituído em poder político, capaz, por exemplo, de entabular negociações com vistas a transferências tecnológicas reais, associadas portanto ao nosso desenvolvimento – cultural educacional e científico – soberano.

Além dos setores industriais e tecnológicos já citados, o livro aborda também a siderurgia, a energia elétrica, indústria química e indústria metal-mecânica e biotecnologia. Parece-nos uma lacuna significativa a ausência de estudos sobre prospecção e exploração de petróleo, bem como sobre telecomunicações.

O livro condensa resultados de pesquisa com o devido rigor acadêmico, sem preocupações conjunturais. Contudo, por ironia da história, ele é publicado em um momento político no qual as pretendidas reformas constitucionais propugnadas pelo governo Fernando Henrique desdenham as lições de nossa história tecnológica e industrial e apontam para um aprofundamento da dependência. Ironia tanto maior porque são reformas propugnadas pelo governo de um de nossos maiores intelectuais, que, até por dever de formação profissional, deveria levar em conta as lições da nossa pesquisa histórica.