Um olhar rápido sobre o Índice remissivo das 40 edições da revista Princípios (publicado nesta edição) pode nos fornecer uma indicação do papel desempenhado por esta revista na luta de idéias. A denúncia do neoliberalismo e da nova ordem mundial; suas conseqüências nefastas para a nação e os trabalhadores brasileiros; a crítica das políticas dos sucessivos governos das classes dominantes que buscam adequar a sociedade brasileira a tais projetos, com ênfase na crítica aos governos Fernando Collor e Fernando Henrique; a análise crítica da experiência socialista e dos desafios teóricos e políticos do marxismo aliada à contribuição para o desvendamento de perspectivas para a luta socialista no mundo e no Brasil; a análise das conjunturas políticas nacional e internacional; estes têm sido os temas recorrentes nas sucessivas edições. Merece a nossa atenção editorial, também, a análise de questões relativas à ciência, às artes, aos aspectos históricos do movimento operário e popular, à luta contra a discriminação racial e de gênero, às lutas juvenis, entre outros temas.

Contribuições inovadoras podem ser encontradas no Índice publicado. Predominam largamente os autores nacionais, mas é significativo o número de traduções, muitas vezes de autores publicados pioneiramente em nosso país. A quase totalidade dos autores insere-se na tradição marxista, independentemente de legendas partidárias, mas há contribuições oriundas de distintos setores do pensamento político e social. Um denominador comum liga o conjunto dos artigos: a insatisfação com as tendências dominantes no mundo, a busca de um pensamento criador capaz de abrir novos horizontes às transformações sociais.

Temos a convicção de que a simples observação do Índice aqui publicado confirma que aPrincípios ocupou um espaço insubstituÍvel na arena editorial nacional- espaço essencial mesmo em uma época de mudanças tão rápidas quanto profundas na comunicação. A revista inova seu projeto gráfico a partir desta edição de número 41. Sua sobrevivência e renovação dependerão fundamentalmente do apoio que for capaz de receber das camadas da sociedade brasileira que precisam de um veículo• de idéias como este. A forma mais efetiva de apoio, a curto prazo, é a multiplicação do número de assinantes, pois tem sido a manutenção da lista de assinantes a fonte principal de financiamento da revista. Esta é a razão da campanha em curso: Assine Princípios.

Um comentário freqüente foi ouvido, nas últimas semanas, entre pessoas progressistas que apoiaram o governo FHC: a máscara caiu muito rapidamente. O escandaloso socorro aos bancos, de um lado, e o tratamento iníquo da questão social, de outro, não deixam dúvida sobre a que veio o governo FHC.
A ilusão que Fernando Henrique espalhou sob a complacência do imperialismo é demolida no artigo de Aldo Rebelo. Luiz Marcos Gomes analisa o esforço do governo pra salvar bancos falidos, e mostra que a questão principal não é a moralidade, mas sim a natureza desse programa que privilegia as elites brasileiras e estrangeiras, e fecha os olhos aos reclamos do povo e da nação. César Benjamin, no mesmo rumo, propõe uma reflexão sobre a viabilidade do Brasil como nação, partindo da idéia de que nosso país é, no mundo de hoje, um dos poucos em condições de elaborar um projeto nacional em contraposição ao neoliberalismo.

Os tiros contra os sem-terra em Corumbiara e em Eldorado de Carajás, exemplos mais graves da violência endêmica que marca a vida rural no país, estão profundamente enraizados na estrutura agrária injusta e altamente concentrada – esta é uma das conclusões do artigo de Aldo Arantes, que ilustra a outra face do caráter reacionário do governo FHC a violência contra os trabalhadores.
Aprofundando a análise das condições internacionais adversas ao desenvolvimento autônomo do Brasil, Luís Carlos Antero esquadrinha o Mercosul e seu significado nas relações do Brasil com os EUA, a Europa e a América Latina. e, por outro ângulo, Luís Antonio Paulino faz uma radiografia dos acordos da rodada Uruguai do GATT, que levaram à constituição da Organização Mundial do Comércio, com regras que perpetuam os privilégios dos países ricos e os prejuízos dos pobres.

Além de outros temas, esta edição analisa aspectos da violência do imperialismo contra os povos no artigo de Manuel Domingos, estudando as mudanças econômicas e sociais que ocorrem em Cuba. As raÍzes ideológicas da resistência cubana são relatadas por Miguel Urbano Rodrigues, jornalista de longa tradição na imprensa brasileira e portuguesa e escritor.

EDIÇÃO 41, MAI/JUN/JUL, 1996, PÁGINAS 3